sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O universalismo segundo Russell Shedd

Dando continuidade no blog Cristianismo Radical, há uma série de estudos sobre salvação e a Ordem de Melquisedque vamos falar hoje sobre o Universalismo. O propósito de um blog, em minha opinião, está em fomentar a discussão, o diálogo, em cada posição conflitante. E o presente tema contribui, não como elemento acabado, mas como um processo em construção, com as discussões. Por isso, conto com sua opinião em forma de comentário, para o enriquecimento da postagem. O texto desta postagem foi uma entrevista com o Dr. Russel Shedd falando sobre o Universalismo. Foi publicado no ano de 2006 pela Revista Enfoque, que parece nem existir mais. Então vamos lá! Com a palavra o Dr. Shedd! Leia a matéria e depois deixe seu comentário. Desde já, obrigado!

"O ensinamento que afirma que todos os homens serão salvos pela misericórdia de Deus se chama “universalismo”. De modo crescente, o universalismo se insinua por declarações da Igreja Católica Romana, bem como alguns grupos e igrejas protestantes de linha mais liberal. Esta doutrina se mantém e se propaga pela força de dois tipos de argumentação. O primeiro, sendo teológico, apela para a razão e emoções humanas, enquanto o segundo se fundamenta em interpretações duvidosas de alguns trechos da Bíblia.
O nacionalismo judaico que dominava na época de Jesus abriu uma brecha extremamente estreita para prosélitos que renunciavam suas origens gentílicas e ingressavam dentro do povo de Deus por meio de batismo, circuncisão, sacrifício e compromisso com a Lei. Assim alcançariam o supremo benefício de ingressar no povo de Deus chamado Israel, mas não a garantia da salvação.
Os profetas do Antigo Testamento previam um tempo futuro em que o Messias viria, não apenas para trazer a salvação ao povo escolhido (Is 42.6; 49.6), mas também aos gentios. Não seria justamente a bênção que Deus deu a Abraão que se estenderia a todas as nações da terra por meio do seu descendente (Gn 12.3; Gl 3.16)? A Nova Aliança efetuada pela pessoa e obra de Jesus na cruz criou uma “raça eleita, sacerdócio real, nação santa e povo de propriedade exclusiva de Deus”, composta de judeus e gentios convertidos (1Pe 2.9).
De acordo com o Novo Testamento, a salvação de qualquer pessoa, judeu ou gentio, dependia da confissão que Jesus é Senhor (normalmente no batismo que marcava a morte e ressurreição com Cristo) e crer na ressurreição de Jesus (Rm 10.9). Todos que se arrependiam e criam eram incluídos nos salvos. A Grande Comissão que Jesus deu aos seus seguidores foi de fazer discípulos de todas as nações, batizando e ensinando-os a obedecer tudo que Jesus ensinou (Mt 28.19,20). Desta maneira, o universalismo dos profetas, no qual as nações subiriam ao monte do Senhor (Is 2.3), se cumpria no convite do Evangelho universal a todos que foram comprados para Deus pelo sangue de Jesus, os que procedem de toda tribo, língua e nação (Ap 5.9).
A doutrina ortodoxa enraizada no Novo Testamento que oferece a garantia da salvação a todos que se arrependem e crêem no Senhor Jesus não é o universalismo que ensina que todos os seres humanos serão aceitos por Deus e gozarão do benefício da morte de Jesus. O universalismo neste sentido foi condenado no Concílio de Constantinopla como uma heresia em 543 d.C. Reapareceu entre os mais extremados anabatistas, alguns Morávios e outros poucos grupos não ortodoxos. Schleiermacher, conhecido pai do liberalismo, abraçou esta posição, seguido por teólogos mais radicais como John A.T. Robinson, Paul Tillich, Rudolph Bultmann. Até o mais destacado teólogo do século 20, Karl Barth, não se posicionou contra esta esperança, mesmo sem se declarar abertamente a seu favor.
 
