sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens (Gênesis 6:1-8)

 

7. Os Filhos de Deus e as Filhas dos Homens (Gênesis 6:1-8)

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Introdução

As tentativas de se produzir uma raça superior não tiveram início com Adolf Hitler, nem terminaram com ele. Nossa geração parece ter fixação por super humanos. Super Homem, Homem Biônico, Mulher Biônica, Hulk, e muitos outros personagens da televisão versam sobre o mesmo tema. E o domínio dessa super-raça não deve ser entendido apenas no campo da ficção. É quase assustador saber que os geneticistas vêm tentando criar humanos superiores enquanto o aborto pode se tornar um meio de eliminar sistematicamente os indesejáveis. Outro dia, li no jornal um artigo que falava sobre uma organização que disponibiliza o esperma de ganhadores do Prêmio Nobel para determinadas mulheres.

Contudo, é bem mais difícil determinar as últimas consequências dessas tentativas do que encontrar sua origem. Seu início está registrado no sexto capítulo do livro de Gênesis. Devo dizer, no entanto, antes de começar o estudo, que há mais discordância por centímetro quadrado neste texto do que em qualquer outro lugar da Bíblia. Em geral, as maiores dificuldades com esta passagem vêm dos teólogos conservadores. Isso se deve ao fato da narrativa ser classificada como lenda por aqueles que não tomam a Bíblia ao pé da letra ou não a levam a sério. Os eruditos conservadores precisam explicar este episódio de acordo com aquilo que Moisés afirmou ser, um acontecimento histórico. Embora o texto suscite grandes diferenças de interpretação, isso não tem muita importância, pois não irá afetar o fundamento da salvação eterna de ninguém. Em geral, as pessoas de quem mais discordo são justamente meus irmãos em Cristo.

Quem, afinal, são os “Filhos de Deus”?

A interpretação dos versículos 1 a 8 depende da definição de três termos-chave: “os filhos de Deus” (2 e 4), “as filhas dos homens” (2 e 4), e os “nefilins” (4). Existem três interpretações principais destes termos que tentarei descrever, começando por aquela que, a meu ver, é a menos provável, e terminando com a que me parece mais satisfatória.

Posição 1: A União dos Ímpios Descendentes de Caim com os Piedosos Descendentes de Sete

Segundo quem defende este ponto de vista, “os filhos de Deus” são os homens piedosos da linhagem de Sete. As “filhas dos homens”, as filhas dos ímpios cainitas. E os “nefilins”, os homens ímpios e violentos resultantes dessa união pecaminosa.

O principal fundamento para essa interpretação é o contexto dos capítulos 4 e 5. O capítulo quatro descreve a ímpia geração de Caim, enquanto no capítulo cinco vemos a piedosa linhagem de Sete. Em Israel, a separação era uma parte vital da responsabilidade religiosa daqueles que verdadeiramente adoravam a Deus. O acontecimento do capítulo seis foi uma transgressão dessa separação que ameaçou a descendência piedosa da qual devia nascer o Messias. Essa transgressão foi a causa do dilúvio que viria a seguir. O mundo ímpio foi destruído e o justo Noé e sua família, por meio de quem seria cumprida a promessa de Gênesis 3:15, foram preservados.

Embora esta interpretação tenha a característica louvável de explicar a passagem sem criar problemas doutrinários ou teológicos, o que ela oferece em termos de ortodoxia é feito às expensas de uma prática exegética aceitável.

Em primeiro lugar, as definições dadas por essa interpretação não emergem do texto ou mesmo se adaptam a ele. Em lugar algum os descendentes de Sete são chamados de “os filhos de Deus”.

O contraste entre a linhagem piedosa de Sete e a linhagem ímpia de Caim talvez seja enfatizado demais. Não tenho absoluta certeza de que a linhagem de Sete, como um todo, tenha sido piedosa. Enquanto todos os descendentes da linhagem de Caim parecem ter sido ímpios, só um punhado dos descendentes de Sete são chamados de piedosos. O ponto que Moisés deseja ressaltar no capítulo cinco é que Deus preservou um remanescente justo pelo qual Suas promessas a Adão e Eva seriam cumpridas. Tem-se a distinta impressão de que bem poucas pessoas temiam a Deus naqueles dias (cf. 6:5-7, 12). Aparentemente, só Noé e sua família podiam ser chamados de justos na época do dilúvio. Teria Deus deixado de salvar algum justo?

Além disso, “as filhas dos homens” dificilmente poderiam se limitar somente às filhas dos cainitas. No versículo um Moisés escreveu: “como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas” (Gênesis 6:1).

É difícil concluir que os “homens” aqui não sejam os homens em geral ou a raça humana. Segue-se que a referência às suas “filhas” seria igualmente geral. Deduzir que as “filhas dos homens” no versículo dois seja algo diferente, um grupo mais restrito, é ignorar o contexto da passagem.

Por estas e outras razões1, devo concluir que esta posição é exegeticamente inaceitável. Embora cumpra os requisitos da ortodoxia, ela não se submete às leis da interpretação.

Posição 2: A Interpretação dos Déspotas

Reconhecendo as deficiências da primeira posição, alguns eruditos procuraram definir a expressão “os filhos de Deus” comparando-a com as línguas do antigo Oriente Próximo. É interessante saber que alguns governantes eram identificados como filho de um deus em particular. No Egito, por exemplo, o rei era chamado de filho de Rá2.

