terça-feira, 14 de setembro de 2010

Entrevista com o Pr. Juber, onde ele fala sobre temas polêmicos



Juber Donizete Gonçalves é casado, ministro do Evangelho. Possui formação em Teologia e Geografia, com Pós-Graduação em Psicopedagogia. Palestrante nas áreas de Missões, Apologia e Escatologia. Atualmente, é Diretor do IBADETRIM - Instituto Bíblico das Assembléias de Deus do Triângulo Mineiro em Uberlândia. É editor do blog "Cristianismo Radical".

Entrevista - Perguntas1- A denominação histórica Assembléia de Deus está prestes a completar 100 anos. Sabemos o quão é importante a AD na história da pregação evangélica no Brasil. Falando em termos gerais, Como você analisa o atual quadro desta importante denominação? Há muito o que festejar ou existe questões preocupantes no tocante à ética?

RESPOSTA:Sou membro da Assembléia de Deus desde 1981, e sirvo como pastor . Nesses quase trinta anos, já vi muita coisa mudar, seja para melhor ou pior. Para melhor, vejo hoje, uma flexibilização maior nos chamados usos e costumes, atenuando a questão do legalismo. Outro ponto positivo, foi a abertura para os meios de comunicação como a televisão e apoio para o ensino teológico. Se fosse para dar um olhar saudosista, eu tenho saudades quando havia menos profissionalização na igreja e mais simplicidade, aplicação na oração. Atualmente vejo com preocupação, algumas coisas como:a) Disputas político eclesiásticas vergonhosas, semelhante ao que há de pior na política partidária. b) Pouca ênfase na pregação expositiva e mais nas de estilo “avivalistas”, que hoje nada mais são do uma mistura de: performace teatral, com chavões repetitivos, palavras de efeito, neurolinguística, recheadas com teologia da prosperidade.c) Uma denominação que está cada vez mais fragmentada, pois além das duas maiores convenções, demonstra na própria celebração do centenário, mais divisão do que união, pois no ano que vem, haverá duas festas distintas, uma no Belenzinho (SP) e outra em Belém (PA).

2- Na sua opinião, pastor deve se candidatar a cargo político ou se dedicar unicamente a sua vocação pastoral?

RESPOSTA:Não deveria, se ele tem mesmo vocação pastoral. O ideal seria que o candidato fosse um membro da igreja, com vocação política e não alguém com liderança pastoral. E ele deveria também ter um projeto político que englobasse não somente a igreja mas também a comunidade onde vive. Caso contrário ele se torna apenas um despachante de igreja ou dos seus líderes.

3- Você concorda que nos últimos 20 anos, ouve um grande esvaziamento ético no tocante a pregação da Palavra devido às práticas dos neopentecostais? Como você analisa a grande expansão da teologia da prosperidade no meio evangélico?

RESPOSTA:Sim concordo. No livro “A Sedução do Cristianismo” de Dave Hunt, ele já denunciava isso em 1985. O livro foi editado em português dez anos depois, juntamente com outros que denunciavam a teologia da prosperidade no início dos anos 90, como: Cristianismo em Crise, Super Crentes, A crise de Ser e de Ter, Evangélicos em Crise, entre outros. Mas não adiantou a teologia importada dos “States”, se casou com as igrejas neopentecostais brasileiras e se tornou amante de muitas outras denominações, sejam elas pentecostais ou até mesmos reformadas. Digo amante, porque não é oficial nestas igrejas, mas está presente.

4- Nos anos 90, num contexto de guerra entre Globo e Record, tendo como pano de fundo, os escândalos éticos da IURD, o pr. Silas Malafaia defendeu com unhas e dentes esta denominação neopentecostal e não assinou o manifesto pela Igreja Ética da AEVB, então presidida pelo pr. Caio Fábio. Hoje, o pr. Silas difunde a teologia da prosperidade, usando pastores norte-americanos. Por outro lado, ele se apresenta como defensor da moralidade evangélica, contra o aborto e militância gay. Como você enxerga esta ambiguidade do pr. Silas? Teologicamente, ele deve rever seus conceitos, vide seus últimos polêmicos programas de tv?

