sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Uma Bíblia de 1.700 anos não tem trecho como "atira a primeira pedra!"

Esqueça o Código Da Vinci, meu filho: legal mesmo é o Códex Vaticano.
Esse manuscrito, datado do século 4º d.C., é um dos mais importantes e antigos exemplares da Bíblia cristã todinha — Antigo e Novo Testamentos — em grego. E, conforme leio no antenado blog Observatório Bíblico, a Biblioteca Apostólica Vaticana disponibilizou o treco inteirinho online, com uma resolução de encher os olhos. Na tela!
O primeiro capítulo do Evangelho de Mateus no Códex Vaticano (Crédito: Reprodução)
O primeiro capítulo do Evangelho de Mateus no Códex Vaticano (Crédito: Reprodução)
E não se trata apenas de um manuscrito bonitinho, gentil leitor. O texto, provavelmente produzido no Egito, é crucial para nos ajudar a determinar as versões dos textos bíblicos consideradas mais próximas do original, junto com outros manuscritos antigos de boa qualidade.
Só para citar dois exemplos do Novo Testamento: o códex não traz o finalzinho do Evangelho de Marcos, no qual o Jesus ressuscitado aparece aos discípulos. O texto termina dizendo simplesmente que as mulheres que viram o túmulo vazio de Cristo não disseram nada a ninguém sobre a Ressurreição. Isso levou muitos especialistas a postular que o atual final de Marcos é uma “versão estendida” inserida por um autor que viveu depois do evangelista. E, no Evangelho de João, a famosa cena da adúltera e do “atire a primeira pedra quem não tiver pecado” também não consta desse manuscrito, o que também indicaria que esse trecho não foi escrito por João.
Fonte: Reinaldo José Lopes, no blog Darwin e Deus
 
Comentário: Embora a grande maioria do texto do Novo Testamento elimine qualquer dúvida, existem realmente algumas passagens cuja originalidade tem sido questionada. Sem nos estendermos demasiadamente, essas passagens incluem João 5.3, 4; João 7.53-8.11 e João 5.7. Porém, a passagem mais notável, talvez, seja a conclusão do Evangelho de Marcos.
 
Depois de Marcos 16.8, há uma discordância nos manuscritos existentes quanto ao que se segue. Alguns deles terminam no v. 8, com a frase: “pois tiveram medo”. Vários manuscritos contêm dois finais curtos que nenhum estudioso de textos considera como parte do manuscrito original. A maioria dos manuscritos contém, no entanto, os 12 versículos conhecidos que se encontram na Edição Revista e Atualizada no Brasil (ERAB) e em muitas outras traduções.
 
Será esse o fecho original de Marcos? Ou ele terminou seu Evangelho no v. 8? É possível que o original tenha desaparecido. A questão é esta: os doze últimos versos (Mc 16.9-20) — como contidos na ERAB, publicada pela da SBB — fazem parte do original do Evangelho de Marcos?
 
Os argumentos contra a aceitação dos doze últimos versículos como tendo autoridade podem ser dispostos em três categorias: (1) evidência externa; (2) evidência interna e (3) evidência teológica.
 
O argumento da evidência externa se concentra na ausência de um fecho tão longo. Nos dois manuscritos mais antigos que contêm o final do Evangelho de Marcos (Códice Sinático e Códice Vaticano), os doze últimos versos são omitidos. Algumas das versões (traduções para outras línguas) também omitem esses versículos como fizeram alguns dos primeiros pais da igreja. O fato de certos manuscritos conterem dois finais mais curtos também se opõe à idéia da leitura mais longa ser a original.
 
Além disso, alguns dos primeiros pais da igreja discordam quanto à originalidade desses versículos. Clemente de Alexandria e Orígenes não parecem considerar a existência desses versos, enquanto Eusébio e Jerônimo supostamente dizem que eles estavam ausentes de quase todos os manuscritos gregos que conheciam.
 
Alguns manuscritos que contêm a forma mais longa incluem notas escritas pelos escribas, atestando que os mais antigos não continham esses versículos. Outros manuscritos contêm marcas, indicando que existe alguma dúvida sobre a passagem.
 