No Antigo Testamento, a palavra hebraica para Deus, Elohim, é usada para homens em posição de autoridade:

Então, o seu senhor o levará aos juízes que agirão em nome de Deus. (Êxodo 21:6, seguido do comentário à margem da NASV)

Deus assiste em Sua própria congregação; Ele julga em meio aos governantes (literalmente, os deuses, Salmo 82:1, cf. também 82:6)

Esta interpretação, como a dos anjos caídos, tem suas raízes na antiguidade3. De acordo com esta proposta, os “filhos de Deus” são nobres, aristocratas e reis.

Esses déspotas ambiciosos cobiçavam poder e riqueza e queriam se tornar “homens de renome”, ou seja, célebres (cf. 11:4)! Seu pecado não era o “casamento misto entre dois grupos, ou entre dois mundos (anjos e homens), ou entre duas comunidades religiosas (descendentes de Sete e de Caim), ou ainda entre duas classes sociais (plebe e realeza) — seu pecado era a poligamia”. Era o mesmo tipo de pecado de Lameque, o descendente de Caim, o pecado da poligamia, mais especificamente visto na forma de um harém, instituição característica da corte de um antigo déspota oriental. Nessa transgressão, os “filhos de Deus”, com frequência, violavam o dever sagrado de seu ofício como guardiães das ordenanças gerais de Deus para a conduta humana4.

No contexto de Gênesis 4 e 5, encontramos algumas evidências que poderiam ser interpretadas como suporte ao ponto de vista sobre os déspotas. Caim edificou uma cidade e em seguida deu a ela o nome de seu filho Enoque (versículo 4:17). As dinastias seriam mais facilmente estabelecidas num ambiente urbano. Sabemos, ainda, que Lameque teve duas mulheres (versículo 4:19). Embora isso esteja bem longe de ser um harém, poderia ser visto como um passo nessa direção. Esta posição também define “as filhas dos homens” como mulheres e não só como as filhas da linhagem de Caim.

Apesar desses fatores, esta interpretação provavelmente nunca teria sido concebida não fossem os “problemas” criados pela posição sobre os anjos caídos. Embora os reis pagãos fossem considerados como filhos de alguma divindade, nenhum rei israelita foi assim designado. É bem verdade que os nobres e algumas autoridades foram, ocasionalmente, chamados de “deuses”, mas não de “filhos de Deus”. Essa interpretação prefere ignorar a definição precisa fornecida pelas próprias Escrituras.

Além disso, toda a idéia de homens famintos de poder, procurando estabelecer uma dinastia com a formação de um harém, parece forçada nessa passagem. Quem teria tirado essa idéia do próprio texto, a menos que impusesse isso a ele? E mais, a definição dos nefilins como sendo meros homens violentos e tirânicos também parece inadequada. Por que tais homens seriam mencionados com tanta deferência se fossem como quaisquer outros daquela época? (cf. 6:11, 12). Embora a interpretação dos déspotas seja menos violenta ao texto do que a dos descendentes de Sete e Caim, ainda assim ela me parece inapropriada.

Posição 3: A Interpretação dos Anjos Caídos

De acordo com esta posição, os “filhos de Deus” dos versículos 2 e 4 são anjos caídos, os quais assumiram uma forma semelhante à dos homens. Esses anjos se casaram com mulheres da raça humana (descendentes de Caim ou de Sete) e a descendência resultante foram os nefilins. Os nefilins eram gigantes de superioridade física, os quais, por isso, se estabeleceram como homens de renome pelas suas proezas físicas e poderio militar. Essa raça de criaturas meio humanas foi varrida pelo dilúvio, junto com a humanidade em geral, pecadores confessos (versículos 6:11, 12).

Minha pressuposição básica na abordagem do nosso texto é que devemos deixar a Bíblia definir seus próprios termos. Se as definições bíblicas não forem encontradas, então devemos examinar a linguagem e a cultura dos povos contemporâneos. No entanto, a Bíblia define para nós o termo “os filhos de Deus”.

Um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o Senhor, veio também Satanás entre eles. (Jó 1:6)

Num dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se perante o SENHOR, veio também Satanás entre eles apresentar-se perante o SENHOR. (Jó 2:1)

Quando as estrelas da alva, juntas, alegremente cantavam, e rejubilavam todos os filhos de Deus? (Jó 38:7, cf. Salmo 89:6, Daniel 3:25)

Os eruditos que rejeitam esta posição prontamente reconhecem o fato de que o termo exato é claramente definido na Escritura5. A razão pela qual rejeitam a interpretação dos anjos caídos é por acharem que esse ponto de vista é uma afronta à razão e à Escritura.

A principal passagem problemática citada é a do evangelho de Mateus, onde nosso Senhor disse: “Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus. Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu” (Mateus 22:29-30).

Eles dizem que nosso Senhor falou que anjos não têm sexo, mas isso é mesmo verdade? Jesus estava comparando homens no céu com anjos no céu. Não está escrito que, no céu, homens ou anjos sejam assexuados, e sim que no céu não haverá casamento. Não há anjos femininos com quem os anjos possam gerar descendência. Nunca foi dito aos anjos “crescei e multiplicai-vos”, como foi dito ao homem.

Quando encontramos anjos descritos no livro de Gênesis, fica claro que eles podem assumir a forma humana, e que seu sexo é masculino. O escritor aos Hebreus menciona o fato de eles poderem ser hospedados sem o conhecimento das pessoas (Hebreus 13:2). Com certeza, eles devem ser bem convincentes como homens. Os homossexuais de Sodoma eram muito bons para julgar a sexualidade. Eles foram atraídos pela “masculinidade” dos anjos que foram lá para destruir a cidade (cf. Gênesis 19:1 e ss, especialmente o versículo 5).

