sexta-feira, 20 de abril de 2012

Subsídio para EBD - ESMIRNA, A IGREJA CONFESSANTE E MÁRTIR

A Fundação da Igreja em Esmirna
Localizada ao norte de Éfeso, e com uma população de cerca de 250.000 habitantes, a cidade de Esmirna era considerada a mais bela da Ásia Menor. Sua beleza natural era fascinante. Seu esplendor habitava entre o mar e as montanhas. Sua estrutura urbana era modelo para as demais cidades de sua época. O comércio internacional favorecia economicamente a cidade, que era grande exportadora de mirra.

Na condição de centro religioso, em Esmirna eram adorados os deuses Cibele, Apolo, Asclépio, Afrodite e Zeus. O culto ao imperador, que incluía a queima de incenso a imagem de César, foi lá bastante difundido e praticado. [1] Conforme Kistemaker:

"Em 26 d.C., ela dedicou um templo ao imperador Tibério e se gabava de ser a principal no culto ao imperador. Essa jactância agradou aos administradores romanos, os quais fomentavam a paz e a unidade que caracterizavam o espírito de Roma por todo o império. William Barclay escreve que, para tornar o espírito de Roma tangível, os romanos apresentaram o imperador como sendo sua incorporação, e assim surgiu o culto ao imperador. Ainda que alguns dos primeiros imperadores discordassem de tal culto, a população o ativou ao ponto de tornar os imperadores divinos".[2]

Não há registros específicos da chegada do Evangelho e da fundação da igreja em Esmirna, mas podemos sem problema algum enquadrar tais fatos no contexto de Atos 19.10:

Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos.

Como na grande maioria dos casos, na medida em que foi estabelecida pela pregação do Evangelho, a igreja em Esmirna começou a provocar e a vivenciar algumas tensões, inquietações e desconfortos, que aos poucos se transformou numa violenta e cruel perseguição.

A Perseguição à Igreja em Esmirna
Ao anjo da igreja em Esmirna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver: (Ap 2.8)

Os historiadores sugerem que o bispo da igreja em Esmirna por ocasião desta carta era Policarpo (69 d.C.-155 d.C.). Como falar de Esmirna e não citar esse grande mártir da história do cristianismo?
Policarpo fora discipulado por João. Ao se tornar pastor da igreja em Esmirna manteve-se fiel à Palavra, mesmo sendo sabedor da possibilidade do martírio.

No ano de 155 ainda estava vigente a política de Trajano sugerida ao governador Plínio, onde os cristãos não eram perseguidos, mas se delatados por alguém, e se negavam a adoração aos deuses ou ao imperador, eram submetidos aos tribunais romanos, condenados, castigados e martirizados. [3]

Eusébio de Cesaréia, em sua História Eclesiástica, nos narra alguns detalhes do martírio de Policarpo, registrados numa correspondência enviada pela igreja em Esmirna às igrejas de Ponto. Antes de relatar os fatos relacionados ao martírio de Policarpo, na referida correspondência se encontras detalhes sobre os métodos empregados pelos martirizadores dos crentes em Esmirna:

Os que postavam à volta ficavam tomados de assombro ao vê-los lacerados por chicotadas, expondo o próprio sangue e artérias, de modo que a carne encerrada nas partes mais internas do corpo e as próprias entranhas ficavam à vista. Eles eram deitados sobre conchas do mar e sobre pontas afiadas de lanças sobre o chão. E depois de passar por todo tipo de punição e tormento, eram por fim lançados às feras. [4]

Foi a postura de um jovem nobre chamado Germânico diante de seu próprio martírio, que a fúria dos perseguidores se voltou incontrolavelmente contra o líder da igreja em Esmirna. Persuadido por muitos e de várias maneiras para que negasse a sua fé em Cristo, e que prestasse culto ao imperador, Policarpo caminhou firme em direção ao estádio onde seria martirizado. Quando o governador lhe pediu para que negasse a Cristo, Policarpo lhe respondeu:

Oitenta e seis anos tenho-lhe servido, e ele nunca me fez mal; e como posso agora blasfemar meu Rei que me salvou? [... ] Ameaça-me com fogo que queima por um momento e logo se extingue, pois nada sabes do julgamento que virá e do fogo da punição eterna reservada para os perversos. Mas, por que te demoras? Faze o que desejas. [5]

