Não há “a igreja evangélica” na manifestação de sete de setembro
O que teremos é a apresentação de lideranças variadas e fieis em torno do presidente da República. Mas as igrejas chamadas de históricas não participarão.
Os evangélicos do
Brasil, especialmente os pentecostais e neopentecostais foram responsáveis por
70% – ou mais – dos votos que Bolsonaro conseguiu em 2018. Quantos seriam os
apoiadores do presidente, hoje, dentro desse “viveiro de votos”? Quem decide
pelos crentes na hora de votar? A grande arregimentação que denominações pentecostais
fazem em favor do encontro de 7 de Setembro com Bolsonaro é enorme.
Do resultado que
entregarem as igrejas, ter-se-á ideia de a quanto anda o capital político do
presidente com esse universo de centenas de denominações que se divididas por
formas de governo, usos e costumes e doutrina. Não se poder falar em “a igreja
evangélica brasileira”, como alguns usam, pretendendo identificar unidade. Não
há unidade, há , sim, enormes diferenças entre elas. Por exemplo, a maioria dos
pentecostais (ou quase todos) são visceralmente contra o aborto. Já a Universal
admite o aborto em todas as circunstâncias.
Dia 7 veremos o
quanto de poder de arregimentação mostrarão pelo Governo, através de lideranças
como Rodovalho (Sara Nossa Terra), César Augusto (Fonte da Vida), Silas
Malafaia (Vitória em Cristo) Estevam Hernandes (Renascer em Cristo), Cláudio
Duarte ...
O certo é que as
igrejas históricas, como as batistas, a Metodista do Brasil, a Evangélica da
Confissão Luterana, a Episcopal não exporão suas lideranças nessa manifestação
política. Isso até porque têm visão crítica que as mantém longes de exibições
de força, que os pentecostais hoje exibem, tal como a Igreja Católica fazia no
Estado Novo, e no todo “reinado” de Vargas, para ganhar suas prebendas.
Força retórica
Engana-se muito
quem fala ou imagina existir uma igreja evangélica no Brasil. Até como
expressão de retórica, em certos documentos eclesiais, é possível, em tons de
exaltação, alguns pastores citarem “a igreja evangélica”.É hipérbole que deve
parar por aí.
O que existe – e
está bem claro nas recentes convocações de lideranças evangélicas para a
manifestação de 7 de setembro em favor do presidente Bolsonaro – é um
conglomerado, sem unidade, de igrejas amplas, médias, as, e microigrejas. Muitas
são lastreadas em ampla autonomia, tudo se decidindo dentro de cada
congregação. Essas são as de orientação congregacional (não dependem de um
sistema central de comando).
O exemplo mais
notável de igrejas de cunhos congregacionais está nas igrejas batistas.
Ligam-se tão somente por meio de convenções que não têm qualquer poder
administrativo sobre cada igreja local. Cada igreja é independente e autônoma.
As episcopais
Por outro lado, há
as de cunho chamado episcopal, ou centralizador. Um bom exemplo delas é a é
Igreja Universal do Reino de Deus, com enorme força centralizadora a partir do
bispo Edir Macedo. Centralizadoras são também a Metodista do Brasil, a
Episcopal, a Evangélica da Confissão Luterana, a Presbiteriana do Brasil , sob
governo de bispos ou controle de seus sínodos.
A maior potência
das igrejas evangélicas no Brasil, em termos numéricos de membros registrados,
está nas assembléias de Deus. São várias, com marcas diversas: – Madureira,
Belém, Missão, etc -, cujo controle, também ocorre localmente.
Malafaia
A Igreja Assembleia
de Deus Vitória em Cristo é pequena diante das suas co-irmãs, mas tem o líder
evangélico de maior expressão hoje ao lado do presidente Bolsonaro, o pastor
Silas Malafaia, tido e havido como “o verdadeiro dono dessa denominação”, tal o
controle de cunho episcopal que sobre ela exerce. Analistas do fenômeno
religioso dizem que Bolsonaro estaria diante de grandes perdas de capital
político, do mundo evangélico. Será? Alguns notáveis, como o bispo Edir Macedo,
estaria até agora esperando por resultados a favor de sua denominação por parte
do Governo de Bolsonaro.No caso, uma intervenção forte junto ao governo de
Angola, que expulsou todas as lideranças brasileira da IURD naquele país.
De qualquer forma
não há como nos enganarmos: com o “fogo que vem do céu”, expresso no fenômeno
de falar em línguas desconhecidas, curas físicas, e os milagres tão apregoados,
além do chamado batismo do Espírito Santo, começaram a mudar o mapa das crenças
no Brasil. Isto a partir de 1912, quando dois missionários suecos fundaram uma
Assembléia de Deus, no Pará.
E quando, em
seguida, um ítalo-americano, Fracisconi, fundou a Congregação Cristã do Brasil,
na cidade de Santo Antonio da Platina, PR. Essas práticas religiosas até poucos
anos atrás atraiam apenas as populações da baixa renda. Hoje uma parte da
classe média sente-se atraída por pregações como a do “boiadeiro” Valdemiro
Santiago, tido como “grande operador de milagres” com sua Igreja Mundial do Poder
de Deus.
Por Aroldo Murá em 01 de setembro, 2021 as 08h40.
Quando acabar esse pesadelo no qual vivemos, o evangelismo e o protestantismo brasileiro deverão também assumir sua responsabilidade, como fizeram, depois da guerra, os luteranos e evangélicos alemães enfeitiçados por Hitler. Mas aí terão perdido muito de sua credibilidade.
Ainda neste domingo, muitos pastores apelaram aos seus seguidores para participar das manifestações do Sete de Setembro, argumentado ser uma manifestação pela Liberdade, ignorando ou querendo ignorar ser uma manifestação de caráter golpista, ignorando as ameaças do presidente Bolsonaro e sua intenção de reunir seus seguidores numa demonstração de força contra a Constituição e contra a Democracia.
Alguns pastores, como o carioca Cláudio Duarte, consideram uma questão de honra o evangélico participar da manifestação em favor das ideias golpistas e autoritárias de Bolsonaro, alegando mesmo e vaticinando mesmo que estamos à beira de uma guerra civil. Como Cláudio Duarte e Silas Malafaia, que convocou seus seguidores para as manifestações de Brasília e São Paulo, podem utilizar os púlpitos de suas igrejas, e nisso são imitados por muitos outras pastores, quando o Brasil é um país laico e quando as religiões não devem se meter em política? Não podem esquecer que o próprio Cristo falou que seu reino não é deste mundo!
Fonte: https://www.observatoriodaimprensa.com.br/intolerancia/evangelicos-perdem-credibilidade-ao-apoiarem-bolsonaro-no-sete-de-setembro/
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