No
início da minha caminhada cristã, quando comecei a estudar a Bíblia, vez por
outra, me perguntava e também ouvia de outras pessoas as seguintes dúvidas:
-
Qual o destino eterno das pessoas, que nunca ouviram o evangelho?
-
Estão todas sem salvação?
A
resposta que geralmente ouvia eram as seguintes:
-
Sim. Quem não “aceitar Jesus” vai pro inferno! E por isso que nós temos que
pregar o evangelho e fazer missão.
Nosso
Planeta, tem hoje mais de sete bilhões de pessoas. O cristianismo com todas as
suas ramificações, que vão do catolicismo romano, ortodoxo, ao protestantismo,
não somam juntos metade da população mundial. Pergunta-se: E os outros bilhões?
Se
a igreja não conseguir atingir eles, como fica? Será que Deus não pode agir,
sem a ação da igreja?
Um
tema que praticamente você quase não encontra bibliografia nas editoras
evangélicas é sobre a salvação dos pagãos fora da religião. Difícil
encontrar alguém que lera algo objetivo a respeito. Na Teologia dogmática de
Strong, uma alusão à eventual salvação espiritual de Sócrates, o filósofo
grego.
Para
mim, uma citação dessa é ao mesmo tempo fascinante e odioso, pois se de
um lado a Bíblia diz que a salvação é uma obra da graça divina que decorre de
nossa resposta de fé à revelação de Deus em Cristo, de outro lado a própria
Bíblia afirma, contundentemente, que nenhum mortal pode pretender saber ou
fazer afirmações sobre quem foi salvo ou perdido, espiritualmente, além dos
portões da morte. O fato de Strong haver mencionado uma eventual salvação de
Sócrates me deixou com raiva.
—
Quem é esse cara para se sentir com autoridade para falar da eternidade humana
como se estivesse fazendo um simples comentário sobre quem passou ou não no
vestibular
Vinham-me
à mente questões sobre o que teria acontecido a bilhões de seres humanos que
nasceram e morreram longe do ambiente histórico e geográfico da pregação do
evangelho. Ou seja: eu queria saber por que somente quem teve a
oportunidade de ouvir uma determinada informação, como é o caso do
evangelho, poderia ter a chance da salvação, de acordo com os ensinamentos da
Igreja (e aqui neste ponto, católicos e protestantes pareciam estar quase em
absoluta harmonia).
Como
é que nós podemos imaginar que um Deus como o nosso haveria de reduzir a
possibilidade da salvação a coisas tão humanas, condicionadas por elementos de
natureza econômica, social, política e religiosa? E se eu tivesse nascido índio?
E se meu chão de vida fosse a China, o Japão ou a Índia? E se minha existência
histórica tivesse acontecido há três mil anos, numa tribo pagã da Europa
Nórdica ou entra os índios ameríndios das Américas, muito antes da colonização
européia?
Enfim,
até que ponto nós temos o direito de pretender determinar que a salvação de
Deus acontece apenas quando um missionário apaixonado atravessa os mares para
levar a informação da redenção até os confins do planeta?
Ou
seja: na minha mente, não havia dúvida quanto ao fato de que o evangelho tinha
de ser pregado a todas as criaturas humanas e eu estou comprometido com isso.
Meu conflito, entretanto, era sobre se Deus não poderia ser Deus para fora
dessa ação missionária da Igreja e salvar a quem ele bem entendesse
simplesmente por causa de sua liberdade para ser Deus. “Se for diferente”, eu
pensava, “mesmo que nós digamos que a salvação é possível só por meio de
Cristo, estamos condicionando esse caminho a um outro meramente humano: a
vontade da Igreja de ir falar de Deus aos homens.
Nesse caso, quem deveria ir para o inferno não
era o pagão alienado, mas a Igreja desobediente, que não cumpriu sua missão no
mundo. É assim que eu creio. Cristo é o centro da salvação, não a Igreja.
A
implicação de meus pensamentos naquela área era que a Igreja é agente de
Deus neste mundo para pregar a salvação, mas não é a detentora da
administração da graça divina por meio algum. Porém tocar nesse temática
pode-se estar arranhando o assunto mais delicado da experiência eclesiástica: a
ação divina fora da instituição religiosa, o que pode tornar a quem levante a
discussão, como alvo preferencial de pedradas como herege.
Alguém
pode dizer: “Espera aí, já pensou nas conseqüências? Os irmãos vão dizer que
você é universalista na aplicação da salvação e teologicamente liberal. Tem
certeza que quer correr o risco?
Outros podem dizer: “Isso tem cheiro de
liberalismo. Crendo assim, quem precisa evangelizar?” — outros indagam. — “O
problema é que pensando assim, você diminui o peso da pecaminosidade universal
dos homens, ou ainda. “falta teologia e doutrina à essa tese”.
Mas
fazendo uma defesa contra cada uma das acusações levantadas, em suma é o
seguinte:
Insisto
na afirmação de que só há salvação em Cristo, e que a Cruz de Jesus é o centro
espiritual do universo. Todavia, a administração da graça divina, que aplica a
salvação, é prerrogativa de Deus. A Igreja tem a missão de pregar a todos os
homens e deve fazer isso porque Cristo ordenou. Mas a Igreja não limita o amor
salvador de Deus, ou seja, Deus também age — às vezes, ou até mesmo sobretudo —
fora das instituições religiosas.
— Eu entendo a preocupação de quem faz
indagações como as citadas anteriormente. Querem que os cristãos sejam
doutrinariamente sãos. Eu também. E o que a postagem está defendendo é que
parece que as nossas motivações para evangelizar dependem desse sentimento de
que se nós não o fizermos o mundo se perderá. Também creio assim, mas isso também
não impede a Deus de aplicar a graça de Cristo, mesmo sem a presença da Igreja.
Essa postagem é apenas a introdução de outros que virão sobre a relação entre o estudo teológico, a ordem de Melquisedeque e a doutrina da salvação. Aguardem.