RESPOSTA:Ele tem um estilo polêmico que não vem de hoje. Quanto a ambigüidade dele, você mesmo a descreveu acima, e acredito que suas atitudes ora de um jeito, ora de outra, já falam por si. Apesar de já ter criticado algumas posições tomadas pelo Pr. Malafaia, no meu blog, não sou anti-Silas. Tem pregações dele que eu até gosto. Reconheço também, que ele é um importante líder mediático evangélico, que tem alcançado muita gente, havendo inclusive pessoas não crentes que gostam de suas pregações. As minhas reservas com relação ao Pr. Silas Malafaia, estão mais no sentido da forma como muitas vezes, ele usa mal, a meu ver, o seu tempo televisivo, fazendo mais propaganda comercial do que pregação. Agora, as campanhas com Cerullo e Murdock, foram simplesmente desastrosas, pois são teologia da prosperidade na sua essência. Espero que ele reveja sim, seus conceitos teológicos e pregue apenas o Evangelho de Cristo.

5- A reboque da última pergunta, como você viu sua saída da CGADB?

RESPOSTA:Ele foi eleito 1° Vice-Presidente com uma boa votação, mas se não concordava com as diretrizes do Presidente e nem tinha espaço nas decisões, tomou a decisão pessoal de renunciar a vice-presidência e se desfiliar da organização. Acredito que é um direito dele, assim como o de qualquer cidadão, num Estado de Direito, de se filiar ou desfiliar de uma instituição.

6- Você concorda que o Pr. Ricardo Gondim e o Pr. Ed Rene Kivitz são hereges e um perigo para a sã doutrina, como afirmam os fundamentalistas ortodoxos?

RESPOSTA:Não os vejo como hereges. De seis anos para cá, eles tem manifestado, suas dúvidas pessoais, seus questionamentos e a interpretação teológica que estão alinhados. Nós temos que saber separar as coisas. Tenho respeito por eles como líderes evangélicos, pois não vemos o nome deles envolvidos em escândalos morais ou financeiros. Vejo muita falta de amor cristão em certos julgamentos, sem misericórdia. Apesar de não concordar com o posicionamento deles com relação a teologia aberta, soberania de Deus, posto em meu blog, de vez em quando algum texto deles. Entre os discípulos de Jesus, ora ou outra, tem gente, em seu desejo de purificação doutrinária, querendo proibir a quem eles elegeram como hereges de pregar, expulsar demônios, e ainda desejando que fogo do céu caia sobre eles. Para quem pensa assim, Jesus diz: “Deixa, porque quem não é contra nós, é por nós”.

7- Depois de quase 30 anos de ministério em que praticamente era uma unanimidade, o pr. Caio Fábio viveu seu dilúvio ministerial, conforme suas palavras, no ano 1998. Dois anos depois, voltou e passou novamente a ser uma figura influente para igreja evangélica, em virtude de suas denúncias ao atual quadro eclesiástico brasileiro. Polêmico, muitos ainda o acusam pelos seus pecados do passado. Como você vê o ministério do Pr. Caio Fábio? Na sua opinião, o "Caminho da Graça" é uma seita, como afirmam seus detratores?

RESPOSTA:Acompanho seu ministério desde os tempos dos programas Para & Pense, na extinta TV Manchete. Possuo vários livros dele. Caio Fábio foi um dos maiores líderes evangélicos e pregador nos anos 90. Como pregador e escritor vinha se destacando desde a década de 80. Depois do seu divórcio e do Dossiê Cayman, retornou a pregação mas agora em novo estilo. Apesar de ter se desligado da IPB como pastor, mantêm laços institucionais com a mesma, sendo membro da Catedral Presbiteriana do Rio, onde prega regularmente. Fundou inicialmente o Café com Graça no Rio de Janeiro, em 2001, e o Caminho da Graça em Brasília, em 2004, que conta atualmente com filiais ou Estações em vários Estados e até fora do Brasil. O Caminho da Graça é chamado por alguns críticos como Igreja Emergente, mas eu os vejo como mais uma denominação evangélica, apesar deles não gostarem do termo. O próprio Caio apesar de declarar que não faz mais parte do movimento evangélico, disse em um vídeo do Encontro Nacional do Caminho, de 2007, disponível no youtube, ao chamar seus liderados a responsabilidade, a seguinte frase: “Qual o líder denominacional que dá a liberdade de trabalho que eu estou dando para vocês?” Ao dizer isto, ele mesmo se colocou como um líder denominacional, apesar de usar a nomenclatura de mentor. Não há revolução ali. Eles cantam corinhos evangélicos, celebram a ceia, realizam batismo (muitas vezes por aspersão como a IPB), recolhem contribuição financeira. A estrutura da reunião é a de um culto denominacional. Agora se lá o clima ao congregar é leve, sem muitas cobranças financeira, de ativismo religioso ou em usos e costumes; isso não é novidade, podendo também ser encontrado em outros lugares. Mas, apesar de gostar dos livros e pregação do Caio Fábio, vejo que ele tem se envolvido em várias polêmicas, a meu ver desnecessárias, como os vídeos no youtube “Conta Tudo”, ou mais recentemente quando criticou a reportagem da Revista Época.

