sexta-feira, 27 de abril de 2018

A ética cristã, o suicídio e a eutanásia

Sábado à noite, dia 21/02, estava em casa quando recebi uma ligação para ir num velório, pois o  genro de uma irmã que congrega na nossa igreja havia cometido suicídio. Ele não era evangélico, assim como a esposa e filha, somente a sogra. Pediram para mim fazer um momento de oração e deixar uma palavra à família. Nunca havia falado em velório de alguém que houvesse suicidado.

Li o Salmo 90, falando da brevidade da vida e como devemos pedir a Deus para que nos ensine a contar os nossos dias e alcancemos corações sábios. Falei que não devemos julgar o destino da alma de ninguém, pois somente Deus é o Juiz dos vivos e dos mortos, conforme está no livro de Números capítulo 27. Disse que a Bíblia nos diz é que ao morrer, o corpo volta ao pó da terra e o espírito volta a Deus. Isso não significa que todas estão salvos, conforme diz o universalismo, mas sim que todos espíritos humanos estão sob o controle de Deus. O espírito humano depois da morte física, não fica vagando por aí, fazendo turismo, como alguém acredita, mas está sob o controle divino. Como ele não morreu na hora, mas pouco depois e a sogra segurou sua mão e pediu que ele mesmo em pensamento pedisse perdão a Deus, disse então aos presentes no velório, que só Deus sabe o que ocorre nas últimas horas, minutos e segundos de um homem entre a pessa e Ele. Falei então do ladrão na cruz. Depois, orei pedindo o conforto e consolo do Espírito Santo sobre a família, e que houvesse naquela hora tão triste, um impacto de conscientização espiritual.

Depois fiquei a pensar na questão do suicídio, como tem havido casos nos nossos dias, inclusive de pessoas do meio evangélico.

Tirar uma vida é errado, mesmo que seja a nossa. O suicídio é um ato de ódio contra o “eu”, assim como o homicídio é um ato de ódio contra outrem. O suicídio é tão errado quanto o homicídio porque viola o mandamento de amar a si mesmo, assim como o assassinato viola o mandamento de amar aos outros. O amor se opõe a ambos. O suicídio é um ato egoísta para terminar nossos problemas sem preocupação em ajudar os outros que também têm problemas. Tomar o “caminho fácil” para livrar-se do sofrimento da vida não é a resposta mais amorosa e responsável. O amor nunca perde todo o propósito na vida. A pessoa que se concentra em proteger e ajudar os outros não tem razão para odiar a sua vida. Amar é o antídoto à tentação de autodestruir-se.
Tirar uma vida não demonstra amor, mas salvar uma vida, sim. Jesus declarou: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos”(João 15:13). Cristo exemplificou o princípio de sacrificar a própria vida pelos outros. Ele disse: “Eu dou a minha vida […] Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou” (João 10:17-18). Portanto, um princípio bíblico de valor que governa nossa vida pessoal é: O suicídio é errado, mas sacrificar a vida é justificável e nobre na tentativa amorosa de salvar a vida de outrem.Aos olhos de Deus, um auto-sacrifício que salva vidas é a suprema expressão do amor de Cristo, a própria antítese do suicídio egoísta.

Porém, nem todo aparente sacrifício de nossa vida “a favor de outros” é, um verdadeiro ato de amor. Paulo tornou isto claro no grande capítulo do amor: “E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres, e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1 Cor. 13:3). Nem todo mártir morre necessariamente em conseqüência de uma manifestação de amor a outros. Alguns podem estar sacrificando vida pelo seu compromisso obstinado com uma causa egocêntrica. Há vários exemplos de suicídio egoísta na Bíblia. O rei Saul, mortalmente ferido, caiu sobre a sua espada para poupar-se da vergonha de morrer às mãos dos inimigos (1 Sam. 31:4), dificilmente um motivo de amor. O “suicídio assistido” de Abimeleque foi também egoísta e orgulhoso (Juí. 9:54).

Eutanásia e suicídio assistido
Se o é um ato de amor tirar a própria vida pelo suicídio, certamente também não é ajudar outrem a cometer suicídio. O amor exige que os doentes terminais sejam tratados com toda a piedade possível, mas não que tiremos a vida da pessoa mesmo que ela nos peça. O amor tem um remédio melhor do que tirar a vida para expressar misericórdia aos agonizantes. Provérbios 31:6 ensina: “Dai bebida forte aos que perecem, e vinho aos amargurados de espírito”. Em outras palavras, medicamentos para abrandar a dor, sedativos e tranqüilizantes são a resposta misericordiosa e amorosa aos que estão morrendo e sofrendo, e não o suicídio assistido. Levar consolo aos que estão morrendo não só expressa misericórdia, como também reconhece a soberania de Deus que disse:  o Senhor deu, e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1:21).
A eutanásia e o suicídio assistido, como são chamados, nunca são manifestações de amor. Mas o que dizer da morte misericordiosa – permitir que o doente terminal expire em paz sem nenhuma intervenção heróica e não natural? A Bíblia não obriga o cristão a perpetuar a vida o mais possível. Nosso ponto de vista deve ser o de preservar a vida, e não prolongar a morte. Injetar medicamentos para causar ou apressar a morte é uma coisa – e algo também moralmente errado.
O princípio de valor que se aplica aqui é: Tirar a vida de outrem em nome da piedade não é uma manifestação de amor mas permitir que uma pessoa com uma doença terminal morra naturalmente demonstra piedade e amor.

