Em meio as repercussões das notícias recentes, inclusives mostradas através da Revista Veja, envolvendo a CGADB e líderes da igreja Assembléia de Deus, minha mente voltou à 22 anos atrás, em 1988, quando estourou os escândalos sexuais e financeiros protagonizado nos Estados Unidos pelo televangelistas Jimmy Swaggart e Jimmy Bakker.
Naquele ano, o jornal Mensageiro da Paz, que é da CGADB, transcreveu um artigo de Jamie Buckingham, então editor chefe da revista Charisma. Buckingham, falecido em 1992 foi autor de 37 livros, traduzidos em diversos idiomas.
Conquanto se possa não concordar com as pressuposições teológicas de alguns dos livros de Buckingham, no entanto creio que ele acertou "em cheio" na análise que fez da situação da igreja americana, especialmente no que tange ao estado de comercialização da fé, vigente em centenas de grupos cristãos e práticas ministeriais nos Estados Unidos.
Quando o li tive o sentimento de que estava com um texto profético em minhas mãos. Além disso logo fiquei certo de que a tese central do artigo era inegavelmente verdadeira: "Deus está sacudindo a sua Igreja." Vamos à transcrição:
"Lembro-me do dia em que certo homem influente de um dos maiores programas evangélicos de TV demitiu-se e veio a mim, chorando. Dizia-me que não tinha mais estômago para agüentar a hipocrisia e blasfêmia que há por detrás da arrecadação de dinheiro. Duas vezes por mês, acrescentou ele, sentavam-se no escritório do televangelista, rindo a respeito do próximo meio que usariam para levantar fundos. O último caso foi o de uma campanha pelo correio usando cartas-certificados mencionando que, enquanto o televangelista estava orando pela tal irmã (nome da destinatária), Deus havia falado a ele para escrever-lhe uma carta 'pessoal' dizendo que, dependendo da importância a ser doada: 25, 50, 100 ou 1000 dólares, o Senhor a agraciaria com bênçãos especiais.
Isso não é nada mais nada menos do que uma cópia da prática da venda de indulgências usada na Era das Trevas. Deus extirpou aquela prática com o tremor poderoso da Reforma Protestante. Igualmente, na Torre de Babel confundiu as línguas (e doutrinas), de modo que mesmo hoje os cristãos têm problemas de comunicação.
O mesmo tremor sacode a Igreja nestes dias. Precipitado pelo escândalo sexual do PTL (de Jimmy Bakker), foi meramente o estopim que Deus usou para detonar a sua bomba. Uma vez que há envolvimento de ministérios altamente conhecidos, e que vivemos na era da comunicação instantânea, a atuação de Deus é revelada por meio do noticiário noturno da TV, ao invés de levar duas gerações até o povo tomar conhecimento.
Há, também, o problema do exclusivismo. Em seu apelo financeiro por carta, Jimmy Swaggart escreve: 'Nós somos o único ministério envolvido com a evangelização mundial.' Na verdade, ele tem sido grandemente usado na evangelização do mundo, mas é seu o 'único ministério'? E a JOCUM, a Cruzada de Jovens Para Cristo, a Convenção Batista do Sul, e tantos outros ministérios que não nos bombardeiam com insistentes apelos financeiros?
Meu livro Jesus World enfoca os perigos inerentes aos grandes ministérios. O livro não se tornou popular, pois apelou aos líderes no sentido de retornarem aos métodos e estilo de vida simples de Jesus, submetendo-se uns aos outros ao invés de viverem como reis e ditadores. Poucos desejam o estilo de vida de David Mainse, de Toronto.
Mainse resolveu morar em um apartamento do centro da cidade, de modo que possa estar perto do povo a quem ministra. Há ocasiões em que usa a sua bicicleta para ir ao trabalho, a fim de testemunhar ao povo ao longo das calçadas. Que Deus nos dê mais homens iguais a ele, e menos que vivam como reis, recebendo enormes salários e operando com despesas sem limites, enquanto proclamam seus apelos tipo: 'Gastamos nosso último centavo em missões e precisamos de mais dinheiro.'
O propósito da Torre de Babel era o de controlar o povo, separando os que permaneciam leais a uma ideologia e a uma exclusiva doutrina. Os homens estão constantemente dizendo: 'Somente eu estou fazendo a vontade de Deus.' Ao dizerem tal coisa, estão dando a entender que todos os outros estão fora da vontade divina. Paulo adverte-nos contra isso: '...ninguém se ensoberbeça a favor de um em detrimento de outro. Pois quem é que te faz sobressair?' (1 Co 4.6b-7a.]
Damos contribuições aos grandes ministérios, em vez de trazer os necessitados à nossa casa, deveríamos estar evangelizando, e, não simplesmente passando essa responsabilidade a um televangelista. Deus está-nos forçando a voltar às nossas igrejas locais, o único lugar onde o ministério real — o pessoal — pode ter lugar.
Com a derrocada de grandes ministérios, muitos estão perguntando: "Mas deveriam sobreviver?"
O que aconteceu ao Logos Internacional, a maior companhia publicadora carismática, em 1981, provou que nenhuma instituição é sagrada. Poderia acontecer novamente, e em proporções ainda maiores. Afinal, Deus sempre impulsionou a sua obra, agindo — e muito bem — muito antes do aparecimento da televisão.
Deus levanta inimigos para destruir coisas com as quais não concorda, e negocia com esses inimigos. Resumindo: Deus está purificando a sua Igreja.
Minha opinião é que, a despeito do grande tremor, a Igreja está vivendo os seus grandes dias na História. Nunca, em tempo algum, o povo de Deus tem atraído tanta atenção! Por semanas intermináveis, jornais e revistas estão publicando algo a respeito dos cristãos. Repórteres não somente estão visitando igrejas no país, mas também têm sido designados por seus editores para fazê-lo.
A despeito da tristeza que envolve o pecado — ainda mais quando homens cristãos expõem-se diante dos incrédulos — o povo está observando. Coisas escondidas estão vindo à tona e isto trará cura.
A televisão tem sido o maior meio de difusão do evangelho desde a invenção da imprensa. Porém, com grandes oportunidades vêm grandes responsabilidades. Este é o tempo de prestação de contas! Deus está examinando os livros. Aqueles que gostam de aparecer em público estão sendo julgados em público. O Senhor tem entrado novamente no Templo e virado as mesas dos cambistas. Seu Espírito está soprando através de seu reino, limpando e purificando. Como sempre, o resultado final será: formar um povo à imagem de seu Filho e trazer glória a ele.
Tudo o que está acontecendo tem uma razão: revelar a soberania de Deus. Afinal, ele é um 'fogo consumidor... removendo o que está abalado... para que as cousas que não são abaladas permaneçam' (Hb 12.27,29].
"Deus está espremendo um furúnculo", disse-me Oral Roberts. "Não tente detê-lo. Deixe todo o carnegão sair." São palavras de sabedoria, pois, tão logo as impurezas se forem, a saúde virá."