Medite
comigo num dos mais cruciais textos da Escritura: a tentação de Jesus no
Pináculo do Templo!( Mt 4:14). Hoje
em dia, aquela tentação é comumente interpretada como sendo a do materialismo
dos milagres e do carismatismo do poder de personalidades que impressionam por
suas “mágicas sobrenaturais”.Ela é vista também como a tentação do marketing da
piedade pessoal — o que também é poder —, ou ainda, como a tentação de
“encurtar” a longa estrada do discipulado e da vivência na Palavra, por uma
“rota mais curta”, especialmente visando à auto-afirmação ministerial no
ambiente cristão.
Enquanto
isto, no Pináculo do Templo, Satanás deseja que Jesus dê uma prova irrefutável
de que Ele é o Filho de Deus. Era a violação da Lei de causa e efeito no
mundo físico —“atira-te daqui abaixo”— a fim de estabelecer uma outra
relação de causa e efeito: “Quebra deliberadamente o efeito e tu serás a
tua própria Causa!”. Ou seja, Satanás convidava Jesus a muito mais do que
para um Show Messiânico. Ele convidava Jesus para o “Pináculo do
Templo”, para aquele lugar de onde o “Querubim da Guarda” foi derrubado,
tornando-se Diabo e Satanás. Figurativamente,
Satanás tenta colocar Jesus acima do Pai, no Pináculo de Sua Habitação! Essa é
a tentação de todos aqueles que desejam se afirmar acima de sua vocação e que desejam
se tornar independentes de Deus no “lugar sagrado”.
E
pior, é a tentação dos que confundem Deus com o “lugar sagrado”, que rejeitam
sua situação de criaturas, que pensam que possuem auto-suficiência para cumprir
sua própria. Is 14: 12; Ez 28: 1-19—em ambos os contextos há personalidades
humanas referenciais desse “poder” na Terra. No primeiro caso era o rei de
Babilônia. No segundo, o rei de Tiro. Porém, é inequívoco que a Bíblia manda
ver atrás e para além deles quem era o tirano: Satanás, o mesmo que tentou a
Jesus.
E isto tudo
fundados no sucesso de suas performances espirituais ou materiais. Ora, Satanás
também tem anjos a seu serviço. E se estavam disponíveis para o “sucesso do
salto de Jesus”, não estariam também disponíveis para o sucesso da “igreja”? Sucesso não é problema para quem disse “tudo
isto te darei se prostrado me adorares”. E se fosse mentira, não seria,
pelo menos para Jesus, nenhuma tentação!
A tentação é a possibilidade! Exatamente como lá no Jardim do Edén. Tanto era possível, que
aconteceu! Tanto era mentira, que aconteceu sem realizar a promessa de Vida e
Saber para o Bem!
As
“verdades” do Diabo realizam o possível. O que não realizam é o impossível
dos homens — e do Diabo também —, que só é possível para Deus, e, no
caso, a maior impossibilidade da Terra e do Céu é a salvação de um homem
por seus próprios méritos ou pelo apropriar-se das “possibilidades
disponíveis”. Fp 3: 4-6: Veja como a
pressuposição auto-referente de Saulo de Tarso, em sua entrega ao legalismo
farisaico, o colocou na posição de perseguidor, de satanás do próximo (I
Tim 1: 13).
A “igreja”
deveria sempre levar em consideração duas coisas: os anti-cristos saem
de seu “meio” (I Jo 2: 19) e, ela mesma, pode receber o “poder e os sinais e
prodígios da mentira” (II Tess 2: 7-12). Ora, se os anti-cristos podem
sair de entre nós ou viver em nosso “meio”, nada seria mais simples que os sinais
e prodígios da mentira também os acompanhem onde estejam. O problema é que
enquanto caçamos anti-cristos no mundo, não os percebemos entre nós!
