quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Subsídio para EBD - A família que sobreviveu ao dilúvio


Chegamos ao capítulo 6 de Gênesis e ao relato do Dilúvio Universal. Pouco o mundo sabe acerca dos relatos bíblicos, mas poucos desconhecem a história do dilúvio e de como Deus salvou a Noé e sua familía numa arca. Muitas teorias contra e a favor da veracidade do fato; alguns afirmam que foi local, outros defendem que foi universal. Um dilúvio é conhecido e retratado em diversas culturas, fora do relato bíblico do livro de Gênesis. Conforme o relato de Gênesis, essa catástrofe abrangeu se não toda a terra, engoliu toda a humanidade, isto também é o que se deduz dos relatos que são encontrados em todos os continentes e entre quase todos os povos da terra. Todos estes relatos se referem a um dilúvio destrutivo ocorrendo logo no início de suas respectivas histórias. Notávelmente parecidos, todos afirmam que somente um ou poucos indivíduos foram salvos e foram encarregados de repovoar a terra. Já é sabido que, até agora, os antropólogos já reuniram cerca de 250 a 300 dessas histórias, o que somente comprova a veracidade do relato de Gênesis.
A intenção do dilúvio foi a destruição da raça humana, totalmente depravada e sem recuperação; já a arca, foi designada para salvar Noé e sua família e assegurar o cumprimento do propósito divino para a criação e da promessa de salvação de Gênesis 3.15. Apenas Noé era justo em seus dias. “Disse o Senhor a Noé: Entra na arca, tu e tua casa, porque reconheço que tens sido justo diante de mim no meio desta geração.” (Gn 7.1). É interessante notar que, o que Deus resolveu destruir já era fadado à destruição: os homens eram depravados e corruptos por dentro e em si mesmos; o relacionamento do homem com seu semelhante se resumia numa palavra – violência! Ainda sobre evidências do dilúvio sugiro a leitura desta reportagem da rede ABC news sobre evidências do dilúvio: http://abcnews.go.com/Technology/evidence-suggests-biblical-great-flood-noahs-time-happened/story?id=17884533; Também sobre algumas teorias de cientistas não religiosos: http://www.wnd.com/2012/06/does-science-prove-noahs-flood/]. Vamos pensar maduramente sobre a fé cristã?

O caráter de Noé é descrito por duas palavras: justiça e integridade (Gn 6.9).O hebraico saddiqjustiça, é uma palavra forense comumente usada com referência aos homens. Significa que eles se ajustam a um padrão. Noé se ajustou ao padrão divino e encontrou a aprovação de Deus. No entanto, apesar de haver a aprovação divina, esta não implica em perfeição por parte de Noé. Implica simplesmente em que, aquelas coisas que Deus procura num homem, estavam presentes em Noé; Ele foi um homem que guardou a Palavra de Deus, que satisfez a expectativa de Deus para o homem, enquanto que o resto da humanidade estava depravada. A segunda palavra hebraica é tamim – íntegro (completo), em Noé, não faltou nenhuma qualidade essencial].

É importante salientar que não foram as obras de Noé que o preservaram do julgamento, mas a graça. “Mas Noé achou graça diante do Senhor” (Gn 6.8). Salvação é pela graça, mediante a fé, não por obras, mas para boas obras. (Ef 2.8-10). Deus revelou Seu plano de um juízo global catastrófico aproximadamente um milênio antes a Enoque, que deu a seu filho o nome de Metusalém para celebrar a memorável revelação. O nome Metusalém transmite um mau presságio e significa literalmente, “Quando ele morrer, isso será enviado”. Não é por coincidência que Metusalém morreu apenas alguns meses antes do grande Dilúvio e que sua vida seja a mais longa registrada em toda a história. A humanidade não estava apenas corrompida, mas era cheia de violência; o mundo estava pronto para o juízo (v.11). E, embora Deus tenha suspendido a execução da raça humana por muitos anos, Ele finalmente cumpriu o que havia prometido.].

De onde vieram as águas que inundaram a terra? A Bíblia afirma que “No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as janelas do céu se abriram” (Gn 7.11). As fontes do grande abismo referem-se a uma espécie de sistema subterrâneo de reservatórios de água que se precipitaram sobre a superfície terrestre. Muito provavelmente como hoje vemos os geysers atuarem. Relativamente a isto, é interessante notar que, mesmo hoje, existe água suficiente debaixo da Terra para substituir a água dos oceanos mais de 10 vezes.].