As palavras de Policarpo enfureciam cada vez mais os seus algozes. Como de costume, o arauto se dirigiu ao centro do estádio e proclamou: “Policarpo confessa que é cristão”. Amarrado a uma estaca e sem roupas, antes de seus executores acenderem o fogo, Policarpo fez a seguinte oração:

Ó Pai de teu amado e bendito Filho Jesus Cristo, por meio de quem recebemos o conhecimento a teu respeito. O Deus dos anjos e poderes, e de toda a criação, e de toda a família dos justos, que vive diante do pai, bendigo-te por teres me considerado digno deste dia e hora, de fazer parte do número de mártires e do cálice de Cristo, até a ressurreição da vida eterna, tanto da alma como do corpo, na felicidade incorruptível do Santo Espírito. Que eu possa ser recebido entre eles em sua presença neste dia, como um sacrifício rico e aceitável conforme preparou, revelou e cumpriu o fiel e verdadeiro Deus. Assim, por essa causa e por todas as coisas louvo-te, bendigo-te por intermédio do sumo sacerdote eterno, Jesus Cristo, teu Filho amado. Por meio de quem seja a glória para ti no Santo Espírito, agora e para sempre. Amém. [6]

Quando nos deparamos com as narrativas acima, passamos a entender a necessidade da ênfase dada no início da carta à igreja em Esmirna à morte e ressurreição de Jesus, que certamente contribuiu para ajudar aqueles crentes fiéis a superarem o medo natural da morte e do martírio.

O Exemplo da Igreja em Esmirna
Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás. (Ap 2.9)
Jesus declara conhecer a real condição daquela igreja, que implicava em constante e grande aflição (gr. thlipsin), e em extrema pobreza (gr. ptocheian), mas que era espiritualmente e essencialmente rica.

A condição da igreja em Esmirna promove a desconstrução dos fundamentos da Teologia da Prosperidade e da Vitória Financeira, fortemente difundidos nas Assembleias de Deus no Brasil pelo pastor Silas Malafaia, através de seu programa de televisão. Os crentes de Esmirna eram fiéis, mas tal fidelidade provocou a tribulação e pobreza material deles, visto que na prospera cidade de Esmirna muitos foram obrigados a deixar os seus empregos, tendo também os seus bens confiscados. [7] Como bem adverte Kistemaker:

Isso não significa que os crentes devam atrair perseguição e dificuldades a fim de ficarem ricos de possessões espirituais; antes, Jesus quer que sejam fiéis, a ele e à sua palavra, mesmo quando passam por dificuldades e abuso, porque então serão espiritualmente bem-aventurados (Mt 5.11, 12; Tg 2.5)

É preciso ter cuidado para não incorrermos no erro da Teologia da Prosperidade e da Teologia da Miserabilidade.

O tipo de fé vivenciada pela igreja em Esmirna deve provocar em nós uma reflexão sobre o tipo de fé que vivenciamos em pleno século XXI. Até que ponto não estamos praticando algum tipo de idolatria pós-moderna? Podemos não estar cultuando o “imperador”, mas será que não cultuamos o “poder” do imperador? Quando pastores abandonam os seus ministérios, ou dividem o pastoreio do rebanho com a política secular, não está aí presente o culto ao poder? Quando líderes fazem acertos com políticos em bastidores, chegando a negociar os votos da igreja em períodos de campanhas eleitorais, visando em alguns casos tirar proveito em benefício próprio, de familiares e de amigos, não estamos queimando incenso aos imperadores? Será que não trocamos os deuses em forma de estátuas e imagens, por deuses em forma de bens e recursos materiais?

O atual assédio dos políticos mundanos em torno das Assembleias de Deus no Brasil, não deveria provocar em nós desconfiança? Por que não éramos assediados quando não passávamos de um pequeno grupo de “bodes barulhentos”? Por que nossos templos não eram visitados por vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidentes na época em que não tínhamos tanta expressividade numérica e visibilidade social?

Será que diferente da igreja em Esmirna, não fomos seduzidos, embriagados, entorpecidos e enganados pela glória e honra do presente século, oferecida por satanás ao próprio Cristo (Mt 4.8-9)?