No Novo Testamento, duas passagens parecem se referir ao incidente de Gênesis 6, e dão base à interpretação dos anjos:

Ora, se Deus não poupou a anjos quando pecaram, antes, precipitando-os no inferno os entregou a abismos de trevas, reservando-os para o juízo. (2 Pedro 2:4)

E a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do Grande Dia. (Judas 6)

Estes versículos podem indicar que alguns anjos que caíram com Satanás não ficaram contentes com seu “próprio domicílio” e, por isso, começaram a viver entre os homens (e mulheres) como homens. O julgamento de Deus foi colocá-los em algemas6 para que não pudessem mais servir aos propósitos de Satanás na terra como fazem os anjos caídos que ainda estão soltos executando suas ordens.

Os nefilins são claramente indicados como resultado da união entre os anjos caídos e as mulheres. Embora os estudos dessa palavra apresentem diversas sugestões para o significado do termo, sua definição bíblica vem de apenas um outro exemplo na Escritura, Números 13:33:

Também vimos ali gigantes (nefilins, os filhos de Anaque são descendentes de gigantes), e éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos e assim também o éramos aos seus olhos.

Portanto, entendo que os nefilins sejam uma raça de super-humanos, produto dessa invasão angélica à terra7.

Esta interpretação não só está em conformidade com o uso bíblico da expressão “filhos de Deus”, como também é a que mais se encaixa no contexto da passagem. Os efeitos da queda são vistos na descendência ímpia de Caim (capítulo 4). Embora ele e seus descendentes estivessem “sob o domínio de Satanás”, Satanás conhecia muito bem as palavras de Deus de Gênesis 3:15, que da descendência da mulher Deus traria o Messias que iria destruí-lo. Não sabemos se toda a linhagem de Sete foi temente a Deus. Na verdade, podemos supor exatamente o contrário. Só Noé e sua família direta parecem justos na época do dilúvio.

Gênesis seis descreve uma tentativa desesperada de Satanás para atacar o remanescente piedoso mencionado no capítulo cinco. Enquanto um descendente justo é preservado, a promessa de Deus paira sobre a cabeça de Satanás, como uma ameaça da sua destruição iminente.

As filhas dos homens não foram violentadas ou seduzidas. Elas simplesmente escolheram o marido da mesma forma que os anjos as selecionaram — pela atração física. Ora, se naquela época, você fosse uma mulher desimpedida, a quem escolheria? A um homem atraente e musculoso, famoso por sua força e por seus feitos, ou a alguém que comparado a ele tivesse a aparência de um fracote de meia tigela?

Aquelas mulheres tinham esperança de ser a mãe do Salvador. Quem seria o pai mais provável dessa criança? Não seria um “valente de renome”, que também podia se gabar de imortalidade? Alguns descendentes piedosos de Sete viveram quase 1000 anos, mas os nefilins não morreriam se fossem anjos. E assim começou uma nova raça.

Será que Deus Muda de Ideia?

Enquanto os versículos 1 a 4 ressaltam a invasão dos anjos no início de uma nova super-raça, os versículos 5 a 7 servem para informar que a humanidade em geral merecia a intervenção destrutiva de Deus na história — o dilúvio.  No entanto, é aqui que encontramos um problema muito sério, pois quase parece que Deus muda de ideia, como se a criação do homem fosse um erro colossal da Sua parte. Vamos tratar, então, da questão: “Será que Deus muda de ideia?” Vários fatores precisam ser considerados.

Primeiro, Deus é imutável, Ele não muda em Sua pessoa, em Sua perfeição, em Seus propósitos e em Suas promessas.

Deus não é homem para que minta, e nem filho de homem para que se arrependa. Porventura tendo ele prometido não o fará, ou tendo ele falado, não o cumprirá? (Números 23:19)

Também a glória de Israel não mente, nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa. (1 Samuel. 15:29, cf. também Salmos 33:11, 102:26-28, Hebreus 1:11-12, Malaquias 3:6, Romanos 11:29, Hebreus 13:8 e Tiago 1:17).

Segundo, há passagens nas quais “parece” que Deus muda de ideia.

Disse mais o Senhor a Moisés: Tenho visto este povo, e eis que é povo de dura cerviz. Agora, pois, deixa-me, para que se acenda contra eles o meu furor, e eu os consuma; e de ti farei uma grande nação... Então, se arrependeu o Senhor do mal que dissera havia de fazer ao povo. (Êxodo 32:9-10, 14)

Viu Deus o que fizerem, como se converteram do seu mal caminho e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez. (Jonas 3:10)

Então o Senhor se arrependeu disso. Não acontecerá, disse o Senhor... E o Senhor se arrependeu disso. Também não acontecerá, disse o Senhor Deus. (Amós 7:3, 6)

Terceiro, nos casos onde Deus “parece” mudar de ideia, uma ou mais das seguintes considerações pode ser aplicada:

a) A expressão “Deus se arrependeu” é um antropomorfismo, ou seja, uma descrição de Deus que assemelha Suas ações às ações do homem. De outra forma, como o homem poderia entender o pensamento de Deus? O “mudar de ideia” de Deus pode ser apenas a maneira de ver da perspectiva do homem. Em ambos os textos, de Gênesis 22 (cf. versículos 2, 11-12) e de Êxodo 32, o que Deus propôs foi uma prova. Nos dois casos, Seu propósito eterno não mudou.

b) Nos casos em que tanto julgamento quanto bênção são prometidos, pode haver uma condição implícita ou explícita. A mensagem pregada por Jonas aos ninivitas é um deles:

