quinta-feira, 18 de julho de 2013

Empresa da Globo promove feira evangélica com pastores polêmicos como atração

A FIC (Feira Internacional Cristã) reúne empresas ligadas ao mundo dos evangélicos no Expo Center Norte, em São Paulo, até o próximo domingo.
 
Modelos com roupas comportadas nos estandes, um pôster gigante do pastor Silas Malafaia, e o governador Geraldo Alckmin (PSDB), todo sorrisos, tirando foto ao lado do casal Estevam e Sônia Hernandes, líderes da Igreja Renascer que ficaram detidos nos EUA por evasão de divisas. 
Esta é uma feira de negócios em que os vendedores se apresentam com um "Deus te abençoe" e se despedem com um "amém". A Feira Internacional Cristã acontece até domingo no Expo Center Norte e marca a posição evangélica no "mercado das almas" às vésperas da investida católica com a vinda do papa Francisco para o Rio e Aparecida (SP).  
A feira foi inaugurada nesta quarta-feira (17) com a presença do governador paulista. O ponto alto de sua passagem foi ganhar um exemplar autografado do livro "Milagres", do apóstolo Estevam Hernandes, e posar para foto ao lado de bispa Sônia, sua mulher.
Outros dois líderes religiosos envolvidos em política estão entre as atrações da feira. São eles: Silas Malafaia, que anunciou apoio para o presidenciável tucano José Serra em 2010, e Robson Rodovalho, que liderou os evangélicos do lado da petista Dilma Rousseff. Malafaia ainda é habitué de polêmicas contra avanços dos direitos civis de homossexuais.
Outro detalhe curioso do evento é que a organização é da empresa Geo, que é ligada às Organizações Globo. Não por nada a Som Livre, outra empresa da Globo, tem estande com artistas gospel na feira. A Som Livre também é o selo dos CDs e DVDs oficiais da Jornada Mundial da Juventude, motivo da visita papal da próxima semana. E a Globo é a responsável pela geração e distribuição de imagens do papa Francisco no Brasil. Já a Igreja Universal, dona da TV Record, ficou de fora da feira por motivos óbvios.
Há vários quiosques ocupados por agências de turismo especializadas em viagens para Israel, uma febre entre os neopentecostais mais abonados. Em um deles, os expositores oferecem os tais tours "Caminhos da Fé" vestidos de beduínos.
As ofertas literárias trazem de livros de autoajuda de televangelistas a publicações infantis com orações e Bíblias em braile.
Entre os CDs e DVDs, estão o da cantora Rachel Malafaia (nora do polêmico pastor), o de Carlos Moyses ("A Harpa Cristã"), o do grupo "Os Arrebatados", e até palestras de aconselhamento matrimonial (o melhor título de capa é "Homem Banana, Mulher Abacaxi", do autor Claudio Duarte). Mas, no quesito musical, o destaque é mesmo o Pregador Lou, com seu visual de rapper e seus shows "para ministrar a partir de suas músicas".
Também não faltam as camisetas engraçadinhas, principalmente as que parodiam marcas famosas como "Jesuspod", "Lifebook - Jesus quer incluir você no seu livro", "Pecado Zero - Viva o lado santificado da vida" ou "UFC - Único Fiel de Cristo". Todas por R$ 25.
Para decoração de igrejas e residências, o item mais surpreendente é uma reprodução da Arca da Aliança, onde foram guardadas as tábuas dos Dez Mandamentos e que está desaparecida há milênios. A peça em madeira e metal vale R$ 6.990,00 em seu tamanho natural.
Também no setor de móveis, três fabricantes oferecem cadeiras para templos. Um deles apresenta como diferencial um recheio com espuma automotiva injetada, porque "sua igreja merece o melhor" (como o slogan anuncia).
Tem ainda óleos para unção, joalherias com crucifixos de ouro, pôsteres com citações bíblicas ("A Fé Move Montanhas"), cursos de educação financeira, instrumentos musicais, ímãs de geladeira e quebra-cabeças com imagens de Jesus.

Fonte: UOL, via Notícias Cristãs,  http://www.noticiascristas.com/
 
Meu Comentário: A reportagem no terceiro parágrafo fala o que é a Feira Internacional Cristã: ("Esta é uma feira de negócios em que os vendedores se apresentam com um "Deus te abençoe" e se despedem com um "amém").  Ao ler essa matéria me vieram duas imagens a mente. Primeiro foi a de Jesus no Templo em Jerusalém, derrubando as mesas dos cambistas e negociantes e batendo com um azorrague (chicote), enquanto bradava: "Vocês transformaram a casa de meu Pai em um covil de salteadores". A outra imagem é a do filme "Lutero", lançado em 2003, quando o então padre alemão visita a primeira vez a cidade de Roma, esperando lá encontrar respostas as suas indagações espirituais. O que ele encontra na capital religiosa da Igreja Católica é um tremendo comércio em nome da fé. Saiu de lá e pouco tempo depois, estava liderando a Reforma Protestante.
 
