terça-feira, 17 de setembro de 2019

Obreiros em Perigo

Vim a saber, não faz muito tempo, que um jovem e bem-sucedido pastor suicidou-se; a notícia deixou-me bastante preocupado. Os motivos que o levaram a essa decisão insana (e desnecessária) ainda não foram devidamente elucidados. Confesso que, até aquele momento, jamais ouvira falar de um fato como este, pois o suicídio, em nosso meio, era algo inconcebível até mesmo entre os leigos. Afinal, somos uma comunidade reconhecida pela vida abundante e pelo domínio próprio.
Depois desse caso, houve, se não me engano, mais dois episódios semelhantes. A essas alturas, a pergunta era inevitável e constrangedora: “O que está acontecendo conosco? E o que leva um obreiro a tirar a própria vida?”. Se fizermos um exame racional e sincero de nossa práxis ministerial, constataremos que as causas que levam um homem de Deus a buscar semelhante “escape” acham-se, não raro, bem presentes em nosso cotidiano.
Às vezes, deixamo-nos exaurir espiritual, psicológica e fisicamente; violentamos todos os nossos limites. Se preciso, corremos à frente de Deus. Sob essas condições, alguns homens, redimensionando circunstâncias e problemas, induzem-se a ver o suicídio como a única alternativa viável. Noutras ocasiões, tais problemas e circunstâncias nem seriam percebidos. Mas, sob pressão, são formidavelmente retrabalhados pelo inimigo de nossas almas.
O objetivo deste artigo é alertar os que exercem o santo ministério a precaverem-se contra tal prática. Entre os males a evitar, preventivamente, destacaremos três: o ativismo ministerial, a maldição da igreja-empresa e os pecados e iniquidades não confessados.
Ativismo ministerial
Embora não queiramos admitir, o ministério cristão tornou-se, em alguns campos, altamente competitivo. Lançamo-nos de corpo e alma àquilo que achamos ser a Obra de Deus, mas já não nos damos ao Deus da Obra. Não dispomos de tempo para ler a Bíblia, orar, jejuar, cuidar dos filhos e usufruir dos enleios da vida conjugal.

Nossas agendas estão sobrecarregadas; são estressantes e nocivas. Nesse redemoinho destruidor, esquecemo-nos de algo básico na Vinha do Senhor: nem toda atividade redunda em produtividade. Às vezes a contemplação de Maria é mais produtiva do que a agitação de Marta (Lc 10.38-42).
Todo esse ativismo leva-nos a um esgotamento espiritual, mental e físico irreversível. De repente, surpreendemo-nos a fazer coisas que, noutras circunstâncias, repeliríamos. É hora, pois, de entendermos algo básico e comezinho: embora o nosso espírito esteja sempre preparado, a nossa carne continua tão fraca hoje quanto ontem. Eis por que temos de orar e vigiar noite e dia (Mt 26.41). O descanso também faz parte de nosso processo de santificação.
Na verdade, querido irmão, Deus jamais permitirá que sejamos provados além das nossas forças (1 Co 10.13). Ansiosos, contudo, por chegar sempre em primeiro lugar, ignoramos todas as nossas fronteiras. Do santo ministério, fazemos uma carreira insana. Corremos até mesmo sem ter uma mensagem a entregar à Igreja de Cristo (2 Sm 18.19-32). Esquecemo-nos de que, no Reino de Deus, “não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso” (Ec 9.11). Por isso, querido obreiro, descanse no Senhor; não ultrapasse seus limites (Fp 4.6). E, dessa forma, o seu cajado não deixará de enflorar e frutificar na presença do Sumo Pastor – Jesus Cristo.
O ativismo é tão perigoso que poderá levar-nos, inclusive, ao suicídio. Uma mente exaurida é um terreno propício para Satanás semear destruições. Então, pare um pouquinho; busque um lugar a sós com o Senhor Jesus; retempere-se. Às vezes, a situação não é tão ruim quanto imaginamos. Basta abrirmos os olhos, para contemplar o livramento divino (2 Rs 6.17).
Querido obreiro, tire esse pensamento suicida de seu coração; Deus quer dar-lhe vida abundante e plena (Jo 10.10). Daqui para a frente, trabalhe para a glória de Deus, e não para o seu inchaço pessoal.
A maldição da igreja-empresa
Há obreiros que, ocasionalmente, pensam no suicídio, por não haverem alcançado as metas empresariais estabelecidas por seus gestores-mores. E, como há prêmios e loas aos que atingem alvos meramente financeiros, os que ficam para trás frustram-se, deprimem-se e começam a alimentar intentos fatais. Os que exigem tal coisa de seus cooperadores acham-se tomados pelo espírito de Laodicéia (Ap 3.14-22; 2 Pe 2.13). O Sumo Pastor, embora dono da prata e do ouro, não nos trata assim. Para Ele, a centésima ovelha é tão importante quanto às noventa e nove que repousam no aprisco.
Já imaginou ser obrigado a garantir metas e alvos cada vez mais ambiciosos e quiméricos? Os que os alcançam são honrados; auferem lucros e até prêmios. Quanto aos que não logram tais façanhas, são expostos como incompetentes.
Sob tais condições, o obreiro deixa de ser homem de Deus para tornar-se um mero gestor financeiro. E, como tal, ele tudo fará a fim de manter o seu posto e aumentar os seus ganhos. Se for preciso mentir, mentirá; se for obrigado a matar, matará; e, caso não haja mais saída, acabará por tirar a própria vida, pois não suportará cair em opróbrio diante da esposa, dos filhos e dos colegas de ministério.
Nessa empreitada insana e diabólica, há muita gente empenhando a própria alma ao Diabo.
Querido obreiro, ministério não é tráfico financeiro; é amor pelas almas perdidas. Eis o alerta que nos dá o apóstolo Pedro: “E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme” (2 Pe 2:2,3).

