Nas comemorações dos 492 anos da Reforma Protestante, sinceramente, que não vejo muito o que comemorar. Em nosso caso, aqui no Brasil, os acontecimentos que a mídia tem feito questão de registrar sobre a igreja evangélica em nosso país, mostram que ela ainda carece de muita maturidade.
Na verdade, trata-se de uma igreja que cresceu em visibilidade, mas que ainda conserva traços profundos de um ser que mais se parece com um adolescente procurando mostrar aos outros que já se desenvolveu o suficiente para ser encarado como um adulto. Um grande engano. Uma terrível falácia.
Somos herdeiros de uma mensagem que nos foi trazida por missionários de outras pátrias, especialmente a partir da metade do século 19. Eles vieram até nós porque haviam compreendido aquilo que Dietrich Bonhoeffer fez questão de registrar quando ainda estava nos porões de uma prisão nazista, em 1944, pouco antes de ser sentenciado à morte: "a igreja é igreja somente quando ela existe para os outros."
Nascemos sob a égide de uma igreja que chegou até nós com uma visão holística do evangelho. Mesmo havendo exceções por parte de alguns missionários que nos trouxeram um evangelho etéreo e alienado da realidade social, hospitais, orfanatos, escolas, instituições de saúde e de ensino teológico foram instalados em terras brasileiras, especialmente no início do século passado.
Tratava-se de uma igreja com a visão de uma missão integral, e que deveria servir de balisamento para o desenvolvimento de uma igreja autóctone com esse mesmo perfil.
Hoje a história é outra. De uma igreja herdeira dos sinais da missão e do Reino, nos transformamos numa simples caricatura daquilo que ela deveria ser.
A questão a ser levantada a respeito de tudo isso deveria ser a mais simples e óbvia possível: por que nos metemos nessa enrascada? O que nos levou a nos desviar da missão que nos confiada por Jesus?
Tem-se feito a opção de se estabelecer metas de crescimento antes de medir o caráter daqueles que tem feito parte dessa Igreja
Na ânsia por estabelecer comunidades mais numerosas, tem se feito uso de inúmeras fórmulas importadas de crescimento de igreja. Hoje em dia é muito comum ouvir da boca de pastores e líderes que estão usando este ou aquele modelo. Isso não estaria errado em tese, se o intuito do coração fosse outro.
As portas de entrada em nossas comunidades tornaram-se bem largas, ao ponto de não sabermos bem o que significa ser um cristão autêntico. O "vale-tudo" entrou em jogo (Literalmente em alguns lugares, diga-se de passagem), e os absolutos da Palavra de Deus já são descartados, se o interesse é o sucesso e crescimento.
Sabe-se que em algumas cidades de nosso país, certos comerciantes tem procurado limitar o crédito para pastores. Tem se tornado comum ouvir de alguns cristãos que nunca convidariam outro cristão para trabalhar em sua empresa ou fazer parte de seu negócio.
Quem sabe esta seja uma das respostas pelas quais ainda o Brasil continua o mesmo, apesar do crescimento numérico das igrejas evangélicas. Como uma igreja pode ser um agente de transformação numa sociedade em decomposição, se ela mesma ainda precisa se converter de seus pecados?
Há uma busca pela especialização na gerência de um mercado próspero, antes de sermos vistos como servos de um Reino estabelecido pelo Deus verdadeiro
Sem a visão da missão, a Igreja se torna um mercado de almas. O produto mais obcecadamente buscado passa a ser a figura humana em desgraça e miséria. Quanto mais esse ser humano estiver distante da imagem do Criador, mais presa fácil ele se torna daqueles que anseiam em ampliar rapidamente seus redutos eclesiásticos.
E nesse jogo vale tudo. Promessas, trocas, pensamentos positivos, água benzida, milho ungido, garantia de um marido ou esposa em curto espaço de tempo, e muito mais.
Estava absolutamente correto o saudoso e grande pregador inglês Charles Spurgeon quando disse em um de seus sermões: "Todo cristão ou é um missionário ou é um impostor."
O fenômeno da contra-reforma faz com que se estabeleça uma igreja como um espaço gerencial hierarquizado, onde a figura paulina do corpo unido na diversidade deixa de existir e passa-se a presenciar a figura daqueles que se auto-denominam "os detentores da verdade", e que podem ser chamados de um simples evangelista, obreiro ou missionário até a categoria quase suprema de apóstolo.
