sexta-feira, 23 de julho de 2021

O que muda na comunicação para igrejas pós-pandemia? Veja sete lições trazidas pela crise da Covid-19

 


A comunicação para igrejas foi diretamente afetada pela pandemia do novo coronavírus. A chegada da Covid-19 impediu a realização dos cultos presenciais e impôs uma série de desafios às igrejas de todo o Brasil, que precisaram se adaptar a essa nova realidade. 

No entanto, como toda crise, a pandemia também trouxe oportunidades para inovação. As igrejas perceberam que, com o suporte do ambiente digital, é possível estar próximo apesar da distância. Agora, com a retomada parcial das atividades presenciais, é o momento de avaliar o que deve mudar na comunicação para igrejas pós-pandemia.

Nas próximas linhas, confira sete lições trazidas pela crise da Covid-19.

1. O digital veio para ficar

A pandemia do novo coronavírus mostrou que a migração das igrejas para o ambiente digital é uma necessidade. Com a adoção do isolamento social, que inviabilizou os cultos presenciais, igrejas de todo o Brasil precisaram recorrer a lives, webinars e videoconferências para manter suas atividades. 

No entanto, mais do que apenas digitalizar processos, é preciso adotar uma cultura digital. Isso significa que a igreja deve ampliar sua visão e pensar não só em recursos tecnológicos isolados, mas em soluções integradas que componham um verdadeiro ecossistema digital, conectando todas as áreas e processos do ministério.

Desta forma, será possível acompanhar a membresia de forma inteligente, potencializar o alcance da comunicação, simplificar mecanismos de gestão, oferecer novas possibilidades de interação e mensurar o crescimento da igreja. 

Lembre-se de que o ambiente virtual precisa ser uma extensão do ambiente real – especialmente em momentos de crise. Se as pessoas não podem estar na igreja, a igreja precisa estar onde elas estão. Implementar uma cultura digital em sua congregação é torná-la próxima, viva e atuante a distância.

2. O conteúdo gerado por usuário é um recurso precioso

Imagine se cada membro da sua igreja postasse um story no próprio Instagram convidando os seguidores para a transmissão ao vivo do culto, e você compartilhasse alguns dos posts mais criativos. Seria muito mais impactante do que simplesmente publicar um convite tradicional, não é? 

É por isso, entre outras coisas, que o conteúdo de usuário (user generated content ou UGC, em inglês) é considerado o “Santo Graal” do conteúdo nas redes sociais. Segundo pesquisa da empresa de comunicação Olapic, 76% das pessoas dizem que confiam mais em conteúdos compartilhados por pessoas “comuns” do que nos de marcas.

Quando aplicamos esse dado à realidade da comunicação para igrejas, percebemos que o conteúdo gerado por usuário tem um grande potencial: alavancar a pregação do evangelho. Isso porque o UGC mostra que existem várias pessoas unidas em torno de um mesmo propósito. Não é mais a igreja como instituição falando, mas a própria igreja de Cristo levando a mensagem. Incrível, não? 

Além disso, compartilhar UGC é uma forma de valorizar o público interno. Por isso, incentive esse tipo de conteúdo entre a equipe de comunicação e os demais membros. Você pode influenciar a criação de UGC postando quizzes bíblicos para que as pessoas compartilhem seus resultados ou incentivando o compartilhamento de testemunhos. Lembre aos seguidores de marcar o arroba (@) da igreja nas publicações, para que você possa replicar o conteúdo.

3. Nunca foi tão importante alinhar a mensagem

Com a pandemia do novo coronavírus, o ambiente digital se tornou o único espaço para veicular as informações relacionadas às atividades da igreja. Isso mostrou o quão importante é alinhar as mensagens para o público.

Em outras palavras, é preciso garantir que a transmissão de informações seja clara e consistente em todas as plataformas e canais – site, aplicativo, redes sociais, transmissão ao vivo etc. Imagine, por exemplo, que o pastor anuncia detalhes sobre determinado evento no púlpito, mas posts feitos nas redes sociais o contradizem. Como o público saberia o que está correto? 

Para evitar ruídos, é necessário que o ministério de comunicação da igreja e as lideranças das demais áreas se reúnam periodicamente para alinhar as mensagens. Lembre-se ainda de checar as informações antes de passá-las adiante.

Vale ressaltar que também é importante garantir o alinhamento das mensagens por meio de uma representação visual consistente das informações. Isso significa, por exemplo, usar a mesma paleta de cores e as mesmas famílias de fontes nas peças de design. Torne as informações reconhecíveis pela vista, e não apenas pelo conteúdo.

4. Conteúdos de curta duração são uma aposta de valor

Em abril, pico da pandemia, o aplicativo de vídeos curtos TikTok chegou à marca de 2 bilhões de instalações, segundo dados da consultoria Sensor Tower. O número, além de impressionar, aponta para uma tendência: o crescente interesse dos usuários em conteúdos de curta duração.

A igreja pode aproveitar essa oportunidade para se aproximar do público jovem e adolescente, principal audiência de ferramentas como o TikTok e o Instagram Reels. E o melhor é que não é preciso conhecimento técnico para produzir conteúdo nessas plataformas, já que elas são de uso simples e intuitivo. 

Além disso, estudos apontam que o tempo médio de atenção das pessoas está diminuindo cada vez mais, sendo atualmente de 8 segundos. Isso significa que, se você fizer um Instagram Reels de 15 segundos, por exemplo, conseguirá prender a atenção do público por, pelo menos, a metade do tempo. Criar conteúdos rápidos é, portanto, uma forma de falar com o público de maneira direta e descontraída.