Bruce Metzger, em A Textual Commentary on the Greek New Testa ment (p. 125), apresenta sua argumentação contra aceitar os 12 últimos versículos como incluídos no original de Marcos, baseado na evidência interna:
 
“O fecho mais longo (3), embora corrente em uma variedade de testemunhos, alguns deles antigos, deve ser também julgado pela evidência interna como secundário. (a) O vocabulário e estilo dos vv. 9-20 não são de Marcos (e.g., apisteo. blapto, beba iso, epakoloutheo, theaona, meta, tauta, pooeuomai. suergeô, usterou, não são encontrados em nenhum outro ponto de Marcos e Toiz met autou geiromeuoiz e theuasfou, como designações dos discípulos, ocorrem somente aqui no Testamento). (b) A ligação entre o v. 8 e os vv. 9-20 é tão forçada que fica difícil crer que o evangelista pretendia que essa desse continuidade ao evangelho.
 
Assim sendo, o sujeito do v. 8 é as mulheres, enquanto Jesus é o sujeito pressuposto no v. 9; No v.9 Maria Mada1ena é identificada, embora fosse mencionada apenas algumas linhas antes (15.47 e 16.1); as outras mulheres dos vv. 1-8 não são esquecidas: o uso de auaostaz de e a posição de proto são apropriados no início de uma narrativa abrangente, mas discordantes na continuação dos vv. 1-8.
 
Em resumo, todos esses aspectos indicam que a seção foi acrescentada por alguém que conhecia uma forma de Marcos que terminava repentinamente no v. 8 e quis suprimi-la com uma conclusão mais apropriada. Em vista das inconsistências entre os vv. 1-8 e 9-20, é improvável que o fecho mais longo tivesse sido composto ad hoc, a fim de suprir uma brecha óbvia; o mais provável é que a seção tenha sido extraída de outro documento, talvez datado da primeira metade do segundo século”.
 
Existem, outrossim, supostas evidências teológicas contra a idéia desses versículos serem autênticos. Isto inclui: (1) o batismo como exigência para a salvação (Mc 16.16); (2) a aparição de Jesus em forma diferente (Mc 16.12); (3) idéias fantasiosas, tais como beber veneno e pegar em cobras (Mc 16.18). Desde que essas idéias parecem contrariar o restante da Escritura, a passagem deve ser rejeitada como sendo a Palavra inspirada de Deus, dizem os críticos.
 
Apesar de tais argumentos parecerem superficialmente conclusivos, eles não suportam um escrutínio mais detalhado das evidências.Embora seja verdade que os dois manuscritos mais antigos que contêm Marcos 16 não incluem esses doze últimos versículos, existe vastíssima evidência externa que os apóiam como sendo originais. Mesmo não fazendo parte dos dois manuscritos gregos mais antigos, esses versículos são encontrados em virtualmente todos os manuscritos gregos restantes que contêm o final de Marcos. Todas as versões latinas e versões siriacas (versão mais antiga do NT em outro idioma) contêm esses versículos, com pouquíssimas exceções.
 
O mais importante é que os primeiros pais da igreja fazem citações deles e estão cientes deles (Justino Mártir, 150 a.D.; Ticiano, 175 a.D.; Irineu, 180 a.D. e Hipólito, 200 a.D.). Esses homens viveram 150 anos antes da composição do Códice Vaticano e do Códice Sinático (cerca de 325 a.D.), mostrando que esses versículos já existiam naquela época. Por alguma razão eles não foram incluídos, mas isso não indica que não existiam. Se este fecho mais longo não é original, por que há, então, tantos e diferentes testemunhos quanto à sua autenticidade? A evidência externa os favorece como sendo autênticos.
 
A evidência interna quanto a esses versículos serem originais é insatisfatória. Os argumentos relativos ao estilo e vocabulário, no mínimo, não convencem. Metzger (citado acima) salienta existirem dezessete palavras nesses doze versículos que não são encontradas em nenhum outro ponto do Evangelho de Marcos. Isto prova supostamente que esta seção não é autêntica (The Text ofthe New Testament, p. 227). Todavia, John Broadus fez um estudo dos doze versículos que precedem aqueles em questão (Mc 15.44-16.8) e encontrou dezessete palavras nessa seção que não são encontradas em nenhum outro ponto do evangelho de Marcos.
 
