sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Jogos de poder - ontem e hoje.

 




Assisti ao filme “Jogos do Poder”, estrelado pelos atores, Tom Hanks e Julia Roberts. O filme fala sobre a participação dos Estados Unidos na época da invasão soviética no Afeganistão (1979-1989).

Alguns cientistas políticos dizem que foi “o Vietnã”, da ex-União Soviética, e um dos fatores que aceleraram sua queda. Filme a parte, falando agora, sobre o título, jogos do poder e relacionando com a Palavra, pode-se dizer que, tudo é jogo neste mundo caído. Jogo consciente. Jogo inconsciente. Mas é jogo, e nós nem sempre nos damos conta disso.

A prova mais cabal desse “Game” que se instalou como sistema de interpretação e também de prática humanos, nos vem do próprio Trama que "Historificou" a Cruz. Se não, veja: Temos Jesus e seus discípulos. Um movimento cresce... Curas, milagres, doutrina que se difere de tudo e todos; autoridade nunca vista, e um sentimento de maravilha que domina a tudo e todos: Deus visitou os homens!

O povo é apenas o povo. O povo não luta contra curas, milagres, maravilhas, e bondades distribuídas gratuitamente. ! O povo nunca teve nada contra isso, pois, as pessoas do povo são sempre as maiores beneficiárias da Graça. Quem está morrendo de dor só quer alívio... Mas nós sempre temos mais que o povo.

Havia alí outros poderes, outros principados e potestades históricos em operação. Havia o Sinédrio dos Judeus: a Religião na sua mais ousada e segura certeza de autoridade medianeira entre Deus e os homens, onde tudo o que dissesse respeito a Deus, era objeto da “gestão” dos sacerdotes e de seus oficiais. Havia Roma: A Política que se apresenta como poder político.

E seus representantes estavam presentes na judéia nos dias de Jesus, como em qualquer outro lugar. Haviam as seitas e grupos religiosos, que naqueles dias tinham também seu papel político a cumprir. Cada um representava uma visão não apenas religiosa, mas também uma interpretação política do mundo: saduceus, fariseus, os escribas; e os demais grupos: zelotes, sicários e essênios...

Cada um com sua própria agenda de interesses imediatos, sempre relacionados à busca de poder temporal. Mas quem desestabiliza tudo, é sempre o povo! Todos os que não se sentem povo—em qualquer lugar, tempo ou cultura da Terra—, alimentam-se do povo, e do poder que dele emana, no mínimo como força de trabalho, ou de massa de autenticação de autoridade. De súbito, há Jesus, os discípulos e multidão do povo... E não era apenas o povo controlável que seguia a Jesus: haviam os que vinham de outras fronteiras, sem falar que a mensagem do Evangelho se infiltrava em literalmente todas as camadas da sociedade.

Então, primeiro mobilizam-se as seitas: fariseus, saduceus—e seus escribas! Esgrimam com Jesus, disputam a veracidade de Seus feitos e palavras. Interpelam-no. O Evangelho nos dá testemunho vasto, desses encontros, muitos deles extremamente tensos. As interpretações que daí advêm, são as mais perversas: “Tem demônio!” “Samaritano possesso!” “Comilão, beberrão, amigo de pecadores!” “Embusteiro!” São apenas algumas das afirmações que tentam colar em Jesus.

Mas o povo continuava a vir e a receber. O trama todo, é o próprio Evangelho; seria, portanto, impossível tratar do sistema todo sem que, para isso se tivesse que escrever um livro. Não é o caso aqui... Lázaro ressuscita depois de morto há quatro dias, e, tal fato acaba sendo a “gota final” a fim de que as autoridades religiosas decidam matar a Jesus.
“Se o deixarmos, o mundo virá após ele; e os romanos nos tirarão o poder”—considerava o Sinédrio. 

Mas como o Sinédrio haveria de matá-lo? O falso profeta sempre está em parceria com alguma besta política, conforme o apocalipse!
Então, o Sinédrio faz duas coisas:

1. Esconde-se atrás do pretexto de que a questão era religiosa; sou seja: Jesus era um herege. Isto para confundir o povo!

2. Apresenta o caso a Roma como sendo religioso com implicações políticas. E pede a Roma—representada em Pilatos—,que faça alguma coisas, para se auto-preservar de uma possível sublevação do povo, e, conseqüentemente, também para preservá-los como os mediadores da estabilidade e da paz social.