O que a Bíblia diz sobre o suicídio?
Paulo disse que sofreu tantas angustias na Acaia que esteve a ponto de “desesperar da própria vida”. Estamos falando de Paulo, o apostolo, o mesmo que viu a Luz na Estrada e que conheceu o amor de Deus como muito pouca gente jamais sonhou em conhecer.
Ora, Paulo não era esquizofrênico; não tinha nenhuma Desordem Bipolar; não sofria de depressão; não era acossado por nenhuma Síndrome do Pânico; não tinha nenhum tumor maligno pressionando seu cérebro; não era enfermo de nada que fosse essencial; e não sofria de nenhuma forma de doença mental que pudesse lhe fazer ter impulsos incontroláveis e ou à revelia — como muitas vezes acontece com pessoas que se suicidam.
A menos que você me diga que um “salvo” não sofre de nenhum desses males (o que seria um terrível equivoco, com danos irreparáveis no papel de um pastor em relação aos que sofrem) — a implicação de não poder negar essa possibilidade conduz imediatamente à seguinte conclusão:
É possível que uma pessoa que sofra tais perturbações possa ficar em tamanho estado de desespero, que venha a praticar um ato suicida como quem busca a morte como “esperança”. Creio que quem se mata em razão do desespero da presente existência, e o faz na esperança de uma vida pós-morte, de fato se mata, embora não esteja se suicidando.

O suicida é aquele que não tendo pulsões provocadas por nada interno ou externo a si mesmo, mata-se por uma total descrença nesta ou em qualquer outra vida.
Os demais são coitados buscando alivio e vida, não morte. Portanto, o suicídio não deve ser nunca objeto de juízo humano, pois, de fato, ninguém sabe quem, matando-se, suicidava-se.
Além disso, como a Bíblia não “teologiza” sobre o tema, tem-se mais uma razão para não especular. Afinal, trata-se de “terra santa”, na qual se deve entrar sem as sandálias das falsas certezas e das muitas presunçõesAnte um suicida inerte dentro de um caixão, tem-se que apenas calar. Porque qualquer fala, juízo ou interpretação acerca do tema pode nos fazer incorrer no risco de blasfêmia contra a vida humana!
De fato, qualquer das causas físicas e psicológicas por mim mencionadas no início, por si mesmas já possuem o poder de levar uma alma adoentada ou um cérebro adoecido, ao desespero do suicídio.

“Crentes” podem sofrer de tudo o que qualquer pessoa sofre nesta vida. Ou então me diga qual é a área da vida que um “crente” recebeu licença divina de não experimentar. É claro (mais que claro) que uma mente que esteja normal e bem fixada na fé, não apela para o suicídio apesar dos desesperos da presente existência.
Do mesmo modo que uma pessoa sadia na mente e na fé não apela para um monte de coisas que se vê os “crentes” apelarem todos os dias. Portanto, o suicídio deve ser sempre combatido em razão da esperança e da promessa da vida já AQUI, mas nunca deve ser tratado como ato de auto-perdição ou de pecado imperdoável contra os céus.

Na realidade a percepção que muitos crentes tem acerca do suicídio é “católica”; e foi desenvolvida nos porões escuros da “Igreja” nos anos chamados de “Idade das Trevas”. Na Idade Média, o suicídio de escravos foi condenado no concílio de Arles, no ano 452. Mas, já em 348, o Concílio de Cartago condena a morte voluntária (Minois, 1998). Segundo Minois (1998), em 381 o Bispo de Alexandria decide não mais fazer orações para aqueles que tiraram, espontaneamente, a vida. Entretanto, foi apenas em 533, no Concílio de Orléans, que foi proibido às honras fúnebres e no concílio de Bragança, em 563, que a Igreja Católica considera o suicídio equivalente ao homicídio. Já em 693, no concílio de Toledo, advoga a excomunhão para aqueles que sobrevivessem ao ato suicida. Posteriormente, a partir de 1284, a Igreja proíbe o enterro de suicidas em terras sagradas ou cemitérios (Alvarez, 1999; Rosen, 1975; Minois, 1998). Segundo Eliade (1999), para as culturas religiosas, as cerimônias funerárias têm a função de conduzir, por meio de ritos, ao seu destino post-mortem auxiliando a alma a ser aceita na comunidade dos mortos. Assim, ao negar os ritos fúnebres ao corpo do suicida, conclui-se que a Igreja não conceberia que a alma do suicida pudesse ter um bom destino. Isso não ocorre mais, pois hoje a própria Igreja Católica em seu último catecismo, apesar de declarar como errado tirar a própria vida, orienta os fiéis a rezarem pela alma da pessoa.
A ênfase da Escritura é em não matar os outros, mas não fala do ato de auto-morte em razão da dor. Assim, no que Jesus fez silencio e no que as Escrituras ficam caladas, quem ousará condenar quem quer que seja?