Sabe-se, perfeitamente, que o vocabulário e o estilo mudam conforme o assunto tratado. Basear um argumento em algo assim tão subjetivo não é valido. O argumento de que a ligação entre o v. 8 e os vv. 9-20 é forçada não basta para a omissão desta parte. Se os versículos foram acrescentados mais tarde por alguém, que não Marcos, por que a descontinuidade não foi atenuada? O argumento interno aqui não é tão sólido como alguns desejariam que fosse. (Veja John Burgon, Last Twelve Verses of Mark, Reprint, pp. 222-270.)
 
A evidência teológica não é igualmente conclusiva contra esses versos. Marcos 16.16 não ensina que o indivíduo precisa ser batizado para ser salvo, mas apenas liga a salvação com o ato do batismo, porque as duas coisas se completam.
 
A pessoa que aceita verdadeiramente a Cristo como seu Salvador desejará ser batizada, desde que isso é mandamento do Senhor. Contudo, não é o batismo que salva mas a fé: “Quem crê no Filho tem a vida eterna” (Jo 3.36). O batismo é o sinal externo objetivo da transformação interior. Essa deve ser a experiência de todo crente, não sendo porém uma exigência da salivação. Note que Marcos diz, no v. 16, que quem não crer será condenado e não quem não for batizado. Nada aqui é contrário às Escrituras.
 
A idéia de Jesus aparecer em outra forma não contradiz outros relatos da Sua ressurreição. Trata-se de uma simples descrição de Sua ida ao povoado de Emaús com os dois discípulos, em que Ele apareceu numa forma irreconhecível.
 
Isto difere de Suas aparições a Maria Madalena e a outras mulheres que O reconheceram imediatamente. Mas Lucas nos conta que, ao chegarem a Emaús, os olhos dos dois discípulos foram abertos e eles reconheceram Jesus. Não existe contradição aqui.
 
Marcos registra o ponto de vista de Jesus (forma diferente), enquanto Lucas dá o ponto de vista dos dois discípulos (olhos cegos). Além disso, o Novo Testamento parece indicar que Jesus, depois de Sua ressurreição, nem sempre apareceu na mesma forma.
 
Finalmente, os excessos surgidos como resultado de algumas interpretações sobre beber veneno e pegar serpentes não diminuem a sua autenticidade. Em Atos 28.3-6, temos um exemplo do apóstolo ser acidentalmente mordido por uma serpente mortífera e, mesmo assim, sobreviver.
 
Os sinais milagrosos prometidos aos discípulos do Senhor em Marcos não são inéditos, pois tanto Mateus como Lucas registram a promessa e o cumprimento desses sinais (Mt 10.1; Lc 10.17, 18). Do mesmo modo, Hebreus 2.3,4 indica que os sinais acompanharam os cristãos. O fato de ter havido abusos baseados nesses versículos não significa que eles devam ser descartados como não inspirados.
 
Por outro lado, três argumentos fortes podem ser dados para serem aceitos esses versículos como originais: (1) nenhuma teoria satisfatória foi apresentada para explicar como Marcos podia ou haveria de terminar seu Evangelho no v. 8; (2) nenhuma objeção sem resposta foi levantada contra a idéia de esses doze últimos versículos serem inspirados; (3) os argumentos apresentados para explicar a quantidade enorme de evidência objetiva quanto ao testemunho amplo e variado dos manuscritos gregos, traduções e pais da igreja, são insatisfatórios.
 
É muito mais fácil explicar por que a passagem poderia ter sido omitida em alguns manuscritos, em vez de tentar explicar por que foi tão aceita. Para uma resposta completa quanto à exatidão da teologia dos doze últimos versículos, veja The Interpretation ofSt. Mark’s Gospel , de R. C. H. Lenski ou um comentário específico desse evangelho. Acreditamos haver boas razões para serem aceitos os doze últimos versículos de Marcos, inclusos na ERAB, como sendo originais, desde que todas as objeções quanto à sua autenticidade deixam muito a desejar.
 
Fonte: (Extraído: J. Macdowel), via http://www.cacp.org.br/

 

 
 
 
 

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Os dons do Espírito Santo são para hoje? Uma resposta aos cessacionistas - parte 02

Sim eu sou continuísta
 Deixe-me começar com a presença sólida, certamente difundida e inteiramente positiva de todos os dons espirituais por todo o Novo Testamento (NT). Os problemas que surgiram na igreja de Corinto não se deram por conta dos dons espirituais, mas por pessoas imaturas. As advertências de Paulo não se referiam aos dons de Deus mas, sim, à distorção infantil, ambiciosa e orgulhosa da parte de alguns.