Esse é o “esqueminha” de sempre! Daí pra frente é só um jogo de empurra...
É o Sinédrio empurrando para Pilatos autenticar; Pilatos “não entendendo” e lavando as mãos, abrindo assim o caminho para “outras mãos” que desejam matar se expressarem, agora com o aval silencioso e omisso da Política. E também haviam os “partidos”, mobilizando uma “militância” comprável a fim de fazer algum barulho em Jerusalém.

A mulher de Pilatos ouviu falar do “julgamento” e assustou-se, havia sonhado o desfecho do caso. “Não te envolvas com este justo, pois, em sonho muito sofri a seu respeito”—disse ela. Não era mais possível: o jogo estava feito, e Pilatos estava dentro, sem nem bem saber, o quão envolvido estava. O resultado é a crucificação.

O fato é a Cruz. Mas a motivação não era nem política, nem religiosa, nem de qualquer outra natureza que não fosse a mais psiquicamente animal de todas as motivações entre os humanos: a inveja! Assim, os pretextos são muitos e variados, mas as guerras de fato militam é na carne!

Por trás de todos esses jogos o que há sempre é a basicalidade da inveja e dos pequenos interesses. Se todos fossem apenas povo, a inveja se manifestaria do modo como ela se manifestou nos Evangelhos: Senhor, será que dá para os meus filhos se assentarem ao teu lado no teu reino?—propunha a mãe de Tiago e João. E discutiam pelo caminho quem era o maior entre eles—confirma o evangelho. E assim vai... Mas não há o jogo homicida.

O próprio Judas, a fim de trair, teve que encontrar a interface da Religião a fim de negociar. Um Judas sozinho não faz crucificação! O que aprendemos? Bem, o que move o povo é a necessidade. O que move as seitas é a arrogância da presunção da verdade. O que move Pilatos é a política e a necessidade de não complicar a sua própria “gestão”. O que move o Sinédrio é o medo de perder o poder. O que move Judas é desapontamento.

Mas e o jogo? Ora, o que há por trás do jogo, é o de sempre: inveja dissimulada! Por trás de todas as nossas grandes “causas” o que há é apenas insegurança, pois, a inveja, é a filha mais perversa que a insegurança consegue gerar. O ciúme é o filho mais fraco, porém altamente recrutável para qualquer que seja a missão, inclusive, de morte.

No fim, ninguém matou, apenas porque todos mataram... E a multidão do povão, são sempre os menos culpados; a final: eles não sabem o que fazem!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Um Brasil evangélico?



O novo presidente da Frente Parlamentar Evangélica quer que a representação evangélica no Congresso Nacional chegue a 30%. Pesquisas recentes apontam que a população evangélica está em torno de 31% e continuando nesse rítimo pode chegar logo a 50% da população brasileira.

Tenho estado muito preocupado, ultimamente com o espírito de fanatismo que tem invadido a igreja evangélica no Brasil. Nesses 20 anos, também tenho estado muito alegre por ver que a igreja evangélica tem crescido muito e, com isso, muita gente está encontrando Jesus e, Nele, salvação, libertação, esperança e a possibilidade de uma vida melhor. 

Entretanto, angustia-me ver que, algumas vezes, esse crescimento, o qual tem o seu aspecto extraordinário, vem tomando contornos de algo não tão sadio, adoecido, estranho, que se assemelha à enfermidade, à patologia, redundando em evidências explicitamente fanáticas. Estamos vivendo, hoje no Brasil, um momento no qual precisamos definir o que queremos que aconteça em nossa pátria. Como povo de Deus, temos duas opções: a primeira é querer ver o Brasil evangélico; a segunda é ver o Brasil de Jesus. 

O que queremos? O Brasil pode ser evangélico sem ser de Jesus, como pode também ser de Jesus sem ser evangélico. E pode ser de Jesus e ser evangélico. Se tudo aquilo que fosse de Jesus tivesse que ser, necessariamente evangélico, Jesus só estaria tendo vez na História de 180 anos para cá, quando o “Movimento Evangélico” - tal qual o conhecemos hoje começou a existir. Se, para ser de Jesus o mundo tivesse que ser protestante, Jesus só estaria agindo e atuando nele de 500 anos para cá, quando da Reforma Protestante. 

