sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Refutação ao texto que diz que a igreja demorou três séculos para reconhecer Jesus como Deus

O texto da postagem anterior, afirma que a divindade de Cristo foi afirmada no Concílio de Nicéia, em 325 d.C., e que a igreja cristã ocidental defendia uma ruptura com a herança judaica.

Mas a divindade de Jesus um dogma que pode ser detectada mesmo no Antigo Testamento. Textos veterotestamentários como Miquéias 5:2, Isaías 9:6, sem contar a profecia das 2.300 tardes e manhãs de Daniel 8 e 9 e inúmeros outros textos messiânicos, não só estabelecem a preexistência de Jesus, como reafirmam Sua divindade. 

A base bíblica da doutrina da Trindade e, conseqüentemente, da divindade de Jesus, antecede ao Concílio de Nicéia. Ao se fazer um estudo recorrendo aos escritos dos primeiros cristãos que viveram entre os séculos II e III, isto é, imediatamente depois do período apostólico e antes do Concílio de Nicéia. O proposito dessa verficação, não é a de endossar indiscriminadamente toda a doutrina dos Pais da Igreja, mas verificar, pelo seu testemunho, se a Trindade era crida na igreja primitiva ou se, como dizem alguns, seria fruto apenas do Concílio de Nicéia.“

Uma rápida verificação no index geral das obras Ante-Nicene Fathers e da Sources Chrétiennes, que formam a coleção de todos os escritores cristãos mais antigos (inclusive os anteriores a Nicéia), nos mostra que, muito antes do concílio, a crença na Trindade já havia sido sistematizada entre os cristãos. Aliás, o próprio termo “Trindade” foi usado em 212 d.C. por Tertuliano, ou seja, 113 anos antes de Nicéia! Falando da Igreja de Deus, ele menciona o Espírito “no qual está a Trindade de uma Divindade: Pai, Filho e Espírito Santo” (Tertuliano, Sobre a Modéstia, XXI).

Um dos primeiros pais da igreja, Inácio, pastor em Antioquia, também acreditava na doutrina da Trindade”,  e pelo que se sabe, foi martirizado no reinado de Trajano, em 105 d.C. Nessa época de perseguição à Igreja, ele escreveu uma epístola aos cristãos da Trália, dizendo-lhes que, a despeito do sofrimento, continuassem ‘em íntima união com Jesus Cristo, o nosso Deus’ (Inácio, Epístola aos Tralianos, VII [recensão curta]). Em outro manuscrito, onde uma versão mais longa é preservada, o mesmo autor adverte os irmãos contra aqueles que ensinavam doutrinas contrárias à fé dos apóstolos. Entre seus ensinos equivocados, estaria a idéia de que ‘o Espírito Santo não existe’ e que ‘o Pai, o Filho e o Espírito Santo seriam a mesma pessoa’ (Ibidem [recensão longa]).

Justino, cognominado “o Mártir”, foi outro que escreveu várias apologias em favor do Cristianismo e contra a filosofia grega. Num de seus textos, escrito por volta de 160 d.C., ele diz: “Já que somos considerados ateus, admitimos nosso ateísmo em relação a esses [vários] tipos de deuses [do politeísmo]. Mas, no que diz respeito ao verdadeiro Deus, o Pai da justiça e temperança ..., ao Filho, ... e ao Espírito Profético, [saibam que] nós os adoramos e reverenciamos” (Justino, I Apologia, VI).

Outra figura histórica é Atenágoras. Também respondendo à acusação de serem os cristãos chamados de ateus por não aceitarem o politeísmo pagão, ele escreveu em 175 d.C.: “Ora, quem não ficaria perplexo em ouvir chamar de ateus pessoas que pregam de Deus o Pai, de Deus o Filho e do Espírito Santo e que declaram serem um no poder, mas distintos na ordem?” (Atenágoras, Súplica pelos Cristãos, X). Continuando com Atenágoras, temos esta elucidativa declaração: “Os cristãos reconhecem a Deus e a Seu Logos. Eles também reconhecem o tipo de unicidade que o Filho tem com o Pai e que tipo de comunhão o Pai tem com o Filho. Ademais, eles sabem o que é o Espírito e que a unidade é [formada] destes três: o Espírito, o Filho e o Pai” (Ibidem, XI). “Nós reconhecemos um Deus, um Filho e um Espírito Santo, os quais são unidos na essência” (Ibidem, XXIII).