Os evangélicos, porém, se opõem contundentemente a essa doutrina. Eles reconhecem no universalismo uma forma moderna da mentira de Satanás no jardim: “Certamente, não morrerás”.
Já os evangélicos que são a favor do universalismo, citam textos bíblicos como: “Atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12.32). “Por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18). João diz que “Jesus Cristo é a luz que ilumina a todo homem” (Jo 1.9). Paulo afirma: “Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1Co 15.22). “A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2.11).
Mesmo que pareça convincente o argumento exegético, quem examinar mais profundamente encontrará boas razões para rejeitar a salvação universal. Considerar estes textos dentro do seu contexto mais amplo convencerá o intérprete não preconceituoso que os autores bíblicos não estão declarando a possibilidade de salvação sem fé no Senhor Jesus Cristo. Considere Hebreus 11.6 que diz que “sem fé é impossível agradar a Deus”.
O dualismo que divide toda a humanidade aparece em todo o Novo Testamento. O juiz tem sua pá na mão, limpará completamente a sua eira; “recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível” (Mt 3.11,12). Sem nascer de novo não há esperança de ver o Reino de Deus. Achar que o amor de Deus é tão extenso que ninguém pode cair fora dele, é uma crença muito conveniente para os que rejeitam o teor de todo o ensino da Bíblia. Não convém se arriscar em tão fraca esperança".

Fonte: Revista Enfoque n° 59 de Junho/2006 - Russell Shedd é PhD em Teologia do Novo Testamento e doutor em Divindade.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Afinal de contas quem vai ser salvo? Uma síntese da visão da religiosidade

A doutrina da salvação (soterologia) é sem dúvida a que mais despertou interpretações no decorrer de 2.000 anos do cristianismo. A pergunta que fica é: qual o critério para definir se alguém é ou foi salvo?

Se você perguntar isso vai encontrar tantas respostas que podem confundir a cabeça de qualquer um. Vamos citar alguns exemplos de grupos religiosos e suas respostas:

Testemunha de Jeová: só vai entrar na nova ordem quem fizer parte da única organização que segue os ensinos de Jeová. Adivinha quem é essa organização? Fundada em 1879 e com cerca de 8 milhões de membros no mundo, dane-se quem nasceu de Constantino (ano 313) até 1879, ou o restante da humanidade que hoje passa de 7 bilhões de pessoas. Em síntese é o seguinte: se você não se tornar um seguidor da religião deles não é salvo.

Igreja Católica romana: No documento do Vaticano “Dominus Jesus”, lançado no ano 2000 diz: ”O Senhor Jesus, único Salvador, não formou uma simples comunidade de discípulos, mas constituiu a Igreja como mistério salvífico. Os fiéis são obrigados a professar que existe uma continuidade histórica — radicada na sucessão apostólica (leia-se Papa) — entre a Igreja fundada por Cristo e a Igreja Católica: « Esta é a única Igreja de Cristo [...] que o nosso Salvador, depois da sua ressurreição, confiou a Pedro para apascentar.

Protestantes reformados calvinistas: A salvação não é para todos, e sim somente para os eleitos por Deus. Deus já determinou quem vai ser salvo e quem não vai. Alguém que discorde pode perguntar: Mas isso não é uma injustiça da parte de Deus? A pessoa nem nasceu, não tomou nenhuma decisão certa ou errada, já recebe na testa o carimbo: “não eleito”. Como resposta você vai ouvir: Não tem jeito, isso é a soberania de Deus, Ele determina e pronto. Eu acredito que estou entre os eleitos, graças pela sua misericórdia, agora, azar de quem não foi escolhido, lamento, mas vai para danação no inferno mesmo! Os que tem uma certa preocupação missionária ainda podem dizer: a gente até pregou para os cabras, mas eles não quiseram, fazer o quê, acho que é porque estavam destinados ao lago de fogo mesmo!

