Paulo estava preso em Roma, mas o evangelho não estava em cadeias. O Apóstolo, sabia discernir o passado, por isso tinha alegria no presente, e o mais importante, esperança no futuro. As adversidades não foram capazes de diminuir a grandeza do evangelho, considerado, pelo próprio Paulo, uma boa nova (Fp. 1.12), a proclamação da Palavra de Deus (Fp. 1.14), que fora encarnada em Jesus Cristo (Fp. 1.18).
DISCERNINDO O PASSADO
Paulo não demonstrou autocomiseração em relação a sua adversidade, pois mesmo preso, algemado em Roma, não se queixava pela sua condição. Ao ponderar a respeito do passado, o Apóstolo põe em perspectiva a soberania de Deus. Todas as situações adversas pelos quais passou não retiraram o foco da direção de Deus para a sua vida. Ele sequer culpou alguém, nem mesmo satanás como agente das suas lutas. Ao considerar seu passado, Paulo vê, em tudo, o propósito divino. Ele foi perseguido em Damasco (At. 9.23-25), rejeitado em Jerusalém (At. 9.26-28), esquecido em Tarso (At. 9.30), apedrejado em Listra (At. 14.19), barrado por Deus em seus projetos (At. 16.6-10), preso e açoitado com varas (At. 16.19-26), escorraçado em Tessalônica (At. 17.5,13), preso em Jerusalém (At. 21.27,28), e dispensado do campo missionário pelo próprio Deus (At. 22.17-21). Mas nada disso deteve o entusiasmo do Apóstolo, muito pelo contrário, ele abraçou essas circunstâncias como possibilidades. Na verdade, isso tudo funcionou como uma abertura para o projeto de Deus em sua vida. O termo prokope, em grego, em Fp. 1.12, significa que Deus estava abrindo caminhos, através da adversidade, para o progresso do evangelho. A perspectiva cristã, em relação ao sofrimento, é diferente daquela divulgada pela sociedade contemporânea. As pessoas não querem mais sofrer, elas não admitem passar por aflições. Mas Jesus não prometeu isenção de sofrimento para os seus discípulos, muito pelo contrário (Jo. 16.33). Paulo também adverte Timóteo, o jovem pastor de Éfeso, quando às adversidades pelas quais passariam todos aqueles que seguem piedosamente a Cristo (II Tm. 3.12). As adversidades, em várias ocasiões, são meios usados por Deus para forjar o caráter dos seus servos para obras maiores que esses deverão desenvolver. Nas palavras do belo hino da Harpa Crista: “os mais belos hinos e poesias foram escritos em tribulação, e do céu as lindas melodias, se ouviram na escuridão” (HC 126).
CONVICÇÃO NO PRESENTE
Paulo não se deixou conduzir pelas adversidades, seu olhar não estava centrado no passado. O presente também não lhe causava desânimo, pois ele via o presente como oportunidade para a evangelização (Fp. 1.13). Ao invés de enfocar suas adversidades, Paulo via, no sofrimento, uma maneira de contribuir para a difusão da Palavra de Deus. A história dos avivamentos comprova que os maiores despertamentos espirituais da igreja ocorrem justamente em meio à perseguição. Por isso, a prisão de Paulo em Roma não foi capaz de deter a força poderosa do evangelho de Jesus Cristo. A própria guarda pretoriana fora alcançada através dos sofrimentos de Paulo na prisão, até mesmo os demais membros do palácio (Fp. 1.13). A situação de Paulo, como costuma acontecer em tempos de perseguição, estimulou os irmãos a falarem com ousadia a Palavra de Deus (Fp. 1.14,16). Mas não era propriamente as adversidades do Apóstolo que motivava os crentes de filipos, era o próprio Senhor Jesus que assim O fazia. Naquele tempo muitos estavam pregando o evangelho com“boa vontade e por amor”. Eles não pregavam a si mesmos, uma mera filosofia humana, mas Cristo, morto e ressuscitado (Fp. 1.15-18). Evidentemente nem todos tinha as intenções corretas para pregar a Cristo, alguns deles pregavam a doutrina certa, mas por motivo errados. Isso também acontece atualmente, não poucos estão pregando a Cristo, o revelado nas páginas do evangelho, mas não por amor aos pecadores, antes ao lucro. Há até os que pregam por inveja e contenda, por autopromoção, para serem vistos pelos outros, para aparecerem. É paradoxal, e, às vezes, perturbador, reconhecer que essas pessoas levam a mensagem certa, condizente com a ortodoxia bíblica, mas que não vivem o que pregam, não têm ortopraxia. Mas como esses não estavam deturpando a mensagem, o evangelho, Paulo não os censura, diferentemente daqueles que se infiltraram na Galácia (Gl. 1.7-9). O Apóstolo não se abala com aquela situação porque não se deixa conduzir pelas vaidades humanas. Ele não está preocupado se vai perder mais ou menos espaço no ministério. Isso porque o que interessa mesmo para Paulo é que Cristo fosse pregado, que a mensagem do evangelho fosse anunciada. Essa é uma lição para as disputas entre os pregadores nos dias atuais, que querem aparecer mais do que Cristo, diferentemente do que defendeu João Batista (Jo. 3.30).
