sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O preconceito que iguala os evangélicos é o mesmo que considera Marina sua representante

A Igreja Universal do Reino de Deus, na figura do bispo Edir Macedo, é favorável à interrupção voluntária da gestação, ao aborto. O pastor Silas Malafaia, de um dos ramos da Assembléia de Deus, é contra. E também é contra ampliar os direitos da comunidade LGBTTT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).

Tal atitude é bem diferente da Comunidade Cidade de Refúgio, igreja evangélica de matriz neopentecostal liderada por um casal de lésbicas, as pastoras Lanna Holder e Rosania Rocha, segundo elas, Deus distribui seu amor igualmente entre todos.

Muitos adventistas são vegetarianos. A bispa Sônia Hernandes, da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, não é vegetariana. Ela adora assistir às sangrentas lutas de MMA enquanto se veste com roupas de grifes famosas (sem dispensar as jóias H. Stern, é claro!).

Já o apóstolo Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, nem sabe bem o que é uma grife. Para ele, o legal é usar um chapéu de vaqueiro e uma toalha branca no pescoço, que ele chama de “ungida” (depois de empapada de suor, ele a oferece aos milhares de fiéis que comparecem aos seus cultos; dizem que faz milagres).

Tem igreja evangélica para todos os gostos e humores. Tem a Bola de Neve, do surfista e empresário Rinaldo de Seixas Pereira, cujos cultos são celebrados em um púlpito em forma de prancha, ao som de reggae e rock.

Tem o Ministério de Louvor Diante do Trono, da cantora, compositora e pastora Ana Paula Valadão, que já ministrou uma cerimônia vestida com uniforme militar, para ordenar a todas as mulheres presentes que “batessem continência para o General Jesus”, e “erguessem suas Bíblias como se fossem armas para derrotar os inimigos da família, inimigos da vida financeira, inimigos do chamado ministerial e da vida profissional”.

A amostra já deu? Pois tem muito mais. É só percorrer as ruas das grandes cidades para ver quantas milhares de combinações produzem as palavras-chave Ministério, Amor, Jesus, Cristo, Caminho, Luz, Senhor, Deus, Jeová, Canaã, Igreja, Missão, Missionário, para formar nomes de igrejas.

São denominações minúsculas, instaladas tantas vezes na garagem da casa do pastor, até chegar a outras, gigantescas, com milhões de fiéis e sistema de rádio e TV. Encontram-se nos bairros ricos, nas periferias, nas tribos de índios, nas cadeias. Nos quilombos e nos muquifos.
Cada uma vem com sua visão de mundo, estratégia de sobrevivência, formas de arrecadação de fundos. Há as que aceitam cartão de crédito e débito, as que só trabalham com dinheiro e as que não estão nem aí para o vil metal, como uma que encontrei em Tocantins, que só aceita doações em mandioca, para alimentar a fábrica de farinha que funciona atrás do templo pobrezinho.

Tal diversidade explica-se pela origem. A nota mais característica da Reforma Protestante de Martinho Lutero (século 16) é exatamente aquela que deu a cada leitor da Bíblia o poder de acessar a palavra de Deus sem intermediários –na tradição católica, esse papel é monopolizado pela Igreja e seus sacerdotes. É, portanto, constitutiva do protestantismo a polifonia de interpretações sobre a religião, a moral e a vida.

Esqueça o “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, vigente entre os católicos. Discordou do pastor, dos métodos, dos cânticos, dos ensinamentos? Vá para outra igreja! Ou, se não houver nenhuma boa o suficiente para os seus propósitos e sonhos, funde a sua própria!
Eis a razão por que é tão estúpido o preconceito contra os evangélicos. Porque trata todos como se fossem iguais, como se acreditassem nas mesmas coisas, como se tivessem um pensamento único, um só líder (como o papa), uma só hierarquia (como a Católica).

Aliás, a rivalidade atual, verdadeira guerra fratricida cheia de denúncias recíprocas, entre a Igreja Universal do Reino de Deus (do bispo Edir Macedo) e a sua dissidência, a Igreja Mundial do Poder de Deus (do apóstolo Valdemiro Santiago) mostra que, às vezes, o maior inimigo de uma igreja evangélica é… a outra igreja evangélica.


