sexta-feira, 26 de setembro de 2014

‘O pastor Silas Malafaia terá influência no governo Marina?’


Em meio ao tiroteio político nas redes sociais, militantes dos partidos alvejam sem piedade (e, muitas vezes, sem noção) outros candidatos. A situação se agrava quando jornalistas acrescentam em suas receitas ingredientes como a desinformação e o preconceito, desandando a massa. Infelizmente, com trocadilho.
A pergunta que duas colegas fizeram nesta semana a um assessor de Marina Silva ilustra a série de equívocos no tratamento dispensado ao rebanho durante a campanha eleitoral. Segundo o chavão insanamente repetido, “os evangélicos podem decidir as eleições”. #zzzz

Apesar de o texto (excelente) do Ricardo Alexandre na CartaCapital ter mais de 103 mil likes, muitos jornalistas parecem não ter apre(e)ndido as lições e continuam tratando os crentes como um bloco ignaro monolítico. Embora seja meio constrangedor, é hora de fazer novamente uma confissão pública: somos desunidos e, pior, marcados por (in)diferenças.

Apressados na hora da pesquisa, alguns veem no Google que Malafaia é da Assembleia de Deus, a maior igreja pentecostal brasileira. Quase isso. Malafaia é figura controvertida e contestada dentro da própria denominação. Basta pesquisar vídeos no Youtube para vê-lo surtado (como sempre) porque seus produtos eram boicotados na rede de lojas da denominação.
Com a morte do sogro em 2010, Malafaia assumiu a igreja Assembleia de Deus da Penha (RJ) e marotamente trocou o nome para “Vitória em Cristo”, o mesmo de seu programa de TV. Em números, a Convenção das Assembleias de Deus tem mais de 12 milhões de membros. Malafaia, 25 mil. O nome é o mesmo, porém o sobrenome e o grupo são beeem diferentes. Fácil entender os decibéis de seus tuitaços.

Dizer que Marina e Silas são assembleianos (e, por maldade eleitoreira inferência, muito parecidos) equivale a afirmar que Marisa Monte e Valesca Popozuda são cantoras. Campanhas pré- eleições sempre confirmam o provérbio iídiche que “uma meia-verdade é uma mentira inteira”.
Para reforçar um pouco mais a questão das divisões, quem conseguiria promover um prosaico aperto de mão entre Edir Macedo e o cunhado R.R. Soares? Vídeos da Universal mostram ~demônios~ dizendo que gostam da Mundial, igreja liderada por Valdemiro Santiago, outro desafeto máster de Macedo. Interpretações bíblicas nos separam e brigas denominacionais criam inimizades que só devem ser resolvidas na vida eterna. Qualquer que seja o destino das partes envolvidas.
charge: Internet
charge: Internet

Uma ilustração recorrente diz que “A igreja é como a arca de Noé, cheia de animais esquisitos” (de perto ninguém é normal, né, Caetano). Essa “fauna” reúne gente como Anivaldo Padilha, perseguido por sua luta pela democracia durante o regime militar, atletas como Kaká, David Luiz e Victor Belfort e celebridades como Heloísa Perissé, Claudia Leitte e Marlene Mattos. Para confirmar a diversidade, não podemos nos esquecer de gente como Gretchen, Monique Evans e Kid Bengala (Kid Varão?) que (para desespero de alguns) em diferentes momentos testemunharam sobre sua relação com igrejas evangélicas. É ou Noé?

Em exames de sangue, uma amostra é suficiente para fazer a análise. O mesmo não acontece com o rebanho. Por favor, não tipifiquem os pastores usando os 5 que aparecem na lista da Forbes. Não tentem rotular os políticos cristãos tendo como parâmetro o histrionismo jeca de Marco Feliciano (até hoje chamado de “Marcos” por jornalistas distraídos).
Como acredito que política e religião se discutem (apenas o meu desmatado Palmeiras é assunto proibido), selecionei alguns trechos de uma matéria mega interessante publicada na Impacto. A revista circula há 15 anos e a última edição tem o duo às vezes desafinado “política e evangélicos” como tema.

