sexta-feira, 26 de junho de 2015

Papa pede perdão a denominação evangélica por séculos de perseguição


Papa pede perdão a denominação evangélica por séculos de perseguição Papa pede perdão a Igreja Valdense por perseguição

A visita do Papa Francisco a Turim recebeu muito destaque da mídia por suas declarações contra a indústria bélica. Afirmou que as pessoas que fabricam ou fazem investimentos em empresas de armas não podem se dizer cristãos. Também recebeu cobertura a visita que fez ao famoso “Santo Sudário”.

Contudo, nesses dois dias em que esteve na cidade que fica perto da fronteira com a França, um fato passou quase despercebido, mas que tem grande importância para os evangélicos.
Na segunda (22), o Pontífice esteve num templo Valdense. É a primeira vez que um papa visita oficialmente um templo dessa denominação evangélica. Ele foi recebido por três pastores, e fez um pedido de perdão.

“Por parte da Igreja Católica, lhes peço perdão pelas atitudes e o comportamento não cristão e até mesmo não humano que, ao longo da história, tivemos contra vocês. Em nome do Senhor Jesus Cristo, perdoem-nos!”, clamou.
Reforçou ainda: “Podemos somente nos entristecer sobre a oposição e as violências cometidas. Eu peço ao Senhor que nos dê a graça de nos reconhecer como pecadores e que saibamos perdoar uns aos outros”, reiterou. Finalizou dizendo acreditar que existe “uma profunda ligação entre as duas religiões, apesar das diferenças”.

Durante a visita de Francisco, ele tirou fotos ao lado dos pastores e beijou um exemplar da Bíblia em Italiano. O pastor da comunidade valdense em Turim, Eugenio Bernardini, questionou diante da imprensa: “Qual era o pecado dos valdenses Eles eram um movimento de evangelização popular, realizado por leigos?”. Depois, agradeceu a iniciativa, afirmando que o pontífice “aceitou ultrapassar uma barreira histórica de oito séculos” entre os dois grupos cristãos.

Ressaltou ainda que a aproximação entre católicos e valdenses modernos, era fruto da exortação papal Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho em português), na qual Francisco exortou os cristãos a viver juntos em “diversidade reconciliada”.

Os Valdenses

Essa pequena denominação evangélica foi perseguida pela Igreja Católica Romana durante séculos na França e na Itália. A origem da Igreja Valdense, por volta de 1170, tem relação com os movimentos de renovação espiritual dentro da Igreja Católica Romana, no que mais tarde tornou-se parte da Reforma Protestante.

O comerciante francês Pedro Valdo (que vivia na Itália) teve acesso a uma Bíblia em linguagem popular e através dela iniciou um movimento que negava o papado de Roma. Até então a Bíblia era de difícil acesso e as cópias disponíveis estavam em Latim.

Inicialmente o grupo que passou a defender as ideias de Valdo eram denominados os Pobres de Espírito. Contudo, após a morte do seu líder passaram a ser chamados de valdenses, semelhantemente ao que ocorria com Lutero e a igreja dos luteranos séculos mais tarde.
Trabalhando para distribuir exemplares da Bíblia traduzidas para a língua do povo, Valdo e seus seguidores iniciaram pequenos grupos, principalmente na região da fronteira entre França e Itália.
Como era comum na Idade Média, além de perseguidos pela Igreja Católica, foram declarados hereges e finalmente excomungados em 1184. Vários papas tentaram exterminar os valdenses. Mesmo assim o grupo cresceu e se espalhou. Comandados pelo duque de Sabóia, em 1655, forças leais ao Vaticano conduziram uma campanha que envolvia tortura, estupro e assassinato contra eles.

A Igreja Valdense hoje conta cerca de 50 mil fiéis no mundo inteiro, com presença no norte da Itália, também na Alemanha, na França, nos Estados Unidos e até no Uruguai. Com informações de Christian Today e ABC, via Gospel Prime.