O trabalho de um pastor é fazer prevenção de todo ato de morte. Entretanto, isso tem a ver com a vida AQUI, mas não deve se estender para trazer juízo relacionado à vida ALÉM.
O suicídio é normalmente definido como o ato de tirar a própria vida. As cicatrizes emocionais deixadas na família e amigos são profundas e produzem não apenas sentimentos de solidão, mas particularmente senso de culpa e desnorteamento.
Temos primeiro de distinguir entre suicídio e martírio, que é a disposição de dar a própria vida por convicções fundamentais consideradas inegociáveis, e atos heróicos de auto-sacrifício que resultam na preservação de outras vidas (por exemplo, um soldado lançando-se sobre uma granada para salvar outros). Conquanto o suicídio seja essencialmente uma negação do valor da vida presente e a solução extrema para uma existência tida como insuportável, os demais casos são expressões de respeito e amor à vida.
Vou relacionar os casos ou tentativas de suicídio registrados na Bíblia, extrair algumas conclusões e então fazer comentários gerais.
1.      Casos de suicídio na Bíblia: Abimeleque, ferido mortalmente por uma pedra de moinho lançada contra ele por uma mulher, pediu ao seu escudeiro que o matasse para evitar a vergonha (Juízes 9:54). Saul, depois de haver sido gravemente ferido em batalha, tirou a própria vida (I Samuel 31:4). Vendo o que o rei fizera, seu escudeiro “jogou-se também sobre sua espada e morreu com ele” (verso 5, NVI). Essas mortes foram motivadas pelo temor daquilo que o inimigo lhes poderia fazer. Aitofel, um dos conselheiros de Absalão, enforcou-se depois de saber que o rei rejeitara seu conselho (II Samuel 17:23). Zinri tornou-se rei depois de um golpe de Estado, mas ao perceber que o povo não o apoiava, foi “à cidadela do palácio real e incendiou o palácio em torno de si e morreu” (I Reis 16:18, NVI). Judas ficou tão desorientado emocionalmente depois de haver traído Jesus, que acabou se enforcando (Mateus 27:5).

Sansão se suicidou?
Alguns consideram Sansão um exemplo de suicídio (Juízes 16:26-31), mas o seu objetivo era matar os filisteus e não a si mesmo. Sansão tirou a própria vida e a de muitos proeminentes inimigos ao fazer com que um edifício todo ruísse (Juízes 16:29-30). De fato Sansão se matou, mas não se suicidou. Matou-se porque dele veio a decisão de derrubar o Templo e morrer no desastre. Entretanto, sua motivação era de vida e esperança de libertação — pois cria que aquele ato poderia trazer livramento para o seu povo por algum tempo.
O impacto moral do suicídio deve ser avaliado segundo a compreensão bíblica da vida humana: Deus criou a vida, e nós não a possuímos para usá-la e descartá-la como bem entendermos. O sexto mandamento também tem alguma coisa a dizer sobre o assunto. Um cristão, portanto, não deveria considerar o suicídio como solução moralmente válida para o infortúnio de viver num mundo onde existe dor física e moral.

Como devemos reagir diante do suicídio de alguém a quem amamos? Primeiro, a psicologia e a psiquiatria têm revelado que o suicídio geralmente é o resultado de um profundo transtorno emocional ou desequilíbrio bioquímico associado a um profundo estado de depressão e medo. Não deveríamos julgar as pessoas que optaram pelo suicídio sob tais circunstâncias. Segundo, a perfeita justiça de Deus leva em consideração o impacto que nossa mente perturbada tenha eventualmente sobre nós; Ele nos compreende melhor que do que qualquer ser. Devemos colocar o futuro de nossos queridos em Suas mãos de amor. Terceiro, com a ajuda de Deus, podemos encarar a culpa de uma maneira construtiva, tendo em mente que muitas vezes aqueles que cometeram suicídio necessitavam de ajuda profissional que nós mesmos fomos incapazes de proporcionar.
Finalmente, se você alguma vez for tentado a cometer suicídio, saiba que há profissionais disponíveis, medicamentos que podem ajudá-lo a superar a depressão, amigos que o amam e fariam todo o possível para ampará-lo, e um Deus que está disposto a trabalhar por você e, por meio de outros, dar-lhe forças quando caminhar pelo vale da sombra da morte.
Nunca perca a esperança!

quinta-feira, 26 de abril de 2018

A ética cristã e a pena de morte



A “câmara da morte” da Penitenciária Estadual de Huntsville, no Texas. Paul Buck /    AFP
Uma pesquisa do instituto Datafolha, divulgada nesta segunda-feira pelo jornal Folha de S.Paulo, mostra que o apoio dos brasileiros à adoção da pena de morte no país nunca foi tão grande. Questionados, 57% se disseram a favor desse tipo de punição no final de 2017. Em 2008, data do último levantamento, esse percentual era de 48%. O Datafolha ouviu 2.765 pessoas nos dias 29 e 30 de novembro do ano passado.

Pelo senso comum, as pessoas religiosas são mais altruístas, mais misericordiosas e, portanto, tendem a ser contra a pena de morte. Será?

Uma pesquisa do Datafolha publicada em janeiro de 2018 concluiu que 57% dos brasileiros apoiam a pena capital. Ao analisar os resultados divididos por religião, o instituto descobriu que os que mais apoiam a punição máxima são os católicos: 63% deles gostam da ideia. Os ateus são os mais reticentes. Apenas 46% defendem a pena.

Nos Estados Unidos, onde 31 estados aplicam a punição, uma enquete do Gallupdescobriu que 62% dos ateus apoiam a pena de morte. Entre os otestantes, que são o maior grupo religioso, o índice é de 66%.

