Vim a saber, não faz muito tempo, que um jovem e bem-sucedido pastor suicidou-se; a notícia deixou-me bastante preocupado. Os motivos que o levaram a essa decisão insana (e desnecessária) ainda não foram devidamente elucidados. Confesso que, até aquele momento, jamais ouvira falar de um fato como este, pois o suicídio, em nosso meio, era algo inconcebível até mesmo entre os leigos. Afinal, somos uma comunidade reconhecida pela vida abundante e pelo domínio próprio.
Depois desse caso, houve, se não me engano, mais dois episódios semelhantes. A essas alturas, a pergunta era inevitável e constrangedora: “O que está acontecendo conosco? E o que leva um obreiro a tirar a própria vida?”. Se fizermos um exame racional e sincero de nossa práxis ministerial, constataremos que as causas que levam um homem de Deus a buscar semelhante “escape” acham-se, não raro, bem presentes em nosso cotidiano.
Às vezes, deixamo-nos exaurir espiritual, psicológica e fisicamente; violentamos todos os nossos limites. Se preciso, corremos à frente de Deus. Sob essas condições, alguns homens, redimensionando circunstâncias e problemas, induzem-se a ver o suicídio como a única alternativa viável. Noutras ocasiões, tais problemas e circunstâncias nem seriam percebidos. Mas, sob pressão, são formidavelmente retrabalhados pelo inimigo de nossas almas.
O objetivo deste artigo é alertar os que exercem o santo ministério a precaverem-se contra tal prática. Entre os males a evitar, preventivamente, destacaremos três: o ativismo ministerial, a maldição da igreja-empresa e os pecados e iniquidades não confessados.
Ativismo ministerial
Embora não queiramos admitir, o ministério cristão tornou-se, em alguns campos, altamente competitivo. Lançamo-nos de corpo e alma àquilo que achamos ser a Obra de Deus, mas já não nos damos ao Deus da Obra. Não dispomos de tempo para ler a Bíblia, orar, jejuar, cuidar dos filhos e usufruir dos enleios da vida conjugal.
Nossas agendas estão sobrecarregadas; são estressantes e nocivas. Nesse redemoinho destruidor, esquecemo-nos de algo básico na Vinha do Senhor: nem toda atividade redunda em produtividade. Às vezes a contemplação de Maria é mais produtiva do que a agitação de Marta (Lc 10.38-42).
Todo esse ativismo leva-nos a um esgotamento espiritual, mental e físico irreversível. De repente, surpreendemo-nos a fazer coisas que, noutras circunstâncias, repeliríamos. É hora, pois, de entendermos algo básico e comezinho: embora o nosso espírito esteja sempre preparado, a nossa carne continua tão fraca hoje quanto ontem. Eis por que temos de orar e vigiar noite e dia (Mt 26.41). O descanso também faz parte de nosso processo de santificação.
Na verdade, querido irmão, Deus jamais permitirá que sejamos provados além das nossas forças (1 Co 10.13). Ansiosos, contudo, por chegar sempre em primeiro lugar, ignoramos todas as nossas fronteiras. Do santo ministério, fazemos uma carreira insana. Corremos até mesmo sem ter uma mensagem a entregar à Igreja de Cristo (2 Sm 18.19-32). Esquecemo-nos de que, no Reino de Deus, “não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso” (Ec 9.11). Por isso, querido obreiro, descanse no Senhor; não ultrapasse seus limites (Fp 4.6). E, dessa forma, o seu cajado não deixará de enflorar e frutificar na presença do Sumo Pastor – Jesus Cristo.
O ativismo é tão perigoso que poderá levar-nos, inclusive, ao suicídio. Uma mente exaurida é um terreno propício para Satanás semear destruições. Então, pare um pouquinho; busque um lugar a sós com o Senhor Jesus; retempere-se. Às vezes, a situação não é tão ruim quanto imaginamos. Basta abrirmos os olhos, para contemplar o livramento divino (2 Rs 6.17).
Querido obreiro, tire esse pensamento suicida de seu coração; Deus quer dar-lhe vida abundante e plena (Jo 10.10). Daqui para a frente, trabalhe para a glória de Deus, e não para o seu inchaço pessoal.
A maldição da igreja-empresa
Há obreiros que, ocasionalmente, pensam no suicídio, por não haverem alcançado as metas empresariais estabelecidas por seus gestores-mores. E, como há prêmios e loas aos que atingem alvos meramente financeiros, os que ficam para trás frustram-se, deprimem-se e começam a alimentar intentos fatais. Os que exigem tal coisa de seus cooperadores acham-se tomados pelo espírito de Laodicéia (Ap 3.14-22; 2 Pe 2.13). O Sumo Pastor, embora dono da prata e do ouro, não nos trata assim. Para Ele, a centésima ovelha é tão importante quanto às noventa e nove que repousam no aprisco.
