sábado, 25 de maio de 2013

Subsídio para EBD - Educação Cristã, Responsabilidade dos Pais

Vivemos em dias difíceis, a respeito dos quais tratou Paulo em sua Epístola a Timóteo (II Tm. 3.1-2). Especialmente para a criação dos filhos no temor do Senhor, tendo em vista que os valores cristãos estão sendo cada vez mais solapados pela mídia. Diante dessa situação, estudaremos, na lição de hoje, a respeito da importância da educação cristã, principalmente no contexto familiar, sob a responsabilidade dos pais. Inicialmente trataremos a respeito da educação no Antigo, e depois no Novo Testamento. Ao final, faremos um apelo para que os pais invistam não apenas na formação profissional, mas também espiritual dos seus filhos.
 
1. CONCEITOS FUNDAMENTAIS
O conceito de educação é bastante amplo, e por demais complexo. O verbo educar, em latim, significa instruir, orientar. Mas as definições de educação dependem bastante das concepções teóricas envolvidas. Em várias instituições educacionais, a abordagem educacional está atrelada à mera informação. A maioria das escolas dos dias atuais, preocupadas com o mercado de trabalho, repassam apenas conteúdos. A educação é meramente bancária, os alunos vão para a escola apenas para receberem informações. Por conseguinte, valores que deveriam ser trabalhados pela escola, tais como o respeito pelo próximo, são relegados a segundo plano. Um reflexo desse modelo educacional é a ausência de posicionamentos éticos por parte daqueles que frequentam os bancos escolares. Os alunos estudam bastante, conseguem entrar nas universidades, mas não se comprometem com o outro. Evidentemente isso acontece também porque a filosofia educacional que predomina nas escolas é materialista. A ênfase no mercado e a desconsideração de uma ética maior estão fortalecendo o individualismo. De modo que, na sociedade, e às vezes nas igrejas, o tratamento é cada um por si, ninguém considera mais o próximo. Isso acontece também por falta de uma cosmovisão cristã em relação à educação. Não podemos esquecer que o ser humano caiu no Éden, e isso resultou no distanciamento do Criador e do próximo. Em consonância com a pedagogia de Jesus, precisamos ensinar a verdade às pessoas, inclusive às crianças, pela Palavra de Deus (Mc. 4.33; Lc. 24.27). O Mestre Jesus valorizava as pessoas, independentemente da condição social, fosse uma adúltera, como a mulher samaritana (Jo. 4), ou um doutor da lei, como Nicodemos (Jo. 3). A educação cristã, seja na igreja ou na família, deve partir das Escrituras, que é útil, a fim de conduzir as pessoas à santificação (II Tm. 3.16).

2. EDUCAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
Antes de 2.500 a. C já identificamos, no Antigo Testamento, um sistema educacional formal e estruturado, a fim de treinar as crianças, desde a infância (Pv. 22.6). A educação, naquele contexto, deveria oportunizar o desenvolvimento de uma profissão, mas, sobretudo, o caráter. Samuel é um exemplo de um jovem que fora instruído, desde cedo, ao serviço do Senhor, sob a supervisão do sacerdote Eli (I Sm. 3.10). A competência para a leitura, tendo em vista o domínio das leis, era estimulada desde cedo (Dt. 6.9; 17;18,19; 27.2-8; Js. 18.4,9; Jz. 8.14; Is. 10.19). Talvez por causa do excesso de imagem, principalmente por causa da influência da televisão, as crianças estão lendo cada vez mais tarde. Isso é preocupante, ao invés de lerem um livro, que desperta a imaginação, procuram antes o filme. No Antigo Pacto as ordenanças divinas eram valiosas, por isso deveriam ser ensinadas (Dt. 4.9,10; 6.20), a fim de desenvolver princípios éticos (Lc. 19.2). A instrução não se voltava apenas ao domínio das leis, mas, principalmente, à justiça social (Am. 2.6,7), e ao temor do Senhor, princípio de toda sabedoria (Pv. 1.2-4; 9.10). Durante o cativeiro babilônico surgiu a sinagoga, que serviu como instituição formal para a educação, para a leitura da Torá. A primeira escola do judeu era o seu lar, em casa os filhos aprendiam os rudimentos da fé. Isso porque, na cultura judaica, a família era a base da sociedade. As crianças tinham valor, e pesava, sobre os pais, a responsabilidade de educá-los, por serem dádivas de Deus (Jó. 5.25; Sl. 127.3; 128.3,4). Alguns pais não querem mais se comprometer com a educação dos seus filhos. Por causa do ativismo, inclusive na igreja, muitos pais estão deixando os filhos à mercê da televisão. Os estragos têm sido os mais terríveis, filhos inseguros, com valores distorcidos, tomados pela rebeldia. O treinamento das crianças, no Antigo Testamento, envolvia também a formação artística (I Sm. 16.11; II Rs. 4.18; Jz. 21.21; Lm. 5.14). Essa formação deve ser considerada pelos pais, pois a arte exerce um papel na construção do caráter. A instrução quanto as prendas domésticas também recebia atenção, principalmente para as meninas (Ex. 35.25; II Sm. 13.8).

3. EDUCAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO
O estudo ocupou papel de destaque no ministério de Jesus, não por acaso a Ele se referiam como Rabi, Mestre (Jo. 3.2). Jesus ensinava, a multidão ficava maravilhada com Suas instruções (Mt. 5.1). O conteúdo da Sua mensagem era o evangelho do Reino, fundamentado na Palavra de Deus (Mt. 4.23). A pedagogia do Reino, conforme ensinada por Jesus, estava fundamentada no amor-agape (Mt. 12.31; Jo. 15.12). Essa é uma falha no sistema educacional humano. Ninguém fala em amor, o afeto, uma carência fundamental do ser, está sendo desconsiderada. Os escritos de alguns educadores, dentre eles Paulo Freire e Rubem Alves, têm alertado os professores para esse importante aspecto. Contrariando a lógica do mercado, que sempre quer tirar vantagem em tudo, Jesus ensina a perdoar, e às vezes a ganhar através da perda (Mt. 18.21). A coisificação do ser, resultante do modelo de mercantilização da pessoa, deve dar lugar à dignidade. Jesus respeitava as pessoas, não desprezava as mulheres e as crianças, o que era comum naqueles dias (Mt. 18.1,10). Mas Jesus também chamou a atenção para a realidade do pecado. As crianças estão cada vez menos comprometidas com outro porque não são ensinadas a esse respeito. O pecado tem causado transtornos terríveis à sociedade, o maior deles é o distanciamento de Deus (Rm. 3.23). A supervalorização do dinheiro, bastante comum hoje em dia, deve ser questionada, tanto na igreja quanto no lar (Mc. 10.21). Os pais precisam não apenas através das palavras, mas também de ações, mostrar aos filhos que não são controlados pelo consumismo. Existem várias métodos para o ensino da Palavra de Deus às crianças, as estórias tem muito efeito. Jesus era um contador de histórias, suas parábolas atraiam a atenção dos ouvintes (Mt. 13.3). O Mestre aproveitava todas as oportunidades e lugares para ensinar os princípios divinos (Lc. 9.14). Os pais precisam investir em momentos familiares para a formação dos seus filhos.

CONCLUSÃO
Os filhos são herança de Deus, recompensa do Senhor (Sl. 127.3), por isso devem ser ensinados com amor a fim de que desenvolvam o temor a Deus (Ef. 6.1-4). A educação secularizada, a não ser nas escolas confessionais evangélicas, não investe na formação espiritual das crianças. Diante dessa realidade, a igreja, através da Escola Dominical, e os pais, no convívio doméstico, devem instruir seus filhos nos caminhos do Senhor. A orientação de Pv. 22.6, que se trata de um princípio geral, deve nos motivar à educação cristã dos nossos filhos, a fim de que esses, quando crescerem, permaneçam na Palavra de Deus.
 
BIBLIOGRAFIA
GANGEL, K., HENDRICKS, H. (eds.) Manual de ensino para o educador. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
LEBAR, L. E. Educação que é cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
 
 
Observação: Falando em educação cristã, além da bibliografia citada, recomendo também os seguintes livros: Ensinando para transformar vidas, de Howard Hendricks, Editora Betânia e também o "clássico" da CPAD, Manual da Escola Dominical, do Pr. Antonio Gilberto. Examinando o Pentateuco no princípio, entre o povo de Deus, eram os próprios pais os responsáveis pelo ensino da revelação divina no lar. O lar, então, era de fato uma escola onde os filhos aprendiam a temer e amar a Deus (Dt 6:7; 11:18,19). Hoje, infelizmente muitos pais tem procurado "terceirizar" a responsabilidade pela educação dos seus filhos, achando que cabe a escola secular e até a Escola Dominical a educação dos pequenos. É claro, que a escola secular e EBD tem sua participação, mas a responsabilidade maior cabe aos pais.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Ainda sobre o divórcio e novo casamento


 
São várias questões levantadas sobre divórcio e novo casamento que não foram contempladas na postagem anterior.
 
Em que momento o casamento é desfeito? Após a morte somente, ou após o divórcio? E, se desfeito, os irmãos estão livres para casar, ou devem permanecer sozinhos.
 
Os mais extremistas acreditam que não pode haver divórcio em nenhuma situação: “Se foi traído, perdoe e reconcilie. Se foi abandonado, fique sozinho. Se sofre agressão física em casa, tenha fé que o conjugue um dia vai ser transformado, enquanto isso, agüente firme as pancadas!”
 