Marina Silva (PSB), portanto, não é a representante dos evangélicos na disputa presidencial. Ela é apenas mais uma evangélica entre 42,3 milhões de brasileiros (Censo IBGE 2010), gente que, em comum, tem o fato de acreditar na justificação única pela fé que vem de Deus. Daí para frente, é o mundão.

Laura Capriglione, 54, é jornalista. Nasceu em São Paulo e cursou Física e Ciências Sociais na USP. Trabalhou como repórter especial do jornal “Folha de S.Paulo” entre 2004 e 2013. Dirigiu o Notícias Populares (SP), foi diretora de novos projetos na Editora Abril e trabalhou na revista “Veja”. Conquistou o Prêmio Esso de Reportagem 1994, com a matéria “Mulher, a grande mudança no Brasil”, em parceria com Dorrit Harazim e Laura Greenhalgh. Foi editora-executiva da revista até 2000.



quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Subsídio para EBD - O julgamento e a soberania pertencem a Deus

 
O texto que serve de base para esta lição ressalta quatro assuntos: 1) a questão do julgar o próximo (v. 11,12); 2) a brevidade da vida (v. 13,14); a soberania divina com relação aos caminhos humanos (v. 15); 4) a arrogância relacionada com o pecado da omissão (v. 16,17).
O perigo de colocar-se como juiz (Tg  4.11,12)
Não devemos tomar uma posição simplista na questão de julgar o próximo ou o irmão da igreja. Tiago é incisivo no mandamento de não julgar, mas não podemos nos esquecer de que a igreja tem de preservar a sua integridade moral e não pode fazer isso sem analisar o problema, identificar o erro e advertir ou mesmo punir o culpado. Todas as etapas de um julgamento estão aí. Leia atentamente o capítulo 5 de 1Coríntios e verá todo o processo, como deve ocorrer, descrito por Paulo. A igreja tem aobrigação de julgar e disciplinar os seus membros quando há motivo para isso. Veja que o próprio Tiago aconselha, mais adiante: “Irmãos, se algum de entre vós se tem desviado da verdade, e alguém o converter, saiba que aquele que fizer converter do erro do seu caminho um pecador salvará da morte uma alma e cobrirá uma multidão de pecados” (5.20).
Mas quando não se deve julgar? Penso que Tiago se refere aos casos em que reprovamos a atitude de alguém apenas com base nas aparências (João 7.24) ou apoiados em boatos — sem provas, digamos assim. Erramos ao condenar alguém sem conhecermos a real situação e “falamos mal” quando levamos o assunto adiante sem a certeza de que um erro foi cometido.
Duas observações. 1) Quando Jesus diz: “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7.1 etc.), ele provavelmente está citando uma lei da vida, não uma advertência, como no caso de Tiago. São situações distintas. 2) Em Mateus 18.15-20, é quase certo que Jesus não está se referindo à igreja cristã, especificamente, porque ela ainda não existia. Barclay chega a dizer que esse texto foi acrescentado posteriormente. Sem querer medir forças com esse grande erudito, prefiro pensar que seja um conselho genérico a qualquer grupo que se reúna com um propósito comum.
 A brevidade da vida e o reconhecimento da soberania divina (Tg  4.13-15)
Simon J. Kistemaker comenta:
