quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A mulher samaritana, Coca-Cola e Jesus

Às vezes, a gente ouve certas coisas que não aceita, mas não sabe bem o porquê. Só depois de algum tempo entende. Não foi por mera antipatia que aquela mensagem não desceu bem. Recordo-me quando ouvi pela primeira vez o paralelo entre Jesus e a Coca-Cola. O pregador, inflamado de zelo e paixão missionária, afirmava que numa viagem ao interior do Haiti, sob uma temperatura de mais de 40 graus, sentiu-se aliviado quando parou num quiosque miserável feito de palha de coqueiros e pôde comprar uma garrafa do mais famoso refrigerante do mundo. Devidamente refeito depois de beber sua Coca geladinha, perguntou ao dono da venda se já ouvira falar de Jesus. Ele não sabia de quem se tratava. E o nosso palestrante fez sua analogia, tentando dar um choque na complacência da igreja ocidental: “A Coca-Cola conseguiu alcançar o mundo inteiro em menos de um século e a igreja cristã ainda não cumpriu a ordem da Grande Comissão em mais de 20 séculos!”. Depois daquela primeira exortação, já devo ter escutado essa mesma comparação uma dúzia de vezes em diversas conferências missionárias. Verdade ou tolice? Pior. Estou certo que essas ilustrações não são meros simplismos, nascem de grandes erros teológicos (ou ideológicos?).

Coca-Cola é uma bebida inventada na Geórgia, Estados Unidos, com uma fórmula secreta. Sabe-se que sua receita original continha alguns ingredientes também encontrados na cocaína, daí o seu nome. Seus fabricantes nunca intencionaram outro propósito senão matar a sede das pessoas. A The Coca-Cola Company não convoca ninguém a rever valores do caráter, não confronta estruturas de morte, não se propõe a aliviar culpa, não revela a eternidade e nem Deus. Para chegar aos quiosques mais remotos do globo, bastou criar um produto doce e gaseificado. Investir bilhões em boas estratégias de propaganda, construir fábricas e desenvolver uma boa rede de distribuição para que o produto chegasse com a mesma qualidade nos pontos de venda. Tentar comparar a missão da igreja no anúncio do Reino de Deus às estratégias de mercado de um refrigerante, beira o absurdo. Confunde-se um bem material com uma pessoa e enxerga-se na mensagem um produto. Os missiólogos sucumbiram à lógica do mercado do novo milênio? Acreditam mesmo que cumpriremos nossa missão com os instrumentais corporativos? Tudo pode se tornar um produto?

No Brasil, o esforça-se muito para “vender” o Evangelho. Quase não se usa a mídia para proclamar os conteúdos do Evangelho. Alardeiam-se os benefícios da fé. Basta observar a enormidade de tempo gasto divulgando os horários dos cultos, a eficácia da oração, mostrando que aquela igreja é melhor e que a sua mensagem é a mais forte para resolver todos os problemas das pessoas. Aborda-se o Evangelho como um produto eficaz e adota-se uma mentalidade empresarial no seu anúncio. Prometem-se enormes possibilidades. Tratam as pessoas como clientes e sem constrangimento, anuncia-se que qualquer um pode adquirir esse determinado benefício com um esforço mínimo. As igrejas se transformam em balcões de serviços religiosos ou supermercados da fé. A tendência de oferecer cultos diferenciados e as intermináveis campanhas de milagres demonstram bem esse espírito. Como um supermercado com as gôndolas recheadas de produtos, as igrejas procuram incrementar os “serviços” ao gosto dos fregueses. Os pastores dividem os dias da semana com programações atrativas; gastam suas energias desenvolvendo estratégias que atraiam o maior número de pessoas. Sonham com auditórios lotados. Campanhas, correntes e demonstrações grotescas de exorcismos e milagres financeiros se sucedem. As pessoas, por sua vez, se achegam, seduzidos pelas promoções das prateleiras eclesiásticas.

Esse modelo induz as pessoas a adorarem a Deus por aquilo que ele dá e não por quem é. Não se anuncia o senhorio de Cristo, apenas os benefícios da fé. Os crentes acabam tratando a Bíblia como um amuleto e, supersticiosos, continuam presos ao medo. Vive-se uma religião de consumo.