Começou Jonas a percorrer a cidade de caminho dum dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida. Os ninivitas creram em Deus e proclamaram um jejum, e vestiram-se de pano de saco, desde o maior até o menor. Chegou esta notícia ao rei de Nínive: ele levantou-se do seu trono, tirou de si as vestes reais. cobriu-se de pano de saco e assentou-se sobre a cinza. E fez-se proclamar e divulgar em Nínive: Por mandato do rei e seus grandes, nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem, os levem ao pasto, nem bebam água; mas, sejam cobertos de pano de saco, tanto os homens como os animais, e clamarão fortemente a Deus; e se converterão, cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos. Quem sabe se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos? (Jonas 3:4-9)

O que era desejado pelos ninivitas, para Jonas era um fato. Eles clamaram por misericórdia e perdão, no caso de Deus poder ouvir e perdoar. Quando eles se arrependeram e Deus demonstrou compaixão, Jonas ficou louco de raiva:

Com isso, desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado. E orou ao Senhor e disse: Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que se arrepende do mal. (Jonas 4:1-2)

Jonas sabia que Deus era amoroso e clemente. A mensagem pregada por ele indicava uma exceção. Se os ninivitas se arrependessem, Deus os perdoaria. Foi sobre isso que Jeremias escreveu, dizendo:

No momento em que eu falar acerca de uma nação de ou de um reino para o arrancar, derribar e destruir, se tal nação se converter da maldade contra a qual eu falei, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe. E, no momento em que eu falar acerca de uma nação ou de um reino, para o edificar e plantar, se ele fizer o que é mal perante mim e não der ouvidos à minha voz, então, me arrependerei do bem que houvera dito lhe faria. (Jeremias 18:7-10)

c) Embora o decreto de Deus não possa ser alterado, precisamos admitir que Ele é livre para agir como quiser. E, embora Seu roteiro possa mudar, Seus propósitos não mudam, “porque os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Romanos 11:29).

Deus prometeu levar Seu povo à terra de Canaã. Devido à sua incredulidade, a primeira geração não tomou posse da terra, mas a segunda sim. Quando Jesus veio, Ele Se ofereceu a Israel como o Messias. A rejeição de Israel tornou possível oferecer o evangelho aos gentios. Apesar disso, quando os propósitos de Deus para os gentios forem cumpridos, Deus derramará Sua graça e salvação novamente sobre os judeus. O roteiro de Deus pode mudar, mas não Seus propósitos (cf. Romanos 9-11).

d) Ainda que a vontade de Deus (Seu decreto) não possa mudar e não mude, Ele é livre para mudar Suas emoções. Gênesis 6:6-7 descreve a reação de Deus ao pecado humano. Pesar é a resposta de amor ao pecado. Deus não é estóico; Ele é uma pessoa que Se regozija na salvação do homem e em sua obediência, e que Se aflige diante da incredulidade e da desobediência. Embora o propósito de Deus para a raça humana não mude, Sua atitude muda. Com certeza, um Deus Santo deve Se sentir diferente com relação ao pecado e com relação à obediência. Esse é o ponto dos versículos seis e sete. Deus é afligido pelo pecado do homem e suas consequências. No entanto, Ele cumprirá Seus propósitos independentemente disso. Embora tal circunstância tenha sido decretada desde a eternidade pretérita, Deus jamais poderia se regojizar nela, só lamentar a maldade e a obstinação do homem.

Uma ilustração semelhante é a reação emocional de nosso Senhor no Jardim do Getsêmani (cf. Mateus 26:36 e ss). Desde a eternidade pretérita Ele tinha Se proposto a ir à cruz para comprar a salvação do homem. No entanto, quando o momento da Sua agonia se aproximou, Ele teve medo. Seu propósito não mudou, mas Suas emoções, sim.

O Significado desta Passagem para o Israel Antigo

Para os antigos israelitas esta passagem ensinou diversas lições valiosas. Primeiro, ela lhes deu uma explicação adequada para o dilúvio. Podemos entender que aquela super-raça tinha de ser eliminada. O dilúvio não foi apenas uma forma de Deus julgar os homens pecaminosos, mas também de cumprir Sua promessa de trazer salvação pelo descendente da mulher. Se o relacionamento entre anjos e homens não tivesse sido interrompido, o remanescente piedoso teria deixado de existir (humanamente falando). Segundo, a passagem ilustrou o que Deus tinha dito à serpente, Adão e Eva: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente” (Gênesis 3:15a).

Israel não ousou esquecer que havia uma intensa batalha sendo travada, não só entre os descendentes de Caim e Sete, mas entre Satanás e o descendente da mulher. Embora nós estejamos acostumados a tal ênfase no Novo Testamento, os antigos tinham poucas referências diretas a Satanás ou a seus assistentes demoníacos (cf. Gênesis 3, Deuteronômio 32:17, 1 Crônicas 21:1, Jó 1 e 2, Salmo 106:37, Daniel 10:13, Zacarias 3:1-2). Esta passagem seria uma vívida lembrança da exatidão da Palavra de Deus.

Terceiro, a passagem ressaltou a importância de Israel manter sua pureza racial e espiritual. O remanescente crente em Deus tinha de ser preservado. Quando os homens deixaram de perceber a importância disso, Deus teve de julgá-los com rigor. Quando a nação entrasse na terra de Canaã, poucas lições seriam mais importantes do que a necessidade de separação.