Congregação Cristã do Brasil (CCB): São calvinistas sem nem mesmo saber, porque lá estar teologia não é coisa de Deus não. O termo mais correto para classificar a linha da denominação seria exclusivismo: lá é o único rebanho do único pastor Jesus; só o batismo deles tem validade, etc. É claro que há exceções dentro da CCB, tem membros e até anciãos que possuem a mentalidade mais aberta e estudam a Bíblia, mas são minoria infelizmente.

Igrejas evangélicas de orientação armeniana, sejam elas pentecostais ou não: A salvação é para todos que ouvirem a mensagem do evangelho de Cristo e o aceitarem. Por isso, a gente prega, faz obra missionária. A decisão é pessoal, porque todo mundo tem livre-arbítrio, aceito é salvo, não aceitou vai pro infernão mesmo! Agora se no dia do arrebatamento Jesus voltar e não deu tempo de pregar para todo mundo, fazer o quê não é mesmo? Nem todo mundo vai ser salvo mesmo, até Jesus falou que muitos são chamados e poucos escolhidos!

Igrejas neopentecostais: Salvação? Que isso? Eu quero é me dar bem na vida, comprar meu carro, casa própria, ter saúde, salvar ou abrir minha empresa e ficar livre dos encostos! Esse conversa sobre céu ou inferno, eu não penso muito não, estou preocupado é aqui nessa terra mesmo! Com Deus a gente faz um negócio, uma barganha, eu dou dinheiro para Ele e ele me dá as coisas que eu reivindico por fé que são minhas por direito!

Eu já disse aqui no blog que no início da minha caminhada cristã, quando comecei a estudar a Bíblia, vez por outra, me perguntava e também ouvia de outras pessoas as seguintes dúvidas:
- Qual o destino eterno das pessoas, que nunca ouviram o evangelho?
- Estão todas sem salvação?

Mas com o tempo passei a ouvir de outras pessoas indagações semelhantes as minhas como:
E quem cria em Deus, praticava o bem e morreu no catolicismo seja na Idade Média antes da Reforma ou mesmo agora? E os índios que nunca ouviram a pregação do evangelho? Deus só salva dentro do cristianismo ou num dimensão menor dentro somente do protestantismo?

Vou continuar nas postagens seguintes vamos falar sobre a ordem de Melquisedeque, universalismo e o significado do Cordeiro morto antes da fundação do mundo.

terça-feira, 22 de setembro de 2015

O que vem a ser a Ordem de Melquisedeque?


A primeira coisa a dizer sobre a Ordem de Melquisedeque é que este tema é algo alienígena nos credos do Cristianismo; e, mais ainda, que não se tem nenhum interesse em pensar em suas implicações, visto que isto desconstruiria um sistema que foi desenvolvido durante pelo menos 1700 anos de história da igreja como instituição.

Se fosse falar no assunto na defensiva, teria que provar que Deus tem na Ordem de Melquisedeque sua “justificativa” teológica para ser livre como Deus, derramando Sua Graça onde bem entenda, e sem dar explicações. Mas ainda é uma tentativa de “pedir licença” e rogar por clemência aos doutores da ortodoxia e senhores da verdade. E mais: ainda é também uma confissão muito forte acerca do poder inquisitorial dos doutores e escribas do Cristianismo; os perpétuos neuróticos da verdade-cartilha; e supostos guardiões do “Santo Graal da Doutrina”.

Desse modo, a fim de também simplificar ao máximo este texto e fazê-lo também sucinto, apenas descreverei o que creio sobre a Ordem de Melquisedeque, conforme mencionada nas Escrituras. Melquisedeque aparece do nada, sem antecedentes e sem explicações. Abraão encontra com ele e se verga diante dele, e lhe paga o dízimo de tudo quanto tinha consigo. Melquisedeque abençoa a Abraão. Então, assim como veio, ele vai, sem deixar vestígios.

