sábado, 13 de janeiro de 2018

Pastores políticos. O que você acha?

Nas eleições de 2014 teve bispo evangélico se tornando coordenador da campanha da Dilma, enquanto cantores gospel, pastores de igreja e evangelistas itinerantes se lançam como candidatos a deputado federal, estadual e senador, governador e até presidente como foi o caso naquele ano com o Pr. Everaldo.

O texto abaixo foi escrito em 08 de julho de 2004, mas nem por isso, deixa de ser tão atual no momento em que vivimos. Nele há sérias denúncias de coisas que já estavam acontecendo nos bastidores da política eclesiástica brasileira. Uma pessoa faz uma pergunta e o Pr. Caio Fábio responde em seu site. Leia o texto:

Pergunta:
Estamos nos aproximando de mais um ano de eleições, e como é de se esperar, vários Pastores se candidatam a cargos políticos. Na Igreja onde congrego, estão lançando um Pastor como candidato para um cargo político. O que o senhor acha de Pastores ocuparem cargos Políticos?
O Pastor como sacerdote pode se submeter a concorrer cargos políticos? Porque na maioria dos casos ou em todos eles somente os Pastores podem se candidatar e não uma pessoa de confiança deles? (algum membro ou obreiro) Creio que precisamos de pessoas comprometidas com Deus para serem luz, sal no governo, mas somente Pastores? Porque somente eles? Que Deus continue abençoando o Senhor ricamente em nome de Jesus.

Resposta:
Meu amigo e irmão: Jesus Reina! O reino de Deus não é deste mundo e não está entre nós com visível aparência, visto que está em nós. Faz anos que tenho deixado a minha posição clara e pública a respeito do assunto.
Inicialmente gostaria de dizer que o pastor não é um sacerdote como a palavra era entendida no Velho Testamento—e que atualmente, por ignorância do povo, e má intenção de muitos pastores, está sendo ressuscitada, contra a Palavra e seu ensino—, mas apenas um sacerdote como qualquer outro irmão em Cristo.

O que passar disso é falácia, é o velho catolicismo seduzindo a consciência reformada para a adesão à velha ordem, é que no caso dos pastores é mais que conveniente, pois lhes dá poder autoritativo, e, portanto, manipulador, como a gente vê acontecendo em quase todos os lugares.
Em segundo lugar eu quero dizer que a "igreja" já perdeu há muito sequer a desculpa de que "nós precisamos da presença-sal e da presença-luz da igreja no cenário político". Dizer isso, hoje, só se for para produzir gargalhada. Esse era o discurso nas décadas de sessenta e setenta. De lá pra cá já vimos o que os evangélicos podem fazer na política, e o que temos visto é feio, é muito feio, é horrível mesmo.

Portanto, não dá nem mais para se ter o auto-engano de que a presença evangélica em qualquer coisa possa significar um salto de qualidade. A terceira coisa que quero dizer é que se o sal evangélico tivesse sabor, o melhor lugar para senti-lo seria na própria comunhão da igreja, onde, de fato, o gosto não é de sal, mas de absinto; e a luz não é nada além de luz negra. Ao contrário, na maioria dos casos, os evangélicos já provaram que são tão ou mais corrompidos que os demais, sem falar que em geral são uns malandros burros, oportunistas, despachantes de pequenos interesses, moralistas, e sem qualquer qualidade ética e de consciência.

No atual quadro político não nos faltam evangélicos em todas as instancias do poder, e a presença deles nada significou além de vergonha, despreparo, ufania, e incapacidade de se enxergarem e oferecerem um mínimo de lucidez a qualquer coisa.

Portanto, respondendo a sua pergunta, eu digo o seguinte: 

1. Nenhum pastor deve se candidatar como pastor, e muito menos em nome de Deus. Quem desejar pleitear um cargo desses, deve fazê-lo em nome de sua própria consciência como indivíduo, e nunca em nome da igreja e muito menos em nome de Deus. Fazer isto é ideologizar a Deus e a igreja, e o fim é sempre blasfemo e corrompido.

2. A maioria dos pastores que se candidatam acabam sendo apenas aqueles oportunistas que concluíram que a igreja é o melhor curral eleitoral que pode existir. São uns lobos explorando a ingenuidade do rebanho.

3. Se eu tiver que atribuir responsabilidade ao presente momento de corrupção da igreja, eu diria que 30% vem do envolvimento da igreja com a mais sórdida forma de fazer política—tem pastor mandando matar irmão para ficar com o cargo; e não são apenas dois casos; mas vários—, usando e abusando do nome de Deus de modo nauseante e asqueroso.
Além disso, eu atribuo mais uns 40% da presente caotização da fé às igrejas neo-pentecostais, e que são casas de comercio da fé, e verdadeiros covis de salteadores, exploradores, e lobos vestidos de pele de ovelha. O que eles querem é poder, e seu espírito é pior do que o do incrédulo.
E o que sobra de responsabilidade, tenha certeza, ponha na conta dos apóstolos da maldição hereditária, da confissão positiva, da neuro-lingüistica cristã, da teologia da prosperidade, na ênfase ao crescimento numérico à qualquer preço, e ao espírito de marketing e empresariado que entrou na igreja e lhe corrompeu a alma.