O Significado de Gênesis 6 para os Cristãos Atuais

Muito embora o Novo Testamento tenha muito mais a dizer sobre as atividades de Satanás e seus demônios, poucos de nós parecem levar a sério a nossa luta espiritual. Nós realmente acreditamos que a igreja consegue operar somente com o esforço e a sabedoria humana, ou com uma ajudazinha de Deus. Muitas vezes tentamos viver a vida espiritual no poder da carne. Dizemos às pessoas para fazer uma nova dedicação da sua vida e redobrar seus esforços, mas deixamos de lhes dizer que a nossa única força é aquela que Deus nos dá.

Hoje, a batalha travada entre os filhos de Satanás e os filhos de Deus (no sentido do Novo Testamento — João 1:12, Romanos 8:14, 19) é muito mais intensa do que foi nos tempos antigos. O destino de Satanás está selado e seus dias estão contados (cf. Mateus 8:29). Vamos, pois, nos revestir da armadura espiritual de Deus para a luta espiritual de que somos parte (Efésios 6:10-20).

Em segundo lugar, precisamos entender que Satanás ainda hoje nos ataca com os mesmos instrumentos. Não conheço nenhum caso de seres angélicos caídos invadindo a terra em forma humana para promover a causa de Satanás em nossos dias. No entanto, Satanás continua trabalhando sutilmente por intermédio dos homens.

Porque os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, transformando-se em apóstolos de Cristo. E não é de se admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus próprios ministros se transformem em ministros de justiça; e o fim deles será conforme as suas obras. (2 Coríntios 11:13-15)

Assim como Satanás procurou corromper os homens manifestando-se (ou melhor, seus anjos) na forma de seres humanos superiores, hoje ele usa os “anjos de luz”. Nossa tendência é supor que, na maioria das vezes, ele use os réprobos. Às vezes, até parece que esperamos encontrá-lo num patético endemoninhado ou num pobre-coitado desesperado. É fácil atribuir a Satanás esse tipo de coisa. No entanto, seu melhor trabalho e, em minha opinião, o mais comum, é quando usa pregadores aparentemente piedosos, devotos e religiosos que estão atrás do púlpito, ou se assentam no Conselho da igreja, falando de salvação em termos de comunidade e não de almas, e pelas obras ao invés da fé. Satanás continua promovendo sua causa usando homens que não são o que parecem ser.

Por fim, observe que o melhor trabalho de Satanás está justamente nas áreas onde homens e mulheres depositam a esperança da sua salvação. Quando os homens-anjos pediram as filhas dos homens em casamento, eles deviam parecer pais dos mais promissores. Se tais criaturas fossem imortais, sua descendência também não seria? Seria esta a forma de Deus reverter os efeitos da queda e da maldição? Assim deve ter parecido àquelas mulheres.

E é exatamente isso o que Satanás faz ainda hoje. Ah, mas não pense que ele esteja se autopromovendo através do ateísmo ou de outros “ismos”, pois o lugar onde ele faz mais sucesso é justamente na religião. Ele usa sua expressão mais piedosa e emprega terminologia religiosa. Ele não procura acabar com a religião, mas retira dela seu elemento crucial, a fé no sangue derramado de Jesus Cristo como substituto para o pecado dos homens. Ele está sempre pronto a se juntar a qualquer causa religiosa, desde que esse ingrediente seja omitido ou distorcido, ou fique perdido num labirinto de legalismo e libertinagem. Cuidado, meu amigo, Satanás está no mundo da religião. Que melhor maneira de desviar a alma dos santos e de cegar a mente dos homens (2 Coríntios 4:4)?

Onde está sua esperança de imortalidade? Está na sua descendência? Isso não funcionou para Caim. Está no seu trabalho? Você quer construir um império ou erigir um monumento dedicado ao seu nome? Você não será o último. Tudo isso sucumbiu no dilúvio do julgamento de Deus. Só a fé no Deus da Bíblia e, mais especificamente, no Filho enviado por Ele, lhe dará imortalidade e o libertará da maldição. O único jeito para isso acontecer é você se tornar um filho de Deus por intermédio do Filho de Deus.

Jesus lhe disse: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim. (João 4:6)

Tradução e Revisão: Mariza Regina de Souza


1 O problema mais sério desse ponto de vista se encontra  no versículo 4. Sob todos os aspectos, os gigantes (nephilim) e os homens poderosos (gibborim) são os descendentes dos casamentos entre os “filhos de Deus” e as “filhas dos homens”. Como diz Kline:

“De forma alguma fica clara a razão pela qual a descendência de casamentos mistos deva ser nephilim-gibborim, no entanto, estes devem ser entendidos dentro do alcance da interpretação provável... Mas sua (a do autor bíblico) referência ao ato conjugal e à gestação encontra justificativa apenas se ele estiver descrevendo a origem dos nephilim-gibborim. A menos que a dificuldade resultante dessa conclusão seja superada, a interpretação do casamento misto nesta passagem deve ser definitivamente descartada”.

Para resumir o problema: “Por que é declarado o tipo de descendência mencionada no versículo quatro se aqueles foram apenas casamentos mistos?” Manfred E. Kober, The Sons of God of Genesis 6: Demons, Degenerates, or Despots? p. 15. Kober cita aqui Meredith G. Kline, “Divine Kingship and Genesis 6:1-4”, Westminster Theological Journal, XXIV, Nov. 1961- May 1962, p. 190.