Quando o serviço cristão é exercido, de acordo com o modelo bíblico, nenhum recurso faltará à Vinha do Senhor – os espirituais serão abundantes; os materiais hão de sobejar. Não faça da Igreja de Cristo uma empresa, pois Ela é a Noiva do Cordeiro.
Pecados e iniquidades
Há obreiros que, após uma queda espiritual, veem-se de tal forma perturbados, que chegam a acalentar ideias suicidas. Alguns se arrependem, confessam suas faltas e alcançam a misericórdia do Senhor. Outros fazem, do infeliz incidente, um histórico maldito; do pecado, transitam à iniquidade; fazem-se inimigos pragmáticos de Deus. Há inclusive os que se matam, por não se imaginarem sem as benesses do cargo; amando a glória pessoal, desprezam a divina.
De fato, o pecado, na vida de um pastor, é algo rumoroso; gera afrontas contra a Igreja e contra o próprio Deus (2 Sm cap. 12). Por esse motivo, alguns optam por não o confessar; escondem-no. Mas, sempre que isso ocorre, o prejuízo é maior; compromete o nosso destino eterno. O suicídio também não é a solução; é um escape ilusório e covarde. Quando do Julgamento Final, teremos de prestar contas de dupla culpa ao Senhor: a iniquidade que nos levou à queda e o suicídio em si.
Se este for o seu caso, querido obreiro, não se limite a buscar um colega de ministério, mas um amigo verdadeiro e franco como Natã. O profeta não se limitou a repreender Davi, mas o ensinou a trilhar o caminho do arrependimento. Haverá consequências? É impossível livrar-nos destas. No entanto, as eternas são infinitamente mais pesadas do que as temporais. Tenho certeza de que Davi, em momento algum, pensou no suicídio. Ao invés de acabar com a própria vida, compôs o Salmo 51, onde expõe publicamente o mais doloroso capítulo de sua vida.
Conclusão
Nós, pastores, também carecemos de pastores. É chegado o momento de nos prepararmos adequadamente, para socorrer os obreiros que, devido ao ativismo ministerial, já ultrapassaram todos os seus limites. Se nada fizermos por esses homens, virão eles, eventualmente, a optar pelo suicídio como a única solúvel viável para os seus problemas.
Quanto aos que pressionam seus obreiros com metas afrontosas e iníquas, o que tenho a dizer? Voltem ao primeiro amor, e não ajam como as corporações mundanas; para estas, um gestor não passa de uma peça descartável. Mas, para o Senhor da Vinha, até o obreiro da última hora é valioso.
Finalmente, socorramos os obreiros, que, por não vigiarem, caíram em pecado. No tratamento destes, evitemos dois extremos: fingir que nada aconteceu e transferi-los de “paróquia”, ou lançá-los no vale do desprezo. Eles precisam de nosso socorro espiritual, emocional e, às vezes, financeiro. Em muitos casos, eles não poderão voltar ao ministério. Que sejam, pois, digna e sabiamente amparados.
Sejamos amigos sinceros dos obreiros de Cristo, e não meros colegas de ministério. Não permitamos que outros homens de Deus venham a ver o suicídio como a única alternativa. Jesus Cristo é a única solução.          
 