5. Diversificar os formatos de conteúdo é fundamental para não cair na mesmice

As lives foram um dos formatos de maior sucesso durante a quarentena. Cantores, influenciadores digitais, empresas e igrejas fizeram milhares de transmissões ao vivo para tentar suprir a ausência do espaço físico. E deu certo… 

…Mas só por um tempo. Dados do Google Trends, ferramenta que monitora pesquisas na internet, mostram que a procura pelo termo “live” registrou queda expressiva a partir de junho. O que aconteceu? A overdose de transmissões ao vivo acabou saturando as pessoas.

Isso aponta para a importância de diversificar o conteúdo. Por mais que um formato esteja fazendo sucesso, é preciso usá-lo com moderação e estratégia, não apenas porque “está na moda”.

6. Monitorar informações é uma das melhores formas de mapear oportunidades 

Poucos assuntos foram tão comentados nos veículos de imprensa e redes sociais nos últimos meses quanto a pandemia de Covid-19. Com o interesse público em torno do tema, cresceu o número de ações de comunicação pautadas por dados, ou seja, pensadas a partir do monitoramento de informações.

Ao acompanhar a evolução da agenda da mídia e dos indicadores externos, a equipe de comunicação para igrejas pode identificar oportunidades para produção de conteúdo. Além disso, a igreja tem a chance de fazer a diferença ao se posicionar em assuntos que atraem a atenção da sociedade. Para identificar tendências, você pode usar ferramentas como Google Trends e os Trending Topics do Twitter.

7. Lidere com esperança, não com medo

Em momentos de crise, a igreja deve se lembrar de que foi chamada para algo maior, para além dos problemas deste mundo. Embora o cenário de incertezas traga medo, é preciso confiar em Deus e em Sua vontade, que é boa, perfeita e agradável. Com a comunicação digital, as igrejas podem alcançar pessoas que talvez nunca entrariam em um templo. Por isso, não se esqueça de liderar com esperança, levando uma mensagem de paz aos que estão aflitos. 

Fonte: https://inchurch.com.br/blog/comunicacao-para-igrejas-pos-pandemia/


Estevam Hernandes: "Se você está na Renascer e é PT, é esquerda, amém".

 Estevam Hernandes, líder da igreja evangélica fundada em 1986 em São Paulo, já votou em Lula e agora apoia Jair Bolsonaro

“Se você está na Renascer e é PT, é esquerda, amém”
Foto: Reprodução/Instagram

Estevam Hernandes, líder da Igreja Renascer, disse à Folha que “estamos vivendo a república do ódio, e aí fica muito complicado falar sobre tolerância”.

Ele disse que considera “absurdo” chamar Jair Bolsonaro de “genocida”.

“Sabe, acho sinceramente um absurdo, um absurdo, pegar um homem e falar que ele é genocida dentro de uma pandemia.”

Hernandes, que já votou em Lula e hoje está com Bolsonaro, afirmou ao jornal paulista que dificilmente a esquerda reconquistará a maioria evangélica. Mas ele tentou evitar a polarização.

“Se você está na Renascer e é PT, é esquerda, amém. (…) Às vezes as pessoas falam, ‘Deus não é de direita nem de esquerda, Deus é amor’.”

Fonte: Site O Antagonista.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Uma análise sobre a crise espiritual da igreja evangélica nos Estados Unidos (Parte 2)

 O que explica essa queda abrupta, vertiginosa e contínua da igreja evangélica nos Estados Unidos nos últimos 30 anos, evidenciada pelos dados que apresentamos no meu último artigo?

 
Creio que há um consenso que resume tudo: os Estados Unidos estão em decadência moral e espiritual, e isso não é de hoje. Há quem acredite que por volta de 1950 a semente dessa decadência começou a ser plantada, já que várias vozes no meio evangélico se levantaram nesse período denunciando tendências perigosas que estavam começando a se formar naquela época no meio evangélico. Só a título de amostra, podemos lembrar dos artigos-alertas de A. W. Tozer (1897-1963) nesse período, publicados posteriormente em livro, como é o caso de The Root of the Righteous, de 1955; e da obra Why Revival Tarries, de Leonard Ravenhill (1907-1994), publicada em 1959 (Essas obras foram publicadas décadas depois em nosso país sob os títulos A Raiz dos Justos e Por que Tarda o Pleno Avivamento?, respectivamente). Outros exemplos poderiam ser citados de obras que faziam sinalizações nesse sentido, mas o conteúdo desses dois títulos – que se tornariam clássicos – já é suficientemente emblemático. Não obstante essas preocupações, a igreja evangélica nos EUA continuava muito forte e crescendo.
 
É importante frisar aqui que quando falo de “tendências perigosas” e “crise espiritual” não estou falando especificamente da existência de movimentos heréticos no meio evangélico norte-americano, pois estes sempre existiram e, apesar deles, a igreja evangélica nos EUA continuava crescendo na maior parte do século 20. Estou falando de decadência moral e espiritual de forma geral. Os movimentos heréticos, claro, contribuem para isso, mas fato é que essa decadência pode existir independente da existência ou não de fortes movimentos heréticos.
 