4. Para eu votar num crente, apenas se ele não se apresentar como crente, mas apenas como um cidadão, e isto vai depender das boas idéias e da capacidade dele (a) mostrar coerência como parte de sua decisão de ingressar na carreira política. Portanto, não sou contra cristãos na política, porém sou veementemente contrário à utilização da igreja para essa finalidade.

5. Hoje tudo não passa de um grande nojo. Se Jesus entrasse nessas igrejas o faria com azorrague e de lá expulsaria esses cambistas da corrupção.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

As tragédias humanas e os profetas

Podemos algumas vezes ter lido erroneamente os profetas do Antigo Testamento, vendo-os como velhinhos chatos, dedo em riste. Porém para nossa surpresa, podemos descobrir que os escritos dos antigos profetas soam, na realidade, como a mais "moderna" dentre todas as partes da Bíblia. Tratam dos mesmíssimos temas que pairam como uma nuvem sobre nosso século: o silêncio de Deus, a aparente soberania do mal, o sofrimento constante do mundo.

As indagações dos profetas são, na realidade, as indagações deste livro: a injustiça, o   silêncio, o escondimento de Deus. Mais passionalmente do que qualquer outra pessoa na história, os profetas de Israel deram vazão aos sentimentos de decepção com Deus. Por que nações pagas prosperam? indagaram. Por que há um número tão grande de calamidades provocadas pela natureza? Por que há tanta pobreza e depravação no mundo? Por que tão poucos milagres? Onde estás, Deus? Por que não nos falas como costumavas fazer? Revela-te; rompe teu silêncio. Pelo amor de Deus, literalmente, faça aluma coisa! "Por que nos rejeitarias totalmente? Por que te enfurecerias sobremaneira contra nós outros?"

Isaías, um aristocrata e conselheiro de reis, falava: "Verdadeiramente tu és Deus misterioso", disse Isaías. "Oh! se fendesses os céus, e descesses! se os montes tremessem na tua presença!"

Jeremias em voz alta e solene declarou o fracasso da "teologia do sucesso". Em sua época os profetas estavam sendo lançados em calabouços e poços, e até mesmo serrados ao meio. Jeremias comparou Deus a um homem frágil, "surpreendido", um "valente que não pode salvar". Voltaire, o filósofo francês expressa a sua crítica: Como um Deus todo-poderoso e todo-amoroso pode permitir um mundo tão anarquizado?

Habacuque desafiou Deus a explicar por que, em suas próprias palavras, "a justiça nunca se manifesta".
Até quando, SENHOR, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! e não salvarás?
Por que me mostras a iniqüidade, e me fazes ver a opressão?

Como todos os israelitas, os profetas tinham sido criados ouvindo histórias de vitórias. Quando crianças, aprenderam como Deus libertara seu povo da escravidão, descera para habitar entre eles e conduzira-os à Terra Prometida. Mas agora, em visões do futuro, viam, detalhadamente como em câmara lenta, todas aquelas vitórias se desfazendo. Numa inversão total da cena inesquecível dos dias de Salomão, o profeta Ezequiel observou a glória de Deus surgir, pairar por um instante sobre o templo e então desaparecer.

O que Ezequiel viu somente numa visão, Jeremias viu numa dura realidade. Soldados babilônios entraram no templo — pagãos no Lugar Santíssimo! — saquearam-no e o queimaram até virar cinzas. (Os historiadores registram que, à medida que os soldados entravam no templo, cortavam o ar vazio com suas lanças, em busca do invisível Deus judeu.) Jeremias perambulou pelas ruas desertas de Jerusalém em estado de choque, como um sobrevivente de Hiroshima vagueando pelos escombros. O rei de Israel estava agora algemado e cegado; os príncipes da nação, mortos. No cerco final, mulheres de boa formação que moravam em Jerusalém tinham cozido e comido seus próprios filhos.

Como é que era ser um profeta naquela época? Jeremias nos conta:
Estou quebrantado pela ferida da filha do meu povo; estou de luto; o espanto se apoderou de mim....Oxalá a minha cabeça se tornasse em águas, e os meus olhos em fonte de lágrimas! Então choraria de dia e de noite os mortos da filha do meu povo....O meu coração está quebrantado dentro em mim; todos os meus ossos estremecem; sou como homem embriagado, e como homem vencido do vinho.

Entretanto, o aspecto mais surpreendente dos profetas não é sua aparência "moderna" ou seu pungente clamor de decepção. A razão por que esses dezessete livros merecem um exame cuidadoso é que incluem as próprias respostas de Deus às estimulantes indagações dos profetas.

Referências bíblicas: 1 Reis 17-19, 22; Lamentações 5; Isaías 45, 64; Jeremias 14;Habacuque 1; Jeremias 8-9, 23.

Continua...