Por aquele tipo de acaso que no dialeto brega-cristão é chamado de “jesuscidência”, quem assina a matéria também é o Ricardo Alexandre. Ele entrevistou meu amigo Carlos Alberto Bezerra Jr (deputado estadual pelo PSDB-SP) e Marina Silva, colunista do Pavablog, entre outros predicados de responsa. A entrevista aconteceu antes do acidente que vitimou Eduardo Campos.
O site da revista traz um trecho maior e, claro, os detalhes para adquirir (ou assinar) a publicação. #recomendo

ed79A liberdade, por exemplo, é um valor cristão. As sociedades que foram “salgadas” pelo evangelho normalmente experimentam mais liberdade. O respeito aos que pensam e vivem de forma diferente da nossa é uma realidade muito presente no Evangelho e isso de forma até revolucionária. O cristão que envereda pelo caminho da política precisa ter isso em mente. (Marina Silva)


Minha fé vale mais do que qualquer posição política, mas o que vejo nas bancadas religiosas não me parece reflexo dos princípios bíblicos. A contribuição evangélica na política precisa exceder o campo moral e a defesa de privilégios para impérios eclesiásticos. (Carlos Alberto Bezerra Jr)

Meu entendimento sobre a política como um serviço de natureza republicana e meus princípios pessoais, orientados pela fé que professo, me ensinam que devo procurar, nas ações políticas, o benefício de todas as pessoas, independentemente de suas diferenças políticas, socioculturais e religiosas. (Marina)

Sonho com o dia em que os cristãos do país farão “marchas para Jesus” pelas mulheres vítimas de violência, pela erradicação da miséria, da exploração sexual de crianças e do trabalho escravo. (Bezerra)

Ao longo de minha vida pública, tenho tido o cuidado de não fazer de púlpitos palanques e nem falar em palanques como se fossem púlpitos, por mais que essa mistura possa parecer pragmaticamente vantajosa em termos eleitorais. (Marina)

Onde sobra discurso, falta ação – não foi à toa que Jesus chamou de “guias cegos” aqueles que coavam mosquitos e engoliam camelos. Precisamos nos importar com temas morais. Mas é preciso ir além. Às vezes, parece que a única maneira de fazer com que certas bancadas evangélicas se importem com a corrupção, por exemplo, é tornando-a atentado ao pudor. (Bezerra)

Política é serviço. A visão republicana da política é servir ao bem comum. E a Bíblia orienta para que façamos isso com integridade, pois o sal evita a degradação, e com justiça, que é respeitar e defender direitos de todos. É defender o que traz luz para as trevas da injustiça. Às vezes, “ser sal e luz” significa nos posicionar em defesa dos interesses dos pobres, dos que não têm voz como os índios ou os negros, os que perambulam pelas ruas sem moradia. Às vezes, significa defender a integridade dos biomas, os “jardins” citados em Gênesis 2.15. Às vezes, é lutar por uma ideia mais do que por coisas práticas. (Marina)

Fonte: http://www.pavablog.com/



quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Subsídio para EBD - A atualidade dos últimos conselhos de Tiago

 
Tiago conclui sua Epístola apresentando vários conselhos aos seus ouvintes. Na aula de hoje atentaremos para esses conselhos, ressaltando sua atualidade para a igreja contemporânea. O primeiro deles diz respeito à importância da paciência, precisamos aprender a suportar as aflições e esperar em Deus. O segundo está relacionado às orações, devemos interceder por aqueles que estão aflitos, e confiar na eficácia da oração. O terceiro orienta quanto à restauração dos desviados, e também da unção com óleo.

A IMPORTÂNCIA DA PACIÊNCIA
Em uma sociedade imediatista as pessoas não têm mais paciência para esperar. A mensagem de Tiago, a esse respeito, é bastante pertinente. Devemos aguardar, sobretudo, a volta do Senhor Jesus, sem perder a esperança (Tg. 5.7-11). Nos atuais há aqueles que não mais aguardam a vinda do Senhor, tornaram-se tão secularizados que são incapazes de se voltarem para as verdades espirituais. Essa esperança nos coloca em uma posição ética, principalmente no uso da língua, tendo o cuidado de não fazer juramentos inapropriados (Tg. 5.19). A paciência do agricultor deve servir de inspiração para todos os cristãos, considerando que somos desafiados pela Palavra a ter esperança, mesmo diante das adversidades. O agricultor não tem controle do tempo, por isso entrega-se ao Deus da providência que, ao Seu tempo, enviará a chuva. Como cristãos, somos advertidos a frutificar, devemos ser produtivos na fé (Lc. 13.6-9; Gl. 5.22,23). Os profetas de Deus nos deixam o exemplo de paciência, pois mesmo sendo vituperados, não se distanciaram da Palavra de Deus. Estevão, em seu sermão, lembrou o sofrimento dos profetas, que se sacrificaram na defesa da revelação que receberam de Deus (At. 7.52). As perseguições, conforme nos ensinou Jesus, não devem nos distanciar da verdade, muito pelo contrário, somos bem-aventurados por sofrer por causa do Senhor (Mt. 5.11,12). Paulo deixa claro, pera seu filho na fé Timóteo, que todos aqueles que querem viver piamente padecerão perseguição (II Tm. 3.2). O fundamento da nossa esperança está na Palavra de Deus, pois tudo o que nela está escrito serve para constância e consolação, para não perdermos a esperança (Rm. 15.4).Tiago lembra que Jó foi um homem que padeceu muitas aflições, mesmo assim, não perdeu a esperança diante das adversidades, antes glorificou o Senhor (Jó. 13.15). Deus tem Seus propósitos, e para isso permitirá que sejamos afligidos, com vistas à maturidade espiritual do crente (Jó. 42.5).
 