Além do mais, começando com o Pentecoste e percorrendo todo o livro de Atos, vemos que toda vez que o Espírito era derramado sobre os novos convertidos, eles experimentavam do seu carisma. Não há nada que indique que esses fenômenos eram restritos a eles e à época. Tais manifestações parecem ser tanto difundidas quanto comuns na igreja do NT. Os cristãos em Roma (Rm 12), Corinto (1 Co 12-14), Samaria (At 8), Cesareia (At 10), Antioquia (At 13), Éfeso (At 19), Tessalônica (1 Ts 5) e Galácia (Gl 3) experimentaram dos dons de milagres e revelação. É difícil imaginar como os autores do NT poderiam ter falado mais claramente sobre como deveria ser o Cristianismo da Nova Aliança. Em outras palavras, o fardo de provar o contrário está com o cessacionista.

Os dons ficaram restritos ao exercício pelos apóstolos?
Gostaria de apontar também a extensa evidência neotestamentária dos chamados dons milagrosos entre cristãos que não são apóstolos. Ou seja, vários homens e mulheres que não eram apóstolos, jovens e anciãos, em toda a extensão do império romano exerciam de maneira consistente esses dons do Espírito (e Estevão e Felipe ministravam no poder de sinais e maravilhas). Aqueles que exerciam os dons miraculosos mas, não eram apóstolos são: os 120 que estavam reunidos no salão superior no dia de Pentecostes, Estevão (At 6,7); Felipe (At 8); Ananias (At 9); membros da igreja de Antioquia (At 13); convertidos anônimos em Éfeso (At 19.6);  mulheres em Cesareia (At 21.8,9); os irmãos de Gálatas 3.5; crentes em Roma (Rm 12.6-8); crentes em Corinto (1 Co 12-14); e cristãos em Tessalônica (1 Ts 5.19,20).

Também temos que dar espaço para o objetivo explícito e frequentemente repetido do propósito dos carismas: nomeadamente, a edificação do corpo de Cristo (1 Co 12.7; 14.3; 26). Nada do que leio no NT ou do que vejo na condição da igreja em qualquer era, passada ou presente, me leva a crer que progredimos além da necessidade pela edificação – e consequentemente além da necessidade pela contribuição dos carismas. Eu confesso livremente que os dons espirituais foram essenciais para o nascimento da igreja, mas por que eles seriam menos importantes ou necessários para o crescimento e amadurecimento contínuos?

Há também a continuidade fundamental ou o relacionamento espiritual orgânico entre a igreja de Atos e a igreja dos séculos subsequentes. Ninguém nega que houve uma era ou período no começo da igreja que chamemos de “apostólica”. Temos que reconhecer o significado da presença pessoal e física dos apóstolos e o seu papel único na formação da fundação da igreja nos primeiros séculos. Mas não há no NT qualquer coisa que sugira que certos dons espirituais eram exclusiva e unicamente ligados a eles ou que os dons se encerraram com a partida deles. A igreja universal ou corpo de Cristo que foi estabelecida por meio do ministério dos apóstolos é a mesma igreja universal e corpo de Cristo hoje. Estamos juntos com Paulo, Pedro, Silas, Lídia, Priscila e Lucas, membros do mesmo corpo de Cristo.

Bem ligado ao ponto anterior é o que Pedro diz em Atos 2, referente aos ditos dons miraculosos como característicos da era pactual da igreja. Como já disse D. A. Carson: “A vinda do Espírito não está associada meramente com o nascimento da nova era, mas com a sua presença, não meramente com o Pentecoste, mas com todo o período do Pentecoste até o retorno de Jesus, o Messias” (em A Manifestação do Espírito, Ed. Vida Nova). Novamente, os dons de profecia e línguas (At 2) não são retratados como mera inauguração da nova era pactual, mas para caracterizá-la (não esqueçamos de que a era atual da igreja equivale aos “últimos dias”).

Devemos também notar 1 Coríntios 13.8-12. Nesse texto Paulo certifica que os dons espirituais não “passarão” (ver v.8-10) até a vinda do “perfeito”. Se o “perfeito” é realmente a consumação do propósito redentivo de Deus tal qual expressado pelo novo céu e nova terra seguindo a volta de Cristo, podemos confiantemente esperar que Ele continue a abençoar e capacitar a sua igreja com dons até aquela hora.