A Igreja Primitiva, por exemplo, sofreu com fortes heresias durante os primeiros séculos da sua existência, as quais trouxeram muitos prejuízos para ela naqueles dias, sem dúvida alguma; mas, esses movimentos heréticos não foram – assim como a perseguição secular também não foi – estorvo suficiente para paralisar o crescimento da igreja nesse período, pois a igreja naqueles tempos, em sua esmagadora maioria, não perdera ainda a sua integridade moral e espiritual. Já nos séculos seguintes, a corrupção moral e espiritual aumenta, e com ela a paganização da igreja; e se a igreja ainda continua crescendo no período medieval, é, em algumas circunstâncias, devido à graça de Deus e aos esforços de alguns por Ele instrumentalizados de alguma forma; e em outras situações, a um crescimento que é um verdadeiro inchaço, com muitos cristãos meramente nominais ou pagãos cristianizados às custas da paganização do cristianismo oficial.
 
O problema maior da igreja evangélica dos Estados Unidos de algumas décadas para cá, como apontavam Tozer e Ravenhill, é sobretudo as tendências negativas sutis de ordem espiritual que muitas vezes passavam despercebidas, invadindo-as sem qualquer vigilância atenta, e que cobrariam um alto preço mais tarde.
 
Nos anos de 1950 a 1970, não havia ainda uma crise espiritual generalizada instalada nos EUA, mas apenas tendências preocupantes sinalizadas aqui e acolá que ainda não comprometiam o todo. A maioria da igreja estava em vitalidade moral e espiritual. Entretanto, no final dos anos de 1980, a coisa aparentemente começou a degringolar. Ao que parece, 30 anos depois, o que era uma tendência cresceu e começava a produzir os seus frutos.
 
O final dos anos de 1980 seriam marcados pelos maiores escândalos do meio evangélico norte-americano desde a fundação do país, os quais só seriam superados décadas depois. Essa é a época de obras como Set the Trumpet to thy Mouth (1985), do falecido David Wilkerson (publicado no Brasil como Toca a Trombeta em Sião, CPAD); de Integrity Crisis (1988), do falecido Warren Wiersbe (publicado no Brasil como Crise de Integridade, Editora Vida); e Integrity (1993), do também falecido Richard Dortch (publicado no Brasil como Orgulho Fatal, CPAD).
 
Então, como se essa onda de escândalos dos anos 80 tivesse sido um presságio, vemos, de 1990 em diante, a decadência começando de fato, evidenciada eloquentemente pelos números.
 
Quando digo “decadência”, obviamente não estou afirmando que todas e cada uma das igrejas daquele país estão em decadência. Há muitas igrejas ali que estão bem, graças a Deus. Falo do panorama geral do protestantismo nos EUA, da igreja evangélica como um todo naquele país. E este não é um diagnóstico a partir de uma coleção de fatos estarrecedores, porque às vezes fatos estarrecedores são apenas fatos isolados, não representando o estado majoritário de uma comunidade, logo não podem servir sempre de referência. Aludo a fatos estarrecedores também, mas corroborados por números. Os números estão aí para provar que, mais do que uma coleção imensa de fatos tristes nos últimos anos, há uma decadência em ritmo vertiginoso.
 
De 1990 para cá, como vimos no último artigo, os evangélicos despencaram percentual e numericamente. Desde 2012 – ano em que, pela primeira vez na história, os evangélicos passaram a não ser mais maioria no país, caindo para 48% da população, eles passaram a ser vistos como não mais determinantes nas eleições daquele país. Lembremos que 2012 foi o ano da reeleição de Obama, o qual foi reconduzido ao cargo não obstante a maioria dos evangélicos não ter votado pela sua reeleição. A própria imprensa secular nos EUA celebrou esse fato na época. Aliás, o próprio Obama, quando presidente, diria que os EUA “não é mais uma nação cristã”, mas, sim, uma nação cristã, muçulmana, ateia, budista etc.
 
A queda dos evangélicos, celebrada pela imprensa liberal em 2012, era prevista. Os especialistas sabiam que era uma questão de tempo. Afinal, como vimos, de 1990 a 2004, em apenas 14 anos, os evangélicos já haviam despencado de 60% para 53%; e de 2004 a 2008, em apenas 4 anos, caíram de 53% para 50%. Logo, quatro anos depois, cair para 48% não era nada inesperado. Era previsível. E a queda avançou, chegando agora, 9 anos depois da perda da hegemonia, para 40%.
 
Não só a imprensa acompanhava a evolução dessa queda nesse período, mas a própria igreja evangélica norte-americana estava ciente dela e reagiu nas últimas décadas de formas distintas diante do problema. Alguns acharam que, uma vez que só as igrejas neopentecostais cresciam muito (embora esse crescimento fosse artificial, atraindo mais crentes de outras igrejas do que ganhando pessoas não-crentes para Cristo), seria melhor aderir à teologia da prosperidade e à confissão positiva, enquanto outra parte passou a atribuir a queda dos evangélicos exclusivamente a esses movimentos que envergonhavam o evangelho puro, de maneira que a solução dos problemas seria não só combater essas heresias, mas também empreender uma volta radical ao que seria “A ortodoxia protestante original”, aquela que fundou a América. Isso gerou, entre outras coisas, movimentos como o neocalvinismo, o neopuritanismo etc, que seriam a solução, pois seriam “A volta ao evangelho”.
 
Por outro lado, os dados do Instituto Barna mostravam a influência crescente dos valores da pós-modernidade sobre os evangélicos nos EUA nas últimas décadas. Logo, o neopentecostalismo não era mais o único problema. Havia também a pós-modernidade, que muitos vão considerar até como sendo “O” problema de fato. Sim, a influência da pós-modernidade é um problema, assim como as heresias neopentecostais são um problema também, mas os problemas da igreja evangélica nos EUA não se resumiam a esses. Tanto é que, não demorou muito, outras reações surgiram para tentar explicar e combater a queda da igreja evangélica no país, pois essas duas reações não eram suficientes.
 