O
anti-cristo é o inimigo da Graça que vem da Cruz, mesmo que com
os lábios a exalte! A maior manifestação de um ser marcado pela Cruz é a
Graça e a misericórdia que dela decorrem na direção do próximo! Todavia,
os poderes de sedução da auto-justificação, da justiça própria e do engano
satânico podem iludir os próprios eleitos, conforme nos advertiu Jesus. Lc
17: 27, onde o grande milagre é a Graça da salvação! E isto pode se
manifestar como objeto de fabricação espiritual, de invenção Moral, de auto-glorificação,
de saúde psicológica, de poder político ou eclesiástico, ou de qualquer outra coisa
que tire você do caminho de ser de Deus apenas por Deus! Em suma: a
proposta de Satanás realiza qualquer coisa, menos a entrega verdadeira a Deus!
Um dos
mais celebrados “dons espirituais” hoje em dia é o do “dom do marketing”. Já há
até livros devocionais sobre o Marketing de Jesus! A invenção humana que é fruto
da obediência aos desejos de auto-justificação ou fruto da mera neurose de
obediência de almas não atingidas pela Palavra e pela Graça.
Ou seja, a inclinação normal do Homem Natural é para Religião ou para qualquer
outra forma de auto-justificação ou de auto-glorificação!
A
Religião pode até mesmo se tornar o esconderijo de almas amantes do mal, e que
escolhem o melhor de todos os escudos para sua camuflagem: a Moral religiosa! Quanto
mais perto do Pináculo do Templo se chega, mais entregue aos ventos dessa tentação
nós ficamos! O mesmo se pode dizer da Moral ou, diluidamente, da Moralidade. Afinal,
o que o Diabo diz também é: “Prove, por você mesmo, e com seus próprios méritos,
que você é Filho de Deus!” Como criaturas, nós também somos filhos de Deus e
somos também freqüentemente tentados a fazer uma demonstração “milagrosa ou
Moral” desse vínculo.
O
problema é que o “cristão” ainda tem que sofrer mais que a culpa — na maioria
das vezes, mais neurose que “culpa”; ou mais cinismo do que
“paz”—, que é a presença semi-divina da “igreja”, que se arroga o papel de ser
a detentora histórica do “bem” e do “mal”.
A
“igreja” ainda não entendeu que ela se tornou a mais arrogante representante da
franquia terrestre da
Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal! Ora, aqueles que habitam o “pináculo”,
tornando-se escribas dos oráculos que de lá advêm, são aqueles que sofrem a
pior tentação e é neles também onde ela cresce ainda mais. Lembre-se, o próximo
passo é a “interpretação da Escritura”, conforme uma “hermenêutica satânica”.
Aparece,
então, a exegese do Salmo 91. Pois, então, lhe disse o Diabo: “Se és o Filho
de Deus, atira-te abaixo, por que está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu
respeito, que te guardem; e, Eles te sustentarão nas suas mãos, para não
tropeçares nalguma pedra”.
E que
ironia! No pináculo teológico e religioso a tentação é muito maior! E nesse
particular é bom que ninguém esqueça os fariseus e os escribas da Lei dos
dias de Jesus. Eles eram homens do templo, sua piedade e religiosidade externas
eram inquestionáveis; suas boas obras, irrepreensíveis; suas esmolas e jejuns,
impossíveis de não serem reconhecidos; seu interesse pelas Escrituras,
obsessivo. Mas, e daí?
Quanto mais uma pessoa se dedica à letra, menos se dedica à Palavra e
mais distante fica de Deus. A letra mata! E, aqui, Satanás nos chama para a
tentação do letrismo, do literalismo, das exegeses sem o Espírito, para os
códigos de obediência externos, para o marketing religioso, para o exame
anatômico das letras da Escritura para ver se “nela” encontramos o “espírito”— inversamente
— conforme os “materialistas russos” do século passado que dissecavam o corpo
para demonstrar a inexistência do espírito —; e, nesse ponto, Satanás também
nos incita à “possibilidade” de escravizar Deus às “ordenanças de nossas
profecias”. Afinal, “está escrito!” E, neste aspecto, basta ouvir
programas cristãos no rádio ou vê-los na televisão, ou mesmo, basta ir à
maioria das “igrejas de poder”, que se verá a “hermenêutica de satanás” sendo
pregada.