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Existe pentecostal reformado?


A Reforma Protestante, logo em seu início, se dividiu em dois grupos: a Reforma Magistral, com o apoio do Estado, e a Reforma Radical, sem o apoio e sob a perseguição do Estado. No primeiro grupo, houve três vertentes principais: a evangélica, a reformada e a anglicana.  O pentecostalismo, como um fenômeno do século XX, não é, obviamente, derivação direta nem da teologia dos evangélicos (luteranos), nem da teologia reformada (calvinistas), nem da teologia anglicana e nem da Reforma Radical, embora algumas ênfases sejam parecidas, especialmente com os espiritualistas. O pentecostalismo moderno é um movimento tardio e nasce no seio do Movimento da Santidade, embora, logo em seu início, tenha ganhado autonomia em relação à teologia wesleyana. Mas, cabe ressaltar, o pentecostalismo não era a proposta de uma nova roupagem teológica, mas sim, da vivência carismática no seio da igreja para o impulso missiológico.

Como uma teologia globalizante, o pentecostalismo permeou várias tradições cristãs. O Movimento Carismático, ou seja, a pentecostalização das igrejas históricas, já é um fenômeno amplamente conhecido, estudado e observado desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Inclusive, a força mais dinâmica da Igreja Católica e da Igreja Anglicana, por exemplo, são carismáticas. Hoje, a “comunidade pentecostal”, ou seja, pentecostais clássicos, carismáticos e neopentecostais representam mais de 700 milhões de cristãos de todo o mundo. Diante de um fenômeno crescente tão espantoso, o pentecostalismo deixou em parte de ser objeto de rejeição para ser uma marca desejada.

“Pentecostal Reformado”

Hoje há um fenômeno novo no mundo teológico. Muitos jovens que, outrora conheceram a fé cristã em alguma igreja pentecostal, agora abraçam a teologia reformada. Obviamente, não há nada ilegítimo nisso. Normalmente, nesse processo, esses jovens compram todos os aspectos da teologia reformada de matriz presbiteriana (soteriologia calvinista, aliancismo, amilenismo, princípio regulador do culto etc.), mas ainda se identificam como pentecostais. Ora, isso é possível? Em princípio, a resposta é afirmativa. O pentecostalismo é, acima de tudo, uma pneumatologia e, sendo assim, é de fácil adaptação com outras matrizes cristãs. O grande teólogo pentecostal William W. Menzies escreveu que não há nada essencialmente novo na teologia pentecostal em relação à teologia clássica, mas, como movimento, deu a devida ênfase a um aspecto que andava esquecido na história da cristandade[1].

Como cristã, a teologia pentecostal tem como motivo temático central a pessoa de Jesus Cristo, portanto, é uma fé cristocêntrica. Ao mesmo tempo, o seu motivo orientador central é a pneumatologia. O teólogo assembleiano Amos Yong lembra: “O batimento cardíaco da espiritualidade pentecostal é a experiência dinâmica no Espírito Santo”[2]. Na teologia pentecostal, é Cristo quem batiza no Espírito Santo. Cristo também cura e virá iminentemente. A dimensão pneumatológica do pentecostalismo põe Cristo no centro numa expectativa escatológica forte – que é mais um elemento energizador da evangelização. A teologia pentecostal clássica ainda afirma que é o Espírito Santo quem batiza o convertido no Corpo de Cristo, selando-o numa nova aliança com Jesus no momento da conversão. A dimensão soteriológica do papel do Espírito, tão enfatizada pelo apóstolo Paulo, não é de maneira alguma despreza pelos pentecostais. São abundantes, por exemplo, obras de teólogos pentecostais sobre o fruto do Espírito. Essencialmente, o pentecostalismo ajudou a despertar a igreja ocidental a olhar para a pneumatologia como essencial, logo porque se trata de uma pessoa da Santíssima Trindade, mas jamais perdeu a dimensão cristológica da fé protestante. 