Enquanto isso, em outra vertente, alguns evangélicos, ignorando as discussões teológicas, resolveram focar, de forma mais pragmatista, em novos métodos de crescimento de igreja: para uns, a saída seria o sistema de igreja em células, baseado no sucesso desse sistema de organização eclesiástica na Coreia do Sul; para outros, seria o modelo da “igreja sensível aos que buscam”, de Willow Creek, dentre tantos outros métodos concebidos. Muitas igrejas aderiram a esses modelos, que fizeram elas até crescerem, principalmente atraindo crentes afastados de outras igrejas; entretanto, décadas depois, viu-se que isso não serviu para alterar o panorama geral das igrejas no país, além do que alguns desses modelos adotados foram vistos como fundamentalmente falhos – caso de Willow Creek, cujo líder admitiu há pouco mais de dez anos que, não obstante a sua igreja ter crescido muito sob o modelo utilizado, ela gerou uma igreja com membros espiritualmente superficiais.
 
Paralelamente a isso, na virada do século 20 para o século 21, alguns pastores e teólogos norte-americanos, observando as mudanças na sociedade na era pós-moderna e entendendo que o problema do gráfico descendente das igrejas no país era não estarem atentas e sintonizadas a essas mudanças, passaram a defender que, em vez de lutar contra a pós-modernidade, a igreja evangélica nos EUA deveria se adaptar a ela para sobreviver como igreja. Assim surgiu o Movimento de Igrejas Emergentes. Bem, a verdade é que, como nos outros casos, com o passar do tempo, esse movimento não só não resolveu o problema da queda da igreja evangélica como grande parte dessas igrejas acabaram se tornando mais parecidas com o mundo do que com o evangelho.
 
Ainda dentro dessa linha, porém tentando fugir do que se tornaram algumas igrejas e líderes do Movimento de Igreja Emergente, outros irmãos passaram a defender uma “reinvenção” do evangelicalismo como saída, já que a igreja não estaria mais conseguindo se comunicar com o mundo, mais propriamente com este novo mundo. Não era uma mudança na essência do evangelho, mas apenas na embalagem e na linguagem. Era preciso, dizia-se, um evangelicalismo “mais humilde” e mais despojado, menos formal; outros dirão também que seria necessário um evangelicalismo mais voltado ao social; outros ainda falarão de um evangelicalismo “mais de centro” (seja lá o que isso signifique – as definições do que isso seria são as mais variadas) ou de “revisar o centro” teologicamente falando, revisitando o que há de bom de certas correntes históricas do protestantismo e fazendo uma mistura disso. Falou-se também de um “conservadorismo mais compassivo” ou de “uma ortodoxia mais generosa”, motes usados originalmente pelos fundadores do Movimento de Igrejas Emergentes e que agora haviam sido reciclados. Enfim, o evangelicalismo deveria mudar, deveria ter uma nova face. Todas essas discussões acabaram influenciando a própria estética do culto; a forma de apresentação e de vestimenta dos pastores; a estética dos templos; os estilos musicais; a elaboração de uma nova linguagem supostamente mais adequada aos novos tempos, mas tendo o cuidado para não se perder a essência do evangelho; os estilos musicais etc.
 
Não necessariamente todas essas mudanças são ruins. O problema, contudo, é que todas elas são erros de premissa, sequer tocando no cerne do problema. Tanto é que nada disso adiantou: os evangélicos continuaram e continuam caindo nos EUA, não obstante todas essas mudanças aplicadas.
 
Também paralelamente a isso tudo, muitos cristãos passaram a se preocupar com a necessidade de os cristãos se envolverem mais com as questões culturais e políticas do nosso tempo, já que a influência cristã na cultura, na academia e na política havia caído absurdamente nos EUA nas últimas décadas, com o avanço do progressismo, do secularismo e até do marxismo em plagas norte-americanas. Veio, então, nos anos de 1990, o movimento de cosmovisão cristã, inspirado nos escritos do falecido Francis Schaeffer. Seus seguidores começaram a desenvolvê-lo no início dos anos de 1990, mas ele cresceu de fato a partir da primeira década dos anos 2000 (Charles Colson, Nancy Pearcey etc). O movimento tem suas virtudes e importância. Porém, esse engajamento foi visto por alguns como “A Solução”, o que não é o caso. O problema da queda dos evangélicos e do Cristianismo nos EUA não será resolvido apenas por uma agenda de guerra cultural. Ela tem seu valor, mas não é tudo.
 
Na esteira desse engajamento cultural, houve ainda a ascensão da apologética cristã, com a valorização maior de nomes que já militavam havia um bom tempo nessa área, como Norman Geisler, William Lane Craig, Hank Hannegraff, Ravi Zacharias etc. Mas, mesmo muitos desses fazendo um grande trabalho de base e tendo excelente desempenho em debates públicos contra estrelas do ateísmo ou do liberalismo/progressismo, os evangélicos continuaram caindo nos EUA. E mais uma vez, não porque esse trabalho não seja importante. Longe disso! Apenas não é o suficiente e não toca no cerne da coisa. Tanto é que Ravi Zacharias teve um final triste e Hank Hannegraff terminou abandonando o protestantismo e se tornando membro da Igreja Ortodoxa. Porque o problema é mais fundo.
 
