quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O apelo de Dilma às igrejas e a questão do aborto em caso de microcefalia

A presidenta Dilma Rousseff fez hoje (10) um apelo a todas as igrejas cristãs para que mobilizem os fiéis no combate ao mosquito transmissor do vírus Zika.
Dilma recebeu esta tarde, no Palácio do Planalto, líderes de diferentes denominações religiosas para pedir que ajudem na orientação à sociedade sobre o trabalho para eliminar os criadouros do Aedes aegypti, que também transmite a dengue e a febre chikungunya.
Brasília - A presidenta Dilma Rousseff recebe representantes do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, no Palácio do Planalto (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A presidenta Dilma Rousseff recebe representantes do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil no Palácio do Planalto Marcelo Camargo/Agência Brasil

A presidenta destacou que as lideranças religiosas possuem credibilidade para engajar os fiéis no combate ao inseto, evitando o acúmulo de água parada em casa. Segundo o governo, dois terços dos focos do mosquito estão localizados em residências.

Mais cedo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) lançaram a Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016, cujo objetivo é alertar sobre o direito de todas as pessoas ao saneamento básico e debater políticas públicas e ações que garantam a integridade e o futuro do meio ambiente.
De acordo com o bispo dom Flávio Irala, presidente do Conic, Dilma lançou fez o convite e lançou um “desafio” para que as congregações ajudem na mobilização. “Historicamente, somos deficitários quanto à questão do saneamento básico. Mas a gente vê uma grande vontade e um grande investimento que já tem sido feito pelo atual governo no sentido de resolver esse sério problema”, disse.
 
O bispo disse que o cuidado com o espaço comum também é de responsabilidade dos moradores, e não somente do Poder Público, e que o objetivo da campanha é fazer um “grande chamado” para que os cristãos participem dos conselhos municipais e cobrem melhorias no saneamento. Segundo o presidente da Aliança Batista do Brasil, Joel Zeferino, o tema ainda é um “grande problema” que não foi resolvido no Brasil.

Aborto em casos de microcefalia divide opinião de igrejas
Diante do aumento dos casos de microcefalia em bebês filhos de mulheres que contraíram o vírus Zika, o debate sobre o aborto voltou à tona entre especialistas e religiosos. As lideranças das igrejas disseram que o tema não foi tratado na reunião com Dilma, mas concordaram com a urgência de se aprofundar no assunto.
 
 
De acordo com Joel Zeferino, a Aliança Batista do Brasil ainda não tem uma posição a respeito do tema. “Nós entendemos que este é um tema que precisa ser discutido com a sociedade de forma muito democrática e aberta, e sobretudo, é preciso incluir nesse debate as mulheres que sofrem esse aborto e sobretudo as mulheres de periferia das nossas cidades, as mulheres negras, que são aquelas que de fato fazem esses abortos ilegais. Todos falam a respeito do tema, menos as mulheres que sofrem esse aborto, então é preciso empoderá-las”, afirmou.

“Tudo isso é um processo que precisamos tratar com urgência da questão, mas ainda não temos nenhuma discussão feita”, disse Flávio Irala, bispo da Diocese Anglicana de São Paulo. Já a Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia proíbe todos os casos de aborto, com exceção de quando as mulheres correm risco de morrer.
 
O aborto em casos de microcefalia não é uma questão consensual entre as várias igrejas cristãs no Brasil e seus representantes religiosos que participaram, na manhã desta quarta-feira, do lançamento da campanha da fraternidade, uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O foco da campanha neste ano é o saneamento básico.
 
Enquanto a Igreja Católica, por exemplo, é contra a possibilidade de interromper a gestação, a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil ainda não tem posição formada, e setores da Igreja Batista acham que a mulher deve ter direito ao aborto nesses casos.

A microcefalia é uma malformação na qual os bebês nascem com a cabeça menor que o normal e, na maioria dos casos, leva ao retardo mental. Exames feitos por laboratórios ligados ao Ministério da Saúde mostram ligação entre a epidemia de microcefalia, que atinge principalmente o Nordeste, e o vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, que também é vetor da dengue e da chicungunha. Na sexta-feira da semana passada, a Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que os países atingidos pelo zika permitam o acesso de mulheres à contracepção e ao aborto.