quarta-feira, 13 de março de 2013

Conheça Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco

O argentino Jorge Mario Bergoglio, de 76 anos, eleito nesta quarta-feira para suceder o papa Bento XVI, é um jesuíta austero, de tendência moderada e que leva uma vida discreta. Sua designação para ocupar o trono de São Pedro é a primeira de um americano para dirigir a Igreja Católica, que também jamais esteve a cargo de um representante da Companhia de Jesus.
Arcebispo de Buenos Aires e primaz da Argentina, este homem tímido e de poucas palavras goza de um grande prestígio entre seus seguidores que apreciam sua total disponibilidade e sua forma de vida, afastada de qualquer ostentação.
Bergoglio nasceu no dia 17 de dezembro de 1936 no seio de uma família modesta da capital argentina, filho de um funcionário ferroviário de origem piemontesa e de uma dona de casa. Frequentou a escola pública, onde se formou como técnico de química, e aos 22 anos se uniu à Companhia de Jesus, onde obteve uma licenciatura em Filosofia.

Lições do passado

Muito de nossos problemas têm a ver com a dificuldade de lidar com o passado. Relutamos em admitir que não passamos de virgulas logarítmicas. Nossa história se resume a um conto ligeiro. Desgastamo-nos como roupa usada. Amnésicos, corremos alucinadamente em busca de um ideal de felicidade que mal conseguimos definir (bom lembrar que há poucos séculos a felicidade não era um fim, apenas uma agradável consequência da sabedoria). Cada dia cavamos mais fundo o abismo que nos separa dos anos em que pessoas se contentavam em viver com integridade, justiça, bondade, lealdade – e que, por algum motivo, acabavam felizes.
 
No culto da estética, esquecemos que já se valorizou o ancião mais que o jovem. O processo pode ter se arrastado, mas não faz muito tempo em que simetria, harmonia e, por que não?, beleza, perdiam para a experiência. A afirmação permanece: se o encanto do jovem vem da força, a formosura do idoso emana de seus cabelos grisalhos; o respeito que se nutriu pela madureza sobrepujou a admiração pelo viço juvenil.
 
O novo milênio se inicia com um monumental descaso com o passado. O governo dos Estados Unidos, por negligenciar ensinos da história, não atentou: George Washington foi eleito presidente quando o Iraque já acumulava uma cultura de mais de cinco mil anos. Depois de uma guerra desigual, assimétrica, o povo iraquiano mostrou que mesmo pobre, aprendeu a lidar com fracasso, resiliência e triunfo
Europeus perdem por não recordarem que antes das grandes navegações, mesmo nas colonizações predatórias, não havia fome e miséria na África nem na América Latina. Nações que europeus chamaram de “primitivas” eram na verdade civilizações complexas e bem hierarquizadas; podiam não conhecer o mundo que os exploradores trouxeram em suas embarcações, mas, pelo menos, comiam e morriam com dignidade. Para nações autóctones, a civilização da espada e da cruz representou retrocesso.
 
A falta de sintonia com o passado faz com que muitos crentes brasileiros desconsiderem que a consolidação evangélco-protestante no Ocidente aconteceu com a promíscua relação do capital com a fé na primeira metade do século XX. Mesmo com todo o esforço dos reformadores de criarem “confissões de fé”, a versão midiática-hedonista-pragmática do cristianismo é recente. Lideranças do “movimento evangélico” demoram a entender que eles não passam de uma síntese novíssima entre pietismo alemão, puritanismo inglês, fundamentalismo e pentecostalismo norte-americanos. Sem raízes históricas, poucos tomam conhecimento que antes dos evangélicos sobram exemplos de fé entre cristãos ortodoxos gregos, armênios e russos. Bem antes de Lutero, muita gente amou a Deus na igreja católica romana. Mesmo no estigmatizado período medieval, também chamado de milênio de trevas, Jesus teve seguidores fieis.
 
O esforço de manter-se atual, sem passado a ser celebrado, pode dar ao presente maior agilidade, mas rouba densidade existencial. Sem olhar retrospectivo, poucos se dispõem enfrentar a realidade de que somos efêmeros, quebradiços, mortais. Só diante da poeira dos séculos conseguimos contemplar a morte como jeito de aproveitar melhor a vida. Lembrar que não somos deuses, humilha enquanto ajuda na convivência com o próximo. O essencial se esconde na sucessão do presente que nos escapa e que rapidamente vai para o pretérito. Só com a alma desarmada da arrogância de imaginar-se única, perene, imbatível, senhora do tempo, aprendemos que não viveremos para vingar a razão de ser, mas para curtir cada instante como se fosse o último. O passado tem muito o que ensinar.