A EFICÁCIA DA ORAÇÃO DO JUSTO
Diante da provação, devemos encontrar conforto não apenas na Palavra, mas também na oração. Ao invés de murmurar, precisamos nos voltar para a oração, buscando consolo na presença do Senhor. Através da oração Deus, de acordo com Sua soberana vontade, pode modificar as situações. Quando Deus não muda o curso da adversidade, nos dá através da oração, a força para enfrentá-la (II Co. 12.7-10). Através da meditação na palavra e na oração Deus alegra o coração do crente, dando-lhe poder para superar os momentos de aflições (Tg. 5.13). A maturidade cristã é medida pela capacidade do crente enfrentar as aflições com fidelidade (Hb. 11). Mesmo diante do sofrimento o cristão pode cantar hinos de louvores a Deus (Jó. 35.10), como fizeram Paulo e Silas na prisão (At. 16.25). Devemos orar pelos nossos irmãos, sentindo suas necessidades, intercedendo pelas suas dificuldades, inclusive cura das enfermidades. Inicialmente destacamos que os crentes não estão imunes às doenças, conforme apregoam alguns adeptos da teologia da saúde. O cristão pode ser afligido por doenças, considerando que estamos em um mundo caído, portanto estamos sujeitos às mesmas intempéries pelas quais passam os descrentes. Nem todas as doenças são resultantes de pecados, algumas delas servem para que o Senhor seja glorificado (Jo. 9.3,4). Mas existem casos específicos de enfermidades que decorrem de pecado, são doenças que se alojam no corpo e na alma por causa de práticas pecaminosas (Tg. 5.15,16). Em tais casos, os presbíteros da igreja devem ser chamados, e o pecador deve confessar seu pecado em arrependimento, e Cristo, o Paracleto, perdoará os pecados, podendo também restituir a saúde (I Jo. 1.9). Em tais casos os presbíteros deverão orar impondo as mãos sofre o enfermo, e a oração da fé, em conformidade com a vontade de Deus, será eficaz na cura do doente (I Jo. 5.14,15). Os presbíteros também devem ungir o enfermo com óleo, e ouvir a confissão daquele que se encontra em pecado. A confissão, no contexto de Tiago, tem um valor terapêutico, através das palavras, o pecador recebe não apenas o perdão de Deus, mas também se desfaz do fardo da culpa. Não devemos desprezar a oração, pois essa é poderosa em seus efeitos, podemos realizar muito para o Senhor, se dependermos dEle através da oração (Tg. 5.17,18). Tiago nos lembra do exemplo de Elias, que era um homem sujeitos as mesmas fraquezas que temos, mas que confiou em Deus, e teve resposta das suas orações em momento oportuno (I Rs. 18.41-46). A instrução em oração pelos desviados é uma tarefa importante para os cristãos, em amor devemos conduzi-los ao caminho da verdade (Lc. 22.32). Uma das missões dos crentes é arrebatar do fogo aqueles que se encontram em condição de risco ao longo da jornada da fé (Jd. 23).
 
