sexta-feira, 26 de março de 2010

A IRREMEDIÁVEL BURGUESIA RELIGIOSA

Posso até não concordar com tudo que o Pr. Ricardo Gondim (Assembléia de Deus-Betesda) escreve, mas diria que vale a penar ler esse texto:

"Se não me falha a memória, a frase é do Cazuza. “A burguesia fede, mas tem os seus encantos”. Pela classificação mais ordinária dos cidadãos brasileiros, nasci na classe “C”, isto é, no andar de baixo desta burguesia. Designado para viajar nos vagões mal cheiroso que ficam atrás do trem, minha infância não teve tantos mimos. Cresci sem automóvel (eu tinha 17 anos quando papai comprou um carro), sem frequentar lanchonete nos fins de semana e sem vestir roupa de grife. Não, nunca fomos pobres; tínhamos segurança alimentar e uma grande família com tios que chegaram junto na hora do sufoco.

Mas, para entrar no baile de adolescente na vesperal do Clube Náutico, eu precisava pular o muro; para chupar um picolé no intervalo da aula, tinha que ir para o colégio a pé e para comer maçã, adoecer.

Tornei-me um militante do patético alpinismo social. Em meu primeiro emprego, fixei a meta de comprar um fusca. Trabalhei como um remador de galé, mas um ano depois saí da loja montado nas quatro rodas alemãs - e mais trinta e seis prestações. Daí para a frente, continuei subindo. Cheguei ao mundo colorido da classe “B”. Eu já não era um remediado pobretão. Cedo, também notei que as escadas religiosas poderiam me conduzir a patamares mais elevados.

Gastei a maior parte dos meus dias entre cristãos que faziam da religião o trampolim social que a sociedade lhes negava. Eu sabia que a lógica religiosa que eu aceitava de bom grado, e fortalecia, servia às aspirações de pequenos ricos.

Primeiro, nos Estados Unidos. Viajei extensivamente por quase todo o território e conheci a América profunda. Preguei tanto em igrejas grandes como em bibocas. Evitei, por interesse, notar como os pentecostais se esforçavam para mostrar que não eram os primos pobres de batistas e presbiterianos. Por duas vezes, participei do Concílio Geral das Assembleias de Deus. Não há como descrever o desfile das vaidades que vi nessas reuniões. Pelos corredores lotados com mais de quinze mil pastores, mulheres borradas de maquiagem ostentavam roupas caras e os maridos batalhavam para ganhar a placa de “Maior Contribuinte de Missões Mundiais ”.

Depois que voltei ao Brasil, também procurei cegar para o que via. Eu não queria notar como líderes denominacionais usavam de toscas manipulações para se manterem temidos como caudilhos. Pastores oriundos das mesmas camadas sociais que eu, se sentiam desafiados a passar pelo malho apertado da peneira social. Alguns, logo revelavam sinais exteriores de riqueza, fama, glória. Isso lhes motivava à luta e eu, confesso, queria ser como um deles. Os ungidos apareciam ao lado de políticos famosos, viajavam para Israel, abriam postos missionários além-mar.


Paulatinamente, distanciei-me desse mundo que passou a imprimir cartão de visita com o titulo de Apóstolo. Depois, com as mega-empresas religiosas, quando o cacife cresceu, e eu decidi sair de vez. Os verdadeiramente ungidos passaram a desfilar de BMW, helicóptero e jatinho. Resolvi não desejar esses brinquedinhos que patenteiam a bênção de Deus.

O mundo evangélico está contaminado por esta espiritualidade pequeno-burguesa. Animado pela lógica de que servir a Deus é proveitoso, o crente parte em busca do macete que abre porta de emprego, faz passar no vestibular, resolve causas na justiça, ajuda nos concursos públicos e aumenta salário. Para ele, a prova de que Deus existe está nesses pequenos milagres; e o melhor testemunho da verdade da fé, na capacidade de mover o braço do Todo-Poderoso.