2 “No Egito o rei era chamado de o filho de Ra (o deus-sol). O rei Sumero-Akkadian era considerado descendente da deusa e um dos deuses, e essa identificação com a divindade remonta aos primórdios, de acordo com Engell. Em uma inscrição há uma referência a ele como “o rei, o filho de seu deus”. O rei Hitita era chamado “filho do deus-tempo”, e o título de sua mãe era Tawannannas (mãe do deus). Na região semítica noroeste o rei era diretamente chamado de filho de deus e o deus era chamado de pai do rei. O texto Ras Shamra (Ugarítico) Krt se refere a deus como o pai do rei e o rei Krt como Krt bn il, o filho de el ou o filho de deus. Assim, com base no uso semítico, o termo be ne ha elohim, os “filhos de deus” ou “filhos dos deuses”, muito provavelmente se refere aos governantes da dinastia de Gênesis 6.” An Exegetical Study of Genesis 6:1-4Journal of the Evangelical Theological Society, XIII, inverno 1970, pp. 47-48, como citado por Kober, p. 19.

3 Em excelente artigo apresentando sobre esta posição, Kline escreve que, nos tempos antigos, surgiu entre os judeus a opinião de que os “filhos de Deus” de Gênesis 6 seriam aristocratas, príncipes, e nobres, em contraste com as socialmente inferiores “filhas dos homens”. Dessa interpretação, por exemplo, chegou-se à expressão no Targum Aramaico (o Targum de Onkelos traduz o termo como “filhos dos nobres”) e na tradução grega de Symmachus (que interpreta “os filhos de reis ou lordes”) e é seguida por muitas autoridades judaicas até o presente”. Kober, pp; 16-17, referindo-se a Kline, p. 194.

4 Kober, p. 16, citando Birney, p. 49 e Kline, p. 196.

5 Por exemplo, W. H. Griffith Thomas, que sustenta a posição dos descendentes de Caim e de Sete, diz:

“O versículo 2 fala da união de duas linhagem pelo casamento misto. Alguns escritores consideram a frase “filhos de Deus” como se referindo aos anjos, o que é apoiado por outras passagens —  cf. Jó 1:6; Salmo 28:1, Daniel. 3:25 — e, de fato, em qualquer lugar da Escritura, a frase invariavelmente quer dizer anjos”. Genesis: A Devotional Commentary (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1946), p. 65.

6 Será que não é este o cativeiro temido pelos demônios em Marcos 5:10 e Lucas 8:31?

7 Será que o fato de os nefilins serem mencionados depois do dilúvio significa que essa prática continuou mesmo depois dele? Alguns pensam que sim, enfatizando a frase “e também depois” (Gênesis 6:4). Se foi assim, precisamos dizer que isso não ameaçou a promessa de Deus naquela época. Só seria um reforço à  importância de não se casar com alguém dos cananeus, entre os quais se encontravam os nefilins.

Pessoalmente, não acho que a super-raça tenha aparecido após o dilúvio. A expressão nefilim, da forma como a entendo, não é sinônima desta, uma super-raça, mas a descrição dela. Refere-se simplesmente à grande estrutura física deles, exatamente como as outras expressões (“homens poderosos”, “homens de renome”) se referem à sua reputação e ao seu poderio militar. Não acho que precisamos encontrar criaturas super-humanas em Números 13:33, só gigantes. A palavra nefilim, portanto, é definida por Moisés em Números como se referindo a uma grande estatura física. Nenhum nome técnico é dado à super-raça, somente descrições que podem ser usadas em qualquer outro lugar para outras criaturas que não sejam anjos.

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https://bible.org/seriespage/os-filhos-de-deus-e-filhas-dos-homens-g%C3%AAnesis-61-8


quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Filme da Marvel "Os Eternos" - Anjos caídos e Neplins?




Essa semana foi feito o lançamento nos cinemas de mais um filme da Marvel - "Os Eternos". No youtube, houve quem fosse além: https://youtu.be/My5wYFb6LGc

Nesse link, é feito um paralelo dessa história fictícia trazida dos quadrinhos para os cinemas com a mitologia dos povos antigos e também do texto bíblico de Gênesis 6. Os "filhos de Deus" e os "neplins".

É claro que o filme da Marvel é ficcional e apresenta uma história que está mais para a mitologia grega que a Bíblia. Agora que houve algo em Gênesis 6 que teve repercursões na própria Escritura Sagrada, na história da humanidade isso eu particularmente não tenho dúvidas.

Quem eram os Filhos de Deus de Gênesis 6?

Na Bíblia: Em Gênesis 6:2 diz que "Viram os Filhos de Deus" que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, das que mais lhes agradaram". No versículo 4 continua dizendo "Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens e delas geraram filhos; estes eram os valentes que houve na antiguidade, os homens de fama".

 Há duas linhas de pensamento sobre essa passagem bíblica, uma que predominou de Agostinho para cá, principalmente no meio pentecostal e de teologia dispensacionalista que os "filhos de Deus", não eram anjos e sim descendentes de Sete, filho de Adão, e as  filhas dos homens descendentes de Caim. Para embasar sua teoria citam a passagem onde Jesus responde aos saduceus e diz que na ressurreição dos mortos, serão como os anjos no céu, não casam e não se dão em casamento. 

 A outra linha prevaleu em grande parte dos primeiros séculos da igreja até o século IV, e também na literatura rabínica de que o termo "filhos de Deus" de Gen. 6, é o mesmo utilizado em Jó capítulo 1, designando a seres angelicais. Os tais anjos que copularam com as filhas dos homens e começaram uma raça híbrida dos gigantes. Nefilins são sim, os caídos, mas não são como no filme. São responsáveis pela contaminação da raça humana. O livro apócrifo de Enoque que narra a narrativa. 