Não é que o trabalho na área cultural não deva ser feito, nem que o labor apologético não seja necessário, nem muito menos que não tenha sua importância se preocupar em levar o evangelho sabendo se comunicar bem com esta geração sem abrir mão da ortodoxia bíblica. A questão é, na verdade - o problema é, sobretudo -, de ordem espiritual, no sentido de qualidade da vida espiritual da maioria dos crentes norte-americanos.
 
Muitos dos problemas enfrentados pelos irmãos norte-americanos (heresias neopentecostais, influência da pós-modernidade, guerra cultural, necessidade apologética) são conhecidos também pelos irmãos nas Américas Central e do Sul, na África e na Ásia (aliás, todas essas ondas nos EUA influenciaram também as igrejas evangélicas nas outras regiões do mundo), mas nestas regiões, apesar de todos esses problemas, as igrejas evangélicas – no panorama geral – têm crescido, enquanto nos EUA e na Europa, com os mesmos problemas, não. Por quê? Talvez porque, ao que tudo indica, apesar dos muitos problemas que também temos, há ainda, na média geral, muita vitalidade espiritual nessas outras regiões, graças a Deus.
 
Com isso, claro, não estou dizendo que não há igrejas problemáticas nas outras regiões do mundo onde agora está havendo crescimento, nem que as igrejas nos EUA ou mesmo na Europa estão todas e cada uma delas em decadência, mas estou dizendo – volto a frisar – que o panorama geral nessas regiões de que falei é de crescimento apesar dos problemas, enquanto nos EUA, como na Europa, é de decadência, e que isso, ao que tudo indica, tem a ver com uma provável média geral de vitalidade espiritual maior nas igrejas nessas regiões do que nos EUA e Europa, apesar de toda riqueza, história e cultura das igrejas nos EUA e na Europa.
 
Ou seja, a igreja nos EUA e na Europa precisam de um avivamento. Sim, aqui há igrejas que precisam de um avivamento também, assim como na África e na Ásia, mas não há sombra de dúvida de que na Europa e nos EUA a situação é muito mais premente.
 
Aumento do conhecimento bíblico e doutrinário, aprimoramento apologético e zelo na ortodoxia, bem como a preocupação com a comunicabilidade e com o uso de novas tecnologias na vida da igreja, são importantíssimos, mas nada disso é suficiente se não há vitalidade espiritual. Tudo isso pode produzir, em muitos casos, até aparência de vitalidade, mas só aparência.
 
Hank Hannegraff abandona o protestantismo e se torna cristão ortodoxo. Ted Haggard, até então um dos evangélicos mais influentes do país e presidente da Associação Nacional dos Evangélicos nos EUA, cai em um terrível escândalo. Há o caso do falecido Ravi Zacharias. Há também a Liberty University processando seu ex-presidente Jerry Fawell Jr. em 10 milhões de dólares por escândalo sexual. Paul Maxwell, doutor em Teologia e professor de Filosofia do Instituto Bíblico Moody, mais conhecido como um dos principais articulistas e autores do ministério Desiring God, do pastor John Piper, anunciou em 9 de abril, em suas redes sociais, que não é mais cristão e que está “feliz com isso”. A própria igreja de Piper, a Igreja Batista de Bethlehem, em Minneapolis, desde que ele se aposentou do pastorado há 9 anos, já está no quarto pastor, após quatro renúnicas seguidas em quatro meses, todos renunciando após acusarem o presbitério da igreja de exercer "uma liderança tóxica e abusiva" (Segundo se fala, o presbitério não aceitou que esses pastores aplicassem na igreja a Teoria Crítica da Raça, o igualitarismo ministerial e uma maior flexibilização na área do divórcio). O pastor Joshua Harris, que foi uma referência para muitos jovens cristãos nos EUA nos anos 2000, como líder de um movimento de pureza sexual, com abstinência até o casamento, resolveu, em 2010, preocupado por estar sendo taxado de “fundamentalista”, “sexista” e “radical” por suas posições, dizer que defendia uma “ortodoxia humilde”; depois, em 2016 e 2017, pediu desculpas sobre alguns de seus posicionamentos nessa área; em 2018, chegou ao ponto de tirar de circulação a sua principal obra tratando sobre namoro, com mais de 1,2 milhão de exemplares vendidos; e em 2019, passou por uma crise no casamento, se divorciou e anunciou que não era mais cristão, decisão mantida até hoje.
 
Poderia citar muitos outros casos recentes, enfileirar caso após caso dos últimos anos, mas vamos parar por aqui. Voltemo-nos agora para o ápice desse quadro todo, o principal sintoma dessa queda vertiginosa, que é a atual divisão visceral vivida pela igreja evangélica nos EUA. Nos Estados Unidos, o país e a igreja estão divididos. E é sobre isso que trataremos no próximo e último artigo desta série.

Fonte: Silas Daniel - http://www.cpadnews.com.br/blog/silasdaniel/

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Uma análise sobre a crise espiritual da igreja evangélica nos Estados Unidos (Parte 1)

De 1990 para cá, enquanto o evangelho tem experimentado um verdadeiro “boom” de crescimento nas Américas Central e Sul, no continente africano e na Ásia, o que se vê nos Estados Unidos é uma queda vertiginosa. E essa queda, frise-se, não é só em relação aos evangélicos: é uma queda do cristianismo ali de forma geral, de 1990 para cá, e de forma impressionante. Vejamos primeiro o caso específico dos evangélicos, que é o que mais nos toca.