Qual é a real condição da igreja evangélica brasileira, e em especial as Assembleias de Deus, diante daquele que não apenas conhece todas as obras, mas que conhece também os nossos desejos, vontades, motivações e interesses?

Que a igreja de Esmirna nos sirva de exemplo e referencial de fidelidade a Deus, coragem e determinação.

[...] Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte. (Ap 2.10c-11)
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Bibliografia:
[1] LAWSON, Steven J. As Sete Igrejas do Apocalipse. 5. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 97
[2] KISTEMAKER, Simon. Apocalipse. São Paulo: Cultura Cristã, 2004, p. 163-164
[3] GONZÁLES, Justo L. Uma história ilustrada do cristianismo: a era dos mártires. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 70, v. 1
[4] CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica: os primeiros quatro séculos da igreja cristã. 4. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p. 134
[5] Ibid., p. 137.
[6] Ibid., p. 138
[7] ANDRADE, Claudionor. Os

 
Meu Comentário: Achei excelente o comentário acima, por isso o publiquei. Em uma época, onde os "herodianos" ganham espaço cada vez mais entre os ministros religiosos, nada como lembrar da carta a Igreja de Esmirna que sofreu justamente por não se curvar ao culto do Imperador de Roma. Em ano de eleições como este, as alianças mais escusas estão sendo feitas entre políticos e pastores, negociando o voto dos crentes. Gostaria de postar um vídeo onde mostra uma igreja esrminiana atual na China, onde não apoio do Estado, antes ainda ocorrem perseguições. Assista ao vídeo:

Perseguição de Cristãos na China Hoje from Ajuda à Igreja que Sofre on Vimeo.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Entrevista com Valdemiro Santiago




Denúncias contra a Mundial são várias. Santiago já foi condenado a pagar cestas básicas por porte ilegal de armas. Em 2010, três pastores foram presos no Mato Grosso do Sul transportando sete fuzis M 15. Presume-se que em conluio com o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Construções irregulares de alguns templos e o mau uso do dinheiro arrecadado nos templos também fazem parte da lista.
De mãos dadas com Francileia, sua esposa, ao longo de toda a entrevista, Valdemiro Santiago recebeu a reportagem da Folha no intervalo de um culto. Leia os principais trechos:


Folha: A doença é um problema de espírito?
Valdemiro Santiago: Às vezes. Mas se fosse um problema exclusivamente de ordem espiritual, então as pessoas que estão afinadas com Deus não correriam o risco de ficar doentes. O próprio Isaac morreu cego. Então algumas doenças são de ordem espiritual e precisam ser tratadas espiritualmente – ou seja, através da oração, avivando e fortalecendo a fé das pessoas. E há doenças que a ciência consegue tratar. Eu e minha família precisamos dos médicos, também. Há enfermidades que são para a ciência e outras que são para serem tratadas espiritualmente. Embora Deus possa curar todas elas.


Quais são as doenças que estão nas mãos de Deus e quais na da ciência? No ano passado você passou por um tratamento do joelho no hospital Albert Einstein…
Valdemiro: Na verdade todas as doenças estão nas mãos de Deus. O sacerdote é um instrumento nas mãos de Deus.


Você é um instrumento nas mãos de Deus?
Valdemiro: Tenho plena certeza disso. Só que os médicos também são. Deus é quem dá o conhecimento, Deus instituiu os médicos. Deus nos colocou essa autoridade para que pudéssemos suprir as pessoas, honrando cada um.


Você já curou doenças incuráveis?
Valdemiro: Na verdade eu nunca curei ninguém, nem a mim mesmo. Tenho alguns momentos de tristeza que eu queria me livrar, mas não consigo. Aí chego à conclusão de que não sou eu que curo. Porque se curasse, evitaria meu próprio sofrimento. Então não sou eu que faço, é Deus que faz através da vontade dele. Deus através de minha oração já curou muitas doenças incuráveis pelo recurso da ciência. Eu já vi Deus fazendo coisas que a ciência não pode fazer.


