quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Subsídio para EBD - As manifestações do Espírito Santo


Sou membro de uma igreja evangélica pentecostal desde minha conversão. Depois que fui batizado nas águas por imersão, comecei a ouvir os seguintes conselhos: “Agora meu irmão que você já é batizado nas águas, busque o batismo com Espírito Santo”. Hoje na AD, isso não é tão comum, mas à alguns anos atrás, os membros da igreja, independente se tinha funções ministeriais, incentivavam os novos crentes a buscar a chamada 2ª benção, sendo a 1ª a salvação, conforme esse conceito.

E aí o pessoal, ia orar em reuniões como: Círculos de Oração, “orações no monte”, e as vigílias. Nesses reuniões, se ouvia orações pedindo a conversão de um familiar, intercessão em prol de alguém com problema e com frequência haviam pedidos de oração para recebimento do batismo com Espírito Santo. 

No meio pentecostal, o batismo com Espírito Santo além de ser considerado uma 2ª benção, também é ensinado ao povo, que para recebê-lo tem que haver a manifestação de um “sinal externo”, ou “evidência”, que é o falar em outras línguas. Portanto, para os pentecostais, se a pessoa não fala em línguas, não recebeu o referido batismo.

Como pastor, vejo vez ou outra em reuniões de ministério, quando algum irmão com bom testemunho, dizimista, bom cooperador/auxiliar, é indicado ao diaconato, e o mesmo não fala em línguas, o que acontece? Ele simplesmente tem seu nome rejeitado na reunião porque “não é batizado com Espírito Santo”. 

Qual a justificativa que geralmente é dada para esse conceito? Geralmente se cita a nomeação dos primeiros sete diáconos em Atos dos Apóstolos no capítulo 6, quando dizem que deveriam ser escolhidos homens “cheios do Espírito Santo, de sabedoria e com bom testemunho”. 

Não estaria na hora de rever esse conceito? Falar em línguas é sinônimo de estar cheio do Espírito? Eu creio que posso estar cheio do Espírito e falar em línguas (Atos 2:4), como também creio que possa estar cheio e não falar em línguas. Afinal de contas, Paulo diz que “todos” fomos batizados no Espírito (I Cor. 12:13), mas nem todos recebem o dom de línguas (I Cor. 12:30). Ou seja, no Novo Testamento esse negócio de ter línguas como evidência e sinal e o dom de línguas como duas coisas distintas, não coaduna com I Coríntios capítulos 12 e 14, onde se menciona apenas o dom de línguas. 

No entendimento de outros estudiosos da Bíblia, o texto de Gálatas 3:2 e 5; não faz distinção entre 1ª e 2ª benção, dando a entender que batismo com o Espírito Santo é sinônimo de conversão, regeneração, novo nascimento, salvação, e crer para a justiça. 

Alguns interpretam o batismo como algo que, supostamente, faz aqueles que o recebessem se tornarem “super-homens”, seres acima do bem e do mal, com poder sobre tudo e todas as coisas, e livres de todo mal. Ora, quem lê as cartas de Paulo aos Coríntios vê que tudo o que não faltava lá eram dons, embora tudo o que faltasse lá fossem os frutos do Espírito, pois, mesmo cheios de dons e salvos na Graça, ainda eram meninos carnais e bobos.

Às Vezes a pessoa freqüenta, uma igreja na qual se ensina que o batismo com o Espírito Santo resolve todos os problemas. É a segunda benção. E quem vive tendo dificuldades, e ainda não falou em línguas estranhas, é porque não tem essa “segunda benção”. Então, o cidadão fica lá gemendo, e se comparando aos demais, e sempre sentindo que está andando para trás.

Depois de um tempo começa até a questionar se de fato, algum dia, já conheceu o Senhor. Conforme é ensinado pode ser até perversa com a alma, pois viola a liberdade de Deus de se manifestar a quem quer e como quer, não ensina que em Cristo o que já está feito em nosso favor continuar a ser, para nós, um processo de apropriação cotidiana, e enfraquece a esperança e a segurança no coração.

Por isto também muitos crentes acordam “salvos” e dormem “perdidos”, dependendo de se foram “corretos” ou não durante o dia. Essa perspectiva de “fé” nega os bens da Graça, que é favor imerecido. Ai vai ficando um conflito ainda maior. Afinal, você pensa, que crente sou eu que não consegue receber essa benção do batismo? 

O objetivo deste artigo é delimitar conceitos e esclarecer certa confusão comum entre aqueles que conhecem o pentecostalismo artificialmente. Portanto, é necessário entender bem a diferença entre um continuísta e um pentecostal. Não visamos com isso nenhum tipo de censura, mas apenas a melhor compreensão do fenômeno carismático e de sua teologia.

O que é continuísmo?

O continuísmo ensina que todos os dons extraordinários expressos nas Escrituras estão disponíveis para os nossos dias a qualquer cristão inserido na Igreja. Portanto, todo pentecostal é necessariamente continuísta. Agora, nem todo continuísta é pentecostal, isso porque o pentecostalismo vai além do continuísmo. Alguns continuístas famosos não estão dentro da tradição pentecostal. Alguns teólogos como Donald A. Carson, John Piper, Wayne Grudem, por exemplo, são de tradição calvinista e não possuem nenhuma ligação direta com igrejas pentecostais.

O que é pentecostalismo?

É um continuísmo acrescentado de outro dom extraordinário: o Batismo no/com o Espírito Santo. Esse dom, segundo a teologia pentecostal, capacita o crente ao serviço da proclamação (cf. Atos 1.8). Não é um dom melhor nem pior do que os demais, mas difere no propósito. Enquanto os dons gerais estão voltados para dentro da Igreja, o Batismo no Espírito está voltado para fora. É a Igreja capacitada a agir no mundo, enquanto os demais dons capacitam à igreja na ação comunitária de edificação e consolo. No pentecostalismo estritamente assembleiano, especialmente baseado em uma teologia lucana diferente (todavia complementar) à teologia paulina, se ensina que esse dom vem acompanhado de um sinal, o falar em línguas. Esse sinal não deve ser confundido com o dom, que é a variedade de línguas.

Veja o quadro e entenda a diferença entre os três grupos que comungam da crença na ação dos dons em nossos dias.


Continuísmo
Pentecostalismo
Pentecostalismo Assembleiano
Dons Espirituais
Todos os dons extraordinários estão presentes na contemporaneidade.
Todos os dons extraordinários estão presentes na contemporaneidade.
Todos os dons extraordinários estão presentes na contemporaneidade.
Batismo no Espírito Santo
É sinônimo de conversão.
É um dom que capacita a igreja a proclamar o Evangelho. É diferente da conversão e pode ser acompanhado ou não de outros dons como profecia, glossolalia, curas etc.
É um dom que capacita a igreja a proclamar o Evangelho. É diferente da conversão e é acompanhado dos falar em novas línguas, não como dom, mas como sinal.
Hermenêutica
Não há diferença entre a teologia lucana e paulina na pneumatologia.
Não há diferença entre a teologia lucana e paulina  na pneumatologia.
Há diferenças complementares entre a teologia lucana e paulina na pneumatologia.
Alguns Expoentes
D. A. Carson; N. T. Wright, John Stott, Wayne Grudem.
J. Rodman Williams; William Seymour; Martyn Lloyd-Jones; Gordon D. Fee; James K. Smith.
Stanley Horton, William Menzies, Robert Menzies, Amos Yong, Roger Stronstad,


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