sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

ATÉ TU, MACHADO DE ASSIS?

Este ano (2008), está sendo comemorado o centenário da morte de Machado de Assis.
Considerado o mais importante escritor da literatura brasileira. Inicialmente ligado ao romantismo, é em sua fase madura, que produz obras fundamentais como Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e Dom Casmurro (1900), além de contos, cujo realismo não se limita a representar com crueza e sarcasmo a sociedade de sua época, mas transforma, a condição periférica e mesquinha da realidade brasileira, numa imagem pessimista (embora bem humorada) da humanidade.
Ele publicou um conto no livro Histórias sem Data (1884), chamado de "A Igreja do Diabo". Os críticos literários tem este conto como uma fábula, marcada pela ironia. Vou repreduzir um trecho abaixo:

"Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos. Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
— Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra Escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo".
(A Igreja do Diabo, Machado de Assis)

Como se vê Machado de Assis continua atual. A religião está sujeita à crítica ferina do escritor. Neste conto Machado de Assis criticou todas as formas religiosas existentes no Brasil, bem como o modo de comercializar a fé através das vendas de conceito religioso. Porque todas as religiões vendem uma mesma ideologia, a salvação. Inclusive, com práticas proibitivas. Na visão de Machado a elite brasileira se afasta das práticas diversificadas de religiões por pura hipocrisia e preconceitos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

DECEPCIONADOS COM IGREJA - PARTE 02

Experimentamos um crescimento numérico nas igrejas brasileiras. Há uma efervescência religiosa em nosso país. As periferias das grandes cidades estão apinhadas de templos evangélicos, todos repletos. Grandes denominações compram estações de rádio e televisão. Cantores evangélicos gravam e vendem muitos CD’s e DVD’s. Publicam-se revistas e livros. Comercializam-se bugigangas religiosas nas várias livrarias, que também se multiplicam, interligadas pelo sistema de franquias. Por outro lado, diferentemente do que aconteceu na Inglaterra, nos dias de Wesley, o despertamento religioso brasileiro tem uma consistência doutrinária rala, demonstra pouca preocupação ética e um mínimo de impacto social. Os desdobramentos destas constatações, são preocupantes. Visitar qualquer igreja evangélica no Brasil é oportunidade para perceber uma forte tendência teológica e litúrgica na busca de uma divindade que se molde aos contornos teológicos dessa igreja e que ofereça apoio aos anseios e caprichos pessoais. Faltam temor e espanto diante de Deus. O único medo é o do pastor: de que a oferta não cubra as despesas e os seus planos de expansão. A cultura evangélica nacional está fomentando uma atitude muito displicente quanto ao sagrado. Querem um deus que está a serviço de seu povo para lhes cumprir todos os desejos. O tom de voz exigente e determinante como se fala com Deus hoje, deixa a dúvida quanto a quem é o senhor de quem. As experiências que só geram arrepios pelo corpo, são relatadas como se Deus fosse apenas um estimulante químico. Certos pastores, dizem falar e ouvir a voz de Deus — para serem contraditos pelas suas próprias falsas profecias — sem levar em conta que, "Deus não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão". Os milagres, aumentados pela manipulação, revelam uma falta de temor. O descaso com o sagrado é uma faca de dois gumes. Se, por um lado, demonstra grande familiaridade, por outro, gera complacência, isto porque trivializa o mistério e a presença de Deus. Por anos, combateu-se a idéia de que os fins justificavam os meios, porque essa premissa justificava comportamentos anti-éticos. Hoje, o problema aprofundou-se. Não se sabe mais o que é meio e o que é fim. Não se sabe mais se a igreja existe para levantar dinheiro ou se o dinheiro existe para dar continuidade à igreja. Canta-se para louvar a Deus ou para entretenimento do povo? Publicam-se livros, como negócio ou para divulgar uma idéia? Os programas de televisão, visam popularizar determinado ministério ou a proclamação da mensagem? As respostas a essas perguntas não são facilmente encontradas. Cristo não virou as mesas dos cambistas no templo, simplesmente porque eles pretendiam prestar um serviço aos peregrinos que, vinham adorar no templo. Ele detectou que, os meios e os fins estavam confusos e que já não se discernia com clareza, se o templo existia para mercadejar ou se mercadejava para ajudar no culto. A obsessão por dinheiro, a corrida desenfreada por fama e prestígio, a paixão por títulos, revelam que muitas igrejas já não sabem se existem para faturar. Muitos líderes, já não gastam suas energias buscando um auditório que os ouça, mas procuram uma mensagem que, segure o seu auditório. A confusão de meios e fins mata igrejas por asfixia. O livro do Apocalipse mantém a advertência, muitas vezes desapercebida pelas igrejas. As sete igrejas ali mencionadas — inclusive a irrepreensível Filadélfia — acabaram-se. Resumem-se a meros registros históricos. Não podemos achar abrigo na promessa de Mateus 16 — de que as portas do inferno, não prevalecerão contra a igreja — para justificar qualquer irresponsabilidade. O livro do Apocalipse adverte: "Lembra-te, pois, de onde caíste arrepende-te, e volta à prática das primeiras obras; e se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas" (Ap 2.5). Crescer numericamente, não imuniza a igreja de perigos. Pelo contrário, torna-a mais vulnerável. Resta perguntar: Será que agora, famosos e numericamente profusos, não estamos precisando de profetas? Será que o tão propalado avivamento evangélico brasileiro, não necessita de uma Reforma? Aprendamos com a história. Imaginar que podemos condenar nossas igrejas a se tornarem bares ou funerárias como ocorre na Europa é sonho horrível. Porém, se não fizermos algo, esse pesadelo pode se tornar realidade. Que Deus nos ajude.