Enfim, Deus tem meios e modos de fazer que a sua salvação entre no mundo sem, obrigatoriamente, ter que fazê-la evangélica. Digo isto, porque às vezes desenvolvemos esquemas religiosos que se tornam independentes de Deus e divorciados Dele, como uma coisa autônoma. Isso aconteceu com o movimento farisaico do judaísmo, que no início fora um movimento defensor do zelo pelas coisas de Deus, tornando-se, ao final, o “carro-chefe” que deflagou a morte histórica de Jesus.

De igual modo, isto se verificou no cristianismo original dos apóstolos, do Novo Testamento, que 300 anos depois, foi “constantinizado”, transformando-se num movimento de natureza política com vistas à unificação do Império Romano, em decorrência do que a Igreja se foi paganizando, até que ela mesma criou um dos movimento mais escuro da história da civilização humana (a Idade das Trevas) do ocidente, com as Cruzadas e o advento da Santa Inquisição, feitas em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, utilizando a cruz e todos os demais elementos sagrados do cristianismo, ainda que o Espírito Santo, neles não estivesse presente, nos quais Jesus estivesse ausente e nos quais Deus não se manifestou, mas o diabo. 

Nós hoje, estamos vivendo um momento singular, quando vemos a fé espalhando-se pelo Brasil. Aleluia! No entanto, a pergunta que devemos nos fazer, com relação à expansão da fé neste país, é o que queremos que aconteça com o Brasil. Queremos vê-lo apenas tornar-se uma nação evangélica, tendo templos em todos os lugares, vendo a maioria das lideranças políticas confessando-se evangélicas, tendo muitos veículos de comunicação evangélicos, com uma boa parte dos recursos financeiros do país em poder daqueles que se dizem evangélicos, etc?...

Mas, o Brasil vai continuar o mesmo! Na mesma miséria, com os mesmos casos de corrupção, com a mesma prática política...Talvez, até, pior, pelo fato de não haver mais nenhuma referência evangélica à qual se possa recorrer, não se tendo esperança de alguma coisa alternativa, porque o que era alternativo, acabou virando em algo associado ao que existe de pior no mundo, que por sua vez, passou a usar o nome de Deus para justificar suas ações. 

É isso, que queremos? E mais, que imagem a Igreja deve buscar construir? Ora, como não poderia deixar de ser, Jesus tem que ser a nossa referência, a nossa busca de reconstrução da imagem da Igreja. Primeiro, porque se somos cristãos, a referência é Cristo e não há nenhum outro. Não é um homem, não é um apóstolo secundário, não é um missionário fabuloso que viveu na Índia - é Jesus a referência. 

Segundo, se somos evangélicos temos que viver conforme o Evangelho de Jesus. Ora, Jesus desagradou vários grupos políticos e religiosos do seu tempo. Agradou ao Pai e agradou ao povo, que vinha trazendo a Ele, os perdidos, oprimidos, doentes, para serem, salvos, curados e libertos. Então, para uns, a sua imagem estava tremendamente desgastada, enquanto que, para outros, ela crescia em respeito e admiração. 

O problema da Igreja acontece quando o grupo com as características daqueles que antes odiavam Jesus, começa a aplaudir a Igreja hoje; enquanto o grupo que amava a Jesus, naqueles dias começa a repudiar a Igreja hoje. 

Ou seja, quando a gente vê pessoas com as mesmas posturas daqueles que, naqueles dias, repudiavam e odiavam as ações de Jesus, afinados com a Igreja hoje, e até liderando-a; enquanto aqueles que nos Evangelhos eram amigos de Jesus, e andavam com Ele, agora ficam longe, não querendo nem ouvir fale dele. 

Quando isso acontece é porque houve uma inversão radical de valores na Igreja, e ela não tem mais quase nada a ver como o coração do seu Senhor. E ainda, quando as pessoas dizem: "Jesus eu quero, só não quero a Igreja", é porque a Igreja virou anticristã.


quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

A história do cânon das Escrituras

a) O Antigo Testamento. Retrospecto histórico:Na época de Jesus, os hebreus não possuíam um cânone de livros inspirados. O primeiro esboço de um cânone se acha no prólogo do Eclesiástico: "A Lei, os profetas e os outros escritos". A Lei é certamente a Torá, ou Pentateuco, que provavelmente adquiriu sua forma definitiva no tempo de Esdras. Os profetas incluem Js, Jz, 1Rs, 2Rs, Is, Jr, Ez e os doze profetas menores. Sobre os "outros escritos" não se tem uma ainda uma definição precisa. 
A versão grega dos Setenta (LXX), feita por judeus em Alexandria entre o séc. III a.C. e o início da era cristã, incluiu os livros que hoje chamamos de deuterocanônicos, e alguns apócrifos. Não se pode dizer, no entanto, que a LXX estabeleceu um cânone normativo (os códices que nos chegaram apresentam diferenças). Na Palestina, por volta de 95, Flávio Josefo (37-100) escreve uma lista que coincide com o cânone hebraico, excluindo os deuterocanônicos. Apesar disso, encontram-se em seu trabalho citações de 1Mc, 1Esd e suplementos de Est. Portanto, não podemos concluir a partir do seu testemunho que o judaísmo já tivesse fixado o seu cânone no final do séc. I. 
Em Qumrã se encontram todos os livros protocanônicos, exceto Est. Dos deuterocanônicos foram encontrados Br 6, Tb e Eclo. Dos apócrifos, Jubileus, Enoc e o Testamento dos doze patriarcas. Aparentemente não havia uma distinção entre um cânone de livros sagrados e outros textos não-inspirados. Entre os anos 90-100 houve um sínodo de rabinos na cidade de Jâmnia. Uma tese tradicional propõe que a lista definitiva dos livros do Antigo Testamento foi fixada neste sínodo. Mas não há provas concretas de que isto realmente tenha acontecido. 
Mesmo depois de Jâmnia a canonicidade de alguns livros continuou a ser discutida (Ecl e Ct). Baseado nessas considerações, Valério Manucci propõe a seguinte explicação para a formação do cânone hebraico:Depois da destruição do Templo, no ano 70, o judaísmo se tornou cada vez mais uma religião "do Livro", o que impôs a necessidade de determinar um cânone definitivo. Várias disputas entre os fariseus e outras seitas judaicas serviram de estímulo para a fixação de um cânone. Ainda que no primeiro século da nossa era houvesse uma aceitação popular de 22 ou 24 livros como inspirados, não existiu um cânone normativo até o final do séc. III. 
O fato de os cristãos terem adotado a tradução dos LXX pode ter influenciado decisivamente a definição de um cânone mais restrito no judaísmo, excluindo os deuterocanônicos. De resto, se realmente houvesse um cânone já estabelecido antes do nascimento de Jesus, certamente os judeus de Alexandria, fiéis às orientações dos rabinos da Palestina, não teriam inserido os deuterocanônicos na sua tradução.Entre os cristãos, no Novo Testamento, aparece a tríplice divisão indicada no Eclesiástico (Lc 24,44). Há alusões a livros deuterocanônicos: Sb (Rm 1,19ss; Hb 8,14), Tb (Ap 8,2), 2Mc (Hb 11,34s), Eclo (Tg 1,19), Jt (1Cor 2,10) e nem todos os protocanônicos são citados (Esd, Ne, Rt, Ecl, Ct, Ab, Na, Pr). Também há alusões a livros apócrifos: Salmos de Salomão, 1 e 2 Esdras, 4 Macabeus, Assunção de Moisés e o livro de Enoc.Jesus se serviu do Pentateuco para discutir com os saduceus (que aceitavam apenas esta parte do AT como inspirada, cfr. Mt 22,23-33; Mc 12,18-27; Lc 20,27-40) e, ao que parece, usou a Bíblia hebraica em debates com os fariseus (cfr. Mt 23,34-36; Lc 11,49-51). 
Esta "adaptação aos interlocutores" não nos permite dizer que Cristo tenha reconhecido um cânone para o AT, e muito menos que este cânone seja o da Bíblia hebraica.Das 350 citações que o Novo Testamento faz do AT, 300 são da LXX. Como não havia, porém, cânone definido no período neotestamentário, os cristãos ainda não possuíam um cânone próprio.Os Padres Apostólicos citam a versão dos LXX. A Didaqué usa Eclo e Sb. Clemente, em sua epístola aos Coríntios, se serve de Jt, Sb, Eclo, Dn e passagens de Est grego. Policarpo cita Tb. O Pastor de Hermas cita Eclo, Sb e 2Mc. Também há citações de apócrifos, como o livro de Enoc.O mesmo se dá com outros autores do fim do séc. II e começo do séc. III, como Ireneu, Clemente de Alexandria, Tertuliano, Hipólito, Cipriano e Dionísio Alexandrino. 