Única nação ocidental desenvolvida a manter a pena de morte, os Estados Unidos têm revisto cada vez mais a prática. Seja por questões burocráticas, como a moratória estabelecida por alguns governos estaduais, pelo boicote da indústria farmacêutica, que desincentiva o fornecimento de drogas para injeções letais, e até por motivos de ordem econômica, uma vez que estudos indicam que é muito mais caro executar um preso do que mantê-lo encarcerado por toda a vida. 
31 dos 50 estados norte-americanos permitem a pena de morte. Em quatro deles, entretanto – Colorado, Pensilvânia, Washington e Oregon –, a pena está suspensa pelo governo local. Só na última década, sete estados aboliram a medida - Connecticut, Delaware, Illinois, Maryland, Nova Jersey, Novo México e Nova York. O rol de crimes puníveis com a vida varia em cada região, mas, no geral, tratam-se de homicídios com fatores agravantes.
A mais recente pesquisa anual da Gallup, empresa estadunidense de opinião, sobre pena de morte, divulgada em outubro de 2016, mostrou que 60% dos norte-americanos são a favor da medida, enquanto 37% são contra e 3% não têm opinião formada. O número pode até parecer alto, mas é o menor registrado desde 1972, quando a Suprema Corte do país julgou o caso Furman v. Georgia e todas as sentenças de morte pendentes até o momento foram comutadas por prisão perpétua. Em 1994, 80% dos cidadãos norte-americanos eram favoráveis à medida. 
Nesse ponto, é importante salientar que a legislação criminal dos EUA é estadual. Mas, na opinião da professora, é muito contraditório que uma democracia como a estadunidense ainda aplique a pena de morte em pleno século XXI. 
“É uma questão muito delicada e, definitivamente, não existe um consenso na comunidade norte-americana a respeito da pena de morte. Mas, a meu ver, ela jamais deveria ser pautada. É completamente fora de propósito, seja do ponto de vista constitucional, criminal e, mais importante, moral. Não há argumento moral, para mim, que sustente a pena de morte”, diz Vera. 
O custo da morte 
Pesquisas recentes têm demonstrado que a afirmação de que é mais caro executar do que prender é autêntica, ainda que o senso comum possa imaginar o contrário. Segundo estudo da Universidade de Seattle divulgado em 2015, os gastos com um único processo de crime punível com a pena capital chegam a US$ 3,1 milhões, enquanto um processo comum fica na casa dos US$ 2 milhões, em Washington, no noroeste do país. Já o Conselho Judiciário do Kansas apurou que no estado os valores ficam em US$ 396 mil e US$ 99 mil, respectivamente. 

A maior fatia dos valores corresponde às custas processuais e aos honorários advocatícios. O tempo gasto na produção de um recurso de pena de morte, por exemplo, pode ser 40 vezes maior do que o despendido numa sentença de prisão perpétua. Em Idaho, uma equipe da Defensoria Pública estadual incumbida de atuar na segunda instância de um processo de pena de morte vai ter de despender, aproximadamente, 8 mil horas de trabalho. Num caso comum, seriam 180 horas. 

O encarceramento de um condenado à morte também é mais custoso. Esses detentos ficam em alas especiais das penitenciárias, ou em confinamento solitário, que têm um custo diário mais alto do que o restante do presídio por demandar um investimento maior em segurança. No Kansas, um prisioneiro no corredor da morte custa ao Estado US$ 49,4 mil por ano, enquanto os gastos com um preso comum são de US$ 25 mil. 
Nesse ponto, é importante lembrar que a execução de fato pode demorar décadas. A título de curiosidade, na Califórnia, um detento espera há 39 anos. Em 1978, Douglas Ray Stankewitz foi condenado à morte por sequestrar e matar uma jovem, e até semana passada sua defesa tentava um novo julgamento
O método “humanizado” 
Ainda que alguns estados norte-americanos permitam a execução por câmara de gás, cadeira elétrica, enforcamento e até pelotão de fuzilamento, como ocorre na Indonésia, o método majoritariamente utilizado é a injeção letal. Em meados de 2015, ao julgar o caso Glossip v. Gross, a Suprema Corte dos EUA declarou a constitucionalidade do uso do método, mesmo que o ano anterior ao julgamento tenha sido marcado por uma série de execuções mal realizadas. 

Em Oklahoma, Clayton Lockett sofreu diversas convulsões e agonizou por cerca de meia hora até morrer. Já a execução de Dennis McGuire foi a mais longa da história recente de Ohio: durou 25 minutos. O caso mais chocante, porém, foi o de Joseph Wood, que estava no corredor da morte do estado do Arizona. Wood demorou cerca de duas horas para morrer e, nesse período, recebeu 15 injeções. Na época, especialistas afirmaram que todo o procedimento deveria ter durado, no máximo, dez minutos. 
Se em 1999 o número de execuções nos EUA foi de 98, com queda para 52 dez anos depois, o problema com as injeções letais derrubou a estatística para 20 em 2016, a menor desde 1991. Considerando o contexto político atual, porém, com o governo Trump, a probabilidade é de que haja um movimento forte para a sustentação desse tipo de pena. Resta saber se com a pressão popular, da indústria farmacêutica e até da própria burocracia, ele vai prosperar. 
E como é no Brasil? 
Thiago Hansen explica que a pena de morte foi formalmente abolida no sistema penal brasileiro com a Constituição de 1891, a primeira do sistema republicano, ressalvados os crimes cometidos por militares em período de guerra. 
“Apesar da abolição formal, sua aplicação marginal e informal se manteve em eventos muito conhecidos, como na Guerra de Canudos, na Revolta Federalista e em situações de indisciplina militar, como a morte por envenenamento dos marinheiros que participaram da Revolta da Chibata, em 1910”, conta o professor. 
Atualmente, a pena de morte é vedada no Brasil. A exceção é trazida pela Constituição Federal de 1988 que, assim como a primeira Carta Magna da República, prevê que a pena capital pode ser aplicada em caso de guerra declarada. O rol de crimes passíveis desse tipo de punição está elencado no Código Penal Militar, que também traz qual será o método de execução utilizado: fuzilamento. 
Conheça a lei: 
Constituição Federal 
Art. 5° (...) 
XLVII - não haverá penas: 
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; 

Código Penal Militar 
Art. 56. A pena de morte é executada por fuzilamento. 