Isto até soaria razoável se ao menos essas expressões estivessem de acordo com os dons que o Espírito tem dado à Igreja, sendo que, para isso, certamente não haveria necessidade de estabelecermos títulos e níveis de autoridade.
Percebe-se um completo descompasso entre uma Igreja que demonstra crescimento, mas que não provoca transformações estruturais na nação
Há um silêncio angustiante por parte da Igreja em relação ao mundo. Deixou-se de ouvir a voz profética e denunciadora de cristãos inconformados. A igreja deixou-se encantar por ela mesma, e pelas benesses do poder político institucionalizado. Como contestar as injustiças de um governo municipal, estadual ou federal, se amanhã posso ser um beneficiário dele?
Sentimo-nos hoje vivendo um grande paradoxo: enquanto os institutos de pesquisa afirmam que essa igreja evangélica cresce em níveis acima de qualquer expectativa e já se torna motivo de grandes espaços na mídia, a situação do país permanece a mesma.
Os índices de pobreza ainda são alarmantes, a corrupção está instalada nos mais variados níveis de poder, o acesso à saúde e a educação ainda é privilégio de poucos – resumindo: vivemos num país onde as desigualdades sociais são enormes.
O discipulado de uma nação, como a nossa, deveria implicar na implantação de igrejas que fossem verdadeiros agentes de transformação. Essas comunidades se tornariam assim não somente um lugar de adoração a Deus e proclamação da Palavra, mas também seus membros se engajariam em ações concretas para a transformação das cidades.
Com raras exceções, o que temos visto, são "guetos" onde o alvo principal é manter os membros das igrejas satisfeitos e sem nenhum compromisso com aqueles que estão "fora" da igreja, ou seja, os que estão no mundo. Nada mais contra a missão da igreja, do que esse posicionamento.
Mais uma vez negamos nossa herança missionária. Como explicar diante de Deus que homens e mulheres de outras nações vieram até nós, mesmo antes de seus países serem totalmente evangelizados e nos trouxeram a semente do evangelho?
A pressão que pastores e líderes tem recebido para que suas igrejas se tornem conhecidas, e os mesmo bem sucedidos, caminha na mão contrária de uma igreja em missão.
Da mesma maneira que nos dias da Reforma, surgiu um movimento chamado de Contra-Reforma, procurando negar os fundamentos preconizados por Lutero, percebo que em nossos dias a igreja brasileira se vê diante de um movimento que caminha na mão inversa da missão. A diferença do século XVI, é que o movimento da Contra-Reforma, naquela época foi patrocinado pela Igreja Romana, agora são próprios evangélicos que o estão fazendo, ao utilizarem das magias, barganhas, vendas de indulgências contemporâneas. Ou seja, estão trazendo para dentro das igrejas protestantes, o que a Reforma, se insurgiu contra.
Os anos futuros poderão nos reservar uma triste surpresa. Estaremos fazendo parte de uma igreja que estará na boca do povo, mas que não provocará mudanças no coração e na alma do povo brasileiro.
A melhor maneira de revertermos esse quadro é pedirmos perdão diante do Senhor em profunda humilhação, e buscarmos intencionalmente o alvo de fazer com que cada igreja local se transforme numa verdadeira comunidade missionária. Mesmo que para isso tenhamos que caminhar na contra mão de tudo o que temos visto e ouvido.
SEJA BEM VINDO. Este blog nasceu da vontade de poder compartilhar, pensamentos e reflexões sobre os acontecimentos atuais e a aplicação da Palavra de Deus a nossa vida.A escolha deste título para o meu blog, foi porque acredito que se não for para vivermos o Evangelho de Cristo conforme Ele viveu e ensinou, nada vale a pena. INDIQUE ESTE BLOG A MAIS ALGUÉM E DEIXE UM COMENTÁRIO JUNTO A MATÉRIA QUE PORVENTURA TENHA GOSTADO.
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Debate Teológico: O Universalismo
Estarei iniciando no blog Cristianismo Radical, uma série de estudos teológicos, que chamarei de debate. O propósito de um blog, em minha opinião, está em fomentar a discussão, o diálogo, em cada posição conflitante. E o presente tema contribui, não como elemento acabado, mas como um processo em construção, com as discussões. Por isso, conto com sua opinião em forma de comentário, para o enriquecimento da postagem. A primeira postagem será sobre o Universalismo. O texto é do Dr. Russell Shedd, escrito há 03 anos na Revista Enfoque. Então vamos lá! Leia a matéria e depois deixe seu comentário. Desde já, obrigado!