8- Depois de quase uma década de conflito, os EUA deixaram o Iraque, ainda fragmentado e com muitos conflitos religiosos e etnicos, onde o terrorismo encontra cada vez mais espaço. Sabemos, que nunca foi encontrado um arsenal de armas químicas, além do que, o que se encontrou foi um exército iraquiano decadente e desmotivado. Diante do exposto, na sua opinião a Guerra do Iraque foi realmente necessária? Foi ético a Igreja Evangélica Americana apoiar tal conflito que custou muitas vidas inocentes? Esta igreja não cai numa hipocrisia ao lutar contra legalização do aborto enquanto que defende tal política beligerante?

RESPOSTA:Foi uma guerra desnecessária, que causou a morte de muitas vidas, civis e militares e um prejuízo financeiro terrível, seja para os EUA ou para o Iraque. No máximo o que deveria ter sido feito ali, era a chamada “operação cirúrgica” e um trabalho de inteligência. O embargo imposto nos anos 90, já era bem desumano para as pessoas lá viviam. É um discurso contraditório esse dos conservadores norte-americanos, se dizem defensores da vida, na questão do aborto, mas aprovaram o início da guerra, onde muita gente perdeu a vida.

9 - Sabemos que o projeto de casamento civil de pessoas do mesmo sexo, não é a instituição de um mandamento, mas uma concessão para que em caso de falecimento do companheiro, a pessoa tenha direitos para garantir sua subsistência. Na sua opinião, estas pessoas tem este direito, tratado pelo projeto? Ou a igreja deve fazer uma firme oposição a isso?

RESPOSTA:Legalmente, as uniões homoafetivas, já são reconhecidas pelo INSS, Receita Federal, Convênios Médicos, decisões de Tribunais Regionais e Superiores. Só falta o Congresso Nacional chancelar. E isso vai acontecer, não sei se com votação apertada ou não, mas vai, porque o Brasil, está indo no mesmo caminho tomado pela Argentina, Portugual, Espanha, e outros países nesse sentido. E aí, o que a igreja vai fazer? Ora, pregar a Palavra. É hora de parar de tapar os olhos para a realidade e reconhecer que há homossexuais nas igrejas e que outros mais virão. Eles devem ser tratados com respeito e amor cristão. Não sou a favor da celebração de casamentos homoafetivos nas igrejas, e acredito que assim como o apóstolo Paulo não separava um bígamo para o ministério, alguém que viva com pessoa do mesmo sexo, não deva ser líder na igreja. Mas existem cristãos que reconhecem que não gostam de pessoas do sexo oposto e sim o contrário, mas se fazem celibatários por amor ao Reino de Deus, como disse Jesus, em relação aos eunucos (não que os casos sejam iguais, mas apenas estabelecendo um paralelo).

10 - Como você vê a questão ambiental, tão propalada atualmente? Como a Igreja de Cristo deve se posicionar?

RESPOSTA:Uma questão muito importante, se queremos viver de forma sustentável. A Igreja deve ajudar na conscientização das pessoas quanto a preservação do Meio Ambiente, lembrando que o homem foi posto na Terra para guardá-la e não depredá-la.

Agradeço de coração ao irmão Marcos Wandré, do blog www.reflexoesdeumsobrevivente.blogspot.com, pela oportunidade de mais uma entrevista. Desde que criei este blog em 31/03/2008, já concedi algumas entrevistas a outros blogueiros. Esse teve algumas perguntas difíceis, mas está aí, minha sincera opinião sobre os temas.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A saúde de Movimento Evangélico