Como foi sua infância?
Valdemiro: Depois que minha mãe morreu, eu e meu pai nos desentendemos, ele até atentou contra minha vida, e eu contra a vida dele. Mas não por falta de amor… Então saí de casa. Tinha um quartinho, mas como não conseguia pagar fui colocado pra fora e fiquei meio desamparado. Passei a viver na rua por causa da liberdade que a rua dava e dá.


Você estudou?
Valdemiro: Não concluí o segundo grau. Sou autodidata, estudei sozinho. Mas não li muitos livros, Não consigo pegar um livro… há livros que me ensinam mas sempre parcialmente. Só a Bíblia que tem sua totalidade, só a palavra de Deus.


Em que medida a Mundial se diferencia das outras igrejas?
Valdemiro: Se eu analisar de fora, eu acho que pela simplicidade, pela forma como é pregada a palavra. O povo não busca a sofisticação, o luxo, o glamour, a igreja de mármore ou de ouro. Jesus pregava de maneira simples. Às vezes o pregador dificulta muito, não fala a língua do povo. Tem pregador que tem vergonha de falar que trabalhou nisso ou naquilo. Eu não, eu sou um lavrador da roça mesmo, minha profissão verdadeira é essa, pegar enxada e lavrar terra.


Como interpreta a ascensão da classe c?
Valdemiro: Não atribuo a ascensão da classe c a esse ou aquele governo. E sim a Jesus. Porque a classe c não tem recurso intelectual para buscar bons empregos ou fazer bons negócios. Quando você se apoia na fé, Deus abre portas.


A Mundial já tem dois deputados. Quais são suas ambições políticas?
Valdemiro: A política é necessária. Não é nociva. Deus criou a política. Sou do altar, mas pretendo um dia ver pessoas da igreja trabalhando na política. Se alguma aliança puder trazer benefício, coloco-me a disposição. Tenho amigos no PT, PMDB, PSDB, PSC, PTB.


Por que a ênfase no dízimo em seus cultos?
O dízimo é bíblico. É dez por cento. É o que sustenta a igreja. A oferta é voluntária. Não é uma coisa controlada, fiscalizada. Não é como a Receita, que cobra 27,5%. Devolver o dízimo faz parte da aliança entre você e Deus.


E as fazendas que apareceram na Record?
Valdemiro: São fatos ainda não constatados. Eu desconheço aquelas propriedades, à exceção de uma – que eu tenho escritura e está no nome da igreja mundial do poder de deus. As outras eles criaram. Mas esta pertence a todo mundo, pertence à obra de Deus.


A fazenda é da igreja ou sua?
Valdemiro: Olha, as coisas se misturam. Já vendi gado para pagar horário na TV. Mesmo com o gado não sendo propriedade da igreja, nesse caso. Eu tenho recurso, não sei se você já percebeu. O último CD vendeu um milhão de cópias a 20 reais. Dá pra comprar um bezerrinho, não dá?



Fonte: Publicado na Folha de S.Paulo [via Folha.com]


Comentário: Macedo associou a Mundial ao demônio, e exibiu na Record reportagem sobre a compra de fazendas avaliadas em R$ 50 milhões com dinheiro da igreja. Valdemiro apareceu dizendo que Macedo tem um câncer, que seria uma obra do diabo. O motivo é que a Mundial é hoje a maior concorrente da Universal. Conta com 3.200 templos pelo Brasil --a Universal tem 5.000-- e a mais extensa cobertura televisiva entre evangélicos. Só no Canal 21, são 23 horas de programação, além das duas horas diárias na Rede TV! e quatro na Band. Um gasto mensal de R$ 35 milhões em mídia.
É a igreja neopentecostal que mais cresce no país. Estima-se que 30% dos fiéis vieram da Universal, além de pastores atraídos pela expectativa de maior remuneração.
O "modelo de negócios" é o mesmo: televisão e dízimos. A diferença está na ênfase milagreira da Mundial.
Exorcismos e sinais de prodígio também fazem parte dos cultos da Universal. Mas, com a institucionalização da igreja, muito menos que antigamente. O público se sofisticou, de certo modo, abrindo um filão para a Mundial.

Para Ronaldo Didini, ex-integrante da cúpula da Universal e hoje responsável pela expansão internacional da Mundial, a chave do sucesso está na origem humilde: "Como Lula, ele tem carisma e fala a língua do povo. Ele não busca a sofisticação".