É quando Deus tem que “obedecer” à Sua Palavra em sujeição à ignorância
humana —, ou quando Ele tem de se tornar “cúmplice” da pilantragem realizada em
Seu nome, cumprindo, supostamente, promessas que Ele não fez; ou quando Ele é o
“estivador celestial” que apenas realiza a “agenda” de curas e milagres que os agentes
de publicidade e marketing da religião pré-definiram.
E mais, isto acontece também quando Deus tem que cumprir a “Escritura”,
que no caso foi objeto não só de exegese satânica, mas também teve seu
aplicativo “cristão” muito bem “apropriado” aos interesses financeiros,
psicológicos — no caso de “messias” que sofrem de surto religioso —, ou
“teológicos”, daqueles que dizem: “Deus não pensa assim!” Neste último
caso, é quando se “usa” a Palavra para se “construir” uma teologia ou uma Moral
que reflita não a verdade da Palavra, mas um exercício satanizado de capacidade
interpretativa, fundado na doença Moral-psicológico-teológica do “messias” ou
“escriba” ou “fariseu” em questão!
Assim, aprende-se que é no lugar sagrado e no manejo autônomo da
Escritura, onde mais corremos o risco de cair em tentação! Jesus poderia até
ter pulado do Pináculo do Templo. Anjos poderiam até ter vindo socorrê-Lo — e
não faltariam voluntários celestiais satânicos para cumprir a missão de aterrissagem
de Jesus no pátio do Templo —, mas a Glória do Pai teria sido profanada! Jesus
teria feito o caminho de Lúcifer!
Na base de tudo está o seguinte: A Escritura é absoluta. Sua
interpretação, todavia, é relativa.
Isso porque as “mentes” que a interpretam já carregam suas próprias
“certezas” fundadas no engano do conhecimento do “bem” e do “mal”, conforme a
interpretação do “Pináculo do Templo”.
Agora, voltemos ao princípio de tudo. Eu disse que Satanás convidara
Jesus para quebrar um princípio físico de causa e efeito — a Lei da
gravidade —, a fim de fazê-lo mergulhar num outro princípio, espiritualmente negativo: Quem quebra
deliberadamente o efeito daquilo que é
absoluto, torna-se
sua própria Causa. E, assim,
se acumplicia a Satanás, quando subiu sozinho ao Pináculo do Templo Celestial e
disse: “Eu subirei; eu ficarei acima do Altíssimo!”
O que não percebemos é que a tentativa de quebrar a Lei natural
de causa e efeito é o que nos faz ser a “Causa” e os efeitos passam a
ser apenas aquilo que nós criamos a nosso bel-prazer ou conforme nossas
melhores barganhas com a nossa própria pseudo-divindade! Afinal, nós
viramos a própria medida de todas as coisas, mesmo que isto aconteça sob os
disfarces de piedades religiosas, como é mais comum acontecer! Sempre que o
homem é a “causa”, Deus é um mero “efeito”! E esta é a grande blasfêmia!
A salvação da Igreja está em não se impressionar com a citação das
Escrituras, mas, antes disso, buscar obediência a Deus e à Sua Palavra, apenas
e tão somente porque é Palavra de Deus.
Sempre que se obedece à Escritura por causa dela mesma se está cedendo à
tentação do Diabo! A “Escritura”, sem Deus, é apenas um texto religioso aberto a toda sorte
de manipulações!
Estava escrito. Porém, não estava dito! Ora, é em cima do que está
“escrito”, mas não está dito, que não só cometemos “suicídios”, mas
também “matamos” aqueles que se fazem “discípulos” de nossa arrogância, os quais,
motivados pelas nossas falsas promessas, atiram-se do Pináculo do Templo
abaixo. E é também por causa desse tipo de obediência à letra da Escritura que
nós morremos.
A letra mata!
Olhamos em volta e vemos o Livro de Deus em todas as prateleiras.
Vemos o povo carregando-o sob o braço, e percebemos que eles são apenas
“consumidores de Bíblias”. Vemos seus líderes e os percebemos, muitas vezes,
apenas como “mercadejadores” de Bíblias e dos “esquemas” e “programas” que se
derivam do marketing que oferece e vende sucesso em “pacotes em nome de Jesus”.