Infelizmente percebe-se que em determinados círculos cristãos, querem fazer do Evangelho uma grife. Como? Primeiro transforma-se um seleto grupo de evangelistas, cantores e pastores em superestrelas ao estilo de Hollywood. Depois associam seu nome a grandes eventos e dão-lhes o holofote. Ensinam-lhes habilidades espirituais acima da média. Assim produzem-se ícones semelhantes aos do mundo do entretenimento. Eles aglutinam multidões, vendem qualquer coisa e criam novas modas. A indústria fonográfica enriquece, os congressos se enchem, e os novos astros do mundo “gospel” alavancam suas igrejas.

Jesus dialogou com uma mulher samaritana e ofereceu-lhe uma água viva. A mulher imaginou essa água com raciocínios concretos. Pensou que ao beber, nunca mais teria sede. Uma água dessas hoje, devidamente comercializada, seria um tesouro sem preço. “Dá-me dessa água e assim nunca mais terei que voltar aqui”.

Jesus corrigiu sua linha de pensamento. A água que ele oferecia não era mágica, mas um relacionamento: filhos e filhas adorando ao Criador em espírito em verdade. Infelizmente muitos evangélicos brasileiros propagandeiam água mágica. Pretensamente matando a sede de qualquer um no estalar dos dedos.

O evangelho não é produto ou grife, volto a repetir, mas uma alvissareira notícia. Não deveria se escravizar às regras do mercado. Ricardo Mariano em sua tese de doutoramento concluiu, para a vergonha de tantas igrejas neo-pentecostais: “As concessões mágicas feitas pelas igrejas pentecostais às massas desafortunadas, por certo, não constituem tão-somente meras concessões… observa-se que a oferta pentecostal de serviços mágicos segue cada vez mais uma dinâmica empresarial, ditada pela férrea lógica do mercado religioso, que pressiona os diferentes concorrentes religiosos a acirrarem seu ativismo e a tornarem mais eficazes suas ações e estratégias evangelísticas”.

Essa mercadoria religiosa caricaturada de evangelho não representa o leito principal da tradição apostólica. A indústria que encena essa coreografia carismática de muito barulho e pouca eficácia, não conta com o aval de Deus. Há de se voltar ao anúncio doloroso do arrependimento como primeira atitude para os candidatos ao Reino. Não se pode, em nome de templos lotados, omitir a mensagem da cruz. Precisa-se repetir sem medo a mensagem de Jesus: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Marcos 8.34).

Se não voltarmos aos fundamentos do Evangelho, teremos sempre clientes religiosos, nunca seguidores de Cristo. Faremos proselitismo sem evangelizar. Aumentaremos nossa arrecadação sem denunciar pecados. Construiremos instituições humanas sem encarnação do Reino de Deus. E pior, continuaremos confundimos Jesus com Coca-Cola. No Maranhão há um refrigerante de grande sucesso com a marca Jesus. Entretanto, não se pode desejar alcançar o sucesso transformando Jesus numa soda e as igrejas em quiosques religiosos.

Que Deus tenha piedade de nós.


Meu Comentário: Postei esse texto,  pois expressa bem um pensamento igual ao que  tive ao sair de uma reunião. Havia recebido o convite para fazer parte de uma comissão, que irá acompanhar o treinamento de cerca de algumas dezenas de pessoas que se candidataram para serem futuros missionários. O treinamento consistirá em duas etapas, sendo uma na cidade local onde congregam e outra em uma região do Nordeste.  O currículo das disciplinas elaborado para ser ministrado durante o treinamento foi o seguinte: empreendorismo, oratória, marketing, postura, evangelismo e relacionamento (como trabalhar em equipe).

Sugeri então, aos demais participantes da comissão que,  fosse acrescentado ao currículo mais displinas, que trabalhassem conteúdos bíblicos. Para minha surpresa ouvi como resposta que o objetivo do curso não era esse, e que os candidatos deveriam buscar conhecimento bíblico, fazendo cursos teológicos e lendo livros em casa que seriam sugeridos pelos professores.

Saí da reunião preocupado com o perfil esperado para ser missionário hoje. 




segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os evangélicos e as eleições


Evangélicos investem nas eleições e ganham legitimidade, mas é preciso relativizar sua força, diz pesquisadora O núcleo de pesquisa Religião, Gênero, Ação Social e Política, ligado à UFRJ, está realizando uma ampla pesquisa com líderes de igrejas evangélicas pentecostais. O objetivo é conhecer suas visões e atitudes em relação a temas como movimentos sociais, agências governamentais e sistema partidário. Entre os coordenadores do estudo, encontra-se a socióloga e professora Maria das Dores Campos Machado, que tem se dedicado a ouvir as lideranças, além de analisar seus pronunciamentos, entrevistas, debates.