Agora, sobre a qualidade doutrinária do “pentecostalismo” reformado, observo cada vez que os “pentecostais reformados” são, na verdade, apenas reformados continuístas, ou seja, acreditam que existe a possibilidade de exercer dons espirituais hoje, mas não veem distinção entre o Batismo no Espírito e a conversão. Alguns são até carismáticos, pois defendem alguma “experiência do Espírito”, mas jamais poderiam se intitular como pentecostais, no sentido clássico do termo, pois negam a natureza do Batismo no Espírito Santo como um dom de capacitação evangelística que é dado ao crente; dom esse, vale lembrar, que não se confunde com a conversão.

Em sua maioria, não estou generalizando, eles entendem bastante de teologia reformada, mas pouco de teologia pentecostal. Já leram inúmeros livros de teólogos reformados, mas desconhecem o universo literário do pentecostalismo. É provável que sejam mais familiarizados com os livros do John MacArthur Jr. do que de Stanley M. Horton, por exemplo. Eles se intitulam pentecostais não porque são leitores e produtores de teologia do pentecostalismo, mas simplesmente porque estão ou já foram de alguma igreja pentecostal. Alguns dizem que são pentecostais só porque a liturgia de suas igrejas é mais, digamos, animada, do que em relação a um tradicional culto puritano. O pentecostalismo deles se resume a uma vivência litúrgica, mas teologicamente são totalmente fechados no pacote de Westminster.

Sem a crença do Batismo no Espírito, seja ele evidenciado com o sinal da glossalalia ou não (logo porque não há consenso entre os pentecostais nesse aspecto), não é possível alguém afirmar que alguém é pentecostal. O dom do Batismo, como capacitador evangelístico, é essencial para a crença pentecostal. O pentecostalismo é uma pneumatologia missiológica. É uma teologia que vai além da eclesiologia dos carismas, embora seja esse o segundo ponto mais importante de sua modesta estrutura.  O continuísmo, repito, é parte essencial do pentecostalismo, mas o pentecostalismo não se resume ao continuísmo. O pentecostalismo não está voltado apenas para a capacitação espiritual dos dons que visam a edificação da igreja no contexto litúrgico, mas, acima de tudo, busca o revestimento de poder para sair às ruas e vielas deste mundo numa proclamação evangelística com autoridade, coragem sobrenatural e milagres. 

É observável que o pentecostal reformado, como boa parte dos teólogos da tradição reformada, tende a ler os escritos de Lucas à luz das epístolas de Paulo. É necessário cuidado com a “paulinização” do Novo Testamento. Embora a importância de Paulo seja incalculável, ele não é o único autor-teólogo do Novo Testamento. Uma investigação exegética séria, por exemplo, tentará entender os pontos em comum e as ênfases diferenciadas das teologias neotestamentárias, como a paulina, a lucana, a maetana, a joanina etc. A Bíblia, embora seja uma unidade inspirada pelo Santo Espírito, não suprimiu as perspectivas de cada autor.  Se Deus quisesse uma única perspectiva sobre determinado assunto, certamente a Bíblia seria dada pronta, como o Alcorão no Islã, ou então teria um único autor humano. A Sagrada Escritura é uma unidade orgânica, como afirmavam os pais da Igreja. Um exemplo clássico de como a teologia reformada sobrepõe Paulo a Lucas é a forma como entendem “cheios do Espírito” em Atos 2 como paralelo a ser “cheio do Espírito” em Efésios 5[3]. É condição sine qua non que o teólogo que se diz pentecostal seja alguém ciente da importância da pneumatologia lucana, algo que exegetas do passado como Hermann Gunkel, Eduard Schweizer, Howard M. Ervin e I. Howard Marshall  já tinham percebido. 