As dimensões da arca em medida padrão são de 137m de comprimento, 23m de largura e 14m de altura (no hebraico: o côvado era uma medida linear de cerca de 45 centímetros). Possuía 3 andares. Note o leitor que era uma arca, não um navio, construída para flutuar e não para navegar- não possuía leme! O criacionista holandês Johan Huibers decidiu arregaçar as mangas e construíram réplica da arca de Noé. Ele resolveu erigir a embarcação como uma demonstração de sua fé na verdade literal da Bíblia. Com 150 côvados de comprimento, 30 de altura e 20 de largura (67,5 metros x 13,5 x 9,0), a arca tem três andares e é totalmente funcional. As madeiras empregadas foram o cedro e o pinho, uma vez que até hoje os teólogos não concluíram o que seria o gôfer, madeira utilizada na arca original (Gênesis 6:14). Aberta à visitação após dois anos de construção, deixou o público boquiaberto, apesar de ter apenas metade do comprimento da original. Huibers pretende criar um zoológico no primeiro dos três pavimentos. Leia mais e veja algumas fotos em: Johan’s Ark – Wikipedia (em inglês); Ark van Noach – Site oficial (em inglês)].

Por 120 anos (Gn 6.3) Noé esforçou-se na construção da arca enquanto pregava o juízo vindouro; 120 anos foi o prazo para que o homem abandonasse o caminho ímpio e se voltasse para Deus. Em meio à iniqüidade e maldade generalizadas daqueles dias, Deus achou em Noé um homem que ainda buscava comunhão com Ele e que era varão justo. Hebreus 11.7 declara que Noé foi feito herdeiro da justiça que é segundo a fé. O Novo Testamento também declara que Noé não somente era justo, como também pregador da justiça (2 Pe 2.5). Nisso, ele é exemplo do que os pregadores devem ser.].

Como já vimos até agora, o Dilúvio descrito no livro de Gênesis foi, sem dúvida, um evento cataclísmico histórico. Ele ficou preservado na memória de muitas culturas, mais de duzentas e cinquenta, como por exemplo, a história babilônica do dilúvio, descoberto em tabuletas de argila que é o Épico de Gilgamesh.. Evidências de uma inundação global são encontradas em todos os continentes, nos desertos, nas mais altas montanhas e, até mesmo, nos oceanos.Sugiro a leitura deste artigo: http://narrativabiblica.blogspot.com.br/2012/03/evidencias-e-explicacoes-sobre-o.html].

Gênesis 7.11 afirma que “se romperam todas as fontes do grande abismo, e as janelas dos céus se abriram”. É aparente, a partir de Gênesis 1.6-7 e 2.6 que o ambiente pré-dilúvio era muito diferente do que o que temos hoje. Pedro também descreve a universalidade do dilúvio em 2Pe 3.6-7, onde afirma: “Pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio, Mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios.” Nestes versos Pedro compara o julgamento “universal”vindouro ao dilúvio do tempo de Noé e afirma que o mundo que outrora existia foi inundado com água. Também, a promessa de Deus (Gn 8.21; 9.11; 15) de nunca mais mandar tal dilúvio já teria sido quebrada se se tratasse apenas de uma inundação local. Além disso, todos os homens no mundo de hoje, segundo Gênesis 9.1,19, descendem dos três filhos de Noé, e muitos escritores bíblicos posteriores aceitaram a historicidade do Dilúvio mundial (Is 54.9; 1Pe 3.20; 2Pe 2.5; Hb 11.7). Por último, o Senhor Jesus Cristo creu no Dilúvio universal e o tomou como o tipo de destruição vindoura do mundo, quando Ele retornar (Mt 24.37-39; Lc 17.26-27).].

Observação: Ainda sobre os dias de Noé, na próxima postagem vamos abordar a questão polêmica de I Pedro 3:18-20, sobre a pregação aos espíritos em prisão.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Quem eram os filhos de Deus em Gênesis 6? O que houve de tão grave para Deus destruir o mundo antigo?