Apesar de muitos considerarem um “barbárie” ou uma solução “medieval”, a pena de morte ainda é praticada por 37 dos 195 países membros ou observadores das Nações Unidas. Outros 50 possuem leis de punição capital em voga, mas utilizam mecanismos como a moratória para evitá-las. Sete a preveem em situações excepcionais, como guerras, e 101 países aboliram sua prática.
Mas apesar de ser cada vez mais rara e condenada por uma grande variedade de órgãos internacionais, a pena de morte ainda é uma realidade, varia muito de país para país e os motivos de sua aplicação podem ser culturais, religiosos, históricos ou até mesmo uma medida extrema para crimes que saem do controle do Estado e viram “epidemias”.
A ONU divide os países que possuem pena de morte entre aqueles que a praticam, ou seja, realizaram execuções nos últimos 10 anos, e aqueles que não praticam, pois não realizaram execuções nesse mesmo período. Seguindo essa lógica, a situação dos demais países africanos é mais complexa.
Na Ásia (do Oriente Médio ao Pacífico) concentra a maior parte dos países em que a pena de morte é praticada, com 24 de seus 50 estados soberanos matando pelo menos um civil em seu território por ano e de maneira legitimada pelo Estado. Os quatro maiores praticantes da pena de morte estão no continente: China, Irã, Iraque e Arábia Saudita, segundo a Anistia Internacional — que afirma não ser possível saber com exatidão o número de morte em cada um desses países.

Na China, uma ditadura, estima-se que mais de 2 mil pessoas foram mortas em 2013 e nada indica que os números atuais sejam menores. Com a segunda maior população carcerária do mundo, de mais de 1,7 milhão de presos, e um governo opressor, não há país que se aproxime da China na aplicação de pena de morte, que acontece por injeção letal e fuzilamento.

No Irã e na Arábia Saudita, uma teocracia e uma monarquia absolutista, respectivamente, os números também são grandes. Na terra do aiatolá Khamenei, mais de 300 pessoas foram mortas em 2013 (todas por enforcamento). Já na terra da Família Saud, as mortes foram mais de 70, a maioria por decapitação (método que não é utilizada em nenhum outro país) e algumas vezes por apedrejamento. O Iraque matou mais de 100 pessoas em 2013.

O que une os quatro países em suas aplicações ostensivas da pena de morte é a opressão do Estado. A existência de um governo totalitário (ou falta de governo sólido, como no caso do Iraque) é o grande causador do número elevado de mortes. Porque essas situações são sinônimos de pouca presença de entidades internacionais de proteção aos direitos humanos e de oposição esvaziada (partidária ou não) aos regimes. Mas, de longe, a causa da pena de morte na Ásia não é só essa.

Oficialmente, entre os quatro países, apenas Arábia Saudita e Irã matam por questões religiosas, com base na xária, o código moral do islã. Os dois países, junto a Coreia do Norte e Somália, são os únicos a praticarem execuções públicas no mundo. A Arábia ainda vai além e realiza a maioria delas no centro de sua capital e cidade pais populosa, Riad.
A bandeira da Arábia Saudita, com a “shahada” (declaração de fé do islã) e a espada — arma usada nas decapitações públicas do país.
Na Arábia Saudita, homossexualidade, ateísmo, blasfêmia, roubo de carro e até feitiçaria dão pena de morte e este é um dos países com maior diversidade de crimes que podem levar seus perpetradores a punição capital e apenas o Estado Islâmico tem penas tão similares.
No Japão e na Índia o número de execuções é pequeno e se restringe basicamente a assassinatos em massa — com fortes pressões para abolição dessa punição. Na Índia, métodos pouco tradicionais, como o esmagamento por elefante, foram muito utilizados até o fim do século XIX e o país tem um dos maiores números de condenados aguardando execução — em 2013, eram quase 500.

Já em lugares como Indonésia, Malásia, Singapura, Vietnã, Tailândia e Taiwan, o combate ao tráfico internacional de drogas é um dos grandes responsáveis pela pena de morte, muito por causa do chamado Triângulo de Ouro, uma região do Sudeste Asiático de extensa produção de ópio e outras drogas. Na Indonésia, em 2015, seis condenados já foram executados, todos por tráfico de drogas e cinco deles nem eram cidadãos indonésios.

Israel e Cazaquistão são os únicos países do continente que preveem pena de morte apenas em situações excepcionais, como crimes de guerra. A lista israelense é maior e inclui punição por genocídio e crimes contra a humanidade — crimes que, ironicamente, a Palestina acusa Israel de cometer — mas só duas pessoas foram executadas nesse contexto em solo israelense, incluindo o tenente-coronel Adolf Eichmann, da Alemanha Nazista.

ÁFRICA
O segundo continente em número de países que utilizam a pena de morte é a África. Onze de suas 54 nações, 20% do total, aplicam a punição capital. A Somália é a maior praticante, com pelo menos 34 execuções em 2013 e várias notícias de execuções em 2014. Mas a Somália está em guerra civil desde 1991 e não controla grande parte de seu próprio território, então o número pode, de fato, ser bem maior.

A xária também tem peso no uso da pena de morte em alguns países africanos, como no caso do segundo maior executor do continente, o Sudão. Traição à pátria e assassinato, além de sodomia, prostituição e posse de arma, podem levar a morte no país do Vale do Nilo, mas também a apostasia, como na Arábia Saudita e outros países do Oriente Médio.