Á medida, porém, que os judeus determinavam a sua lista, as igrejas que viviam em contato com a comunidade hebraica sofriam sua influência. São Justino, quando entra em polêmica com os judeus, prefere citações apenas dos protocanônicos, mas ensina que todos os livros presentes na tradução dos LXX são inspirados, "mesmo aqueles que os judeus suprimiram arbitrariamente". Melitão de Sardes, no entanto, possui uma lista de livros do AT com quase todos os protocanônicos e nenhum deuterocanônico. 
O Concílio de Laodicéia (360) defende o cânone hebraico. Mas a carta do papa Inocêncio I a Exupério de Toulouse (405) inclui o cânone completo. Mais tarde, os concílios provinciais de Hipona (393) e Cartago (I e II, 397 e 419, respectivamente) aceitarão oficialmente os deuterocanônicos como parte das Escrituras (mesmo que alguns padres, como Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Gregório Nazianzeno, Rufino e Jerônimo, se sintam ainda atraídos pela Hebraica Veritas). No Concílio de Trullo (692) a ambigüidade continua: os cânones de Laodicéia e de Cartago são sancionados ao mesmo tempo!Só no século XV um concílio ecumênico se ocupará do assunto. O Concílio de Florença (1441) enumerará o cânone aceito pela Igreja hoje, e o Concílio de Trento, no século XVI, definirá solenemente o AT com os deuterocanônicos. 
b) O Novo Testamento. O desenvolvimento do cânone do Novo Testamento, embora complicado, foi menos tortuoso que o do AT.A segunda epístola de Pedro coloca as cartas de Paulo ao lado das "outras escrituras" (2Pd 3,16). Logo, no final do século I algumas cartas paulinas já são tidas como inspiradas. Em meados do séc. II, São Justino fala dos Evangelhos que são usados nas assembléias litúrgicas e a segunda carta de Clemente aos Coríntios (c. de 150) cita um versículo do Evangelho de Mateus.A seleção que Marcião fez de 10 cartas de Paulo e do Evangelho de Lucas, provavelmente, fez com que os cristãos procurassem reunir sua própria coleção de escritos inspirados.Por volta do ano 170, Melitão de Sardes chama os livros da Bíblia hebraica de "Antigo Testamento", em contraposição ao Novo Testamento da Igreja. Mas o primeiro a usar o termo "Novo Testamento" foi Tertuliano, em torno do ano 200.Nenhum autor do séc. II ou do séc. III cita todos os livros do NT, e há livros que não são citados por ninguém (Fm e 3Jo). 
A lista mais antiga do NT é o famoso Fragmento Muratoriano, que indica o NT usado pela Igreja de Roma no final do segundo século. Nela não estão incluídos Hb, Tg, 1 e 2Pd, e talvez 3Jo. A lista feita por Orígenes no séc. III levanta dúvidas sobre a inspiração de 2Pd e de 2 e 3Jo. Por volta do ano 310, Eusébio distingue entre "os livros reconhecidos por todos" (emologoumenoi), "os livros discutidos" (antilegomenoi) e "os livros espúrios" (notha). Tg e Jd estão entre os discutidos.O Cânone Claromontano, datado do séc. IV, não menciona Hb. 
O Cânone Momseniano, de mais ou menos 360, não fala de Hb e Jd. No Ocidente, só com as listas do final do séc. IV, feitas por Atanásio, Agostinho, pelos concílios de Hipona e de Cartago, é que se chega a um consenso. Elas coincidem com o cânone definido do Concílio de Trento. O Códice Sinaítico, do séc. IV, inclui também a carta de Barnabé e o Pastor de Hermas. O Códice Alexandrino, do séc. V, traz 1 e 2 Clemente. 
As igrejas da Síria e de Antioquia usavam, no séc. IV, um cânone restrito do NT com apenas 17 livros.Alguns livros eram discutidos porque não se podia ter certeza de sua autoria apostólica, por causa de aspectos doutrinários controvertidos ou por sua brevidade. 
c) A Igreja discerniu o cânone desde os primeiros esboços até a definição solene, a história da evolução do cânone revela, antes de mais nada, a importância da autoridade do Magistério da Igreja, guardião da Tradição Apostólica, que soube discernir infalivelmente, entre inúmeros escritos espúrios, aqueles que o Espírito Santo havia inspirado e que formam a Palavra de Deus.Escritura, Tradição, Igreja: elementos intimamente conectados e que não se deve separar nunca sem cair em grave erro."
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