ESPERANÇA NO FUTURO
Paulo contemplava o futuro pelos olhos de Deus, por isso, conforme já destacamos anteriormente, não tinha ressentimentos em relação ao passado. Muito pelo contrário, era mesmo capaz de se alegrar, e viver o presente com gozo espiritual. Ele estava certo de um futuro promissor, não necessariamente neste tempo, mas no futuro, em Deus (Fp. 1.19-21). Paulo não é adepto do estoicismo, doutrina filosófica que se compraz no sofrimento. Ele está preso, e deseja sair da prisão, tem expectativa quando a sua libertação (Fp. 1.19). A oração da igreja motiva a confiança do Apóstolo na sua liberdade. Ele sabe, consoante ao que diz Tiago, que a oração do justo pode muito por sua eficácia (Tg. 5.16). Deus usará os homens para coloca-lo em liberdade, mas isso acontecerá por uma obra soberana do Espírito Santo. É maravilhoso testemunhar os avanços da obra de Deus na vida de um homem ou mulher que olha para o futuro. Um dos principais problemas nas igrejas é justamente esse, há pessoas, inclusive líderes, que focam apenas o presente. As disputas, não poucas vezes, estão alicerçadas em interesses meramente terrenos. Mas Paulo está olhando para o futuro, ele tem esperança, em grego, apokaradokia, que significa “mirada fixa em um objeto de desejo”. Trata-se de uma esperança intensa, direcionada para um foco preestabelecido, ignorando outros interesses. A maior preocupação do Apóstolo é a de não ser envergonhado diante de Deus, ele trabalha para glorificar a Cristo em seu corpo (Fp. 1.20). Ao contrário do que muitos estão fazendo hoje em dia, não estava preocupado em construir seu próprio império. Ele sabia a razão pela qual estava atuando no ministério de Cristo, fora comprado por alto preço, para glorificar Cristo em seu corpo (I Co. 6.20). A glória de Deus deve ser a principal motivação de todo obreiro da seara cristã, Paulo quer glorificar a Cristo em sua vida, e se necessário for, na própria morte.
CONCLUSÃO
Essa atitude de Paulo é justificada porque, para ele, o viver é Cristo, não o dinheiro, ou os bens terrenos, o sentido da vida é o próprio Cristo. Por esse motivo morrer é lucro, ele não está apavorado, como acontece com o homem moderno, com a possibilidade da morte (Fp. 1.21). Para o cristão, a morte não é o fim, mas o descanso das fadigas (Ap. 14.13), é ser aperfeiçoado para entrar na glória (Hb. 12.23). A morte não é motivo de pavor para aqueles que militam na obra de Deus, pois esta, ao chegar, é bela aos olhos de Deus (Sl. 116.15).
BIBLIOGRAFIA
LOPES, H. D. Filipenses. São Paulo: Hagnos, 2007.
MOTYER, J. A. The message of Phillipians. Leicester: Inter-versity Press, 1984.
Fonte: www.subsidioparaebd.com.br/