O mesmo vale para as regiões mais ao norte da Nigéria. No país mais populoso da África, cada um dos 36 estados cria suas próprias leis, e lugares como Borno e Yobe — onde o grupo jihadista Boko Haram mais atua — vivem sob a xária. Mesmo assim, o número de execuções por pena de morte foi pequeno se comparados a outros países do continente, com apenas quatro em 2013 e nenhuma informação sobre execuções em 2014.

É claro que esses números não incluem a atuação do Boko Haram, sobre o qual as informações são muito escassas, mas organizações de direitos humanos estimam que o país realize execuções com base na xária, além dosjá costumeiros ataques terroristas.

EUROPA - A Europa é o continente que contempla o maior número de países que já aboliram a pena de morte, com mais de 40. Apenas um, a Bielorrússia, mantem a punição capital. Assassinato, genocídio, traição à pátria e terrorismo estão entre as principais causas e o país executou 11 pessoas nos últimos cinco anos, a maioria por assassinato com agravantes.
A existência da pena de morte é o principal motivo pelo qual a Bielorrússia não faz parte do Conselho da Europa e seria um empecilho caso o país quisesse integram a União Europeia. Essa também é uma das razões pelas quais o país é chamado de a “última ditadura da Europa” — a outra é o fato de Alexander Lukashenko ser o presidente do país desde 1994, vencendo eleições bem controversas.
O segundo país europeu a revogar a pena de morte foi a Alemanha Ocidental, através de sua primeira constituição pós-guerra, em 1949. Um dos processos de abolição mais famosos é o da França, em 1981. A última execução na França aconteceu em 1977 e foi por guilhotina. O método era o único usado desde 1810, quando Napoleão reintroduziu a pena (abolida durante a Revolução Francesa). Acreditava-se que a guilhotina era um método indolor de execução e, até 1939, elas eram públicas e realizadas ao nascer do sol.   
Já o caso russo é bastante controverso. Apesar de ter abolido a punição capital em vários períodos de sua história (até Stálin a revogou entre 1947 e 1950), a federação possui hoje leis que a preveem, mas sua filiação ao Conselho da Europa a proíbe de executar prisioneiros. Dessa forma, a última aplicação da pena aconteceu em 1996 e a corte criminal do país definiu uma moratória por tempo indeterminado a questão.
AMÉRICAS - O continente americano é a vanguarda da abolição da pena de morte e, de seus 35 países, 15 já a revogaram, quatro só a preveem em casos excepcionais, 14 não a utilizam há mais de 10 anos e apenas dois países (Estados Unidos e São Cristóvão e Névis) executam seus condenados.
Os EUA é o quinto maior executor do mundo e matou 35 pessoas em 2014 (e mais alguns em 2015). Tem também o maior número de condenados a espera de execução, com mais de 3 mil pessoas no corredor da morte. Isso graças a maior população carceraria do mundo (maior que a da China, que tem população quatro vezes maior). São 2,2 milhões de presos num país de 320 milhões de pessoas.

Na prática, já faz tempo que apenas crimes relacionados a assassinatos são passíveis de execução, mas as leis americanas preveem pena para espionagem, traição à pátria e tráfico de drogas. O método mais comum é a injeção letal (responsável por 1222 execuções desde 1976), mas enforcamento, fuzilamento, cadeira elétrica e câmara de gás ainda são previstos por lei, tornando os EUA o país com a maior variedade de tipos de execução.
Brasil, Chile, El Salvador e Peru ainda preveem pena de morte para situações de exceção. Dos quatro, o Chile foi o último a abolir a punição capital para civis, a revogando em 2001, durante o governo do presidente Ricardo Lagos.
No Brasil, a pena de morte para civis foi proibida por Dom Pedro II, em 1876, mas abolida, de fato, ela só foi em 1889, com a proclamação da República. A última execução brasileira foi a do escravo Francisco, em abril de 1876, pouco antes da proibição (e da abolição da escravidão). O último homem livre a ser morto dessa forma no país foi enforcado em 1861.
O caso da Fera de Macabu — o enforcamento, por assassinato, do fazendeiro Manoel da Motta Coqueiro, em 1855 — é considerado o principal motivo pelo qual o imperador advogou pela revogação da punição capital pois, alguns anos após a execução de Coqueiro, descobriu-se que ele era inocente.

Depois, ela foi restabelecida e revogada mais duas vezes, entre 1938 e 1953, por Getúlio Vargas, e entre 1969 e 1978, quando foi instituída pelo AI-5 e revogada no início do processo de redemocratização do país. Mesmo assim, há apenas um registro oficial de condenação por pena de morte durante a Ditadura Militar, mas a execução não foi realizada. Teodomiro Romeiro dos Santos, ex-militante do Partido Comunista, é hoje um juiz aposentado.

Por falar em formalidade, no Brasil, a punição capital só está prevista no Código Penal Militar, por fuzilamento, e só pode ser aplicada em períodos de guerra. Mesmo assim, 46% da população apoia a volta de sua aplicação, de acordo com a última pesquisa realizada sobre o assunto, em 2011.