A Bíblia mostra que anjos podem se materializar na Terra, como os anjos que comeram a comida oferecida por Abraão, foram confundidos com soldados como no livro de Josué. O Novo Testamento, faz citação de parte dos livros apócrifos, especialmente as epístolas de Judas e 2 Pedro. No entanto é clara que "aos anjos que não guardaram seu principado e correram após outra carne, Deus os destinou as cadeias eternas", melhor dizendo, uma vez caído do céu, não há como se arrepender e voltar.

Uma das passagens que geram e geraram controvérsias no decorrer dos séculos é justamente a de Gênesis 6, onde diz que os filhos de Deus desejaram as mulheres, filhas dos homens e com elas se relacionaram e tiveram filhos, que foram os gigantes, os valentes da antiguidade, ou os Nephilins.

Os Neflilins

 Nefilim, do hebraico נְפִלנ ְפִיל nefilím, que significa desertores, caídos, derrubados, mas tal termo é uma variação do termo נָפַל. Deriva da forma causativa do verbo nafál ou nefal (cair,queda,derrubar,cortar). Traz uma ideia de dividido, falho, queda, perdido, mentiroso, desertor.

 Os teológos e estudiosos da Bíblia até hoje divergem sobre a natureza dos Nephilim e dos "Filhos de Deus", mencionados em Gn 6. Há duas possíveis interpretações:

 1) G. H. Pember argumenta em favor da teoria que diz que os "Filhos de Deus" de Gn 6 são na verdade anjos que vieram a Terra para terem intercurso com mulheres, tiveram filhos, sendo por isso punidos e lançados no inferno, segundo a Segunda Epístola de Pedro 2:4 (é interessante notar que no original a palavra não é "inferno", e sim "tártaro" :na mitologia grega,tártaro,era o sub-nivel do Hades para os amaldiçoados.), e seus filhos se tornaram pessoas híbridas, metade humano, metade angélico (ver As Eras Mais Primitivas da Terra). Essa teoria é defendida por teólogos como John Fleming (1), S. R. Maitland (2), Caio Fábio (ideia advogada no seu livro de ficção Nephilim), Charles Ryrie, em sua Bíblia de estudo e pela maioria dos primeiros cristãos. Esteve em voga na Idade Média É também o ponto de vista de Fílon de Alexandria e dos apócrifos de Enoque e do Testamento dos Doze Patriarcas.

 2) Teoria de que não eram anjos, mas sim descendentes de Sete, que ainda seguiam a Deus. As "filhas dos homens" eram filhas de Caim, afastadas de Deus, e seus filhos foram heróis posteriormente, mas a Bíblia considera-os caídos, porque se afastaram de Deus. Argumenta-se que os anjos não podem procriar e que "filhos de Deus" referia-se aos seguidores de Deus. Essa teoria foi propagada por AgostinhoC. I. ScofieldGordon Lindsay, entre outros, sendo a mais aceita. (ver uma defesa desta teoria [1]).

3) Há outras teorias como a de pano de fundo evolucionista que diz que os "filhos de Deus" eram descendentes de Adão e as "filhas dos homens" de uma raça inferior, como, por exemplo, a Neandertal. Atualmente há pesquisas científicas que dizem que aproximadamente 4% de nosso DNA é de origem Neandertal. Alguns veem aí a comprovaçao desta linha teórica.

 Eu, particularmente, sigo a linha de pensamento que crê que os filhos de Deus eram anjos. O principal argumento contra o envolvimento sexual entre os anjos e as mulheres é tirado de uma passagem neo-testamentária, em que Jesus afirma que no céu todos seremos como os anjos, que não se casam, nem se dão em casamento. Concluiu-se, daí, que os anjos são seres assexuados, e que, portanto, não poderiam ter coabitado com as mulheres, nem tampouco lhe dado filhos.

 Mas basta um exame mais acurado do texto (Mt.22:30), e veremos o que realmente Jesus quis dizer. Ele disse: “Na ressurreição nem se casam nem são dados em casamento; serão os anjos de Deus no céu”. Repare o detalhe “no céu”. De fato, no céu, os anjos são seres espirituais, que não podem se casar, ou manter qualquer tipo de atividade sexual. Entretanto, somos informados por Judas que esses anjos “deixaram a sua própria habitação” (Jd.6). Ao descer à terra, eles assumiram corpos físicos, bem semelhantes aos dos seres humanos.

 O outro argumento de que os filhos de Deus são identificados como os filhos de Sete, pelo fato de esses constituírem a boa linhagem de onde viria o Messias. Já a descendência de Caim não tinha temor de Deus, e era conhecida por sua impiedade. Se os filhos de Deus eram os filhos de Sete, e as filhas dos homens eram as filhas de Caim, como a união entre essas duas linhagens pôde produzir gigantes? Não conheço qualquer caso de casais onde o marido é crente e a esposa incrédula que tenha produzido filhos gigantes, ou mesmo, uma descendência maligna. Pelo contrário. O apóstolo Paulo diz que “o marido incrédulo é santificado pela mulher, e a mulher incrédula é santificada pelo marido crente. Doutra sorte os vossos filhos seriam impuros, mas agora são santos” (1 Co.7:14). 

 O que as Escrituras dizem sobre os anjos é que são ministros de Deus em favor dos que hão de herdar a salvação. Além disso, o próprio termo, anjo, significa mensageiro. Os vemos durante toda a narrativa bíblica, do Velho ao Novo Testamentos.

Entretanto, é possível ver que as manifestações deles mudam conforme os tempos e épocas. No V.T. há anjos tão humanos que comem e bebem, além de serem até mesmo objeto de desejo sexual dos de Sodoma. No livro de Juízes há um anjo que prega, o qual é chamado de o Anjo do Senhor.