A UNÇÃO COM ÓLEO
A unção com óleo não é uma assunto simples de ser tratado, e tem gerado variadas controvérsias teológicas ao longo da história da igreja cristã. Tiago recomenda a unção com óleo, pelos presbíteros, àqueles que os chamam, para confessarem seus pecados, e obterem saúde, através da oração (Tg. 5.14). É preciso deixar bem claro o que está revelado nesse texto, inicialmente a unção deve ser dada indistintamente, sem que a pessoa tenha solicitado. Não há qualquer respaldo bíblico para a unção de objetos, como acontece em algumas igrejas evangélicas. A unção com óleo não deve ser entendida como um sacramento, como o fazem algumas igrejas, defendendo que essa é necessária para que a pessoa seja salva. A unção com óleo não é suficiente para que alguém seja salvo, a salvação depende da graça de Deus, demonstrada em fé com arrependimento de pecados (Ef. 2.8.9). A unção com óleo, no texto de Tiago, nada tem a ver com extrema unção, trata-se de uma intervenção não para morte, mas para a vida. Devemos compreender o texto também no contexto da época, o óleo era um componente medicinal entre os judeus, associado ao tratamento de algumas enfermidades. Com base nesse princípio, temos respaldo para consultar os médicos, e fazer o tratamento conforme nos é orientado, ao mesmo tempo em que confiamos na intervenção divina, o próprio Jesus lembrou que os doentes precisam de médicos (Mt. 9.9-13). A instrução pra que os presbíteros da igreja orem pelos enfermos, ungindo-os com óleo é uma orientação comum, que nada tem de especial. O próprio óleo em si mesmo não tem poder, independentemente da sua procedência, seja do Brasil ou de Israel. Diante dos excessos que temos testemunhado em algumas igrejas, precisamos manter o equilíbrio espiritual a esse respeito. Não devemos proibir a unção com óleo, mas precisamos reprovar os exageros, compreendendo que sua função principal é restaurar a saúde física, sobretudo espiritual do enfermo.
 
CONCLUSÃO
Tiago desafia os crentes a viver uma vida cristã autêntica, sobretudo, equilibrada, que se fundamente em extremismos. Seus conselhos são práticos, e nos orientam para uma fé que seja manifesta através de obras. Mesmo diante das adversidades, devemos manter a fé firme no Senhor, que prometeu que retornaria para buscar Sua igreja (Jo. 14.1). Enquanto isso não acontece, devemos resistir às tentações, e ser fortes diante das provações. Na comunidade de fé precisamos ajudar uns aos outros, orando por aqueles que se encontram em condição de fragilidade, restaurando-lhe ao caminho da verdade (Jo. 14.6).

BIBLIOGRAFIA
LOPES, H. D. Tiago.São Paulo: Hagnos, 2006.
WEIRSBE, W. W. Exodus: be delivered. Colorado Springs: David Cook, 2010.
 
 
 

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Preservando a herança pentecostal

Encantei-me numa das primeiras vezes que visitei uma igreja pentecostal. O culto começou com alguns hinos da Harpa Cristã. Como sempre acontece nos cultos pentecostais, lágrimas e explosões de entusiasmo, entrecortavam o hino. Depois, os diversos corais foram chamados. Cantaram as crianças, os jovens e, por último, o coral das mulheres. Não esqueci quando o dirigente daquela congregação cochichou-me que a regente do coral trabalhou como cafetina de uma daquelas casas suspeitas. “A maioria das mulheres de nossa igreja veio da prostituição”, emendou ele. O coral não conseguiu terminar sua apresentação. Todas as mulheres choravam emocionadas com a letra da musica. Acabaram falando línguas estranhas e louvando a Deus com grande intensidade.

Eu que também passara por uma experiência pentecostal recente, achava-me maravilhado com aquele culto; simples, mas pleno de sinceridade. A igreja de gente extremamente pobre esbanjava riqueza em sua devoção. O ambiente se eletrizava com um fervor espiritual enorme. Percebi que ali nada roubava a dignidade das pessoas, pelo contrário, dava-lhes um sentimento que pertinência a um reino. Todos se sentiam princesas e príncipes. Para mim aquele ambiente assemelhava-se a uma reunião da igreja primitiva.

Aquela noite foi decisiva em me fazer querer caminhar com a igreja pentecostal. Decidi que identificaria meu ministério com aquele povo que vivenciava Deus com tanta singeleza, mesmo à margem do status quo religioso. Aquele coral de mulheres me apaixonou pelo mundo pentecostal.

Depois de tantos anos convivendo entre eles, continuo admirando esse movimento do Espírito que completou um século nos primeiros anos deste novo milênio. A evangelização no Brasil deve muito aos pentecostais. Desde que os primeiros missionários suecos aportaram em Belém do Pará, e desde que os primeiros pastores nordestinos migraram para o Rio de Janeiro e São Paulo o crescimento da igreja nacional ganhou novo ímpeto. Somente a Assembléia de Deus chegou a representar sessenta e cinco por cento de todos os evangélicos brasileiros. São poucos os municípios brasileiros em que essa denominação não tenha plantado uma pequena igreja. Todas pobres, todas lideradas por leigos e todas independentes financeiramente.