Fontes
Human Rights Watch: http://www.hrw.org/
Death Penalty Worldwide: http://www.deathpenaltyworldwide.org/
Death Penalty Information Center: http://www.deathpenaltyinfo.org/


COMENTÁRIO:
“Sempre que ocorre um crime hediondo com requintes de crueldade, ouve-se vozes em defesa da aplicação da pena capital. Eu mesmo, ao assistir à reportagem sobre o assassinato a sangue frio de uma criança de apenas cinco anos que suplicava pela vida mãe, deixei escapar dos lábios: Este bandido não merece viver.
Todavia, não é sensato posicionar-se sobre um tema tão complexo na hora da emoção. Como cristãos, devemos buscar abalizar nossas opiniões no espírito do Evangelho.
Engana-se quem pensa que não há pena de morte no Brasil. Ela é prevista exclusivamente para crimes militares cometidos em tempo de guerra. O Brasil é o único país de língua portuguesa que prevê a pena capital em sua constituição. O código pena militar trata dos crimes que são puníveis com a morte (ao todo são 36 crimes), e determina que seja executada por fuzilamento, havendo a possibilidade de que o presidente da República conceda graça ou comute a pena por outra. Somente a partir da constituição de 1988, a pena de morte foi totalmente abolida para todos os crimes não-militares.
Portugal foi praticamente o primeiro país do mundo a abolir a pena de morte. E hoje, a maioria dos países civilizados já a aboliu.
Nos Estados Unidos, onde os estados possuem certa autonomia em sua legislação, alguns ainda mantêm a pena, mesmo depois de terem sido comprovadas falhas no sistema de justiça que levaram à execução pessoas inocentes.
Há vários métodos usados em sua aplicação ao longo da história, alguns dos quais são vigentes até hoje.
 Injeção Letal - Aplica-se por via intravenosa, e de forma contínua, barbitúricos de ação rápida em quantidade letal, combinados com produtos químicos paralisante-musculares.
• Fuzilamento - São disparados vários tiros simultaneamente sobre indivíduos condenados à morte. 
• Enforcamento – Pressiona-se com uma corda o pescoço, interrompendo o fluxo de oxigênio para o cérebro.
• Câmara de Gás - Método muito usado pelo regime nazista.
• Eletrocussão – Prende-se o indivíduo a uma cadeira onde recebe uma forte descarga elétrica.
• Crucificação – Método predileto dos romanos. Era uma espécie de ritual em que, primeiro o individuo era flagelado, e depois crucificado. 
• Fogueira – Muito usado durante o período da Santa Inquisição. 
• Decapitação  – Por espada ou guilhotina 
• Envenenamento – O indivíduo é obrigado a ingerir poção venenosa 
• Lançando às feras – Muitos cristãos foram vítimas deste método cruel no Império Romano.
O que todos estes métodos têm em comum além de provocar a morte? São irreversíveis. Se for comprovada a inocência de um preso, basta soltá-lo. Mas este houver sido executado, não haverá como corrigir a injustiça. Talvez esta seja a argumentação mais razoável sustentada por quem é contra a aplicação da pena de morte.
O que dizem as Escrituras sobre o tema? Há amparo bíblico para a aplicação desta pena? Uma leitura honesta nos levará a algumas conclusões que para alguns podem parecer desconcertantes.
A primeira delas é que foi o próprio Deus quem a instituiu. Confira:
“E ordenou o SENHOR Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” Gênesis 2:16-17
A partir da desobediência do primeiro casal, todos já nascemos espiritualmente mortos e destinados a experimentar igualmente a morte física. Portanto, a pena do pecado (a  morte) se aplica à toda humanidade.
A segunda constatação é que a Lei dada por Deus a Moisés no monte Sinai sanciona a pena de morte, que deveria ser aplicada em casos de assassinato premeditado (Êx 21:12-14); sequestro (Êx 21:16; Dt 24:7); adultério (Lv 20:10-21; Dt 22:22); incesto (Lv 20:11-12, 14); bestialidade (Êx 22:19; Lv 20:15-16); desobediência aos pais (Dt 17:12; 21:18-21); ferir ou amaldiçoar os pais (Êx 21:15; Lv 20:9; Pv 20:20; Mt 15:4; Mc 7:10); falsas profecias (Dt 13:1-10); blasfêmia (Lv 24:11-14; 16:23); profanação do sábado (Êx 35:2; Nm 15:32-36); e sacrifícios aos falsos deuses (Êx 22:20).
Os profetas não a invalidaram. Veja, por exemplo, o que diz o Senhor pelos lábios de Ezequiel:
“Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá.” Ezequiel 18:4
Alguém poderia argumentar que todas estas passagens se encontram no Antigo Testamento, mas que agora, sob a égide da Nova Aliança, a pena de morte perdeu a sua legitimidade. Porém, não é isso que constatamos ao ler os evangelhos e as epístolas. Repare, por exemplo, no que diz Paulo, apóstolo da graça:
“Porque os magistrados não são motivo de temor para os que fazem o bem, mas para os que fazem o mal. Queres tu, pois, não temer a autoridade? Faze o bem, e terás louvor dela; porquanto ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador em ira contra aquele que pratica o mal.”Romanos 13:3-4
Paulo reconhece que Deus outorgou ao Estado o dever de aplicar duras penas para coibir o avanço do crime e da injustiça. Toda autoridade é ministro de Deus, trazendo consigo a espada para punir os malfeitores. Em momento algum Paulo questiona o direito que Deus confere às autoridades na aplicação da pena capital. Num episódio narrado em Atos, vendo-se sob o risco de ser condenado a tal pena, o apóstolo diz:
“Se, pois, sou malfeitor e tenho cometido alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas se nada há daquilo de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles; apelo para César.” Atos 25:11
Diante do que expus a cima, não vejo alternativa senão admitir que a pena de morte seja bíblica, autorizada por Deus tendo como objetivo a manutenção da ordem social. Todavia, recuso-me a posicionar-me favorável a ela. Será que posicionando-me assim, eu estaria me opondo aos princípios da Palavra de Deus? Permita-me explicar minhas razões, antes de condenar-me à fogueira destinada aos hereges.

