Tiatira era a cidade mais sem significado político das sete igrejas mencionadas no Apocalipse, mas com grande importância comercial e industrial, pois produzia tintas de várias qualidades. Ela era religiosa como qualquer outra cidade da Grécia. Não era possível ter consciência Greco-romana e não ter, junto com todas as coisas, templos dedicados aos deuses. Lá havia o templo de Apolo, de Artemis e de Sambate, que era um oráculo do Oriente.
A primeira pessoa que se converteu, originária de Tiatira, foi a irmã Lídia, que aparece em Atos, no capítulo 16, que era vendedora de púrpura. Paulo a encontrou em Filipos. Ela ouvir a Palavra, e creu. Paulo a discipulou. Ela provavelmente fosse vendedora de tecidos e tintas, fazendo viagens de representação comercial, porque havia grandes sindicatos e corporações organizadas em Tiatira, pois o espírito da cidade se dedicava ao comércio e a indústria.
A igreja em Éfeso era ortodoxa, mas sem amor. Pérgamo fazia acordos profundos com o poder e vendia a alma. O problema de Tiatira era outro: tolerância demais. Jesus disse no verso 19, que havia coisas boas acontecendo em Tiatira. Ele diz: “Eu conheço seu amor”. Diferente de Éfeso que era ortodoxa, mas havia decaído do seu primeiro amor, lá em Tiatira havia amor manifesto entre os irmãos. O problema é que eles ficaram tão bonzinhos, que se tornaram permissivos. Faltava parâmetros para o amor e a fé.
A figura de Jezabel
Como sou assembleiano há trinta anos, me lembro do tempo quando ao se pregar sobre usos e costumes, as irmãzinhas da igreja que se atreviam a usar alguma maquiagem no rosto eram chamadas de “Jezabel”. Muitas mulheres das igrejas mais conservadoras nesse sentido devem ter essa triste lembrança. Mas voltando ao comentário da Igreja de Tiatira, Jesus diz no verso 20 o seguinte: “Tenho,porém contra ti, que toleras que essa mulher Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos”.
Aqui é usada a linguagem do Antigo Testamento acerca da mulher do rei Acabe, a rainha Jezabel. Acabe foi um dos piores reis de Israel, e a Bíblia diz que o que piorou muito a situação foi ele ter casado com a sidonita Jezabel. Acabe até tinha lá suas qualidades, pois tinha uma capacidade dialogal grande. Elias disse coisas terríveis para ele, e Acabe acabou engolindo. Durante seu reinado, ele teve boas relações diplomáticas com o reindo do sul de Israel, Judá. Chegou até a receber algumas vitórias em batalhas com a ajuda de Deus. Porém, o negócio tem a haver com a mulher dele, que estava lá em Samaria, construindo templos a Baal, e a Astarote, com sacerdotes e sacerdotisas, fazendo toda sorte de promiscuidade física e espiritual que se seguiam nesses cultos. Acabe participava dessas liturgias. Vendeu o coração à mulher e foi corrompido.
Então o nome dessa mulher aparece aqui em Tiatira. Óbvio que não havia lá uma mulher chamada Jezabel. É um empréstimo para designar um espírito presente naquela comunidade e encarnado como consciência numa mulher. E aqui, há um detalhe que chama a nossa atenção, porque o verso 20 diz: “Tu toleras que essa mulher Jezabel não só ensine, mas seduza”. Há textos gregos antigos que não dizem “esta mulher”, mas “a tua mulher, Jezabel”. E a carta foi enviada ao anjo da igreja.
É claro que nem todos os estudiosos da Bíblia concordam com essa interpretação. Mas, se for levado em consideração o último significado da palavra, eu diria que esse pastor estava numa situação complicadíssima. Já pensou, liderar uma comunidade, e a mulher do sujeito foi essa Jezabel? O duro é que isso é real em muitos lugares por aí: anjos casados com Jezabeis!
“A si mesmo se declara como profetisa”. Já viram esse filme por aí também? O marido é o líder, a mulher se declara profetisa. E naquele tempo, profetas e profetisas tinham um poder extraordinário, pois não havia o texto da Escritura para se estudar. Se bem que hoje em dia temos os textos canônicos facilmente nas mãos, pois nunca se vendeu tanta Bíblia como agora, mas “os profetas e profetisas” continuam a dando “profetadas” para todo o lado, e o pior é que o povo acredita.
A profetisa enganava o povo dizendo que conhecia a profundidade de Deus. Mas Jesus adverte na carta de que “essas coisas profundas” não eram de Deus e sim de Satanás.
O ensino dela, provavelmente era gnóstico. E a aplicação do ensino era a sedução que induzia os indivíduos a pensarem que realmente não havia limites. No versículo 21, Jesus disse que ela havia sido advertida e dado tempo para que se arrependesse. O problema é que ela não queria arrepender. Era uma decisão dela. Ela se tornara seu próprio absoluto, a medida de todas as coisas. Esse é o perigo. O pior é quando a pessoa pega a sua própria condição e a coletiviza.
O que Jesus diz que fará a essa pessoa, a essa Jezabel?
Primeiro, Ele diz que já ela gosta de cama, é para a cama que ela iria ficar prostrada(versículo 22). Depois diz algo terrível: “Matareis os seus filhos”. Seus filhos aqui, não deve ser entendido como os filhos que gerou, mas os filhos espirituais que ela produziu, os que se tornaram herdeiros dessa malignidade, porque foram seduzidos pelos ensinos dela. E mais, Jesus diz que isso vai acontecer como uma terapia para os demais. No verso 23 diz: “E todas as outras igrejas verão e saberão que eu sou aquele que conhece mentes e corações”.
Meretrizes e prostitutas podem nos proceder no Reino de Deus, conforme diz nos Evangelhos, porque vivem batendo no peito como o publicano dizendo: “tem misericórdia de mim, pecador”. Mas na hora em que se fizer a “doutrina” das prostitutas, dos publicanos virar um instrumento de sedução, todo mundo está perdido. A meretriz como indivíduo vai receber graça. A meretriz que quer sacerdotalizar sua prostituição recebe juízo. E isso é sério!
Em resumo, na igreja há lugar para uma Jezabel conflitada, mas não há lugar para uma Jezabel que ensine sua escolha pessoal como doutrina.