"O ensinamento que afirma que todos os homens serão salvos pela misericórdia de Deus se chama “universalismo”. De modo crescente, o universalismo se insinua por declarações da Igreja Católica Romana, bem como alguns grupos e igrejas protestantes de linha mais liberal. Esta doutrina se mantém e se propaga pela força de dois tipos de argumentação. O primeiro, sendo teológico, apela para a razão e emoções humanas, enquanto o segundo se fundamenta em interpretações duvidosas de alguns trechos da Bíblia.
O nacionalismo judaico que dominava na época de Jesus abriu uma brecha extremamente estreita para prosélitos que renunciavam suas origens gentílicas e ingressavam dentro do povo de Deus por meio de batismo, circuncisão, sacrifício e compromisso com a Lei. Assim alcançariam o supremo benefício de ingressar no povo de Deus chamado Israel, mas não a garantia da salvação.
Os profetas do Antigo Testamento previam um tempo futuro em que o Messias viria, não apenas para trazer a salvação ao povo escolhido (Is 42.6; 49.6), mas também aos gentios. Não seria justamente a bênção que Deus deu a Abraão que se estenderia a todas as nações da terra por meio do seu descendente (Gn 12.3; Gl 3.16)? A Nova Aliança efetuada pela pessoa e obra de Jesus na cruz criou uma “raça eleita, sacerdócio real, nação santa e povo de propriedade exclusiva de Deus”, composta de judeus e gentios convertidos (1Pe 2.9).
De acordo com o Novo Testamento, a salvação de qualquer pessoa, judeu ou gentio, dependia da confissão que Jesus é Senhor (normalmente no batismo que marcava a morte e ressurreição com Cristo) e crer na ressurreição de Jesus (Rm 10.9). Todos que se arrependiam e criam eram incluídos nos salvos. A Grande Comissão que Jesus deu aos seus seguidores foi de fazer discípulos de todas as nações, batizando e ensinando-os a obedecer tudo que Jesus ensinou (Mt 28.19,20). Desta maneira, o universalismo dos profetas, no qual as nações subiriam ao monte do Senhor (Is 2.3), se cumpria no convite do Evangelho universal a todos que foram comprados para Deus pelo sangue de Jesus, os que procedem de toda tribo, língua e nação (Ap 5.9).
A doutrina ortodoxa enraizada no Novo Testamento que oferece a garantia da salvação a todos que se arrependem e crêem no Senhor Jesus não é o universalismo que ensina que todos os seres humanos serão aceitos por Deus e gozarão do benefício da morte de Jesus. O universalismo neste sentido foi condenado no Concílio de Constantinopla como uma heresia em 543 d.C. Reapareceu entre os mais extremados anabatistas, alguns Morávios e outros poucos grupos não ortodoxos. Schleiermacher, conhecido pai do liberalismo, abraçou esta posição, seguido por teólogos mais radicais como John A.T. Robinson, Paul Tillich, Rudolph Bultmann. Até o mais destacado teólogo do século 20, Karl Barth, não se posicionou contra esta esperança, mesmo sem se declarar abertamente a seu favor. Os evangélicos, porém, se opõem contundentemente a essa doutrina. Eles reconhecem no universalismo uma forma moderna da mentira de Satanás no jardim: “Certamente, não morrerás”.
“Atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12.32). “Por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18). João diz que “Jesus Cristo é a luz que ilumina a todo homem” (Jo 1.9). Paulo afirma: “Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1Co 15.22). “A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2.11).
Mesmo que pareça convincente o argumento exegético, quem examinar mais profundamente encontrará boas razões para rejeitar a salvação universal. Considerar estes textos dentro do seu contexto mais amplo convencerá o intérprete não preconceituoso que os autores bíblicos não estão declarando a possibilidade de salvação sem fé no Senhor Jesus Cristo. Considere Hebreus 11.6 que diz que “sem fé é impossível agradar a Deus”.
O dualismo que divide toda a humanidade aparece em todo o Novo Testamento. O juiz tem sua pá na mão, limpará completamente a sua eira; “recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível” (Mt 3.11,12). Sem nascer de novo não há esperança de ver o Reino de Deus. Achar que o amor de Deus é tão extenso que ninguém pode cair fora dele, é uma crença muito conveniente para os que rejeitam o teor de todo o ensino da Bíblia. Não convém se arriscar em tão fraca esperança".
Fonte: Revista Enfoque n° 59 de Junho/2006 - Russell Shedd é PhD em Teologia do Novo Testamento e doutor em Divindade.