Assim como Deus autoriza o estado a usar a espada, Cristo ordenou que Seus discípulos o acompanhassem na reta final de Sua jornada na terra munidos de espadas. Porém, quando um deles, afoito, desembainhou sua espada para tentar defender seu mestre daqueles que pretendiam leva-lo preso, Jesus o repreendeu e disse: “Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão” (Mt.26:52). Talvez Pedro tenha ficado confuso, pensando: - Como assim? Ele mesmo nos manda trazer espadas e agora me censura por usá-la para defendê-lo?

Ora, violência gera violência. A melhor maneira de se combater o crime, a desordem, a injustiça e suas mazelas não é com o uso da força. Não estou, com isso, dizendo que o estado não tenha tal prerrogativa. Todavia, a igreja deve oferecer uma alternativa ao uso ostensivo da violência. E isso, a meu ver, inclui a aplicação da pena capital. 

Outro caso que nos ajudará a tomar posição acerca do assunto é o da mulher pega em flagrante adultério e prestes a ser sumariamente executada. Aqueles homens munidos de pedras não estavam agindo arbitrariamente. Pelo contrário, estavam devidamente amparados pela Lei. Aquilo era o certo a fazer. O pecado tinha que ser punido publicamente para que outros, ao assistirem àquele espetáculo de horror, pensassem duas vezes antes de incorrerem no mesmo erro.

Jesus Se vê numa saia justa. A quem, afinal, ele deveria defender, a vítima ou seus algozes? Jesus não poderia desautorizá-los, questionando e relativizando a ele. Mas também não poderia assistir àquela execução passivamente. Em vez de posicionar-se contra ou a favor da pena capital, Ele lança um desafio: “Aquele que não tem pecado, atire a primeira pedra” (João 8:7). Todos foram saindo à francesa. Pelo jeito, ela não era a única digna de morte ali.

A pena capital está fundamentada no Princípio da Proporcionalidade. Moisés declarou que “quem ferir o outro, de modo que este morra, também será morto (...) Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé” (Êx 21:12, 24). Trata-se da lei de talião, que visava impedir abusos por parte de requeresse justiça. Quem perdesse um olho, não poderia cobrar dois de quem o furou. Sem dúvida, qualquer jurista vai dizer que esta lei foi um avanço na compreensão que a sociedade alcançou acerca do direito. Todavia, Jesus veio nos mostrar um caminho mais excelente. Leia atentamente o que Ele diz:
“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.” Mateus 5:38-39
Jesus, portanto, lança um novo fundamento sobre o qual deveríamos construir a civilização do reino:  o perdão. Ele reconhece o direito que a sociedade tem de requerer a morte de quem praticou um crime hediondo, porém, nos desafia a ir além do exercício deste direito, perdoando e rompendo assim com o ciclo da violência. Por incrível que pareça, Gandhi, um hindu, percebeu isso melhor do que muitos cristãos. Pregador da não-violência, ele acreditava que se levássemos a lei do “olho por olho” ao pé da letra, todos acabaríamos cegos.

A prova de que a justiça humana falha está no fato de Jesus ter sido condenado à morte inocentemente. O mesmo não aconteceu com os outros dois crucificados ao Seu lado. Um deles reconheceu a inocência de Jesus e a sua própria culpa. Se aquele ladrão que se converteu na cruz tivesse a chance de ter sua pena revogada, ele teria se tornado numa bênção para toda a sociedade. Acho que ele teria sido mais útil no mundo do que no paraíso. Eu só poderia ser a favor da pena de morte se não acreditasse no poder que o evangelho tem de transformar monstros em homens de bem”.

O comentário acima que assino em baixo é do Bispo Hermes Fernandes: http://hermesfernandes.blogspot.com.br/2013/07/pena-de-morte-como-me-posiciono-apesar.html

No Brasil, se houver um plebiscito sobre o tema eu voto contra. Quem você acha que vão ser executados nas terras brasileiras? Ricos ou pobres? Brancos ou negros? Não custa lembrar que uma vez instituída a pena de morte em um país, corre o risco de serem executadas pessoas inocentes. No Novo Testamento vejam os que foram executados pela pena de morte sendo inocentes:

João Batista – Sentenciado a pena de morte pelo Rei Herodes
Jesus – sentenciado a pena de morte pelo Governador Pôncio Pilatos, depois de um “julgamento” romano falho, sem provas, só ouviu a acusação, e atendeu um clamor popular.
Tiago Menor – sentenciado pelo Rei Herodes
Os cristãos sentenciados pelo imperador Nero e Domiciano a morte.
No mundo romano onde era normal a pena de morte, o caso de Estevão acaba sendo um caso a parte, porque o que houve foi na verdade um lixamento sem julgamento por autoridade competente, apenas o tribunal religioso, que não tinha autoridade para dar sentença de morte.
“Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus”.
Mateus 5:20.
Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente.
Eu, porém, vos digo que não resistais ao mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra;
E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa;
E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
Dá a quem te pedir, e não te desvies daquele que quiser que lhe emprestes.
Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo.
Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus;
Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos.
Pois, se amardes os que vos amam, que galardão tereis? Não fazem os publicanos também o mesmo?”
Mateus 5:38-46.
Não contem comigo para se juntar aos que criticam os Direitos Humanos e defendam a pena de morte. Pelo contrário, acredito que a nossa justiça tem até que exceder a dos Direitos Humanos e a dos pactos internacionais como o de San José do qual o Brasil é signatário.