Hipólito (c. 205 d.C.), autor do mais antigo comentário de Daniel de que dispomos em nosso tempo, disse que “a Terra é movida por estes três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (Hipólito: Fragmentos de Comentários, 10 [ANF, vol. 5, pág. 174]). Noutra passagem, depois de citar a fórmula batismal em nome do Pai, do Filho e do Espírito, ele demonstra que já no seu tempo havia os que negavam essa doutrina, pois diz: “Qualquer um que omitir um destes três, falha em glorificar a Deus de um modo perfeito. Pois é através desta triunidade que o Pai é glorificado” (Hipólito, Contra Noeto, 14). 

 Esses são apenas alguns exemplos de muitos que poderiam ter sido citados. Orígenes, Cipriano, Firmiliano e Dionísio de Alexandria são outros autores que também criam na Trindade muito antes da chegada de Constantino. Ao contrário do que muitos pensam, o próprio imperador não tinha interesse algum em ‘promulgar’ uma doutrina trinitária para a Igreja. Se este fosse o seu intento, ele não precisaria convocar um concílio. Bastava assinar um edito ordenando a todos que adorassem ao Deus triúno. Se quisermos ser honestos com a verdade dos fatos, devemos lembrar que Constantino nem possuía conhecimento bíblico suficiente para se posicionar diante dequela controvérsia. Aliás, a carta por ele enviada através do bispo Hósio de Córdova, dizia que o problema que estavam discutindo acerca da natureza de Cristo era ‘uma questão sem proveito’ (uma reprodução da carta de Constantino pode ser encontrada em Eusébio de Cesaréia, Vida de Constantino, II, 64-72.

Foram os bispos que o convenceram a convocar o Concílio para resolver a questão, explica Rodrigo. “Mas o que poucos sabem é que o partido de Alexandre, o partido trinitariano, era o mais fraco em termos políticos. Foi um verdadeiro milagre que o texto de Nicéia não favorecesse o arianismo. Tanto é que, embora os arianos tivessem sido derrotados no Concílio, os partidários de Eusébio de Nicomédia empreenderam uma verdadeira campanha, após Nicéia, para derrotar Atanásio e restaurar Ário ao poder.”

O mais surpreendente, segundo Rodrigo, é que, protegido pelo imperador, Ário começou aos poucos a reconquistar seu poder e a exercer influência em assuntos políticos. Eusébio, por sua vez, convenceu Constantino a enviar Atanásio para o desterro e a recolocar Ário no posto de líder da Igreja – o que, de fato, quase aconteceu, se não fosse o falecimento de Ário na noite anterior à da cerimônia de investidura, em 336 d.C. Assim, o plano era que o imperador convocasse um novo Concílio e desse ganho de causa aos arianos. 

Sob tais circunstâncias, a fé trinitária parecia, se não oficialmente renegada, praticamente condenada, principalmente depois que Constantino declarou seu desejo de ser batizado por Eusébio, em um ritual antitrinitariano, evidentemente. A chamada fé nicena só não chegou ao fim porque Constantino acabou morrendo em 22 de maio de 337, poucos dias depois de ser batizado.