 
Em 1990, os evangélicos eram 60% da nação. Em 2007, eles eram 51%; em 2012, 48%; em 2014, 47%; em 2018, 43%; e em 2021, 40%. Veja: de 1990 a 2021, em apenas 31 anos, os evangélicos nos EUA caíram de 60% da população para, segundo o levantamento do Instituto Gallup publicado em março deste ano, apenas 40% (sic). Isso é uma queda de um terço em apenas três décadas! Isso é maior, por exemplo, do que a queda do catolicismo no Brasil.
 
Em 1970, os católicos eram 91,8% da população brasileira; e em 2010, 64,6% – ou seja, uma queda de 29,6% em quatro décadas, enquanto nos EUA os evangélicos caíram 33,3% em apenas três décadas. Outra coisa: os católicos no Brasil caíram percentualmente, mas continuam crescendo numericamente, enquanto os evangélicos nos EUA, nas três últimas décadas, caíram percentual e numericamente.
 
Em 1776, ano da independência dos EUA, os evangélicos eram 97,6% da população norte-americana; no ano de 1900, eram 90% – ou seja, após 124 anos, houve uma queda irrisória percentualmente falando, sem falar que, em contrapartida, houve enorme crescimento numérico dos evangélicos nesse período. É apenas durante o século 20 que haverá a primeira queda percentual realmente significativa dos evangélicos nos EUA, mas, mesmo nesse caso, há ainda ressalvas importantes. É verdade que de 1900 a 1990 os evangélicos nos EUA caíram de 90% para 60% da população, uma queda também de 33,3%; mas, além de essa queda ter se dado em 90 anos e não em 30 anos (ou seja, durou três vezes mais tempo), há sobretudo o fato de que, nesse período, os evangélicos continuaram crescendo numericamente de forma muito significativa, o que não ocorreria de 1990 em diante. A queda percentual de 1900 a 1990 se devia não a uma falta de crescimento dos evangélicos, mas ao crescimento exponencial da imigração para os EUA de latinos, italianos e irlandeses durante o século 20, o que fez aumentar imensamente o número de católicos no país.
 
Ou seja, em termos percentuais, a única diferença do cristianismo nos EUA no século 20 (pelo menos até 1990) em relação ao dos primeiros 124 anos da história daquele país é que, por questões meramente imigratórias, a massa geral de cristãos norte-americanos passou a ser mais heterogênea no século 20, com grande porcentagem de católicos. No mais, os cristãos em geral continuavam sendo a esmagadora maioria da população, permanecendo em torno dos 90%.
 
Por outro lado, quando olhamos para o período subsequente, de 1990 a 2021, vemos exatamente o contrário:
 
(1) Houve uma queda abrupta do número de evangélicos, da ordem de 33,3%, em apenas 31 anos!
 
(2) Essa queda não foi apenas percentual, mas numérica. A população dos EUA em 1990 era de 250 milhões de pessoas, o que significa dizer que, se 60% da população era evangélica nessa época, havia 150 milhões de evangélicos no país naquele tempo. Já em 2021, quando a população dos EUA é de 330 milhões de pessoas, apenas 40% da população é evangélica, o que significa que há atualmente 132 milhões de evangélicos naquele país – isto é, 18 milhões a menos do que 31 anos atrás. Isso é mais do que a população da Holanda, mais do que a população do estado do Rio de Janeiro. Em outras palavras, nem o crescimento vegetativo foi suficiente para cobrir o buraco crescente de evasão dos anos que se seguiram.
 
(3) Trata-se também de uma queda dos cristãos no país de forma geral, ou seja, os católicos inclusos. Estes caíram de 30% para 20% em 31 anos. Segundo o Gallup, se somarmos católicos e evangélicos hoje nos EUA, eles representam juntos 60% do país, a mesma porcentagem que os evangélicos representavam sozinhos naquele país até 1990, isto é, um dia desses. Se considerarmos de 2007 para cá, isto é, apenas os últimos 14 anos, a queda do número de cristãos nos EUA foi de incríveis 15% – de 75% de cristãos em 2007 para 60% em 2021. Em 2007, havia 225 milhões de cristãos nos EUA, enquanto em 2021 há apenas 198 milhões – 27 milhões a menos, ou seja, quase 2 milhões a menos por ano. Isso significa que não está ocorrendo nos EUA uma forte migração de cristãos de um segmento para outro do cristianismo (como ocorre no Brasil) sem afetar o número geral de cristãos no país, mas uma queda mesmo do número de cristãos de forma geral, sejam eles evangélicos ou católicos.
 
Aqui, um parênteses para uma curiosidade: segundo pesquisa Datafolha de 2016, 48% dos evangélicos no Brasil nasceram em lares evangélicos e sempre foram a vida toda de uma única denominação; 44% são católicos que se tornaram evangélicos; 4% são evangélicos que migraram de denominações tradicionais para igrejas pentecostais; 2% vieram do espiritismo para a igreja; 1% é de pentecostais que migraram para igrejas tradicionais; e o 1% restante veio da umbanda, do candomblé e de outras religiões para a igreja. Isso significa dizer que 48% é fruto de crescimento vegetativo, 47% é fruto de evangelização e 5% é de crentes que migraram entre denominações, com a migração sendo 4 vezes maior de tradicionais se tornando pentecostais e não o contrário. 
 
Mas, voltemos aos Estados Unidos.
 