Sim! E isto tudo não porque nos faltam Bíblias e muito menos acesso à Palavra.
O que nos falta é buscar a Deus por Deus. Ser filho amado de Deus não porque
isto nos dá status Moral sobre uma sociedade que não é mais perdida que a
própria “igreja”, coletivamente falando, é claro!
Vemos uma teologia que é uma produção que tem o Diabo como consultor e tutor
teológico do Curso. É o “uso” da Escritura a fim de “adulterar” a Palavra. Esse
é o João 5: 39-40—onde o “exame” das Escrituras só se atualiza como vida se acontecer
em Cristo.
Tudo o que não for escolha pelo bem-revelado, feita como
resultado de uma liberdade responsável, é Moral; não é Ética. É Estética, mas não é Verdade. É Dogma,
mas não é Revelação! Moral não agrada a Deus. É filha do medo. É
governada pela imagem. E tem, como sua “filha de criação”, a hipocrisia. E
pior, sua mansão mais pomposa é a Religião. Ética, todavia, é filha da
liberdade de escolha.
E porquê é assim? É porque não é fruto da consciência movida pela
liberdade do amor! Pelo contrário, é o produto do medo que se sujeita ao “Tirano”—no caso,
Deus—, ao qual tem-se que confessar um amor que não se sente e cumprir regras
que nem se aceita e nem se entende, na maioria das vezes!
E aqui, voltamos, outra vez, ao engano: Quem tem medo do efeito não ama
a Causa e quem não ama a Causa, submete-se a ela até encontrar uma razão ou um
meio de transgredi-la ou de “negociar” com ela. Assim, nascem os “sacrifícios”
e as “trocas” com a divindade.
Jesus, todavia, responde ao Diabo com o que estando “escrito”, estava
também dito; e não com aquilo que estando “escrito”, não fora jamais dito.
É quando o que está “escrito” não equivale ao que foi dito. O que está “escrito” é estático. O que
foi “dito” é vivo e produz vida onde chega.
“Não tentarás ao Senhor teu Deus”— respondeu
Jesus. O que equivale a dizer: “Não use o que está escrito contra aquilo que
Deus disse!”. Dessa forma, Jesus
ensina que a obediência à letra da Escritura pode se transformar em obediência
a Satanás, se o texto, sob qualquer que seja o pretexto — consciente ou inconscientemente
— servir para produzir isolamento e independência em relação Àquele que o
inspirou.
“Ele dará ordens a
teu respeito para que te guardem...”. Portanto, é
Deus quem sabe a hora. É Dele e somente Dele a agenda. E qualquer tentativa de
tirar a Palavra de Deus das mãos de Deus e colocá-la nas mãos do homem, dando a
este o poder de decidir, de ordenar, de demandar, de liberar, ou de trazer da
mera “Escritura”. O cumprimento de suas promessas, conforme a agenda humana, é
aceitar a sugestão de Satanás e é ensinar as pessoas a usarem a “Escritura”
contra a Palavra e contra elas mesmas.
Na tentação de Jesus — e quando falo de “tentação”, obviamente não me
refiro apenas às três “clássicas”, conforme os evangelhos, mas a todas,
conforme Hebreus—, o que vemos é Deus se entregando ao “risco supremo”. Entregar Seu Filho ao confronto
verdadeiro com a tentação em sua maior plenitude, foi, sem dúvida, um risco
divino imensamente maior que qualquer outro. Torna a narrativa do Edén uma
brincadeira de criança; afinal, o primeiro Adão não tinha as complexidades
infinitas do segundo Adão, e, portanto, não contemplava as implicações da
“aceitação” da proposta satânica da mesma maneira conscientemente objetiva que
acometeu a Jesus, o homem — e que é também o segundo Adão!
A vitória de Jesus sobre a tentação é também vitória da Cruz. É a
decisão da liberdade do Messias. É o fruto de Seu amor ao Pai e de Sua escolha
pela Escritura como Palavra de Deus. Ele é livre e usa Sua
liberdade na submissão de um amor obedientemente livre!