Segundo o  o doutor em Novo Testamento e professor de Teologia no Unasp, campus Engenheiro Coelho, Rodrigo Silva:“Portanto, vê-se como infundada a declaração de que Constantino seria o pai da doutrina trinitariana usada para atrair o politeísmo para a Igreja”, arremata Rodrigo. “Pelo contrário, Ário e Eusébio é que traziam uma doutrina politeísta, pois apresentavam a Cristo como um ‘segundo’ deus, menor que o Pai, mas igualmente divino e que se assemelhava muito ao chamado ‘Demiurgo’, ou seja, um deus menor que, segundo o gnosticismo do Egito, fora usado pelo deus maior para trazer o mundo à existência. Isto, sim, pode ser classificado de politeísmo. Pena que muitos insistam em não entender!” Fonte:http://www.criacionismo.com.br/2008/04/revista-galileu-discute-divindade-de_30.html
 
Comentário: Achei também absurdo Ehrman, ao citar a passagem de Filipenses 2:6, dizer que essa  e outras das obras de Paulo, indicam que o apóstolo via Jesus como um ser divino, mas não idêntico a Deus. Na prática, que Paulo via Jesus como o mais poderoso dos anjos, que se encarnou por ordem divina. Os Testemunhas de Jeová e outras religiões que negam a divindade de Cristo devem delirar com uma declaração dessas! Porque é o que eles ensinam, que Jesus é o primeiro anjo criado por Deus. É Filho de Deus, mas em um nível inferior ao Pai. Que Jesus não pode ser adorado, pois não é Deus.
 
No caso dos TJs, eles dizem que não negam a divindade de Cristo, que Jesus é um "deus", que Ele possui uma '"forma divina", mas não é Deus. Que outros seres são também chamados de "deus", como os homens e Satanás citando Paulo em II Coríntios quando usa o termo "o deus deste século, cegou o entendimento dos incrédulos". É a heresia das heresias!  Primeiro, porque Paulo jamais disse que Jesus era o mais poderoso dos anjos e segundo absurdo porque olha com quem que foram comparar o termo "deus"!
 
Sobre a doutrina da divindade de Cristo na Bíblia, devo ressaltar alguns pontos.
 1) Jesus disse: “ao Senhor teu Deus adorarás e só a Ele darás culto” Mat. 4:10; mas, foi adorado pelos magos ao nascer Mat. 2:1-2 e 9-11; 
por um leproso Mat. 8:1-2; 
por Jairo Mat. 9:18 e Luc. 8:40-42; 
pelos 12 discípulos após andar sobre as águas Mat. 14:33; 
pela mulher siro-fenícia Mat. 15:22-25; 
pelo demônio que possuiu o jovem geraseno Mar. 5:2-6; 
pelo cego de nascença João 9:35-38; 
pela mãe de Tiago e João, os filhos de Zebedeu Mat. 20:20-20; 
pelas mulheres após Sua ressurreição Mat. 28:8-9; 
pelos discípulos após subir ao céu Lucas 24:50-52; 
pelos seres celestiais em Apoc. 5:11-14; 
2) o próprio Pai ordena aos anjos adorarem a Cristo Heb. 1:5-6; 
3) um dia todo joelho se dobrará ao nome de Cristo Filip. 2:9-11.
 
 Uma certa ocasião, os judeus quiseram apedrejar Jesus, porque, ele usou a mesma expressão que utilizou ao se identificar a Moisés junto a sarça ardente: "Eu sou", João 8:58,59; Êxodo 3:13,14.
 
Não foi só no Evangelho de João que ficou mostrada a divindade de Cristo. No livro de Mateus o próprio Jesus falando sobre o texto de Salmos 110 diz: "Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? Eles disseram-lhe: De Davi.
Disse-lhes ele: Como é então que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo:
Disse o Senhor ao meu Senhor:Assenta-te à minha direita,Até que eu ponha os teus inimigos por escabelo de teus pés?
Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é seu filho?
E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo".
Mateus 22:42-46

Na epístola aos Hebreus no capítulo 1, que o Filho tem nome mais excelente que o anjos, que o anjos devem adorá-lo, mas é o versículo 8 que fecha a questão definitivamente ao dizer:
"Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos; Cetro de eqüidade é o cetro do teu reino". Hebreus 1:8.

 




terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Igreja levou três séculos para alçar Jesus a condição de Deus, diz historiador

"E vós, quem dizeis que eu sou?", pergunta Jesus aos apóstolos, numa das cenas mais importantes dos Evangelhos. De acordo com um historiador americano, se essa mesma pergunta fosse feita aos autores dos livros que compõem o Novo Testamento, cada um deles daria uma resposta diferente -e só um diria que Jesus é Deus.