Ao criticar, entendo que necessito ser cuidadoso. Não posso portar-me como o fariseu que corava de raiva quando se quebrava o til ou a vírgula da lei, mas era insensível para o abuso de princípios éticos que carcomiam a sua própria alma.
Ao criticar o Movimento Evangélico, não posso passar ao largo da iniquidade que condena milhões de brasileiros a viverem abaixo da linha da miséria. Escolado em ambientes puritanos sei como é possível ver-se sugado para o debate moralista. Eu não teria dificuldade de discursar sobre rigor sexual e arrancar bons aplausos dos que veem promiscuidade até nos desenhos animados que divertem crianças nas manhãs de sábado.
Não é difícil agradar os auditórios religiosos. Basta uma pitada de perspicácia: diante de um auditório burguês é suficiente repetir algumas doutrinas ortodoxas e todos se sentem felizes.
Insisto em escrever e falar porque o imperativo cristão não me larga. Não consigo calar diante de temas fundamentais como: justiça, solidariedade, tolerância, honestidade.
O Evangelho me constrange. Sinto-me convocado a engajar-me na defesa do indefeso, na inclusão do excluído e na busca de justiça para o injustiçado. Diante desse categórico, nascem perguntas que não posso fugir: Qual a força do sistema de alienar-me? Para que lado ir na encruzilhada da Avenida Conforto com a Rua Responsabilidade?
Acomodação ética não é desvio, mas deformação. Está deformada qualquer instituição, religiosa, política ou educacional, que seja ágil para denunciar o menos importante e lenta para detectar o essencial.
Uma geração periga quando diminuem os profetas (nestes tempos, não se conhece sequer a função de um profeta – secular ou religioso). A camisa de força da mesmice vem sufocando a criatividade. O patrulhamento do conservadorismo conspira contra a liberdade de pensar. Faltam profetas.
Carecemos de homens e mulheres que não tenham medo de denunciar com o dedo em riste: Esta geração está inebriada pela doutrina do sucesso e vai se afogar na ganância e na complacência.
Minha crítica ao Movimento Evangélico começou há alguns anos, quando vi líderes indignados com questões periféricas, mas silentes diante de atrocidades. Raras vozes se levantaram contra evangélicos norte-americanos que abençoaram uma guerra absurda. O Iraque foi invadido e destruído devido a uma mentira (Onde estavam as armas de destruição em massa?). Faz-se silêncio sobre a morte de centenas de milhares.
Noto o constrangimento de alguns conservadores que não gostam de serem considerados do mesmo naipe que Benny Hinn, Kenneth Hagin, Edir Macedo ou Valdemiro Santiago. Mas eles se sentem orgulhosos de confessar a mesma doutrina que Franklin Graham, Pat Robertson, John McArthur, Chuck Colson e Max Lucado. Talvez considerem esses senhores dignos porque repetem a "doutrina verdadeira" e são de um país riquíssimo.
Por mais que seja difícil sentar ao lado de neopentecostais ávidos por lucro, acredito ser exponencialmente pior participar da roda de quem, sob o manto do conservadorismo teológico, sustenta a agenda de direita belicosa dos Estados Unidos. George W. Bush se aposentou mas a sua cartilha ainda continua a valer entre os evangélicos: lutar contra o aborto e contra os homossexuais, mas defender a pena de morte e apoiar a National Rifle Association.
Mas adesismo não destoa dentro do Movimento Evangélico. Quando os militares dominaram a política brasileira, havia um acordo tácito entre pastores e ditadores. Os ditadores deixavam os pastores pregarem e conduzirem campanhas evangelísticas e os pastores faziam vista grossa para a tortura.
Não é possível varrer para debaixo do tapete da piedade que o Movimento Evangélico brasileiro se esmera no irrelevante. Igrejas se multiplicam nas redondezas urbanas, mas não têm agenda contra preconceito racial ou de gênero. Impressionam as estatísticas sobre os avanços dos evangélicos; resta perguntar se alteram a sorte de milhões de crianças que vivem em ruas fétidas e estudam em escolas sucateadas.
Lamentavelmente, enquanto os evangélicos se reúnem em conferências para discutir e defender sua identidade, o Brasil permanece na lista dos mais injustos do planeta.
Mesmo decepcionado e muitas vezes desestimulado, continuo escrevendo, pregando e trabalhando. Sei que uma nova geração se levanta; acredito que milhões de rapazes e moças desejam ser leais ao Evangelho e anseiam por novos ventos.
Também não jogo a toalha porque acredito que se nos calarmos as pedras clamarão.
Fonte: www.ricardogondim.com.br

Qual é o momento em que as pessoas mais leem a Bíblia?