Não podemos culpar um vendedor viajante por ir de um lugar para outro fazendo negócios. Faz parte de sua vida. Há um certo paralelo com o discurso de Jesus sobre o fim dos tempos, quan­do se refere aos dias de Noé [Mt 24.38,39; compare com Lc 17.26-29]. Apesar de ninguém culpar uma pes­soa por comer, beber e casar-se, a questão é que, na vida dos contem­porâneos de Noé, não havia lugar para Deus. Essas pessoas viviam como se Deus não existisse, e o mesmo aplica-se aos negociantes aos quais Tiago se dirige. [...] Se não temos nenhuma ideia daquilo que o futuro próximo nos reserva, então qual é o propósito da vida? O autor de Eclesiastes menciona várias vezes a brevidade da vida e, de modo característico, diz como não faz sentido o homem buscar os bens materiais. Ainda assim, na conclusão de seu livro, ele afirma o propósito da vida: “Teme a Deus, e guarda os seus mandamentos, porque isso é o dever de todo homem” (Ec 12.13). [...] Os mercadores aos quais Tiago se dirige não se preocupavam com o sentido e a duração da vida. Eles negligenciavam o conselho de Salomão: “Não te glories do dia de amanhã, porque não sabes o que trará à luz” (Pv 27.1). Eles falavam sobre o futuro com absoluta cer­teza. Apesar disso, eles não tinham controle sobre o futuro. Eles ti­nham sua vida, mas falhavam em não procurar seu propósito. Eles eram cegos e ignorantes.
Os pecados da arrogância e da autossuficiência do ser humano (Tg  4.16,17)
Para ministrar esta seção, desenvolva os comentários de Warren W. Wiersbe (sobre o v. 16) e Fritz Grünzweig (sobre o v. 17), respectivamente:
A jactância do ser humano serve apenas para encobrir sua fra­queza. “O homem propõe, mas Deus dis­põe”, disse Thomas à Kempis, mas Salomão expressou a mesma verdade antes dele: “A sorte se lança no regaço, mas do Senhor procede toda decisão” (Pv 16.33). O ser hu­mano não é capaz de controlar os aconteci­mentos futuros. Também não tem sabedoria para ver o que o futuro reserva nem poder para controlar o futuro. Assim, sua jactância é pecado; é fazer-se de Deus.
Faz parte de nos tornarmos obedientes à vontade, ao plano e à sinalização de Deus que não nos deixemos monopolizar e prender tanto pelos nossos próprios planejamentos, inclusive no tocante à jornada diária, que não estejamos mais abertos e livres para as incumbências para as quais Deus nos chama a cada instante. É correto distribuir com cuidado o tempo, mas é importante estar também disposto a se sujeitar a qualquer momento aos planos de Deus e a receber novas incumbências. É necessário que sejamos flexíveis para Deus. Talvez o sacerdote em Lc 10.31 não tenha chegado a ajudar o pobre porque seu tempo já estava preenchido com seu planejamento. Em todos os casos é essa a situação de um grande número de “sacerdotes” que hoje passa ao largo de um ser humano que Deus deita diante dele. Em contraposição, com que disposição Filipe e Pedro se deixaram chamar por seu Senhor, para fora de seus esquemas e em direção de outras tarefas, inclusive quando diziam respeito a apenas poucas pessoas (At 8.26s; 10.20)!
Nota: Deixe o seu comentário, esse retorno é importante para mim. Se quiser compartilhar algo sobre o assunto desta lição, que também ajude os outros professores, fique à vontade.
BIBLIOGRAFIA. Barclay, William. Comentário do Novo Testamento: Mateus. Tradução de Carlos Biagini. [S.l.: s.n.], s.d. * Grünzweig, Fritz. Carta de Tiago. Tradução de Werner Fuchs. Curitiba: Esperança, 2008 (Comentário Esperança). * Kistemaker, Simon. Tiago e epístolas de João. Tradução de Susana Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. * Wiersbe, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Testamento. Tradução de Susana E. Klassen. Santo André: Geográfica, 2007, v. 2.
 