E nós hoje, que faremos?  
 
 

segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Rosto da Adúltera de Jesus


Então, Jesus foi abordado por um grupo de pessoas muito preocupadas com a retidão da lei. Traziam consigo uma mulher em prantos que havia sido pega em adultério. Jogada ao chão, ela tremia de medo. O povo pedia para que Jesus fizesse valer a lei: morte da adúltera por apedrejamento.
Isso foi há 2.000 anos, mas ainda hoje, no mesmo Oriente Médio, tem gente que apedreja mulheres e acha (agora, no Egito) que violentá-las nas praças seja um “direito da soberania popular revolucionária”, enquanto se matam, nas mesmas praças, pelo modo ocidental de vida ou por outra forma de lei (o fundamentalismo islamita).
E assim caminha a humanidade, em ciclos, para lugar nenhum, mas com festas e crenças diferentes no meio, e demagogos a cantar…
Mas voltemos a Jesus. Fatos como esses me fazem achar que Jesus era um cabra macho. Enfrentar o povo quando este se julga movido pelo correto modo de viver é algo que exige, como dizem los hermanos, “cojones”. Jesus disse que quem tivesse livre de pecado que atirasse a primeira pedra. Todos foram embora.
Esta é uma das passagens típicas do mundo bíblico na qual fica claro o tema da hipocrisia como motivação profunda daqueles que se acham arautos do bem, moral ou político.
Mas Jesus era um filósofo hebreu e estes filósofos eram diferentes dos filósofos gregos. O mundo bíblico é diferente da filosofia grega. Naquele, o “regime da verdade” (ou modo de busca da verdade) é interno e moral, na filosofia grega é externo e político.
O problema de saber se o que eu digo é verdade ou não, quando falo ou argumento, inexiste na Bíblia, porque o personagem principal do diálogo é Deus, e Ele sempre sabe de tudo, não há como mentir para Ele como há como mentir para outro homem ou para assembleia “soberana”, como na filosofia ou democracia gregas. Segundo o crítico George Steiner, o Deus de Israel irrita porque está em toda parte e sabe de tudo.
Sabe-se que o advento da democracia grega levou muita gente a pensar sobre a diferença entre pura retórica, que visa o mero convencimento dos outros numa assembleia (eu acho que a democracia é 90% isso mesmo), e a verdade em si do que se fala.
O problema que nasce daí é a relatividade da verdade, dependendo do ponto de vista de quem fala e de quem ouve. Na Bíblia, o problema é se minto para mim mesmo ou não. Na esfera pública, é o tema da hipocrisia, na privada, o da verdade interior. A Bíblia criou o sujeito e as bases da psicologia profunda.
Na Bíblia, como o poder é sempre de Deus e ele é mais íntimo de mim do que sou de mim mesmo, o problema é como eu enfrento a mim mesmo. A preocupação com a lei é sempre acompanhada da atenção para com a falsidade de quem diz ser justo.
Por isso foram os hebreus que deram os primeiros passos para a descoberta do espaço interior onde vejo a distância entre mim e a verdade sobre mim mesmo, em vez de me preocupar com a verdade política, sofro com a mentira moral.
O crítico Erich Auerbach, no seu “A Cicatriz de Ulisses”, parte da coletânea “Mímesis”, reconhece este traço do texto hebraico: a relação de atenção e agonia entre Deus e seus eleitos molda o herói bíblico, dando a ele um rosto marcado por uma tensão moral.
Ainda na Bíblia hebraica, o rei David, o preferido de Deus, em seus belos “Salmos”, O encanta justamente porque expõe seu coração sem qualquer tentativa de mentir para si mesmo.
Santo Agostinho com suas “Confissões” faz eco a David. A literatura monástica e mística medievais cultivou este espaço até seu ressurgimento no século 19 no pietismo alemão de gente como J.G. Hamann, o “mago do norte”, ancestral direto do romantismo. Do romantismo e seu epicentro na verdade interior do sujeito, chegamos à psicologia profunda e à psicanálise.
A filosofia hebraica funda regimes de verdade que leva o sujeito a olhar para si mesmo ao invés de olhar para os outros. Em vez de cultivar uma filosofia política, ela cultiva uma filosofia moral da vida interior na qual não é barulho da assembleia que importa, mas o silêncio no qual os demônios desvelam nossa própria face.
Fonte: Luiz Felipe Pondé, na Folha de S.Paulo
 
Meu Comentário: Postei esse texto do Pondé, porque geralmente gosto do que ele escreve, não significando com isso que concorde com tudo. O filosofo pernambucano de origem judaica, não é cristão, mas no ano de 2011, ao conceder uma entrevista às páginas amarelas da revista Veja fez uma interessante defesa do cristianismo. Já li dois de seus livros: "O Catolicismo Hoje (2011)", e "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia (2012)". Recomendo a leitura de ambos.