Mais tarde, séculos depois disto, Melquisedeque aparece nos Salmos, quando, também do nada, se diz que o Senhor jurou que Seu Enviado seria feito Sumo Sacerdote, segundo a Ordem de Melquisedeque. Somente isto e nada mais. Até a Carta aos Hebreus. É nela que Melquisedeque volta como nunca antes.

 Agora ele é aquele que em Cristo tem seu Sumo Sacerdote. Jesus se torna Sumo Sacerdote de uma nova ordem sacerdotal, a qual não era étnica, pois não era judaica. Nem era levitica, posto que Jesus não era da tribo de Levi, mas de Judá; não tendo, portanto, qualquer relação com o sacerdócio anterior, o qual tinha na Ordem Levitica, da tribo de Levi, um dos doze patriarcas de Israel, os representantes humanos do culto que se prestava ao Deus de Abraão.

Do mesmo modo se pode dizer que ela nem tampouco se condicionava à informação histórica, carregada de esperança redentiva, que viajava como fé, mas também como especulação teológica e fixação de tradição em Israel. Jesus sendo Sumo Sacerdote segundo uma ordem à qual o próprio Abraão — pai do povo da revelação escrita — se curvava, é apresentado na Carta aos Hebreus como Aquele que TAMBÉM abençoa a Israel e todos os que conhecem a informação da Escritura; porém, que não se condiciona nem à geografia, nem à história registrada como sagrada, nem à informação, nem a qualquer fronteira, de qualquer que seja a natureza, estando Suas mãos sobre todos os que Ele mesmo desejar, e com a mesma liberdade com a qual abençoou a Abraão.

A Carta aos Hebreus diz que esse Melquisedeque é semelhante ao Filho de Deus, sem principio de dias e sem fim de existência; sendo superior a tudo quanto era relativo a Abraão, visto que é o maior quem abençoa o menor. Assim, Melquisedeque não é explicado, mas apenas afirmado. De fato, ele paira sobre a História, é um pingo de peso explosivo num Salmo, e arrebenta tudo e todas as ordens, quando relativiza a mais importante de todas, a que procedia de Abraão.

Ora, o mistério de Melquisedeque é algo que ecoa o Cordeiro imolado antes de tudo, antes de qualquer ato criador de Deus. Desse modo, pode-se dizer que o espírito da Carta aos Hebreus acerca de Melquisedeque, é aquele que o apresenta como uma manifestação do Cristo Eterno, o qual não foi feito Cristo, no Jesus Histórico; mas sim, sendo o Cristo Eterno, se mostrou como tal em Jesus, na História. Talvez seja por esta razão, também, que Jesus disse que Abraão viu os Seus dias e regozijou-se.

O Jesus Histórico não fez surgir o Cordeiro e nem a Ordem de Melquisedeque. Pelo contrário, se diz que Jesus é Sumo Sacerdote “segundo” a Ordem de Melquisedeque; assim como se diz que o Cordeiro foi imolado antes de tudo; antes de haver mundo. Jesus é a Encarnação de tudo o que Nele preexistia como Cordeiro Eterno, como o Cristo de Tudo e Todos, como o Sacrifício da Ordem de Melquisedeque (que manifesta na História a invasão livre do eterno, se revelando aos homens, e derramando Graça de todas as ordens); e como Jesus; o Cordeiro de Deus; o Cristo; ou Cristo Jesus; ou apenas o Cristo; ou ainda o Cristo de Deus; ou simplesmente Jesus Cristo — que é o que se diz Dele; enquanto Ele mesmo se define como Filho do Homem, o Caminho, a Verdade, a Vida, o Pão da Vida, a Porta, o Bom Pastor, o Noivo, e Aquele que é Um com o Pai (entre outras autodefinições).