A pesquisa nos EUA supracitada, de março deste ano, feita pelo Instituto Gallup, também revelou que, pela primeira vez na história, menos da metade dos norte-americanos – sejam eles católicos, evangélicos, ortodoxos, judeus ou islâmicos – pertencem a alguma igreja, sinagoga ou mesquita. Mais precisamente, apenas 47% dos norte-americanos se declaram membrados a alguma casa de culto, seja igreja, sinagoga ou mesquita. Desde 1937, o Gallup faz levantamentos sobre a religiosidade nos EUA e, segundo esses levantamentos, de 1937 a 2000, o número de norte-americanos que se declaravam filiados a alguma casa de culto oscilou de 76% a 68%, sendo que no ano 2000 era de 70%. Porém, de 2000 a 2020, foi só ladeira abaixo: em 2005, eram 64%; em 2010, 61%; em 2015, 55%; e em 2020, 47%. Isso significa uma queda de 23 pontos percentuais em 20 anos, enquanto de 1937 a 2000 – isto é, em 63 anos – foram apenas 6 pontos percentuais de queda.
 
Enquanto isso, o número de pessoas que se declaram sem nenhuma religião nos EUA chegou a 21% em 2021, segundo o Gallup, mas pode ser pior, já que, segundo outros censos divulgados também em março deste ano, esse número já seria de 30%. Os cristãos em geral (católicos, ortodoxos e protestantes) caíram para 63% em 2019, segundo o Pew Research, e para 60% em 2021, segundo o Gallup. Lembrando que apenas um terço dos evangélicos nos EUA frequentam a igreja toda semana – ou seja, a grande maioria não o faz.
 
Portanto, hoje temos 30% da população norte-americana de pessoas sem religião e apenas 40% de evangélicos, mas com só um terço deles indo à igreja; e cristãos ao todo são apenas 60% da população e caindo (há apenas 30 anos, eram cerca de 90%). Traduzindo: os sem-religião já são METADE do tamanho dos cristãos no país e só 25% menor que a quantidade de evangélicos nos EUA – e se você comparar apenas com os evangélicos praticantes, os sem-religião JÁ SÃO o maior grupo no país. Sem dúvida alguma, a igreja está perdendo terreno nos Estados Unidos.
 
Bem, há pelo menos algum sinal à vista hoje de que isso pode mudar? Infelizmente, não. Segundo outro levantamento feito, cresce a cada ano o número de crentes nos EUA que não compartilham a sua fé como deveriam – inclusive o número daqueles que nem fazem mais isso.
 
O Instituto Barna fez três levantamentos sobre isso nos EUA – um em 1993, outro em 2018 e um mais recente em 2019, os dois últimos com resultados assustadores. Na pesquisa de 1993, 89% dos crentes entrevistados afirmavam que todo cristão tem a responsabilidade de compartilhar a sua fé, o que nada mais é do que cumprir a Grande Comissão instituída pelo Senhor Jesus em Mateus 28.19,20 e Marcos 16.15. Porém, em 2018, apenas 64% afirmaram concordar com isso – uma queda de 25 pontos percentuais em 25 anos. Para piorar, uma pesquisa do Barna realizada ano passado revelaria ainda que 47% dos cristãos nos Estados Unidos situados na “Geração Y” ou “Millennial” (nascidos entre os anos de 1980 e 2000 – ou seja, pessoas com a idade hoje entre 39/40 e 19/20 anos) simplesmente afirmavam considerar errado evangelizar, numa demonstração de que a cultura pós-moderna do “politicamente correto” e do relativismo cultural, que absurdamente considera o evangelismo algo “ofensivo”, já contaminou praticamente metade da juventude evangélica norte-americana de nossos dias.
 
O esfriamento evangelístico tem afetado as igrejas evangélicas nos EUA de forma geral, de maneira que, se não se cuidarem, elas poderão ter o mesmo fim do protestantismo europeu. Em 2018, segundo pesquisa do Pew Research Center, não obstante 64% da população europeia ainda se dizer cristã, 70% destes eram não-praticantes. Isso significa dizer que somente 30% dos cristãos europeus (o equivalente a 18% da população da Europa) eram cristãos praticantes, que não apenas professavam a fé, mas também frequentavam suas igrejas.
 
Ora, com menos cristãos engajados, menos evangelização; e com menos evangelização, a igreja não cresce. Essa é a realidade da Europa já há algum tempo e é a dos EUA também hoje.
 
Como os EUA chegaram a isso? No próximo artigo, pretendo tratar das principais razões desse declínio.

Fonte: Silas Daniel. Link: http://www.cpadnews.com.br/

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Subídio para Lição nº 04 da EBD - Elias e os profetas de Aserá e Baal



 O episódio que envolveu Elias e os profetas de Baal nos faz pensar sobre a crise espiritual e moral que assola o sistema religioso evangélico e político no Brasil.


UMA PALAVRA SOBRE “SISTEMAS”

Estar (fisicamente) num sistema, não significa necessariamente "ser" (essencialmente ou ideologicamente) deste sistema.

Numa perspectiva macro, Jesus falou disso em João 17.14-18, onde substituirei no texto o termo "mundo" (macrossistema, caído e influenciado por satanás) por "sistema" (organizações religiosas, corporativas, políticas, etc., microssistemas influenciados pelo macrossistema):

Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o "sistema" os odiou, porque eles não são do "sistema", como também eu não sou. Não peço que os tires do "sistema", e sim que os guarde do mal. Eles não são do "sistema", como também eu não sou. Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao "sistema", também eu os enviei ao "sistema". (Jo 17.14-18)
Percebe-se no texto a possibilidade clara de "estar no", sem "ser do".