As Epístolas de Pedro e Judas, dizem que os anjos "não guardaram a sua habitação", "foram após outra carne". Tanto 2º Pedro como Judas citam trechos do livro de Enoque.  

 O Livro de Enoque é um texto escrito cerca de 300 anos antes de Cristo. Sim, nele há coisas muito belas. E além de coisas belas há muita verdade espiritual também sendo afirmada. Também não há dúvida que o que se diz dos anjos no Livro de Enoque afetou profundamente a visão dos escritores do N.T.

 Paulo, por exemplo, quando fala de “céus” (3º céu), está aludindo a algo que é apresentado no Livro de Enoque. Também não há dúvidas de que tanto Pedro quanto Judas se inspiraram nas histórias de Enoque. Judas chega mesmo a mencionar explicitamente o texto. E, a meu ver, eles assim o fizeram porque no Livro de Enoque há uma mensagem verdadeira sobre significados espirituais.

 Entretanto, embora creia que há muitas coisas verdadeiras em Enoque, também creio que ele não faz falta na Bíblia. O fato dele ser citado ou usado pelos apóstolos, não necessariamente deveria fazer com que ele estivesse nas Escrituras. Jesus, pelo menos, não sentiu falta dele. Mencionou as Escrituras e, em momento algum, reclamou da falta de que qualquer que fosse o livro-ausente. E foi assim porque em Jesus anjos são apenas anjos, e não seres para serem objeto de nossa preocupação especial. Entendo que, qualquer tentativa de criar uma relação espiritual com os anjos, segundo o espírito do N.T., é pagã.

 Sobre Gênesis 6, quando se fala que “os filhos de Deus” possuíram as “filhas dos homens”, o que se deve dizer é que até Agostinho era opinião unânime, tanto no judaísmo como também entre os primeiros cristãos que se tratava de anjos mesmo. Foi depois de Agostinho que começou a “interpretação” de que os tais “filhos de Deus” eram os membros da descendência de Sete; filho de Adão. Nesse caso, tal “mistura” teria sido entre humanos: os descendentes de Sete com os descendentes de Caim.

 Pessoalmente eu não tenho dificuldade alguma para crer que se anjos podem comer carne e aparecerem de modo humano, podem também manifestar-se de outro modo; ou seja: podem ter relações sexuais. Além disso, eles também podem ter possuído tão profundamente humanos daquela geração pré-diluviana, que algo especialmente denso pode ter afetado a própria constituição dos humanos; daí os filhos que geraram terem sido “gigantes”. 

 Mas eu volto a outra pergunta do título da postagem: O que houve de tão grave para Deus decidir destruir o mundo antigo, tanto a raça humana como até mesmo os animais, Gen. 6:7?

 Misturas entre linhagens e povos que serviam ao Senhor e que não serviam, foram punidas em outras ocasiões, mas nem por isso, Deus quis destruir o mundo. O que aconteceu ali, foi uma tentativa de alteração genética da raça humana por parte dos anjos e até dos animais. A designação de animais "puros ou impuros", pode ter sua origem aí. O apóstolo Paulo deveria ser adepto dessa linha de pensamento, pois em I Coríntios 11:10, ele diz que a mulher deveria ter sobre sua cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos.

 Ao tentar alterar a semente da mulher, os anjos rebeldes poderiam estar tentando imitar ou querer impedir a profecia do nascimento do "descendente da semente da mulher", conforme Gen. 3:15.

 Esse evento bizarro encontra eco nas lendas e mitos da cada cultura antiga do planeta. Gregos, egípcios, hindus, índios, e praticamente todos os demais povos contam acerca do envolvimento de seres humanos com seres celestiais. Flavio Josefo, o grande historiador judeu do século I, faz paralelos entre o fato bíblico e a mitologia greco-romana. O texto de Gênesis diz que os seres híbridos engendrados pelos anjos “foram valentes, os homens de renome que houve na Antiguidade” (Gn.6:4b). A mitologia não deve ser entendida como mera invenção do gênio humano. Ela surge no solo fecundo das tradições, das lendas, que nada mais são do que fatos corrompidos de verdades primitivas. É muito comum encontrarmos lendas como a de Hércules, fruto do casamento entre Zeus e uma mulher. Assim como é comum encontrarmos lendas sobre o dilúvio. Esses são pontos convergentes em todas as tradições religiosas do mundo.

 Em praticamente todas as culturas antigas pode-se encontrar histórias semelhantes sobre a presença de “deuses”. Entre os egípcios, encontramos Ísis e Osíris. Entre os povos da Índia e do Tibete, encontramos lendas sobre a cidade de Shambala e os “Budas” ou “deuses” que teriam trazido ciência e sabedoria para os seus povos. A intromissão dos Nefilins entre as diversas culturas da terra explicaria, por exemplo, como a civilização Asteca, Inca e Maia adquiriu tanto conhecimento nas diversas áreas científicas, sendo capazes de produzir sofisticados calendários e mapas estelares.

 Jesus disse que os últimos dias seriam como os dias de Noé (Mateus 24: 37,38), e o profeta Daniel fala que haveria também uma tentativa de misturar com a semente humana (Dan 2:43), talvez já sendo previsão do avanço da genética e da tecnologia. Ou seja, os tempos são difíceis e deverão acontecer coisas mais assombrosas ainda.

 Maranatha! Ora vem Senhor Jesus!

 

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Nefilim

Bíblia de Jerusalém - notas.

 https://www.omelete.com.br/marvel-cinema/eternos-epico-biblico-marvel-studios