terça-feira, 23 de junho de 2015

O ataque aos pastores

Clint Eastwood produziu – e dirigiu – alguns filmes densos. Os que lidam com o abuso de crianças, especialmente, são inquietantes. Gostei da trama de A Troca - “Changeling”. O filme é baseado em fatos reais. Um garoto desapareceu enquanto a mãe, divorciada, trabalhava algumas horas extras em um dia de sábado. Para reencontrar o filho, Christine – Angelina Jolie – enfrenta sozinha a corrupta máquina policial de Los Angeles; ainda por cima tem de manter o emprego. Sua angústia contagia. A estrutura perversa de um departamento de polícia carcomido por politicagem parece monumental, intransponível.
O pastor presbiteriano, Gustav Briegleb – John Malkovich -, que já se vinha se manifestando contra a violência policial, une-se a Christine. A militância do reverendo Briegleb encanta por sua ética. Ao longo do filme, o pastor é destemido e persistente. A causa de mulher e do seu filho se tornam sua causa. Obviamente, no melhor estilo de Hollywood, o homem ajudar a recuperar o menino e a desmontar a farsa que dominava o gabinete do xerife. Quando apareceu o “The End”, e projetaram as explicações sobre os desdobramentos da cooperação entre o pastor e a mãe, falei quase em voz alta: Quando crescer, quero ser igual a esse pastor. A atuação do reverendo Briegleb havia desencadeado mudanças profundas nas leis da cidade – sua obstinação ainda salvaria pessoas que nem tinham nascido.
Ser pastor – católico romano ou protestante – tornou-se complicado. O clero, principalmente o associado ao movimento evangélico, passou a ser descrito como oportunista, incitador de ódio e aproveitador da ignorância popular. A generalização atinge muita gente que não tem nada a ver com os mega negócios que movimentam o neopentecostalismo. Não me vejo alvo da guerrilha verbal que os próprios neopentecostais começaram. Não quero precisar mostrar, o tempo todo, que nem todo os pastores merecem a vala comum dos patifes. A credibilidade de outros sofre com a mesma suspeita, e isso é ruim.
Nem todo o clero desempenha o papel de baby-sitter de crentes ávidos por uma “mãozinha” celestial. Ser ministro do evangelho não significa que alguém aceitou a função de carimbador de vistos para o céu. A quem não sabe, informo: é possível encontrar cristãos em movimentos populares. Conheço gente que marcha, não nos carnavais fora de época que se pretendem por Jesus, mas reivindicando reforma agrária. Há bons crentes – católicos e protestantes – enfronhados em militância social. Admito que muitos pastores – com certeza ocupados em azeitar a máquina religiosa – nunca abraçarão causas sociais. Fome e sede de justiça não dão fama e poucos vão dar a cara a bater na defesa de pessoas discriminadas e marginalizadas.
O momento vem sendo tomado por pastores famosos, especialistas em questiúnculas sobre doutrina, dogma. Eles se alastram e ganham espaço devido ao empenho de legislarem sobre moralismos e por suscitarem ódio e intolerância. O resultado trágico é que o testemunho cristão virou piada, deboche, escárnio.
Acredito que esse grupo conservador – poderosíssimo – tende a recrudescer em sua obstinação dogmática e obscurantista. Ele continuará a repetir fórmulas desgastadas, propagando que a fé cristã é única em resgatar as pessoas do inferno medieval e de garantir um céu de delícias. Como cristão proponho um caminho diverso. O tempo, os recursos financeiros e a mobilização de tanta gente crente não podem ser desperdiçados. É necessário que progressistas se manifestem e afirmem que a função da igreja consiste em resgatar a vida, protegendo os indefesos, seja na opressão do mercado, no preconceito de gênero e até na frieza eclesiástica. Espero que chegamos ao fundo do poço logo. E daí, mais evangélicos comecem a repensar suas premissas teológicas fundamentalistas. O ônus de mostrar relevância está com a igreja. Talvez o atual desgaste não sufoque, mas ajude a termos mais ícones como Martin Luther King e Dorothy Stang.
Como pastor pentecostal, procuro o caminho estreito. Desde sempre denunciei que a teologia da prosperidade não é desvio da mensagem de Jesus mas uma perversidade teológica. Em nome de uma divindade “que funciona”  líderes ficaram ricos – alguns milionários e pelo menos um, bilionário. Jamais calei diante da instrumentalização do que considero cristão para fins políticos. Parei de aceitar o avivamento de uma agenda pretensamente conservadora, mas que é em sua essência, demagógico e hipócrita.
Como cuidei basicamente de igrejas urbanas, também preciso fazer um mea culpa. Confesso: perdi tempo com a máquina eclesiástica. Me deixei absorver por programações irrelevantes devido à vaidade de falar em determinadas conferências. Em nome da verdade, defendi teologias desconexas da existência. Fiz promessas irreais sem levar em conta a aspereza da história. Discuti ideias estéreis. Corri em busca de uma glória diminuta. Entreguei-me de corpo e alma à oração, fiz vigílias, jejuei. Ralei os joelhos em busca de uma espiritualidade eficiente. Acreditei que a maturidade humana aconteceria pelo caminho do pieguismo. (Ledo engano; foram meus companheiros de oração que se levantaram contra mim). Conto os anos e constato que o meu futuro ficou mais curto que o meu passado. Indago a mim mesmo: Qual a pertinência do meu esforço? O meu legado terá fôlego? Se só agora noto que o tempo é uma riqueza não renovável, me resta lamentar.
Com o achincalhe que vários líderes religiosos passam, aconselho aos pastores que abram mão de egolatrias tolas. O fascínio por títulos, riqueza, ostentação e poder político terão consequências ruins sobre vocês mesmos. Não é apenas tolice brincar de importante em nome de Deus mas, trágico. O caminho estreito continua possível. Por mais que pareça incrível, alguns já optaram por ele. Basta assistir mais uma vez ao filme do Clint Eastwood e ler a biografia de Francisco de Assis.