"O ensinamento que afirma que todos os homens serão salvos pela misericórdia de Deus se chama “universalismo”. De modo crescente, o universalismo se insinua por declarações da Igreja Católica Romana, bem como alguns grupos e igrejas protestantes de linha mais liberal. Esta doutrina se mantém e se propaga pela força de dois tipos de argumentação. O primeiro, sendo teológico, apela para a razão e emoções humanas, enquanto o segundo se fundamenta em interpretações duvidosas de alguns trechos da Bíblia.
O nacionalismo judaico que dominava na época de Jesus abriu uma brecha extremamente estreita para prosélitos que renunciavam suas origens gentílicas e ingressavam dentro do povo de Deus por meio de batismo, circuncisão, sacrifício e compromisso com a Lei. Assim alcançariam o supremo benefício de ingressar no povo de Deus chamado Israel, mas não a garantia da salvação.
Os profetas do Antigo Testamento previam um tempo futuro em que o Messias viria, não apenas para trazer a salvação ao povo escolhido (Is 42.6; 49.6), mas também aos gentios. Não seria justamente a bênção que Deus deu a Abraão que se estenderia a todas as nações da terra por meio do seu descendente (Gn 12.3; Gl 3.16)? A Nova Aliança efetuada pela pessoa e obra de Jesus na cruz criou uma “raça eleita, sacerdócio real, nação santa e povo de propriedade exclusiva de Deus”, composta de judeus e gentios convertidos (1Pe 2.9).
De acordo com o Novo Testamento, a salvação de qualquer pessoa, judeu ou gentio, dependia da confissão que Jesus é Senhor (normalmente no batismo que marcava a morte e ressurreição com Cristo) e crer na ressurreição de Jesus (Rm 10.9). Todos que se arrependiam e criam eram incluídos nos salvos. A Grande Comissão que Jesus deu aos seus seguidores foi de fazer discípulos de todas as nações, batizando e ensinando-os a obedecer tudo que Jesus ensinou (Mt 28.19,20). Desta maneira, o universalismo dos profetas, no qual as nações subiriam ao monte do Senhor (Is 2.3), se cumpria no convite do Evangelho universal a todos que foram comprados para Deus pelo sangue de Jesus, os que procedem de toda tribo, língua e nação (Ap 5.9).
A doutrina ortodoxa enraizada no Novo Testamento que oferece a garantia da salvação a todos que se arrependem e crêem no Senhor Jesus não é o universalismo que ensina que todos os seres humanos serão aceitos por Deus e gozarão do benefício da morte de Jesus. O universalismo neste sentido foi condenado no Concílio de Constantinopla como uma heresia em 543 d.C. Reapareceu entre os mais extremados anabatistas, alguns Morávios e outros poucos grupos não ortodoxos. Schleiermacher, conhecido pai do liberalismo, abraçou esta posição, seguido por teólogos mais radicais como John A.T. Robinson, Paul Tillich, Rudolph Bultmann. Até o mais destacado teólogo do século 20, Karl Barth, não se posicionou contra esta esperança, mesmo sem se declarar abertamente a seu favor. Os evangélicos, porém, se opõem contundentemente a essa doutrina. Eles reconhecem no universalismo uma forma moderna da mentira de Satanás no jardim: “Certamente, não morrerás”.
“Atrairei todos a mim mesmo” (Jo 12.32). “Por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18). João diz que “Jesus Cristo é a luz que ilumina a todo homem” (Jo 1.9). Paulo afirma: “Porque assim como em Adão todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo” (1Co 15.22). “A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2.11).
Mesmo que pareça convincente o argumento exegético, quem examinar mais profundamente encontrará boas razões para rejeitar a salvação universal. Considerar estes textos dentro do seu contexto mais amplo convencerá o intérprete não preconceituoso que os autores bíblicos não estão declarando a possibilidade de salvação sem fé no Senhor Jesus Cristo. Considere Hebreus 11.6 que diz que “sem fé é impossível agradar a Deus”.
O dualismo que divide toda a humanidade aparece em todo o Novo Testamento. O juiz tem sua pá na mão, limpará completamente a sua eira; “recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível” (Mt 3.11,12). Sem nascer de novo não há esperança de ver o Reino de Deus. Achar que o amor de Deus é tão extenso que ninguém pode cair fora dele, é uma crença muito conveniente para os que rejeitam o teor de todo o ensino da Bíblia. Não convém se arriscar em tão fraca esperança".