Infelizmente o mundo pentecostal mudou muito. Embora ainda existam expressões tão bonitas de arrojo, sinceridade e acima de tudo paixão pelo reino de Deus no universo pentecostal, ventos estranhos e preocupantes vêm soprando.
Como todos os movimentos, o pentecostalismo precisou se institucionalizar. Criou estruturas que garantiriam sua permanência. Junto com a institucionalização vieram a política eclesiástica pequena, os títulos e as disputas pelos cargos. Criou-se uma elite religiosa. Desenvolveram-se mecanismos para que não houvesse alternância de poder. Uma gerontocracia instalou-se e perpetuou-se como mandatária das igrejas.

Os filhos dos pentecostais estudaram e ascenderam socialmente. Junto com essa escalada vieram as armadilhas que espreitam os novos ricos. Consumismo, materialismo e a valorização dos bens materiais acima dos espirituais. Assim os pentecostais tornaram-se o ambiente mais fértil para a teologia da confissão positiva e da prosperidade. O neopentecostalismo chegou a ofuscar o legado histórico dos pentecostais clássicos. Os neopentecostais (também chamados de carismáticos nos Estados Unidos e na Europa) foram para a televisão e embora ainda numericamente inferiores, tornaram-se mais visíveis. Hoje, as pessoas confundem os pentecostais com os neopentecostais e nivelam todos por baixo.

Com um crescimento numérico impressionante os pentecostais passaram a ser cortejados pelos políticos tanto de esquerda como de direita. Primeiro, os próprios pentecostais se candidataram a cargos públicos, depois foram convidados a participarem como parceiros chaves em candidaturas de maior peso. Para quem era considerado a escória do protestantismo, tanta atenção acabou transformando-se em novo perigo. Com políticos de toda espécie a tiracolo, esvaziou-se o discurso profético. De repente, já não se podiam denunciar as estruturas satanizadas para não ferir suscetibilidades. Os pentecostais já não se sentiam marginais, mas parte da elite governante (embora ela continue os desprezando-os e ridicularizando-os).

Os antigos pentecostais provinham de comunidades onde havia pouca liberdade para que o Espírito Santo rompesse com as molduras teológicas e litúrgicas. Defendiam o direito de Deus “bagunçar” com os sistemas religiosos humanos. Depois de quase um século, aquilo que era uma “bagunça” divina foi estereotipado e passou a ser o “jeito pentecostal”. Eles tentaram engessar o agir de Deus à sua maneira e novamente o Espírito Santo ficou sem liberdade. Hoje, algumas das mais tradicionais igrejas evangélicas são pentecostais. E pior ainda, o neopentecostalismo tentou gerar artificialmente aquele antigo clima de avivamento espiritual. O resultado é que os cultos do neopentecostalismo estão repletos de práticas bizarras. Em muitos casos percebe-se claramente que são esforços humanos de imitar o agir do Espírito. Ensina-se a falar em línguas, sopram-se sobre as pessoas para que caiam. Milagres propagandeados quando não houve milagre nenhum. Alastram-se os pregadores que procuram compensar com gritos uma unção que já não se experimenta como outrora.

O mundo evangélico enriqueceu muito desde que Seymour, aquele pregador negro, cego de um olho, liderou os primeiros cultos da Rua Azuza em Los Angeles. Eles não apenas desbravaram muitas frentes missionárias, como também cresceram numericamente e salvaram inúmeras pessoas. Trouxeram de volta a possibilidade de Deus visitar o seu povo com milagres e maravilhas ao contrário do hermetismo da teologia sistemática fundamentalista. Transformaram o culto em festa, romperam com a liturgia enlatada das matrizes missionárias, falaram a língua do povo, porque eram povo. Abriram espaço para as mulheres, para os negros e para os pobres. Cantaram e dançaram, fazendo um barulho espontâneo e feliz ao Deus de suas vidas.