Uma das passagens que geram e geraram controvérsias no decorrer dos séculos é justamente a de Gênesis 6, onde diz que os filhos de Deus desejaram as mulheres, filhas dos homens e com elas se relacionaram e tiveram filhos, que foram os gigantes, os valentes da antiguidade, ou os Nephilins.

Nefilim, do hebraico נְפִלנ ְפִיל nefilím, que significa desertores, caídos, derrubados, mas tal termo é uma variação do termo נָפַל. Deriva da forma causativa do verbo nafál ou nefal (cair,queda,derrubar,cortar). Traz uma ideia de dividido, falho, queda, perdido, mentiroso, desertor.

Os teológos e estudiosos da Bíblia até hoje divergem sobre a natureza dos Nephilim e dos "Filhos de Deus", mencionados em Gn 6. Há duas possíveis interpretações:

1) G. H. Pember argumenta em favor da teoria que diz que os "Filhos de Deus" de Gn 6 são na verdade anjos que vieram a Terra para terem intercurso com mulheres, tiveram filhos, sendo por isso punidos e lançados no inferno, segundo a Segunda Epístola de Pedro 2:4 (é interessante notar que no original a palavra não é "inferno", e sim "tártaro" :na mitologia grega,tártaro,era o sub-nivel do Hades para os amaldiçoados.), e seus filhos se tornaram pessoas híbridas, metade humano, metade angélico (ver As Eras Mais Primitivas da Terra). Essa teoria é defendida por teólogos como John Fleming (1), S. R. Maitland (2), Caio Fábio (ideia advogada no seu livro de ficção Nephilim), Charles Ryrie, em sua Bíblia de estudo e pela maioria dos primeiros cristãos. Esteve em voga na Idade Média É também o ponto de vista de Fílon de Alexandria e dos apócrifos de Enoque e do Testamento dos Doze Patriarcas.

2) Teoria de que não eram anjos, mas sim descendentes de Sete, que ainda seguiam a Deus. As "filhas dos homens" eram filhas de Caim, afastadas de Deus, e seus filhos foram heróis posteriormente, mas a Bíblia considera-os caídos, porque se afastaram de Deus. Argumenta-se que os anjos não podem procriar e que "filhos de Deus" referia-se aos seguidores de Deus. Essa teoria foi propagada por Agostinho, C. I. Scofield, Gordon Lindsay, entre outros, sendo a mais aceita. (ver uma defesa desta teoria [1]).

3) Há outras teorias como a de pano de fundo evolucionista que diz que os "filhos de Deus" eram descendentes de Adão e as "filhas dos homens" de uma raça inferior, como, por exemplo, a Neandertal. Atualmente há pesquisas científicas que dizem que aproximadamente 4% de nosso DNA é de origem Neandertal. Alguns veem aí a comprovaçao desta linha teórica.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nefilim

Eu, particularmente, sigo a linha de pensamento que crê que os filhos de Deus eram anjos. O principal argumento contra o envolvimento sexual entre os anjos e as mulheres é tirado de uma passagem neo-testamentária, em que Jesus afirma que no céu todos seremos como os anjos, que não se casam, nem se dão em casamento. Concluiu-se, daí, que os anjos são seres assexuados, e que, portanto, não poderiam ter coabitado com as mulheres, nem tampouco lhe dado filhos.

Mas basta um exame mais acurado do texto (Mt.22:30), e veremos o que realmente Jesus quis dizer. Ele disse: “Na ressurreição nem se casam nem são dados em casamento; serão os anjos de Deus no céu”. Repare o detalhe “no céu”. De fato, no céu, os anjos são seres espirituais, que não podem se casar, ou manter qualquer tipo de atividade sexual. Entretanto, somos informados por Judas que esses anjos “deixaram a sua própria habitação” (Jd.6). Ao descer à terra, eles assumiram corpos físicos, bem semelhantes aos dos seres humanos.