Outro ponto importante é que se a teologia reformada for entendida como uma espécie de teologia pronta, o que é uma mistura de ingenuidade com arrogância, qualquer pentecostalização, por mínima que seja, será uma deturpação da própria teologia reformada. Não são poucos reformados puristas que veem com ojeriza qualquer um que se intitule como “reformado pentecostal”. Creio que quem assim pensa está equivocado. O equívoco não é nem tanto pelo sectarismo infantil, mas sim porque esses puristas olham o pentecostalismo como uma cosmovisão concorrente. O pentecostalismo não se pretende como uma teologia que engloba todos os grandes temas da fé protestante, portanto, jamais será um sistema complexo adversário da teologia reformada. O pentecostalismo tem uma ambição bem mais modesta. Da mesma forma, rejeito a ideia que sejam sistemas incompatíveis, defendida por alguns pentecostais, pelos motivos já apontados. Embora acredite que seja possível alguém ser pentecostal e reformado, na prática, conheço pouquíssimos irmãos que são pneumatologicamente pentecostais e reformados no restante (soteriologia, escatologia, etc.). 

Exemplo de diferença no entendimento da mesma expressão

Observe que a Renovação Católica Carismática (RCC) não recebe o nome de Renovação Católica Pentecostal, isso porque conforme o pentecostalismo permeou outras tradições, essas tradições também adaptaram crenças pentecostais primitivas – como a do Batismo no Espírito Santo. Na RCC, o batismo no Espírito Santo, diferente dos pentecostais clássicos, não é entendido – puro e simplesmente – como um revestimento de poder para testemunho evangelístico, mas como uma efusão recebida mediante o sacramento que dá ao cristão a plenitude do Espírito (santificação, dons espirituais e mais intimidade com Cristo). No pentecostalismo clássico, o Batismo no Espírito Santo difere da plenitude do Espírito. O Batismo no Espírito Santo e os dons espirituais fazem parte da plenitude do Espírito, mas a plenitude do Espírito não se resume ao Batismo ou aos demais dons. A plenitude do Espírito engloba, especialmente, o fruto do Espírito, a santificação e a maturidade. O Batismo no Espírito Santo não é santificação, como lembra o teólogo pentecostal Antonio Gilberto[4], e nem maturidade cristã, como escreveu William e Robert Menzies[5]. Outro grande teólogo pentecostal, como Donald Gee, chegou a afirmar sobre o Batismo no Espírito Santo: “É inútil pensar que qualquer ‘bênção’ ou ‘experiência’ possa substituir um ‘andar’ contínuo no Espírito – por mais útil que tal bênção possa muitas vezes ser”[6]. Veja que, embora os católicos carismáticos e os pentecostais clássicos usem a nomenclatura “recebi o Batismo no Espírito Santo”, eles estão afirmando experiências diferentes.

Dessa forma, a exemplo dos católicos, os reformados continuístas deveriam buscar uma nomenclatura mais adequada para o conjunto de crenças que defendem. Assim, evitariam uma confusão com outros grupos dentro da “comunidade pentecostal”. O esclarecimento em conceito não visa, pelo menos no meu caso, o acirramento de disputas, mas a valorização da didática e o aprendizado honesto. Como em qualquer casamento, a união saudável é pautada no entendimento, respeito e acolhimento das diferenças, e não na supressão dos detalhes divergentes.  

Referências Bibliográficas:

[1] MENZIES, William. The Methodology of Pentecostal Theology: An Essay on Hermeneutics. Em: ELBERT, Paul. Essays on Apostolic Themes. 1 ed. Eugene: Wipf & Stock Publishers, 1985. p 1.

[2] YONG, Amos. The Spirit Poured Out on All Flesh. 1 ed. Grand Rapids: Baker Academic, 2005. p 13.

[3] Exemplo dessa misturada pode ser lida no livro: NICODEMUS, Augustus. Cheios do Espírito. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2007. pp 36-41. Sem nenhuma metodologia clara, Nicodemos diz que Atos  2.37-41 é normativo, mas 2.1-4 não o é. A escolha do que é normativo ou meramente histórico se baseia na mera arbitrariedade do autor.

[4] GILBERTO, Antonio. Verdades Pentecostais. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 60.

[5] Leia o capítulo 15 no livro No Poder do Espírito: Fundamentos da Experiência Pentecostal (Editora Vida).

[6] GEE, Donald. Como Receber o Batismo no Espírito Santo. 6 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000. p 61. É sempre útil lembrar que o título original da obra é Pentecost. 

Fonte:  https://teologiapentecostal.blog/

Meu comentário: Como a postagem já é grande, vou deixar para o próximo post, para deixar meu posicionamento sobre o assunto, já adiantando que ele será em outra linha de pensamento.