Analisando o que viu, leu e ouviu até aqui, ela observa que os grupos religiosos estão recorrendo cada vez mais à política para ampliar sua capacidade de influência na sociedade e fortalecer suas igrejas. A marcante presença deles nas eleições municipais deste ano confirma essa tendência. De maneira geral, o projeto do grupo tem tido sucesso, mas é preciso relativizar a sua força. O poder de fogo evangélico é menor do que o apregoado, segundo a pesquisadora. Leia abaixo a entrevista com a socióloga e professora Maria das Dores Campos Machado:

Um levantamento sobre os candidatos à Câmara, em São Paulo, apontou a presença de 15 pastores na disputa por uma vaga de vereador. A que a senhora atribui o aumento da presença de evangélicos nas eleições?

A política constitui um meio para dar legitimidade ao grupo e retirar os evangélicos do lugar de discriminação em que se encontravam. No passado, toda pequena cidade do País tinha como autoridades o prefeito, o juiz, o delegado e o padre. O pastor era discriminado.

Mas hoje não é mais assim.

O quadro está mudando. Chama a atenção, nas conversas com as lideranças evangélicas, as referências que fazem aos convites que recebem de prefeitos, que desejam falar de suas obras, prestar contas. Uma pastora me disse que antes os evangélicos eram considerados como gentinha, grupos de fanáticos, mas hoje começam a ser vistos como atores políticos.

O que muda com a conquista dessa nova posição?

Historicamente, os evangélicos sempre tiveram uma entrada forte na educação, por meio de universidades, colégios, como o Mackenzie em São Paulo. Nunca houve uma difusão forte de seu trabalho no campo da assistência social. Nos últimos anos, porém, ocorreu um deslocamento também para essa área, da assistência. À medida que entram na política, que fazem alianças com o Executivo, tanto no nível municipal quanto estadual e federal, os evangélicos também começam a obter verbas da assistência social, antes destinada somente a grupos católicos e espíritas.

Estão ampliando o leque de interesses?

O recém-criado Partido Ecológico Nacional está associado à Assembléia de Deus. Muitos pastores fizeram coleta de assinaturas para a formação do partido, numa indicação de que a agenda política do grupo está sendo refeita. A mobilização em torno da questão ambiental significa que não estão mais interessados apenas na discussão do volume de decibéis que pode ser emitido pelas igrejas ou na oposição ao casamento homossexual. Novos temas estão sendo absorvidos pelos grupos evangélicos.

Também ampliaram o campo de alianças políticas?

Para ganhar posições e aumentar sua força política, eles ficaram mais abertos. O PRB, que tem ligações com a Igreja Universal, com o ministro Marcelo Crivella, tem como candidato em São Paulo um católico, o Celso Russomano. Isso significa que quando a igreja ajuda, quando se empenha na criação de um partido, desde a coleta de assinatura, ela não irá exigir necessariamente que o partido fique restrito, fechado àquela igreja. É um jogo destinado a ganhar espaço.

Esse aumento da confiança política está relacionado às eleições de 2010?

Sim. Eles têm consciência de que agora são mais respeitados. Citam muito o acordo que fizeram naquela eleição com a então candidata Dilma Rousseff, do PT, e lembram que esse acordo tem sido respeitado. Conforme o combinado, o governo Dilma não apresentou nenhuma proposta relacionada ao aborto.

O IBGE apontou o crescimento da população evangélica. Isso significa um aumento automático da força política desse grupo?

É preciso relativizar um pouco essas informações. Observe os números da pesquisa do Instituto Datafolha sobre a Marcha Para Jesus. Eles mostram que o evento, assim como a Parada Gay, reúne uma quantidade de pessoas muito menor do que a divulgada pelos organizadores. Não são quatro ou cinco milhões de participantes como se alardeia. Estou dizendo isso para relativizar, mostrar que, embora exista uma grande capacidade de mobilização, ela é menor do que a apregoada. Outro exemplo disso são os grandes templos que estão sendo construídos, as catedrais evangélicas Assim como as catedrais católicas da Idade Média, elas têm um efeito espetacular, são capazes de impressionar as pessoas do lado de fora, mas, se você entrar, verá grandes espaços vazios, não utilizados.

O IBGE também mostrou um aumento no número de evangélicos que não estão ligados a igrejas.

