O divórcio (do latim, divortium,
derivado de divertĕre, "separar-se") é o rompimento legal e
definitivo do vínculo de casamento civil.
O tema tende a ser polêmico, pois é um assunto
controvertido. Divórcio é sempre divórcio. Separa! Quebra! Entretanto, o
divórcio como decisão física, e depois legal; só divorcia os que
psicologicamente já estejam divorciados.
Há muitos casais que jamais se divorciarão legalmente,
embora vivam divorciados de seus cônjugues legais a vida toda.
Em casos de crises, deve-se tentar de tudo para salvar o
casamento, antes de se optar pela separação. É o que aconselho. Acredito que
onde um dia houve amor, ele ainda pode se renovar. Os crentes devem evitar sempre que possível,
passar pela experiência frustrante de uma separação conjugal. O princípio do
amor e da aliança firmada deve ser a base do relacionamento.
Porém sou realista em afirmar que onde nunca houve amor, mas, ao contrário, só existe tristeza, amargura, maus tratos, indiferença, agressões, traições, covardia, silêncio, falta de intimidade, manipulação, e opressão, então, em tais casos, sou a favor de que se divorciem, pois já vivem como divorciados.
A situação
do divórcio entre os evangélicos
Existe duas faces nesta moeda. A
primeira é o que facilmente constatamos em todas igrejas evangélicas
atualmente, principalmente dos últimos 20 anos para cá. A facilidade que está
havendo divórcio.
Na maioria dos casos, a alegação é:
incompatibilidade de gênios. Está parecendo a época de Jesus, onde se
divorciava por qualquer motivo. Está havendo um abuso sem dúvida alguma. Em
alguns casos, depois da separação, um dos conjugues ou os dois contraem novas
núpcias e continuam congregando no mesmo templo. Uma confusão só!
A outra face da moeda é ver uma situação no mínimo patética entre os evangélicos. O farisaísmo nas igrejas. Alguns preferem ter pastores que se prostituem e ninguém fique sabendo, do que terem gente honesta e verdadeira, e que confesse que há algo sem cura em seus casamentos, e que, por tal razão, preferem a verdade à farsa.
É muito estranho ver que para alguns cristãos, parece tranqüilo conviverem com canalhas, expropriadores do povo, pervertedores do Evangelho, difamadores, invejosos, portadores de taras que se escondem atrás do legalismo, com fariseus mais amantes do Sábado institucional do que da vida humana. Tais pessoas não conseguem tratar o divórcio de duas pessoas infelizes como algo humano, ainda que doído para os dois e os filhos (quando eles existem no casamento). Por isso, à moda dos fariseus, eles preferem coar o mosquito e engolir o camelo.
A interpretação do texto de Mateus sobre o divórcio
Nós lemos Mateus 5: 31 e 32 e pensamos nele com
nossas categorias ocidentais. Todavia, quase nunca levamos em consideração o
contexto no qual Jesus disse esta palavra. Nesse caso, o que Jesus diz,
levando-se em consideração o “contexto histórico”, é basicamente o seguinte:
Naqueles dias, mulheres não se divorciavam dos homens. Era a Lei. Neste mundo onde o homem “descartava” a mulher, sem direitos a mesadas e a patrimônio, estigmatizada pela Moral vigente e, praticamente, entregue a sobreviver como pudesse (na mendicância ou na prostituição), caso não se casasse novamente.
A razão, portanto, tinha a ver com o estigma que a “repudiada”, a divorciada, carregaria, naquela sociedade, daí para frente. Ao homem era permitido por qualquer motivo, desamparar a esposa, repudiando-a, e, então, depois disto, era-lhe “lícito” escolher outra mulher e seguir adiante com sua vida. Não era sempre bigamia, mas era sempre uma monogamia sucessiva. Ela era extremamente praticada até que Shamai, um rabino, se levantou contra aquela injustiça, discutindo os “motivos justos para dar uma carta de divórcio”, que, à semelhança de Jesus, para ele, também era o adultério.
Numa sociedade onde o homem tinha todos os privilégios, incluindo o de ter uma segunda esposa caso a pudesse sustentar, descartar a esposa e entrega-la ao mundo com uma letra R, de Repudiada, escrita na testa, e, ainda, esperar que ela vivesse de vento, expunha-a a tornar-se adultera—fosse pela necessidade de ser sustentada por alguém, fosse pela realidade de ter encontrado alguém. Assim, em Mt 5: 27-28, Ele iguala a todos no nível do adultério subjetivo.
A preocupação da Palavra, é com a injustiça! Assim como não é justo se “divorciar por qualquer motivo” — conforme faziam muitos em Israel, inclusive nos dias de Jesus —, também não é justo carregar um casamento maligno e doente, apenas porque o(a) parceiro(a), não cria a “margem legal” para a separação, enquanto oprime o outro o dia todo.
Jesus não “puxou” este assunto. E
quando falou, foi dentro de um contexto: a briga judaica entre as teses dos
rabinos Shamai e Hillel.
Quando encontrou a mulher que
adulterara, mandou-a de volta à vida com a mensagem de que a vida não passava
por aquele caminho que quase lhe gerara a morte.
Quando encontrou a Samaritana, que
já havia tido cinco maridos oficiais, e agora estava tendo um “caso”, mandou
chamar o “companheiro”. Foi ela quem puxou o assunto da legalidade do vínculo,
tão acostumada que estava a ser culpada por tantos “casamentos”.
Jesus tratou com as mulheres de todos os tipos de vida durante os Evangelhos. Quase todas elas vinham de vidas infelizes, mas todas foram absolutamente acolhidas, a Samaritana, inclusive, com seu “companheiro”, acerca de quem Jesus disse: “...chama teu marido e vem cá...”
Os maiores ensinos de Jesus não foram quando falava parábolas ou fazia sermões, mas sim nos encontros Dele com as pessoas que encontrava pelo caminho. É justamente nesses encontros que está a interpretação do seu ensino. O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Jesus não ensinava aquilo que não encarnava como manifestação da Graça.
Concluo dizendo que divórcio é um remédio amargo que só deve ser ministrado se for para salvar o paciente. Mas há quem prefira ver o paciente morrer casado. O casamento como instituição é interpretado por quem pensa assim, como maior do que a vida. É uma reedição do “sábado maior do que o homem” - coisa essa que Jesus enfrentou.