As implicações de tal realidade é que são insuportáveis para a religião, pois, virtualmente acaba com ela, com seus poderes de representação, com suas certezas, com seus dogmas; e, sobretudo, com seu poder dela “administrar” a graça de Deus aos homens. A Ordem de Melquisedeque é a Ordem da Nova Jerusalém, na qual os povos são curados, e todos trazem ao Cordeiro as belezas dos povos. É em razão da Ordem de Melquisedeque que Jesus diz que muitos virão de todos os quadrantes da Terra, gente de todas as gerações, e tomarão lugar à mesa com Abraão, Isaque e Jacó.

 É também por tal razão que o Evangelho deixa claro que a maior fé que Jesus vira, não viera de dentro de Israel, mas de um pagão de fora: o Centurião Romano. Assim como é pela mesma razão que a mulher que dá um “ santo banho” em Jesus é uma mulher de fora de tudo, uma siro-fenícia.

O problema atual é que a humanidade entende a Ordem de Melquisedeque, mas já não entende a ordem de Levi, conforme a Bíblia, posto que tal coisa, para a humanidade, tiveram no Judaísmo e, sobretudo, no Cristianismo, os seus representantes históricos, o que fez com que um sentimento de repudio se espalhasse pela Terra em relação a tudo quanto possa carregar tais “representações”. Ora, quando digo que este é o problema, não quero, todavia, universalizá-lo; afinal, ainda há bilhões que não passam sem um bom paganismo judaico-cristão.


O que afirmo é que as mentes que desejam alguma forma de espiritualidade não vinculada à religião, assim sentem por não conseguirem mais tolerar a mensagem e o resultado histórico do que o Cristianismo produziu, tanto como religião, como também como potestade ideológica e política. Esses, de fora, os pós-cristãos, todavia, quando ouvem acerca de tal Ordem superior à religião, conseguem entender o Evangelho em sua maior largueza de percepção. Por esta razão essa tal “Era Pós-Cristã” é um problema para o “Cristianismo”, mas não significa nada para o Evangelho. Mas como disse no inicio, o problema não é dizer que Jesus é Sumo Sacerdote segundo a Ordem de Melquisedeque. O problema são as implicações dessa compreensão, as quais, sendo levadas a sério, acabam com os poderes da religião. E quem, na “igreja”, deseja tal coisa? 

Fonte: http://www.caiofabio.net/








segunda-feira, 21 de setembro de 2015

O fator Melquisedeque


Você já ouviu falar na Ordem de Melquizedeque?
 
A primeira referencia vem do livro de Gênesis, de um encontro entre Abraão e esse Personagem misterioso; o qual, mais adiante, nos Salmos, é feito Representante do Maior e Mais Superior Sacerdócio, e do qual o Messias é feito Sumo-Sacerdote. Mais adiante, a epistola aos Hebreus diz que Jesus é esse Sumo-Sacerdote Segundo a Ordem de Melquizedeque; sendo que o próprio Melquizedeque foi um tipo ou Arquétipo de Cristo.

Ora, a existência de Melquizedeque na Bíblia como sendo alguém que “vinha de fora” da história linear que as Escrituras narram, especialmente focada na descendência de Abraão, abre a porta para que se veja a ação de Deus “fora do ambiente” de histórias e narrativas das Escrituras, posto que mostra que Deus se revela a quem quer e como quer, e que não tem que dar qualquer explicação disso a qualquer censor humano.

Assim, o que vejo nos mitos dos povos que lembram de modo arquetípico a história de Jesus, não é a influencia dos “anjos caídos” desejosos de confundirem as coisas, mas sim uma provisão da Graça, Segundo a Ordem de Melquizedeque, a fim de deixar sempre um ponto de contato entre todas as culturas humanas e algum “braço” do Evangelho.

Don Richardson, no seu livro O Fator Melquisedeque diz que, Deus deixou um “fator Melquizedeque” em cada povo da terra, pelo qual o Evangelho tem sua “porta de entrada” cultural, psicológica e, por vezes, até espiritual. Aliás, o Velho Testamento inteiro é a comprovação dessa utilização arquetípica a fim de um dia tê-la substituída pela Imagem Real ou pelo Significado Pleno, no caso, pela Encarnação do Verbo.