Um ponto semelhante aparece em Efésios 4.11-14. Aqui, Paulo fala de dons espirituais (junto com o ofício de apóstolo) – e particularmente dos dons de profecia, evangelismo, pastoreio e ensino – como construção da igreja “até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo” (V. 13, NVI – grifos meus). Já que a plenitude de Cristo certamente ainda não foi atingida pela igreja, podemos antecipar com confiança a presença e o poder de tais dons até que aquele dia chegue.

Testemunho consistente
Ao contrário do que muitos pensam, há um testemunho consistente ao longo de grande parte da história da Igreja referente à operação dos dons miraculosos do Espírito. Simplesmente não é verdade que os dons cessaram ou desapareceram da vida no começo da Igreja após a morte do último apóstolo.

Cessacionistas frequentemente argumentam que sinais e maravilhas, assim como certos dons, serviram somente para confirmar e autenticar o grupo original de apóstolos e que quando esses morreram, também cessaram os dons. A verdade é que nenhum texto bíblico ,nem mesmo Hb 2.4 ou 2 Co 12.12, chega dizer que sinais e maravilhas ou certos dons espirituais serviram para autenticar os apóstolos. Sinais e maravilhas autenticaram Jesus e a mensagem apostólica referente a ele. Se sinais e maravilhas foram designados exclusivamente para autenticar os apóstolos, não temos como explicar porque pessoas que não eram apóstolos (como Felipe e Estevão) foram capacitados a exercê-los (ver especialmente 1 Co 12.8-10, onde o “dom” de “milagres”, entre outros, foi dado a crentes medianos, que não eram apóstolos).

Portanto, essa é uma boa razão para ser cessacionista apenas se você puder demonstrar que a autenticação ou testificação da mensagem apostólica era o propósito único e exclusivo de tais demonstrações de poder divino. Todavia, em nenhum lugar do NT o propósito ou função dos milagres ou carismas é reduzido à testificação. O agir miraculoso, em qualquer forma que seja, servia a outros propósitos distintos: doxológico (para glorificar a Deus: Jo 2.11, 9.3, 11.4, 11.40 e Mt 15.29-31); evangelístico (para preparar o caminho para que o Evangelho fosse conhecido: ver At 9.32-43); pastoral (como expressão de compaixão e amor e cuidado com as ovelhas: Mt 14.14; Mc 1.40,41); e edificação (para levantar e fortalecer os crentes: 1 Co 12.7 e o “bem comum”; 1 Co 14.3-5, 26).

Finalmente, apesar de tecnicamente não ser uma razão ou argumento para ser um continuísta, não posso ignorar a experiência. O fato de que eu já vi todos os dons espirituais sendo operados, de ter testado e confirmado e os experimentado em primeira mão em inúmeras ocasiões. Esta não é tanto uma razão para se tornar um continuísta, e mais uma confirmação (apesar de não ser infalível) da validade dessa decisão. A experiência, isolada do texto bíblico, prova muito pouco. Mas a experiência deve ser considerada, especialmente se esta ilustra ou incorpora aquilo que vemos na palavra de Deus.

A pergunta que eu quero responder é esta: "Se os dons espirituais de 1 Coríntios 12: 7-10 são válidos para os cristãos para além da morte dos apóstolos, por que eles estavam ausentes da história da igreja até sua suposta reaparição no século XX? " Minha resposta segue.

Eles não eram mais decididamente ausente. Eles eram, por vezes, menos prevalentes, mas o mesmo poderia ser dito sobre a presença de sinais, prodígios e milagres na história bíblica também. Em qualquer caso, para argumentar que todos esses presentes foram totalmente inexistente é ignorar um conjunto significativo de provas. Depois de estudar a documentação para reivindicações para a presença destes presentes, a conclusão de DA Carson é que "não há provas suficientes de que alguma forma de presentes" carismático "continuou esporadicamente ao longo dos séculos da história da Igreja que é inútil insistir por motivos doutrinários que cada relatório é espúrio ou fruto de atividade demoníaca ou aberração psicológica "( Mostrando o Espírito , p. 166).