Devemos a eles a insistência de que Deus não obedece às dispensações que os teólogos criaram para Ele. Ensinaram-nos que ele ainda opera milagres, distribui dons e reveste o seu povo com poder para ser testemunha do Reino em todas as nações da terra.
Os dilemas que afetam e alteram o perfil do pentecostalismo devem interessar todo o universo cristão, pois se ele perder o seu vigor, todos empobrecerão e o cristianismo perderá muito de sua riqueza e da possibilidade de dialogar com a cultura. Portanto, precisamos orar para que haja um novo avivamento entre os pentecostais e chamá-los para o diálogo com outros segmentos evangélicos. Oxigenados com a diversidade do corpo de Cristo crescerão em sua auto crítica e se manterão saudáveis.

Necessitamos de mais comunidades como aquela que um dia arrancou lágrimas de meus olhos. Naquela igreja apinhada de vidas transformadas pelo poder do Evangelho havia um microcosmo do que toda comunidade evangélica precisa ser. Continuo orando e trabalhando para que ela se multiplique por esse querido Brasil. Esse é o meu ideal.

Fonte: http://www.ricardogondim.com.br/


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

MEU TESTEMUNHO - PARTE 02

Sempre gostei de ler, quando criança era fã de gibis. Meu primeiro contato com as Sagradas Escrituras,foi quando ganhei um Novo Testamento de bolso, distribuídos pelos Gideoes Internacionais. Aos 11 anos, a primeira Bíblia completa (com o Velho e Novo Testamento) que tive acesso foi uma que ganhei de um casal Testemunhas de Jeová, que na época era de capa verde. Compramos também deles um livro ilustrado, onde aprendi as histórias dos personagens bíblicos. Guardo-o até hoje, seu título é “Meu livro de histórias bíblicas”. 

Depois de convertidos, já membros da Igreja Assembléia de Deus, ganhei uma Bíblia pequena, com zíper. Li ela toda em menos de 01 ano. Em 1983, aos 14 já tinha lido a Bíblia toda, então comecei a dar aulas para jovens na Escola Dominical. Os comentaristas da revista da CPAD, para jovens e adultos eram, Lawrence Olson, João de Oliveira (na época, já falecido), Gesiel Gomes e Eurico Bergstem. Vários pregadores passaram a vir pregar em nossa igreja, e eu gostava de ouví-los nomes como: Valdir Bícego, Hidekazu Takayama, Bernard Jonhson, Napoleão Falcão.

 Em 1988, aos 19 anos, passei a pregar não só em Uberlândia, mas em outras cidades e igrejas também, era chamado carinhosamente de “o pregador da juventude”. Comecei um curso de teologia em 1989, mas independente disso eu lia muitos livros evangélicos, dos autores, o meu preferido era Billy Graham.

Vi os modismos evangélicos virem e irem. Assistia tudo de “camarote”, junto com o povão, sem participar dos bastidores. Embarquei na “Quarta Dimensão” de Paul (depois David) Yongg Cho, como no “Curai enfermos e Expulsai Demônios” de T.L. Osborn, nos anos 80, mas depois li com reservas o “Bom Dia Espírito Santo” de Benny Hinn, nos anos 90. Assim como também via com desconfiança, os supostos “arrebatamentos no espírito” e “dentes de ouro”. Li as ficções de Frank Pirett – Este Mundo Tenebroso, isso por volta de 1991/1992. Nesse período, um autor nacional, começou a chamar minha atenção, era um pastor presbiteriano, que tinha um programa na TV Manchete aos sábados – Caio Fábio D’Araújo Filho. 

Em 1993, fui separado a Evangelista, logo me casei, filiei na CGADB e também na recém fundada AEVB (interdenominacional), que vinha com uma proposta atraente. Passei a trabalhar com estudos em apologia e escatologia, ministrando em várias igrejas. Em 1998, dei aula de teologia na FAETRIM. Trabalhei muito com jovens também, sendo que a primeira vez que fui líder de jovens eu tinha 14 anos. Estive na liderança da UMADUC (União da Mocidade das Assembléias de Deus de Uberlândia e Campo) por seis mandatos, sendo quatro ainda solteiro e dois já casado, tendo a oportunidade de organizar e dirigir vários congressos de jovens.


 Em 1999, foi criado em nossa igreja, nossa secretaria local de missões – a SEMAP, Serviço de Missão aos Povos, sendo convidado para ser um dos membros da mesma. Passei então a pregar e ministrar em seminários de conscientização missionária por esse Brasil à fora. Em 2002, fui pastorear, sendo ordenado a pastor nesse mesmo ano. Minhas leituras, passaram a ficar mais diversificadas, mas isso, já vai ser outra postagem. Depois eu continuo.