O outro argumento de que os filhos de Deus são identificados como os filhos de Sete, pelo fato de esses constituírem a boa linhagem de onde viria o Messias. Já a descendência de Caim não tinha temor de Deus, e era conhecida por sua impiedade. Se os filhos de Deus eram os filhos de Sete, e as filhas dos homens eram as filhas de Caim, como a união entre essas duas linhagens pôde produzir gigantes? Não conheço qualquer caso de casais onde o marido é crente e a esposa incrédula que tenha produzido filhos gigantes, ou mesmo, uma descendência maligna. Pelo contrário. O apóstolo Paulo diz que “o marido incrédulo é santificado pela mulher, e a mulher incrédula é santificada pelo marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros, mas agora são santos” (1 Co.7:14). 

O que as Escrituras dizem sobre os anjos é que são ministros de Deus em favor dos que hão de herdar a salvação. Além disso, o próprio termo, anjo, significa mensageiro. Os vemos durante toda a narrativa bíblica, do Velho ao Novo Testamentos.
Entretanto, é possível ver que as manifestações deles mudam conforme os tempos e épocas. No V.T. há anjos tão humanos que comem e bebem, além de serem até mesmo objeto de desejo sexual dos de Sodoma. No livro de Juízes há um anjo que prega, o qual é chamado de o Anjo do Senhor.

As Epístolas de Pedro e Judas, dizem que os anjos "não guardaram a sua habitação", "foram após outra carne". Tanto 2º Pedro como Judas citam trechos do livro de Enoque.  

O Livro de Enoque é um texto escrito cerca de 300 anos antes de Cristo. Sim, nele há coisas muito belas. E além de coisas belas há muita verdade espiritual também sendo afirmada. Também não há dúvida que o que se diz dos anjos no Livro de Enoque afetou profundamente a visão dos escritores do N.T.

Paulo, por exemplo, quando fala de “céus” (3º céu), está aludindo a algo que é apresentado no Livro de Enoque. Também não há dúvidas de que tanto Pedro quanto Judas se inspiraram nas histórias de Enoque. Judas chega mesmo a mencionar explicitamente o texto. E, a meu ver, eles assim o fizeram porque no Livro de Enoque há uma mensagem verdadeira sobre significados espirituais.

Entretanto, embora creia que há muitas coisas verdadeiras em Enoque, também creio que ele não faz falta na Bíblia. O fato dele ser citado ou usado pelos apóstolos, não necessariamente deveria fazer com que ele estivesse nas Escrituras. Jesus, pelo menos, não sentiu falta dele. Mencionou as Escrituras e, em momento algum, reclamou da falta de que qualquer que fosse o livro-ausente. E foi assim porque em Jesus anjos são apenas anjos, e não seres para serem objeto de nossa preocupação especial. Entendo que, qualquer tentativa de criar uma relação espiritual com os anjos, segundo o espírito do N.T., é pagã.

Sobre Gênesis 6, quando se fala que “os filhos de Deus” possuíram as “filhas dos homens”, o que se deve dizer é que até Agostinho era opinião unânime, tanto no judaísmo como também entre os primeiros cristãos que se tratava de anjos mesmo. Foi depois de Agostinho que começou a “interpretação” de que os tais “filhos de Deus” eram os membros da descendência de Sete; filho de Adão. Nesse caso, tal “mistura” teria sido entre humanos: os descendentes de Sete com os descendentes de Caim.

Pessoalmente eu não tenho dificuldade alguma para crer que se anjos podem comer carne e aparecerem de modo humano, podem também manifestar-se de outro modo; ou seja: podem ter relações sexuais. Além disso, eles também podem ter possuído tão profundamente humanos daquela geração pré-diluviana, que algo especialmente denso pode ter afetado a própria constituição dos humanos; daí os filhos que geraram terem sido “gigantes”. 

Mas eu volto a outra pergunta do título da postagem: O que houve de tão grave para Deus decidir destruir o mundo antigo, tanto a raça humana como até mesmo os animais, Gen. 6:7?

Misturas entre linhagens e povos que serviam ao Senhor e que não serviam, foram punidas em outras ocasiões, mas nem por isso, Deus quis destruir o mundo. O que aconteceu ali, foi uma tentativa de alteração genética da raça humana por parte dos anjos e até dos animais. A designação de animais "puros ou impuros", pode ter sua origem aí. O apóstolo Paulo deveria ser adepto dessa linha de pensamento, pois em I Coríntios 11:10, ele diz que a mulher deveria ter sobre sua cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos.