Isso é resultado do crescimento númerico da população evangélica. À medida que o grupo cresce muito, os laços com a igreja se afrouxam, a capacidade de controle diminui, as normas se tornam mais flexíveis em relação às roupas, ao comprimento do cabelo, ao uso do véu. O grupo vai perdendo o diferencial, se tornando mais parecido com o conjunto da sociedade. Isso acontece com todas as religiões.

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/roldao-arruda/  

Meu Comentário: Ao ler a entrevista com a pesquisadora da UFRJ no Estadão, me veio a mente que hoje a grandeza numérica da igreja evangélica brasileira tornou-se um de seus maiores inimigos. Essa é a grandeza terrível, pois ela é alienada, sem cabeça, sem ética, e que favorece toda e qualquer perspectiva de manipulação. Vivemos então um momento em que muitos de nós sentimos deslumbrados com as oportunidades, os privilégios, os acenos, as portas abertas, as coisas para a igreja evangélica são franqueadas. E isso nos tem corrompido.

Não estou aqui sugerindo que devemos nos alienar. Estou apenas dizendo que a nossa falta de maturidade nos levou a passar de uma profunda alienação política a uma participação política inescrupulosa e sem ética de um lado e excessivamente apaixonada de outro.

CARTA ABERTA DE BILLY GRAHAM À AMÉRICA


Após o terrível recente massacre em Aurora, Billy Graham (na foto) alerta a América para o Juízo divino e convoca o povo ao arrependimento. Eis a carta:

"Há alguns anos atrás, a minha esposa Ruth estava lendo um esboço de um livro que eu estava a escrever. Ao terminar uma secção que descrevia a terrível espiral descendente dos padrões morais e da idolatria da adoração de falsos deuses como a tecnologia e o sexo, ela impressionou-me quando exclamou: 'Se Deus não punir a América, Ele vai ter de pedir desculpa a Sodoma e Gomorra.'

Ela pensava certamente numa passagem de Ezequiel onde Deus diz porque é que levou essas cidades à ruína. 'Eis que esta foi a iniquidade de Sodoma, tua irmã: soberba, fartura de pão e próspera tranquilidade...mas nunca amparou o pobre e o necessitado. Foram arrogantes e fizeram abominações diante de mim; pelo que, em vendo isto, as removi dali' (Ezequiel 16:49-50).

Não sei o que a Ruth pensaria da América se estivesse viva hoje. Nos anos que se passaram depois que ela fez esse comentário, milhões de bebés foram abortados e a nossa nação parece geralmente despreocupada. A complacência egocêntrica, a arrogância, e uma falta de vergonha pelo pecado são agora distintivos do estilo de vida americano.

Há poucas semanas atrás, numa proeminente cidade no sul, os capelães Cristãos que trabalham no departamento policial receberam ordens para não mais mencionarem o Nome de Jesus nas orações. Foi relatado que durante um recente evento organizado pela polícia, a única pessoa com permissão para orar foi alguém que se dirigiu "ao Ser presente na sala."

Cenários semelhantes são agora lugar comum em cidades por toda a América. A nossa sociedade esforça-se por evitar qualquer possibilidade de ofender alguém - excepto Deus.  Contudo, quanto mais nos distanciamos de Deus, mais o mundo gira fora de controlo.

O meu coração dói pela América e pelo seu povo enganado. As notícias maravilhosas é que o nosso Senhor é um Deus de misericórdia, e Ele responde ao arrependimento. Nos dias de Jonas, Ninive era a única potência mundial - rica, indiferente e egocêntrica. Quando o profeta Jonas finalmente viajou até Nínive e proclamou os avisos de Deus, o povo ouviu e arrependeu-se.

Eu acredito que a mesma coisa pode acontecer uma vez mais, desta vez na nossa nação. É algo que anseio, e o meu filho Franklin partilhou recentemente uma visão do provável maior desafio na história da Associação Evangelística Billy Graham: lançar uma campanha denominada Minha Esperança com Billy Graham, que levaria o Evangelho aos bairros e lares de todos os cantos da América no próximo ano."

Enquanto escrevo, estou no meio de um verão ocupado desfrutando das visitas dos muitos netos da minha família e de outros membros, mas também trabalhando arduamente num novo livro que aborda algumas ilusões perigosas acerca da salvação eterna que se estão a tornar cada vez aceites em muitos lugares. Quero chamar a atenção do mundo para o que a Bíblia diz.

Embora a idade e a saúde restrinjam a minha mobilidade e a minha resistência, para não mencionar a minha visão e audição, eu estou grato pelos dias que Deus me deu.
 
Billy Graham
Fonte: http://cavandomaisfundo.blogspot.com