terça-feira, 9 de setembro de 2014

E se Jesus entrasse hoje em nossas igrejas?

Fico a imaginar como seria se Jesus voltasse como foi na primeira vez, em vez de voltar em glória. Dando asas a imaginação, como a vê-lo andar pelas ruas das cidades brasileiras e não na terra de Israel e da Palestina.

Ao olhar os nossos mega-templos, será que diria palavras diferentes do que disse para os discípulos em Mateus 24, falando sobre o templo embelezado por Herodes, de que um dia as construções humanas podem ser derribadas?

No que tange a política de sua época, Jesus vivia no auge do Império Romano, com governantes despóticos e tiranos seja em Jerusalém, Cesaréia ou Roma. O grande problema social era a escravidão. No mundo grego e romano, principalmente na elite, os bacanais e orgias, corriam soltos. Sobre a escravidão, limitou-se a dizer de que veio trazer libertação da escravidão do pecado.

No entanto, a única vez em que ele mencionou o nome de César foi quando lhe tentaram a ir contra os tributos romanos. Heródes, Uma vez ele chamou Herodes de “raposa” e quando o mesmo no julgamento pediu um show de milagres, Cristo nem resposta deu. Não respondeu a pergunta filosófica de Pilatos sobre o que era a verdade e quando o governador disse que tinha poder, Jesus disse que o era considerava como poder  na verdade não passava de uma concessão divina provisória.

Aos seus discípulos, Jesus disse que havia no mundo, um sistema maligno que tinha um príncipe espiritual. Em nenhum momento tentou fazer lobby para ter uma assento na corte de Herodes, Pilatos, ou de César, com o intento de ter influência para mudar as coisas. O que diria se entrasse nos templos hoje e visse a política que é feita usando seu nome?

Também não quis dar uma de politicamente correto, fazendo uma média com os saduceus, sacerdotes e doutores da lei, para consiguir uma vaguinha no Sinédrio, onde estavam as autoridades eclesiásticas. Pregava, curava e ensinava onde queria e responde os que se achavam como representantes ou donos da religião, disse que não diria em nome ou autoridade de quem fazia isso. Com esse comportamente, em qual igreja ele teria acesso ao púlpito para pregar? Teria que ir para as ruas, praças, praias e montanhas assim como naquela época.

Bastava, pregar ao povo o que está escrito em Mateus 23, que foi seu mais duro discurso feito contra os líderes religiosos, do jeito que está escrito lá, para que fosse chamado hoje pelos “ungidos”, como herege, anticristo e falso profeta.

O que diria aos líderes religiosos que andam com motoristas, seguranças armados, possuem patrimônios milionários como mansões, fazendas, aviões, empresas as custas das contribuíções de muitos crentes, oriundos em sua maioria das classes menos favorecidas?  Penso que diria: “Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que têm autoridade sobre eles são chamados benfeitores.
Mas não sereis vós assim; antes o maior entre vós seja como o menor; e quem governa como quem serve”, 
Lucas 22:25-26.

Havia nos tempos bíblicos algumas classes de pessoas bem menosprezadas alvos de preconceito como os bastardos, estrangeiros, leprosos, prostitutas, publicanos, mulheres estéreis, eunucos entre outros. Vou me ater aos eunucos que, assim como outros marginalizados acima não podiam sequer entrar na congregação do Senhor (Deut 23:1). Nos dias do profeta Isaías essa lei no tocante aos eunucos foi flexibilizada (Isaias 56:3-6). Percebe-se nitidamente que a graça está por trás desta “adaptação” à realidade. A Lei aponta para um mundo ideal, onde não haja homens incapazes de reproduzir. Porém, a graça lida com as demandas da realidade. A Lei acentua a distância entre o real e o ideal. A graça reverte este fluxo. Em vez de exclusão, inclusão. Em vez de distanciamento, aproximação.

Jesus mesmo falou sobre o princípio original da criação em Mateus 19:4. Depois disso, houve a Queda com todas as suas implicações na vida do ser humano e da criação em geral, que agora geme como diz Paulo aos Romanos, aguardando a Redenção. A terra em virtude da entrada do pecado, produziria a partir da aí, espinhos e cardos. A partir da entrada do pecado no mundo passou-se a conviver com o ideal e o real.

Sabendo que os eunucos não são sinônimos de homoafetividade, embora alguns entre eles o sejam, como há exemplos atuais na Índia que são os hijras (que lá são tidos como transgêneros e intersexuais), o que impediria Cristo em aplicar aos homoafetivos o mesmo aplicativo descrito em Mateus?
Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido.
Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o”, 
Mateus 19:11-12.

Para quem quiser pesquisar: http://pt.wikipedia.org/wiki/Eunuco

Acredito que não agradaria ao movimento gay, porque iria dizer com todas as letras qual foi o princípio ideal de Deus na criação, nem agradaria aos Malafaias e Felicianos da vida, porque usaria de graça e misericórdia com quem não tem nada haver com o movimento ideológico gayzista, mas sofre na pele, por ter sentimentos homoafetivos com traumas, preconceitos e tremendos conflitos interiores.


Essa reflexão é grande, estava queimando dentro do meu coração, e eu resolvi compartilhar no blog. Vou parar por aqui, depois eu continuo...