Ao tentar alterar a semente da mulher, os anjos rebeldes poderiam estar tentando imitar ou querer impedir a profecia do nascimento do "descendente da semente da mulher", conforme Gen. 3:15.

Esse evento bizarro encontra eco nas lendas e mitos da cada cultura antiga do planeta. Gregos, egípcios, hindus, índios, e praticamente todos os demais povos contam acerca do envolvimento de seres humanos com seres celestiais. Flavio Josefo, o grande historiador judeu do século I, faz paralelos entre o fato bíblico e a mitologia greco-romana. O texto de Gênesis diz que os seres híbridos engendrados pelos anjos “foram valentes, os homens de renome que houve na Antiguidade” (Gn.6:4b). A mitologia não deve ser entendida como mera invenção do gênio humano. Ela surge no solo fecundo das tradições, das lendas, que nada mais são do que fatos corrompidos de verdades primitivas. É muito comum encontrarmos lendas como a de Hércules, fruto do casamento entre Zeus e uma mulher. Assim como é comum encontrarmos lendas sobre o dilúvio. Esses são pontos convergentes em todas as tradições religiosas do mundo.

Em praticamente todas as culturas antigas pode-se encontrar histórias semelhantes sobre a presença de “deuses”. Entre os egípcios, encontramos Ísis e Osíris. Entre os povos da Índia e do Tibete, encontramos lendas sobre a cidade de Shambala e os “Budas” ou “deuses” que teriam trazido ciência e sabedoria para os seus povos. A intromissão dos Nefilins entre as diversas culturas da terra explicaria, por exemplo, como a civilização Asteca, Inca e Maia adquiriu tanto conhecimento nas diversas áreas científicas, sendo capazes de produzir sofisticados calendários e mapas estelares.

Jesus disse que os últimos dias seriam como os dias de Noé (Mateus 24: 37,38), e o profeta Daniel fala que haveria também uma tentativa de misturar com a semente humana (Dan 2:43), talvez já sendo previsão do avanço da genética e da tecnologia. Ou seja, os tempos são difíceis e deverão acontecer coisas mais assombrosas ainda.

Maranatha! Ora vem Senhor Jesus!






segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A magia oculta da novela ‘Os Dez Mandamentos’

 
Que feitiço esconde a telenovela brasileira Os Dez Mandamentos, da TV Record? Desde março, ela encanta milhões de telespectadores e chegou a desbancar em audiência a gigante TV Globo, algo que não ocorria havia mais de 40 anos.
Quem teria imaginado que uma história baseada em quatro livros da Bíblia judaica (Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) poderia ser capaz de conseguir em alguns momentos uma audiência maior que os jogos da seleção brasileira nas eliminatórias para a Copa de 2018 ou que o Jornal Nacional, da Globo, imbatível em termos de visibilidade por abraçar todas as classes sociais, dos milionários à classe C?
São perguntas que se fazem, perplexos, os autores de novelas e empresários da cultura televisiva, que nunca teriam imaginado um sucesso tão inesperado da primeira telenovela brasileira, e possivelmente mundial, baseada na Bíblia.
A resposta não é fácil, porque talvez se trate de um sucesso forjado por vários fatores que tiveram um encontro feliz e inesperado.
Há quem pretenda fundamentar esse sucesso da telenovela no fato de ser exibida numa rede evangélica, cujo público acolhe com aplausos um tema bíblico como fundo da trama.
Ao mesmo tempo, esse público, crítico com as criações da Globo – consideradas excessivamente liberais em matéria de sexo e outros assuntos que são polêmicos ou tabus para os religiosos –, talvez possa assistir a Os Dez Mandamentos com os filhos sem se escandalizar.
Poderia ser, de fato, que certo conservadorismo evangélico seja um dos fatores para o sucesso. Mas, é pouco para competir e até desbancar em alguns capítulos o inexpugnável castelo de audiência da Globo, com uma experiência de meio século de telenovelas vendidas para o mundo inteiro, sem restrições econômicas que lhe impeçam de contratar os melhores autores e atores.
Talvez o feitiço de Os Dez Mandamentos, que alcança a um público mais amplo que o das igrejas evangélicas, consista em boa parte de algo que ninguém teria imaginado: a magia escondida nas incríveis e apaixonantes histórias contidas na Bíblia, o único livro declarado Patrimônio da Humanidade, que se permite o luxo de se chamar emblematicamente “o Livro” – pois é isso que “a Bíblia” significa em grego.
É a publicação mais vendida no mundo, com cinco bilhões de exemplares, a única traduzida para mais de 2.000 línguas e dialetos, o primeiro livro publicado quando Gutemberg inventou a prensa, a primeira obra da história considerada mais do que um livro e uma das mais citadas na moderna literatura do grande escritor argentino Jorge Luis Borges, que chegou a dizer que depois dela todos os outros livros são versões dela.
A Bíblica, que começou a ser escrita há mais de 3.000 anos por autores desconhecidos, abrange todos os gêneros literários e encerra em seu seio todos os ingredientes da melhor literatura mundial: intriga, erotismo, mistério, violência, traições, ternuras e crueldades, anjos e demônios.
 