A contemporaneidade dos dons espirituais foi defendida, pós-período apostólico, por exemplo, por Justino Mártir (100-165), Irineu (115-202), Teófilo de Antioquia (120-186), Tertuliano (160-220), Novaciano (200-258), Gregório Taumaturgo (213-270) e Hilário de Poitiers (300-368), mas infelizmente, foi renegada pela maioria dos Pais da Igreja do terceiro século em diante como reação aos desvios Montanistas. Apesar disso, há registros da manifestação dos dons espirituais durante a Alta Idade Média e, depois, entre os valdenses, nos séculos 12 e 15; os anabatistas, no século 16; os quacres e pietistas, no século 17; na França, entre os chamados “calvinistas das cavernas”, no século 18; na Finlândia, também no século 18; além de entre os Morávios, na República Tcheca, na mesma época. Nos séculos 18 e 19, há ainda registros na Inglaterra, Rússia, EUA, dentre outros.

A atualidade de todos os dons espirituais, inclusive a glossolalia, foi clara para John Wesley (1703-1791), que a defendeu em carta ao pastor Conyers Midddleton (The Works of John Wesley, volume 10, pp. 54 a 56); foi clara para o célebre batista inglês F. B. Meyer (1847-1929), sobre o qual Spurgeon disse certa vez: “Ele prega como um homem que viu Deus face a face”; e para o pastor R. B. Swan, sua esposa e membros de sua igreja em Rhode Island, EUA, 1875, que receberam, segundo depoimento de Swan, a Glossolalia. E o que dizer dos relatos e/ou experiências próprias de glossolalia registrados nos séculos 18 e 19 por Thomas Walsh, William Doughty, William Arthur, Horace Bushnell, V. P. Simmnos, J. C. Aroolapen e tantos outros?

E 1801, na localidade de Cane Ridge, Kentucky (EUA), cerca de 3 mil crentes, em um acampamento da Igreja Presbiteriana, entraram no que descreveram como “estado de júbilo”, com “centenas falando em línguas sobrenaturalmente” (Dicionário do Movimento Pentecostal, CPAD, 2007, p. 235). A contemporaneidade dos dons espirituais foi clara para o célebre evangelista congregacional Dwght Lyman Moody (1837-1899), que foi o homem que mais ganhou vidas para Jesus no século 19; e foi clara também para o célebre pregador calvinista congregacional David Martyn Lloyd-Jones (1899-1981). Nos dias de hoje, a atualidade dos dons espirituais é aceita por calvinistas como Wayne Grudem, J. I. Packer, John Piper, Craig Keener, D. A. Carson, Mark Driscoll, C. J. Mahaney, Tim Keller, Sam Storms, Matt Chandler, Vicent Cheung, James MacDonald, Matt Slick, James K. A. Smith, Johanes Lilik Susanto e Paul Walsher.

O pastor George Wood, líder da Assembleia de Deus nos EUA e do Comitê Mundial das Assembleias de Deus, publicou um artigo que resume tudo: “Dr. MacArthur acredita que os dons miraculosos do Espírito cessaram com o fim da Era Apostólica e que os movimentos pentecostais e carismáticos [ou seja, renovados e neopentecostais] são, portanto, teologicamente aberrantes em um nível fundamental. Por outro lado, cristãos pentecostais e carismáticos acreditam que “a promessa [isto é, o dom do Espírito Santo] é para vós e vossos filhos e para todos os que estão longe, para todos aqueles que o Senhor nosso Deus chamar” (Atos 2.39). Com essa promessa, vem o sinal comprobatório de falar em outras línguas (Marcos 16) e o poder para ser testemunha de Cristo ‘até os confins da terra’ (Atos 1.8; 2.4; Lucas 24.49). Logo, seguindo o ensino do apóstolo Paulo, procuramos com zelo os dons do Espírito Santo (1 Coríntios 14.1)”.
O anglicano John Stott (A Mensagem de Atos, p. 70,71) falando sobre as línguas em I Coríntios, diz que “elas são um dom espiritual que continua sendo outorgado a alguns para edificação própria e para edificação da igreja”. O pastor presbiteriano Hernandes Dias Lopes complementa: “As línguas em I Coríntios, por serem um dom espiritual concedido à igreja pelo Espírito Santo, continuaram. A última palavra que Paulo tem sobre o assunto é: ...e não proibais o falar em outras línguas, I Co l4:39”, (Atos, p. 58).