sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Qual o destino eterno das pessoas que nunca ouviram o evangelho?

No início da minha caminhada cristã, quando comecei a estudar a Bíblia, vez por outra, me perguntava e também ouvia de outras pessoas as seguintes dúvidas:
- Qual o destino eterno das pessoas, que nunca ouviram o evangelho?
- Estão todas sem salvação?
A resposta que geralmente ouvia eram as seguintes:
- Sim. Quem não “aceitar Jesus” vai pro inferno! E por isso que nós temos que pregar o evangelho e fazer missão.
Nosso Planeta, tem hoje mais de sete bilhões de pessoas. O cristianismo com todas as suas ramificações, que vão do catolicismo romano, ortodoxo, ao protestantismo, não somam juntos metade da população mundial. Pergunta-se: E os outros bilhões?
Se a igreja não conseguir atingir eles, como fica? Será que Deus não pode agir, sem a ação da igreja?
 Um tema que praticamente você quase não encontra bibliografia nas editoras evangélicas é sobre a salvação dos pagãos fora da religião. Difícil encontrar alguém que lera algo objetivo a respeito. Na Teologia dogmática de Strong, uma alusão à eventual salvação espiritual de Sócrates, o filósofo grego.
Para mim, uma citação dessa é ao mesmo tempo fascinante e odioso, pois se de um lado a Bíblia diz que a salvação é uma obra da graça divina que decorre de nossa resposta de fé à revelação de Deus em Cristo, de outro lado a própria Bíblia afirma, contundentemente, que nenhum mortal pode pretender saber ou fazer afirmações sobre quem foi salvo ou perdido, espiritualmente, além dos portões da morte. O fato de Strong haver mencionado uma eventual salvação de Sócrates me deixou com raiva.
— Quem é esse cara para se sentir com autoridade para falar da eternidade humana como se estivesse fazendo um simples comentário sobre quem passou ou não no vestibular
Vinham-me à mente questões sobre o que teria acontecido a bilhões de seres humanos que nasceram e morreram longe do ambiente histórico e geográfico da pregação do evangelho. Ou seja: eu queria saber por que somente quem teve a oportunidade de ouvir uma determinada informação, como é o caso do evangelho, poderia ter a chance da salvação, de acordo com os ensinamentos da Igreja (e aqui neste ponto, católicos e protestantes pareciam estar quase em absoluta harmonia).
Como é que nós podemos imaginar que um Deus como o nosso haveria de reduzir a possibilidade da salvação a coisas tão humanas, condicionadas por elementos de natureza econômica, social, política e religiosa? E se eu tivesse nascido índio? E se meu chão de vida fosse a China, o Japão ou a Índia? E se minha existência histórica tivesse acontecido há três mil anos, numa tribo pagã da Europa Nórdica ou entra os índios ameríndios das Américas, muito antes da colonização européia?
Enfim, até que ponto nós temos o direito de pretender determinar que a salvação de Deus acontece apenas quando um missionário apaixonado atravessa os mares para levar a informação da redenção até os confins do planeta?
Ou seja: na minha mente, não havia dúvida quanto ao fato de que o evangelho tinha de ser pregado a todas as criaturas humanas e eu estou comprometido com isso. Meu conflito, entretanto, era sobre se Deus não poderia ser Deus para fora dessa ação missionária da Igreja e salvar a quem ele bem entendesse simplesmente por causa de sua liberdade para ser Deus. “Se for diferente”, eu pensava, “mesmo que nós digamos que a salvação é possível só por meio de Cristo, estamos condicionando esse caminho a um outro meramente humano: a vontade da Igreja de ir falar de Deus aos homens.
 Nesse caso, quem deveria ir para o inferno não era o pagão alienado, mas a Igreja desobediente, que não cumpriu sua missão no mundo. É assim que eu creio. Cristo é o centro da salvação, não a Igreja.
A implicação de meus pensamentos naquela área era que a Igreja é agente de Deus neste mundo para pregar a salvação, mas não é a detentora da administração da graça divina por meio algum. Porém tocar nesse temática pode-se estar arranhando o assunto mais delicado da experiência eclesiástica: a ação divina fora da instituição religiosa, o que pode tornar a quem levante a discussão, como alvo preferencial de pedradas como herege.
Alguém pode dizer: “Espera aí, já pensou nas conseqüências? Os irmãos vão dizer que você é universalista na aplicação da salvação e teologicamente liberal. Tem certeza que quer correr o risco?
 Outros podem dizer: “Isso tem cheiro de liberalismo. Crendo assim, quem precisa evangelizar?” — outros indagam. — “O problema é que pensando assim, você diminui o peso da pecaminosidade universal dos homens, ou ainda. “falta teologia e doutrina à essa tese”.
Mas fazendo uma defesa contra cada uma das acusações levantadas, em suma é o seguinte:
Insisto na afirmação de que só há salvação em Cristo, e que a Cruz de Jesus é o centro espiritual do universo. Todavia, a administração da graça divina, que aplica a salvação, é prerrogativa de Deus. A Igreja tem a missão de pregar a todos os homens e deve fazer isso porque Cristo ordenou. Mas a Igreja não limita o amor salvador de Deus, ou seja, Deus também age — às vezes, ou até mesmo sobretudo — fora das instituições religiosas.
 — Eu entendo a preocupação de quem faz indagações como as citadas anteriormente. Querem que os cristãos sejam doutrinariamente sãos. Eu também. E o que a postagem está defendendo é que parece que as nossas motivações para evangelizar dependem desse sentimento de que se nós não o fizermos o mundo se perderá. Também creio assim, mas isso também não impede a Deus de aplicar a graça de Cristo, mesmo sem a presença da Igreja.
Essa postagem é apenas a introdução de outros que virão sobre a relação entre o estudo teológico, a ordem de Melquisedeque e a doutrina da salvação. Aguardem.