A Bíblia e suas histórias, como a de Moisés encenada na novela (que narra a libertação do seu povo judaico, então submetido à escravidão pelos egípcios) é, segundo os especialistas, a história da humanidade, de cada família e de cada um de nós, com suas luzes e sombras, virtudes e pecados, desilusões e esperanças, traições e lealdades.
É o grande romance da humanidade, com suas derrotas e vitórias, seu desejo de libertação e a constatação de que a vida não é mais do que um punhado de areia que escorre com assombrosa rapidez pelas frestas do tempo. Une eternidade e fugacidade.
A Bíblia é o único livro que é tão laico como religioso, porque desnuda a fragilidade humana, sua fé e seu ateísmo, suas dúvidas e certezas. São não uma, mas milhares de histórias que intrigam e apaixonam.
Costuma-se dizer que as novelas da TV Globo refletem a modernidade da nossa sociedade, o hoje, ao passo que Os Dez Mandamentos, da Record, seria a história do passado, uma obra de época. Isso implica ignorar que, como nas famosas matrioscas russas, na Bíblia se encaixa o que há de mais antigo e de mais moderno na História humana.
Existe, com efeito, algo mais antigo e ao mesmo tempo mais atual e moderno que a história de Moisés com a libertação do seu povo? Que o grito dos profetas alertando aos homens sobre o perigo que correm se ignorarem o mundo dos pobres e explorados, se perderem o respeito pelo mistério e se continuarem escravizando outros povos e inventando guerras?
As vistosas e repugnantes pragas que Javé enviava contra os súditos do Faraó, que se negava a libertar o povo de Moisés da escravidão, não nos recordam os perigos que corre hoje a humanidade, ameaçada por pragas bem mais perigosas, como a bomba atômica, o terrorismo internacional ou a transformação da Terra em um deserto?
Não se devem tirar os méritos de um roteiro como o de Os Dez Mandamentos, bem escrito e urdido, das suas magníficas encenações, dos seus grandes atores e dos meios econômicos que não foram poupados em sua criação. E nem da sua pitada de sutil erotismo.
Entretanto, talvez o verdadeiro segredo do seu sucesso seja que a história bíblica tem a capacidade de saber falar ao homem de hoje, com símbolos e mitos ancestrais, sobre os problemas mais urgentes de nosso tempo, como por exemplo a necessidade de fustigar a solidão com o pertencimento a um povo fiel a suas raízes e identidade, a suas tradições, onde ninguém deva se sentir escravo de ninguém nem superior a ninguém por ideologia, sexo, cor ou religião.
Os Dez Mandamentos que Moisés recebeu de Deus, escritos em duas pedras, nos pedem, entre outras coisas, “não matar”, “não cobiçar a mulher do próximo”, “não adorar os ídolos” (consumismo?), “não roubar”, “não mentir” e “respeitar pai e mãe”.
Você acha isso pouco moderno no mundo de hoje e no Brasil da violência, da corrupção, das traições e das mentiras, sobretudo políticas?
Em um trabalho acadêmico, alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) discutiram quais mandamentos anulariam ou corrigiriam hoje, e quais acrescentariam. Resultado? Os alunos retocariam aqueles relativos ao sexo e acrescentariam o da “defesa da Terra”. Todos os outros, deixariam como Deus os entregou a Moisés.
A Bíblia, tão antiga, continua sendo mais moderna que muitas novelas de hoje.