Outros um pouquinho mais moderados, dizem: “A parte inocente pode divorciar em caso de adultério e abandono, mas casar de novo, não”.

Vale lembrar que o divórcio, nos casos de infidelidade conjugal, não se trata de um imperativo, mas de uma permissão. A parte inocente ou ofendida pode, se assim desejar, entendendo que é o melhor a fazer, perdoar o cônjuge infiel, e contar com a graça de Deus na restauração e manutenção de seu casamento e família.
 
O divórcio é, como no tempo de Jesus, uma solução parcial para uma situação série e cruel e pode ser a única solução razoável. Desastrosos triângulos amorosos, crueldade doméstica, abuso de crianças, homicídio e suicídio (há casos de ocorrências porque a igreja proibia o divórcio), são algumas das consequências documentadas de casamentos que falharam, mas não terminaram. O fracasso nos casamentos vem primeiro, depois o divórcio.
 
Devemos lembrar que Jesus foi questionado se poderia haver divórcio por qualquer motivo, Mateus 19:03. Acredito que além da infidelidade conjugal e deserção obstinada, também pode ser incluído como um terceiro motivo para o divórcio: o abuso ou agressão física. São pessoas que sofrem coisas como, espancamento, assédio moral ou mental, ameaças de morte. Uma verdadeira tortura!
 
Definido as excessões da permissão ao divórcio, vem a segunda questão: pode-se realizar um segundo casamento? Há respaldo bíblico?
 
Sim, acredito que nos três casos acima, infidelidade conjugal, abandono obstinado e agressão física, existe a permissão para um segundo casamento, para a parte inocente.
 
1 - No caso de adultério, conforme, conforme Mateus 5:32: "Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério". O texto diz que cometerão adultério os que se casarem com repudiados de casamento anterior onde não houve adultério. Infere-se que em havendo adultério, existe liberdade para um casamento que não será adulterino, conforme Mateus 19:09: "Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua  mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério".
 
2 - No caso do abandono, Paulo ensina em I Coríntios 7:15: "Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz". Infere-se da passagem que a servidão referida é a de ficar casado com a pessoa que abandona o lar, pressupondo que nesses casos, o crente poderia seguir adiante e casar outra vez. Era de se esperar que Paulo diria algo contra casar outra vez, se fosse esse o caso, mas ele não diz. O que ele foi contra, foi a pessoa crente se separar do descrente, alegando que o outro não era cristão. Nesse caso, ele diz para se reconcilar ou ficar sem casar, I Cor 7:11.
 
3 - A base para o terceiro motivo é o aplicativo ao princípio que Jesus deixa claro que a vida é maior do que o mandamento (Mateus 12:1-12). Na minha opinião é muito farisaísmo e até desumanidade, um líder cristão chegar para uma pessoa que está sendo agredidade é dizer que tem que continuar no relacionamento, ou melhor dizendo na "servidão", I Cor 7:15. A pessoa que é vítima de abuso, além de pedir o divórcio, deve ainda invocar a Lei Maria da Penha para o agressor. 
 
A controvérsia acerca do divórcio no mundo cristão tem sido interminável. Centenas de escritores têm se expressado a respeito, e ele tem sido debatido em concílios e convenções denominacionais há séculos, mas nosso povo ainda continua sem entendê-lo bem.
 
Nos dias atuais, no meio evangélico brasileiro, há inúmeros casos de pastores e de ovelhas que se divorciaram sem se enquadrarem nos casos bíblicos, e que se casaram novamente. Há também as questões práticas que envolvem o divórcio. Sobre isso o pastor Esequias Soares comenta de maneira bastante pertinente, em seu livro, O Divórcio à luz da Bíblia:
 
“O problema do divórcio não se resume ao que temos visto até agora. Há o lado prático, extremamente complexo e, em muitos casos, de difícil conclusão [...]. O Senhor Jesus disse que quem casa com o cônjuge divorciado ou divorciada, que tenha sido a parte infiel no primeiro casamento, comete adultério. Assim ambos estarão em adultério (Mt 19.9; Mc 10.11, 12). Como a Igreja pode receber em comunhão uma pessoa que cometeu adultério, destruiu o próprio lar, depois vem com outro cônjuge pedir a sua reconciliação com a Igreja, visto que à luz da Bíblia ambos estão em adultério? Será que não há reconciliação para situações dessa natureza? A Bíblia nada declara sobre isso. Afirma apenas que eles estão em adultério, mas não diz se a situação é irreversível. Fica difícil generalizar, pois cada caso é um caso. Em situações extremas, cabe ao pastor da Igreja analisar cada situação”.