Os profetas bíblicos, e Elias e Eliseu se enquadram aqui, não foram enviados de outras nações (sistemas politicamente constituídos) para profetizar contra os pecados de Israel e Judá. Eles viviam no sistema (nação israelita e judaica politicamente constituída), e do sistema foram levantados contra o próprio sistema (nação politicamente constituida e influenciada pela idolatria, imoralidade, violência, corrupção, suborno, injustiça social etc).

Foi dessa forma que para Jeremias, filho de Hilquias, um dos sacerdotes que estavam em Ananote, na terra de Benjamim, o Senhor falou em Jr 1.17-19.

Observe que Jeremias era filho de sacerdote e morador de Benjamim. Ele estava diretamente relacionado com o sistema em termos religiosos e políticos, mesmo assim, o SENHOR o escolheu de dentro do sistema para se posicionar contra o sistema, sem se isolar do sistema, Jr 1.10.

Ezequiel é um outro exemplo de profeta cuja origens remonta à família sacerdotal (ministros religiosos do sistema). Dele no diz a Bíblia em Ez 1.1-3.

Ezequiel não apenas estava no sistema, como, inclusive, foi vitimado pelas consequências da desobediência a Deus que dominava o sistema, sendo levado cativo para a Babilônia junto com os demais integrantes do sistema.

Isaías tinha uma alta posição social no sistema, visto a liberdade com que transitava na corte real (Is 7.3-17; 39.3), a maneira como intervinha em questões de Estado (Is 37.5-7) e como se relacionava com os sacerdotes e portadores de altos cargos (Is 8.2). Mesmo assim, com toda esta liberdade e envolvimento com ilustres personagens do sistema, foi de dentro deste sistema e para profetizar contra este sistema que o Senhor o levantou.

Mesmo os profetas que não estavam muito próximos do centro do sistema (Jerusalém e Samaria), como é o caso de Elias (1 Rs 17.1), Amós (Am 1.1), Miquéias (Mq 1.1) e Naum (Na 1.1), de alguma forma se relacionavam com o sistema.

Sim, é possível estar no sistema sem ser do sistema; é possível conviver no sistema e ser contra o sistema; é possível realizar coisas boas no sistema e denunciar as coisas ruins do sistema; é possível arrancar e derribar no sistema e também edificar e plantar no sistema; é possível ser voz e arauto de Deus "no" e "para" o sistema; é possível ser santo e íntegro no sistema; é possível não se vender e não se render ao sistema; é possível influenciar positivamente no sistema, sem ser influenciado pelo sistema; é possível imitar Jesus.

A QUESTÃO DOS FALSOS PROFETAS

Em relação aos falsos profetas, observe o que nos diz a Bíblia Sagrada em :

"Sabe que, quando esse profeta falar em nome do Senhor, e a palavra de se não cumpri, nem suceder, como profetizou, esta é a palavra que o SENHOR não disse; com soberba, a falou o tal profeta; não tenha temor dele." (Dt 18.22). Leia também Dt 13.1-4.

Perceba que um falso profeta não é apenas alguém que fala (ou prediz) algo em nome de Deus, e que este algo não acontece. O segundo texto deixa claro que um profeta ou sonhador pode anunciar um sinal ou prodígio, e que isto pode vir a acontecer, mas que tal fato não autentica a integridade e a autoridade do profeta, nem a legitimidade da profecia.

Para discernir o falso do verdadeiro a pergunta chave é: Juntamente com a profecia, há um cuidado do profeta em se manter fiel ao Deus da Palavra e à Palavra de Deus?

Os falsos “profetas”, ou seja, aqueles que dizem falar em nome de Deus, são reconhecidos pela ausência de frutos em suas vidas (caráter cristão e compromisso com Deus), ou pela má qualidade dos mesmos. Eles geralmente;

Falam para agradar seus ouvintes (I Rs 22.1-6 ); falam sem serem autorizados por Deus (Ez 13.1-9); suas profecias tendem a afastar o povo da palavra de Deus (Dt 13.1-4); sempre estão procurando tirar vantagens dos seus “dons” (Nm 22.7; Jd 11).

Nos dias de Elias havia também falsos profetas, e estes serviam a Acabe e Jezabel. Os profetas que eram sustentados por Jezabel nos faz pensar em algumas situações atuais, que envolve alguns “mensageiros”. Há profetas bajuladores que somente falam o que o seu “rei” e “rainha” querem ouvir, e assim garantem o seu sustento. Há profetas mercenários que sua mensagem é de acordo com a conveniência do momento e com o valor da oferta. 

Há profetas “agendeiros” que fazem de tudo para voltar às igrejas onde são convidados. Há  profetas que nem crente são, pois nunca nasceram de novo. Há profetas empresários que somente pensam em aumentar seu patrimônio pessoal. Há profetas artistas, que somente pensam em aparecer. 

Assim como nos dias de Acabe e Jezabel, tem muito líder político hoje comprando a consciência e calando a boca de profetas através de esquemas fraudulentos, de cargos e salários para o próprio profeta, ou para os seus parentes e familiares.

Apesar dos profetas de Baal e do poste-ídolo de nossos dias, ainda existem nas ruas, praças e templos, no interior e nos grandes centros urbanos do Brasil, homens levantados e sustentados pelo Deus de Elias.

Fonte: www.altairgermano.net/