Já imaginou ser obrigado a garantir metas e alvos cada vez mais ambiciosos e quiméricos? Os que os alcançam são honrados; auferem lucros e até prêmios. Quanto aos que não logram tais façanhas, são expostos como incompetentes.
Sob tais condições, o obreiro deixa de ser homem de Deus para tornar-se um mero gestor financeiro. E, como tal, ele tudo fará a fim de manter o seu posto e aumentar os seus ganhos. Se for preciso mentir, mentirá; se for obrigado a matar, matará; e, caso não haja mais saída, acabará por tirar a própria vida, pois não suportará cair em opróbrio diante da esposa, dos filhos e dos colegas de ministério.
Nessa empreitada insana e diabólica, há muita gente empenhando a própria alma ao Diabo.
Querido obreiro, ministério não é tráfico financeiro; é amor pelas almas perdidas. Eis o alerta que nos dá o apóstolo Pedro: “E muitos seguirão as suas práticas libertinas, e, por causa deles, será infamado o caminho da verdade; também, movidos por avareza, farão comércio de vós, com palavras fictícias; para eles o juízo lavrado há longo tempo não tarda, e a sua destruição não dorme” (2 Pe 2:2,3).
Quando o serviço cristão é exercido, de acordo com o modelo bíblico, nenhum recurso faltará à Vinha do Senhor – os espirituais serão abundantes; os materiais hão de sobejar. Não faça da Igreja de Cristo uma empresa, pois Ela é a Noiva do Cordeiro.
Pecados e iniquidades
Há obreiros que, após uma queda espiritual, veem-se de tal forma perturbados, que chegam a acalentar ideias suicidas. Alguns se arrependem, confessam suas faltas e alcançam a misericórdia do Senhor. Outros fazem, do infeliz incidente, um histórico maldito; do pecado, transitam à iniquidade; fazem-se inimigos pragmáticos de Deus. Há inclusive os que se matam, por não se imaginarem sem as benesses do cargo; amando a glória pessoal, desprezam a divina.
De fato, o pecado, na vida de um pastor, é algo rumoroso; gera afrontas contra a Igreja e contra o próprio Deus (2 Sm cap. 12). Por esse motivo, alguns optam por não o confessar; escondem-no. Mas, sempre que isso ocorre, o prejuízo é maior; compromete o nosso destino eterno. O suicídio também não é a solução; é um escape ilusório e covarde. Quando do Julgamento Final, teremos de prestar contas de dupla culpa ao Senhor: a iniquidade que nos levou à queda e o suicídio em si.
Se este for o seu caso, querido obreiro, não se limite a buscar um colega de ministério, mas um amigo verdadeiro e franco como Natã. O profeta não se limitou a repreender Davi, mas o ensinou a trilhar o caminho do arrependimento. Haverá consequências? É impossível livrar-nos destas. No entanto, as eternas são infinitamente mais pesadas do que as temporais. Tenho certeza de que Davi, em momento algum, pensou no suicídio. Ao invés de acabar com a própria vida, compôs o Salmo 51, onde expõe publicamente o mais doloroso capítulo de sua vida.
Conclusão
Nós, pastores, também carecemos de pastores. É chegado o momento de nos prepararmos adequadamente, para socorrer os obreiros que, devido ao ativismo ministerial, já ultrapassaram todos os seus limites. Se nada fizermos por esses homens, virão eles, eventualmente, a optar pelo suicídio como a única solúvel viável para os seus problemas.
Quanto aos que pressionam seus obreiros com metas afrontosas e iníquas, o que tenho a dizer? Voltem ao primeiro amor, e não ajam como as corporações mundanas; para estas, um gestor não passa de uma peça descartável. Mas, para o Senhor da Vinha, até o obreiro da última hora é valioso.
Finalmente, socorramos os obreiros, que, por não vigiarem, caíram em pecado. No tratamento destes, evitemos dois extremos: fingir que nada aconteceu e transferi-los de “paróquia”, ou lançá-los no vale do desprezo. Eles precisam de nosso socorro espiritual, emocional e, às vezes, financeiro. Em muitos casos, eles não poderão voltar ao ministério. Que sejam, pois, digna e sabiamente amparados.
Sejamos amigos sinceros dos obreiros de Cristo, e não meros colegas de ministério. Não permitamos que outros homens de Deus venham a ver o suicídio como a única alternativa. Jesus Cristo é a única solução.