Quase fui linchado quando afirmei, em um estudo bíblico, que Deus não abre porta de emprego.Sofri crítica por dizer, baseado no Sermão da Montanha, que Jesus ensinou aos filhos de Deus a não pedirem coisas materiais. A princípio, não entendi a reação virulenta. Por que tamanha resistência à proposta de espiritualidade que abre mão das intervenções divinas para se dar bem na vida? Mas, quanto mais eu lembro das ambições que povoaram o meu coração juvenil, dos corredores enfatuados daquelas convenções americanas e da breguice dos evangelistas novos-ricos, reconheço: não se desvencilha com facilidade das orações milagrosas que prometem os encantos da burguesia, sem feder".

Fonte: www.ricardogondim.com.br

quinta-feira, 25 de março de 2010

A Pedofilia e o acobertamento da Igreja

"Parece uma epidemia. Por toda parte onde se escarafunche, jorram casos e mais casos de abuso sexual de jovens por padres católicos. A história começou a ganhar as manchetes dos jornais nas duas últimas décadas do século 20, quando pessoas que haviam sido vítimas de religiosos no Canadá, nos EUA e na Irlanda resolveram botar a boca no trombone.

De lá para cá, foi uma avalanche: histórias escabrosas emergiram de todos os cantos do mundo, da Nova Zelândia à Polônia passando por Argentina, Alemanha, Áustria (para ficar apenas na letra A). Até Arapiraca, no Piauí, acaba de entrar para o mapa da sagrada pedofilia.

Foi por essas e outras que, na sexta-feira passada, o papa Bento 16 enviou aos fiéis irlandeses uma carta episcopal em que pede desculpas por tudo de errado que aconteceu naquele país, um bastião do catolicismo na Europa, ao lado da Polônia e da pequena Malta.

Apesar de meu anticlericalismo, não acho que a culpa aqui seja da religião propriamente dita. Afinal, nenhum texto sagrado ou documento da igreja afirma e nem traz a menor sugestão de que manter uma relação homossexual com jovem sob sua tutela seja algo diferente de um pecado muito grave.

A forma de organização da Igreja Católica, entretanto, parece favorecer a ocorrência dos abusos, que, ao menos aparentemente, não acontecem na mesma escala em colégios e seminários protestantes, islâmicos ou judeus. E a especificidade do catolicismo nessa matéria é bem conhecida: o celibato dos padres. Não sou o primeiro e nem serei o último a correlacionar o veto ao casamento para sacerdotes à maior frequência de episódios de pedofilia. O sempre arguto teólogo católico Hans Küng publicou um interessante texto a respeito, que foi reproduzido no caderno Mais! da Folha desta semana.

Temos duas camadas de problemas para analisar: os abusos propriamente ditos e os esforços da alta hierarquia da igreja para acobertá-los. Comecemos pelo fim, isto é, pelas tentativas de bispos de encobrir os crimes de seus subordinados. Durante muitas décadas, para não dizer séculos, quando tomava conhecimento de casos de abuso, a cúpula da igreja invariavelmente decidia não denunciar o suspeito às autoridades civis. Costumava apenas transferi-lo para outra função, onde, por vezes, podia até mesmo seguir colecionando vítimas.

Num certo sentido, essa atitude é até mais grave que o próprio molestamento, pois a pessoa que abusa pode pelo menos descrever-se como vítima de uma doença psiquiátrica catalogada no CID. Já o acobertamento, este ainda não foi definido como patologia por nenhuma associação médica. Aqui, ao que parece, bispos eram mais leais à instituição da igreja do que a seus próprios fiéis. Talvez seja isso que a Santa Sé espera deles, mas não é certamente o que recomenda a virtude republicana.

Passemos agora ao molestamento em si. Como já disse, estamos aqui no limiar do patológico. E a Igreja Católica funciona como um ímã para pessoas com propensões pedofílicas, pois não apenas legitima e confere elevado status social à vida de solteiro como ainda oferece incontáveis oportunidades de interagir com jovens estando numa posição de poder. Outras profissões que atraem pedófilos, hebéfilos e efebófilos são, não por acaso, as de professor, psicólogo, pediatra, orientador pedagógico, instrutor esportivo, chefe de escoteiros etc".

Fonte: Folha Online - Parte do texto do filósofo Hélio Schwartsman, colunista do Jornal.

MEU COMENTÁRIO: O artigo escrito pelo filósofo Hélio Schwartsman, que aliás se professa ateu, mas escreveu um texto bastante reflexivo. Em dado momento do texto, ele fala sobre a gravidade do ato de acobertamento dos crimes por parte da hierarquia da Igreja Católica. No máximo, o que os bispos faziam com a pessoa que cometeu pedofilia, era tranferí-lo para outra função ou local.