Fonte: Revista Enfoque n° 59 de Junho/2006 - Russell Shedd é PhD em Teologia do Novo Testamento e doutor em Divindade.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
CUIDADO COM O BAILE DE MÁSCARAS
O apóstolo Paulo escrevendo aos coríntios disse: "Mas todos nós, com cara descoberta, refletindo como um espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor" II Cor 3:18. Soren Kierkegaard certa vez disse que, a vida é um baile de máscaras. Ele sabia que este, era o escudo atrás do qual as almas se escondiam de si mesmas, e, assim, tentavam ocultar suas faces também para a percepção dos demais. A maioria quer ser famosa, mas poucos querem ser conhecidos! Ora, usar máscaras, para muitos, não passa de truque, de um direito, de uma opção: ser ou não ser; mostrar ou não mostrar; como se tal bravata contra o próprio ser pudesse passar sem punição. Para muitos, esconder-se atrás das máscaras é apenas um questão de proteção ou de diversão inexaurível e viciante. Sim, acaba virando um vício do ser, a tal ponto que sem as máscaras muitos homens não suportam e morrem. Assim, para a maioria, sem o personagem, acaba a pessoa. Talvez esta seja a razão pela qual até agora, ninguém conseguiu conhecer você, pois toda revelação que você faz de “si mesmo”, é sempre uma ilusão. Você não sabe quem você é, mas apenas sabe qual deve ser a sua imagem, a sua máscara. Nesse caso, sua mais ardente e compulsiva tarefa na existência, consiste em preservar seu esconderijo. E, sem dúvida, devemos admitir que muita gente desenvolveu tal capacidade de transformismo com a mesma habilidade dos polvos miméticos. Sendo assim, diz Kierkegaard, “você é tão mais bem sucedido, quanto mais enigmática for a sua máscara”. Quando a existência se transforma “nisto”, eu e você viramos de fato nada além de NADA. Ou seja, passamos a ser apenas uma “relação com os outros”; e o que nos tornamos é unicamente em razão e em “virtude dessa relação”. A moral é a grande máscara. E os moralistas são o que detém o maior número de disfarces. Entre esses, o mais danoso de todos é o estelionatário da religião, o picareta que come as almas dos homens. Lobos mascarados de ovelhas! Muitos existem assim. Daí, quando acontecem catástrofes que lhes roubam as “máscaras”, ficam em estado de desespero, visto que, sem a máscara eles não possuem um rosto próprio, algo que a própria pessoa reconheça para si e como sua, e não apenas como um reflexo da imagem que os outros devolvem para você mesmo, supostamente acerca de quem você aparenta ser para eles. Desse modo, você vende imagem, e se alimenta dela. Mas no dia em que as máscaras são tiradas, muitos não conseguem mais viver, pois neles não há uma vida própria, mas apenas uma existência fabricada para consumo no Baile de Fantasias, que é a existência de muita gente. ”Você não sabe que vem a hora chamada “meia noite” na qual todos terão que lançar fora suas máscaras? Você crê realmente que a vida se deixará zombar para sempre? Ou talvez você pense que pode escapar um pouco antes da “meia noite” e fugir de tal hora? Ou será que você fica apavorado com essa idéia?”—pergunta o profeta. Você consegue pensar em algo mais apavorante do que ter que viver tal “meia noite” em sua existência na Terra ou em qualquer outro lugar onde isto possa lhe acontecer? Quem vive nesse Baile de Fantasias não tem idéia do que faz de mal à sua própria alma. Não existe droga mais viciante do que a força compulsiva da “máscara”. Aquele que se faz um com a mascara, faz-se um com o Nada, pois sua natureza vai se dissolvendo numa multiplicidade...e que acaba fazendo com que esse ser realmente se torne muitos. Pode acontecer, de se tornar semelhante àquele pobre Gadareno, ocupado por “infelizes demônios”; numa legião de falsas identidades, que não são suas identidades, e muito menos correspondem a você! Os demônios habitam sob máscaras. Por isto mascarados lhes são tão desejáveis residências. Pobre do auto-enganado que pensa que as máscaras o salvarão! Tire de sua cara a máscara. Do contrário, você poderá vir a perder a coisa mais sagrada e preciosa de um ser humano - o poder unificador da personalidade, e a capacidade abençoada de se tornar alguém que seja realmente você. Deixe que Deus retire o véu da sua face para que você possa, com cara descoberta refletir a glória do Senhor, sendo transformado pelo Espírito Santo, na imagem de Jesus Cristo.
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