Mas para os judeus piedosos e que ofereciam seus sacrifícios de sangue com devoção e fé, confessando assim a necessidade de redentor e redenção, quando Veio Àquele que era o cumprimento de todas as promessas e esperanças, seus corações não hesitaram em seguí-lo.

Deus deixou milhões de pontos de contatos simbólicos, arquetípicos e culturais entre os povos da terra; pois, todos os homens são frutos de um só; visto que de um só Deus fez toda a raça humana; sendo esta a razão pela qual a memória de um tornou-se muitas memórias entre os seus descendentes, porém sempre mantendo o eixo original da esperança. O apóstolo Paulo explica isto, no seu discurso no Areópago de Atenas, em Atos 17:  (De um só fez todos, até os seus poetas falam, Esse Deus Desconhecido, que adorais sem conhecer, é o que eu vos anuncio).

Portanto, o que vejo é a Graça deixando pistas de Deus e da esperança entre todos os humanos. Vejo, Ele marcando o chão do mundo com Seus passos.

No entanto, conforme está escrito em Romanos 2:12-16, o que creio é, que cada um será julgado pela luz que de fato teve, descontadas todas as intromissões dos traumas, condicionamentos religiosos, tempos, culturas, épocas, circunstancias, oportunidades, etc... Ou seja: cada um será julgado pelo que soube de fato que era verdade, e, no coração, assim mesmo, rejeitou; pois, se tiver acolhido a verdade, livre está de juízo.

Quando Jesus disse aos homens para não tentarem separar no campo do mundo o joio do trigo, Ele estava dizendo que homem algum conhece o coração de outro homem, mesmo quando lhe conhece os caminhos, os atos, as formas, os modos, os comportamentos e os pensamentos confessados.

Isto nos põe diante do mistério do homem! Temos o direito, e o dever de escolher com quem desejamos estar e viver, mas não temos o direito de dizer quem é quem ou o quê; jamais — especialmente no que diz respeito ao homem e Deus.

Ou seja: Jesus ensinava que a melhor certeza do homem é que o joio existe, mas o resto é dúvida; pois, não lhe foi dado o poder de entrar nas naturezas das coisas.

Por isto Paulo diz: “Porque quando os pagãos que não têm lei, fazem por natureza as coisas da lei, eles, embora não tendo lei, para si mesmos são lei; pois, mostram a norma da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os — no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Cristo Jesus, segundo o meu evangelho.”

Entretanto, foi por tentar fazer o que Jesus disse que era tarefa de anjos instruídos pelo Pai, que os cristãos que se tornaram religiosos do Cristianismo e, então, os anjos armados que mataram e matam em nome de Jesus; ou tornam-se aqueles que se indignam quando existe a chance de alguém que nada tem a ver com a cultura religiosa e cristã, possa estar assentado à mesa com Abraão; assim esquecidos que nós mesmos somos apenas um enxerto contra a natureza das coisas, pois fomos implantados na oliveira da esperança como pagãos que souberam, o que não nos faz melhores, mas apenas mais responsáveis; posto que Jesus tem entre os Dele muitos pagãos que nunca souberam, mas que viveram e vivem como quem sabe.  Em outras palavras, temos que tirar as sandálias ante o mistério do coração humano.

A Ordem de Melquizedeque é o Sacerdócio Universal de Cristo por todos os homens, e, especialmente, por todos os homens que vivem segundo a fé; ou mesmo sem informação dela, mas que buscam viver no caminho do que é bom, humano, misericordioso, justo e simples em sinceridade. Sim! Em qualquer tempo ou em qualquer lugar da Terra!
Nas duas próximas postagens vamos discorrer sobre como Deus fala e como tentaram ao longo dos séculos condicionar a ação de Deus.