Essa é a mensagem do livro "Como Jesus se tornou Deus", de Bart Ehrman, professor de estudos religiosos da Universidade da Carolina do Norte. Na obra, que acaba de chegar ao Brasil, Ehrman analisa os textos produzidos pelos primeiros cristãos e acompanha as controvérsias sobre a natureza de Cristo ao longo de mais de três séculos.
Segundo ele, essa análise indica que os atuais dogmas cristãos sobre Jesus -para quase todas as igrejas, ele é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, tão eterno quanto Deus Pai- demoraram para se consolidar.
FILHO (ADOTIVO)
Ocorre, porém, que essa posição, hoje considerada ortodoxa, não está clara em muitos textos da Bíblia. Ehrman defende, por exemplo, que o Evangelho de Marcos, considerado o mais antigo (escrito em torno do ano 65 d.C.), apresenta uma perspectiva que os cristãos dos séculos seguintes chamariam de adocionista -ou seja, Jesus é um homem que é "adotado" por Deus como seu filho.
"É claro que muitos autores hoje vão tentar defender a ortodoxia de Marcos, porque afinal ele foi aceito pela Igreja", pondera Marcelo Carneiro, professor da Faculdade de Teologia de São Paulo.
"Mas, se você faz o exercício de ler Marcos separado do Novo Testamento, se ele fosse o único texto que temos sobre Jesus, fica difícil sustentar que Marcos acredita que Jesus era o Cristo desde a eternidade", analisa Carneiro.
Algumas décadas depois, os autores do Evangelho de Mateus e do Evangelho de Lucas usaram Marcos como fonte, mas inseriram narrativas da infância de Jesus (da qual Marcos não fala) no começo de seus textos. Eles mencionam, pela primeira vez, a gravidez milagrosa da Virgem Maria, e que Jesus seria divino desde a concepção.
Editoria de Arte/Folhapress
Em todo caso, a crença na ressurreição de Jesus é um fator decisivo para o desenvolvimento das doutrinas sobre a natureza de Cristo. Foi por acreditarem que Jesus tinha ressuscitado que ao menos alguns de seus seguidores passaram a vê-lo como algo mais do que humano.
Uma figura-chave nesse movimento é o apóstolo Paulo. Em sua Carta aos Filipenses, ele diz que Jesus "estando na forma de Deus, não usou de seu direito de ser tratado como um deus, mas se despojou, tornando-se obediente até a morte". Por isso "Deus soberanamente o elevou e lhe conferiu o nome que está acima de todo nome".
Para Ehrman, essa passagem, e outras das obras de Paulo, indicam que o apóstolo via Jesus como um ser divino, mas não idêntico a Deus. Na prática, que Paulo via Jesus como o mais poderoso dos anjos, que se encarnou por ordem divina.
RISADAS NA CRUZ
A visão de Paulo não seria a última palavra. Escrito por volta do ano 100 d.C., o Evangelho de João é o primeiro a dar a entender que Jesus e Deus Pai estão em pé de igualdade desde a eternidade.
Nos dois séculos seguintes, outros grupos apresentariam perspectivas bem diferentes (veja quadro acima).
O dogma atual só seria definido no ano 325, no Concílio de Niceia, reunião organizada pelo imperador romano Constantino. Para Ehrman, o dogma enfim conciliou as várias perspectivas divergentes que existiam sobre Jesus nos livros do Novo Testamento.

COMO JESUS SE TORNOU DEUS

AUTOR Bart Ehrman
EDITORA Leya
QUANTO R$ 49,90 (544 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2014/12/1566978-igreja-levou-tres-seculos-para-alcar-jesus-a-condicao-de-deus-diz-historiador.shtml 

COMENTÁRIO DO EDITOR DO BLOG: PARA QUE A POSTAGEM NÃO FIQUE MUITO GRANDE, VOU DEIXAR PARA COLOCAR A MINHA REFUTAÇÃO A ESSE ARTIGO NUMA PRÓXIMA POSTAGEM.