Segundo o autor: "ao que parece, bispos eram mais leais à instituição da igreja do que a seus próprios fiéis". Essas denúncias de abuso por cléricos foram expostas na imprensa nos últimos anos do Papa João Paulo II e continuam durante o período do Papa Bento XVI.

É algo muito série e grave. Porém, o que eu quero chamar a atenção aqui, é que acobertamento de casos graves envolvendo líderes religiosos, não são exclusivos da Igreja Católica.

No meio protestante/evangélico, também infelizmente, um dos mandamentos mais seguidos não está na Bíblia, antes é um ditado popular: "Roupa suja se lava em casa". Não são poucos os casos envolvendo pastores que usam da posição e cometem abusos sexuais de toda a sorte e depois são simplismente transferidos para outra igreja ou país. Ou então é "disciplinado", excluído, mas nunca denunciado às autoridades civis.

A justificativa sempre é a mesma: "É para não dar escândalo". Como se o ato em si, já não fosse o maior escândalo! Sim, existe casos, que no mínimo, a pessoa é um maníaco sexual. Na verdade, o que estamos vendo atualmente é um Cristianismo em Crise. Jesus disse, que nada há oculto, que um dia não há de ser revelado.

terça-feira, 23 de março de 2010

A evangelização espírita na Globo

O ano do centenário do líder espiritual Chico Xavier vai ser "comemorado" pela Globo com a exibição de uma novela e de uma série com temática espírita, que entrarão na programação da emissora neste ano.

Prevista para estrear na segunda-feira, dia 12 de abril, a novela "Escrito nas Estrelas" vai ter como um de seus protagonistas um estudante de medicina, Daniel, que morre logo no primeiro capítulo. Ele vai participar de toda a trama como um espírito.

"Quis trazer para a trama inquietações transcendentais pelas quais todos passamos. Acredito que o tema da espiritualidade é um bom pano de fundo para uma obra de ficção, para uma bela história de amor", afirmou a autora, Elizabeth Jhin.

Daniel será vivido por Jayme Matarazzo, filho do diretor Jayme Monjardim. Além dele, a novela contará no elenco com Humberto Martins, Cássia Kiss, Nathália Dill, Marcelo Faria, Débora Falabella e Zezé Polessa, entre outros.

Carlos Prates/TV Globo

Jayme Matarazzo viverá o estudante de medicina Daniel, que morre no primeiro capítulo de "Escrito nas Estrelas"

Série

Outra produção com temática espírita anunciada pela Globo é "A Cura", escrita por João Emanuel Carneiro e Marcos Bernstein. A série deve entrar na grade da Globo no segundo semestre, após o fim da temporada de "Justiça para Todos" --que, por sua vez, sucederá "Força Tarefa".

Na trama, que se passará no interior de Minas Gerais, um jovem médico é acusado de matar um colega. Contudo, ele descobre que tem o dom de curar pessoas por meio de cirurgias espirituais, feitas pelo espírito do colega morto. O espírito avisa ainda ao médico que a vida dele também está ameaçada.

O seriado deverá ser protagonizado pelo ator Selton Mello.

Filme e reprise

A GloboFilmes, divisão cinematográfica da Globo, também entrou na onda de produções de temática espírita. Ela estreia o filme "Chico Xavier", sobre a vida do líder espiritual, no dia 2 de abril, quando ele completaria 100 anos.

Sob direção de Daniel Filho, o elenco conta com Giovanna Antonelli, Letícia Sabatella, Tony Ramos, Christiane Torloni, Nelson Xavier e Ângelo Antônio.

Além das novidades, a Globo terminou de exibir neste mês a novela "Alma Gêmea", que tratava de reencarnação. A reprise começou em agosto de 2009.

A novela garantiu bons índices de audiência para o "Vale a Pena Ver de Novo", chegando a superar as tramas inéditas das 18h ("Cama de Gato") e das 19h ("Tempos Modernos").


Fonte: Folha Online - Publicado originalmente com o título: "No centenário de Xico Xavier, Globo terá novela e série com tema espírita".