E mais, foi o Espírito quem o levou ao deserto para ser tentado,
pois, num mundo caído, não há devoção genuína sem real tentação. A devoção dos
não tentados é apenas algo semelhante à performance de robôs. O amor que
escolhe ser de Deus, é também, paradoxalmente, filho da mesma “liberdade” que
oferece “outras alternativas” de ser para fora e para “além” da Palavra
revelada de Deus.
O modo como Jesus usa a Escritura no embate com o Diabo, mostra
também o seguinte: à parte da Encarnação de Deus em Cristo, para Jesus, nada
poderia ocupar o lugar e autoridade das Escrituras, quando elas são
tratadas como a Palavra Eterna de Deus. Assim, Jesus também ensina que
as Escrituras, como Palavra, são suficientes nos enfrentamentos
com o Diabo.
A Palavra põe tanto o
Diabo como o Homem em seus próprios lugares diante de Deus e da Vida. É por
esta razão que Jesus cita a Escritura como expressão de Sua livre
vontade de se submeter ao Pai. A vitória da Escritura não está nela
mesma, mas na rendição livre da vontade humana à vontade divina nela expressa.
É por isto que podemos dizer que a Palavra “repele” a Necessidade e
estabelece a Vontade. E, assim, quebra o ciclo animal, onde a
necessidade dita as regras da sobrevivência. Somente a Palavra gera um
homem livre para viver e viver em e para Deus. Assim, a
obediência à Palavra é a Verdade que liberta. E esta só é
realizada em nosso favor — Graça —, no Filho de Deus, pois, se o
Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres!
Além disso, como antes já afirmamos, na tentação de Jesus a Árvore do
Conhecimento do
Bem e do Mal é vencida pela escolha livre que Ele faz pela Árvore
da Vida, a saber: a Palavra! Liberdade, é, sobretudo, fazer a
vontade do Pai e alimentar-se dela como quem come o que é essencial à vida.
É liberdade não para socorrer à necessidade, mas para escolher o que gera
vida. A verdadeira Liberdade só indica o caminho da Vida! Os discípulos de
Jesus não se tornam seres não tentáveis apenas por terem escolhido seguir a
Cristo. Nossos hormônios, carências afetivas, necessidades físicas, desejos, animalidades
e sabedorias demoníacas continuam insistentemente
presentes em nós.
Cada um vive sua própria tentação e “usa” a do outro para
justificá-la! Tentação é normal num mundo caído. Jesus é a prova de que saúde
espiritual não nos isenta de tentações. Ele foi “tentado em todas as coisas
à nossa semelhança, mas sem pecado” Foi Ele mesmo também quem disse: “Não nos deixes cair em tentação,
mas livra-nos do mal”— enquanto nos ensinava a orar.
Ninguém peca por ser tentado! A tentação, no entanto, revela o que em nós existe como possibilidade
existencial, ou seja, como cobiça. Entretanto, até aí se pode ir sem cair no “mal”. Há, no entanto, um
passo a mais a ser dado na direção do “mal”: conceber a tentação, dando à
luz o pecado. Afinal, cada um é tentado pela sua própria cobiça, ou
também, paradoxalmente, pela total ausência de desejo de viver.
A tentação tanto pode ser uma “pulsão existencial” que nos remete para
“fora” do curso da Vida, como também pode ser a total falta de “desejo de
viver”, de tal sorte, que nos tira a vida. Por isto, ninguém está livre dela,
nem mesmo o suicida! Em Apc 9:
4-6, onde “ardente desejo de morrer” é uma das mais insuportáveis tentações.
Ou seja, não levamos o lixo da poeira da estrada em nossas sandálias e
julgamos que isto nos torna mais santos, daí o não lavarmos os pés uns dos
outros. Isto porque, em geral, vencer a tentação não é ficar “livre do mal”,
é apenas saber a arte de “escondê-lo” enquanto se continua a viagem!
E é a isto que se chama de legalismo..
E a “arte de existir” que dela decorre, deve-se chamar de hipocrisia!
Textos bíblicos: Heb 4: 15; Mt 6: 13; I
Co 10: 13; Tg 1: 14-15.