(Continua...)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

GOVERNO RESTRINGE ENTRADA DE ONGs E MISSIONÁRIOS EM TERRAS INDÍGENAS

Um decreto à espera da assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criará restrições para a entrada de pesquisadores, missionários e organizações não-governamentais em terras indígenas. O texto obriga os religiosos, cientistas e ONGs a submeterem seus projetos à prévia análise do Ministério da Justiça. Se a reserva estiver próxima à faixa de fronteira ou na Amazônia Legal, a autorização dependerá ainda da avaliação do Ministério da Defesa e do Conselho de Defesa Nacional.
O decreto é parte da estratégia do governo para controlar a ação das organizações não-governamentais e coibir a biopirataria e a exploração ilegal de recursos no Brasil, especialmente por estrangeiros. O documento chegou à Casa Civil uma semana antes do julgamento da demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol (RR) pelo Supremo Tribunal Federal (STF), marcado para a próxima quarta-feira.

O texto obriga que pessoas físicas e jurídicas que queiram desenvolver atividades nas reservas entreguem ao Ministério da Justiça um plano de trabalho que especifique o objetivo do projeto, o prazo necessário para sua execução, as estimativas de gastos e as fontes de financiamento. Além disso, as ONGs precisam ter cadastro no Ministério da Justiça.
Caso o pesquisador seja estrangeiro, precisará de visto específico e deverá indicar o percurso a ser feito na terra indígena e as datas previstas para o início e término dos estudos. Ele não poderá, portanto, valer-se do visto de turista para entrar na reserva.
No caso de ONG estrangeira, os responsáveis deverão apresentar o comprovante de autorização para funcionamento no Brasil e certidão de regularidade emitida pelo ministério.
A licença para entrar na reserva será cancelada se o objeto do estudo for alterado sem a autorização do Ministério da Justiça. Os pesquisadores deverão, nesta hipótese, deixar imediatamente a região. O estrangeiro poderá ser deportado se não tiver visto específico para a atividade que for desenvolver.
O pesquisador, missionário ou ONG que estiver em terra indígena quando o decreto for publicado terá 180 dias para pedir autorização do Ministério da Justiça, preenchendo todos os requisitos previstos no texto.

FISCALIZAÇÃO

Atualmente, a entrada em terras indígenas é regulada por uma portaria da Fundação Nacional do Índio (Funai), destinada a proteger especificamente direitos sobre "as manifestações, reproduções e criações estéticas, artísticas, literárias e científicas" dos índios.
Porém, por falta de estrutura e fiscalização, missionários ou pesquisadores podem burlar essa barreira. Em alguns casos, índios que pouco tiveram contato com o homem branco são abordados por religiosos interessados em catequizá-los. Depois de feita a aproximação, o processo para a retirada desses missionários das aldeias torna-se complicado, até porque os índios acabam aderindo à religião.


Fonte: Jornal Estado de São Paulo, www.estadao.com.br

domingo, 7 de dezembro de 2008

O PASTOR DO SALMO

SALMO 23

Porque tenho o Senhor como meu pastor,
de nada tenho falta. Ele me tem.
Ele me faz descansar em lugares seguros,
embora às vezes acho que estou em perigo.
A minha alma fica leve por tê-Lo como pastor.
As vezes me sinto bem perto da morte, mas,
não tenho medo, pois Ele nunca me deixa sozinho.
Alguns inimigos me agridem, mas, Ele, faz destes momentos uma festa.
Usa o seu cajado para me guiar os passos, não para me agredir,
Ele retêm o que eu mereço ( misericórdia )
e me dá o que não mereço ( graça )
e, me garante que, é ao lado dEle, o meu lugar.
Mas, somos todos perseguidos por bondade e misericórdia dEle,
e isto nos dá a certeza de, no porvir, celebrar eternamente com Ele.


Há uma história clássica sobre este salmo que é a seguinte:
Conta-se que havia um artista que ao se apresentar em teatros muitas vezes encerrava suas participação declamando poesias e às vezes um salmo. Uma certa noite ao encerrar sua apresentação, resolver declamar o salmo 23, com toda a sua voz postada, sua oratória, sendo ovacionado com muitas palmas. Ele no entanto, havia visto na platéia um conhecido seu, que era pastor de uma igreja, já bem idoso. Resolveu convidá-lo ao palco para falar também salmo 23. O ancião subiu com dificuldade as escadas, pegou o microfone e falou o salmo, com sua voz cansada e sem os recursos de oratória do artista. Ao final, não havia palmas e sim lágrimas na platéia. O artista tomou a palavra e disse: "Quando eu falei o salmo 23, vocês aplaudiram, quando meu amigo citou o mesmo, vocês choraram. Sabem por quê? É porque eu conheço o salmo e o meu amigo, conhece o pastor do salmo"