1. O crescimento da população evangélica continua com força, mas em ritmo menor. Alguns sociólogos da religião diziam que o fôlego do crescimento evangélico estaria diminuindo e, de fato, o ritmo diminuiu, mas não fortemente. A população evangélica continua crescendo com força, mas já não é a mesma força da década de 1990. Apesar disso, a estagnação anda longe desse crescimento puxado por comunidades pentecostais e neopentecostais. Em entrevista para o jornal Folha de S. Paulo, o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, da Escola Nacional de Ciências Estatísticas, diz que, mantida a tendência das últimas décadas, o número de evangélicos irá superar o de católicos em 20 ou 30 anos. "O maior país católico do mundo vai deixar de ser católico", afirmou Alves. Portanto, a previsão da SEPAL (Serviço para Evangelização da América Latina) que afirma que em 2020 metade dos brasileiros serão evangélicos é um tanto otimista.
2. A Assembleia de Deus puxou o crescimento dos pentecostais e isso é uma surpresa. É surpreendente que uma igreja já centenária e em amplo processo de “historização” puxe o crescimento dos evangélicos no Brasil. Na última década a denominação ampliou fortemente sua presença na mídia, no ensino teológico e na liberalização dos “tabus comunais”. Nesse processo de amadurecimento institucional se esperava um crescimento menor, mas não foi o que aconteceu. Eu, particularmente, acreditava que a Assembleia de Deus estava estagnada e, assim, errei feio na minha percepção.
3. A Igreja Universal do Reino de Deus caiu e isso é uma boa notícia. Entre 2000 e 2010, a Universal perdeu 228 mil fiéis, ou 10% de seus adeptos. Os 2,1 milhões de frequentadores em 2000 caíram para 1,8 milhão em 2010. Ora, por que isso é uma boa notícia? A Universal é um divisor de águas no meio evangélico. Depois do Edir Macedo toda a sociedade vê a Igreja Evangélica como um grupo de alienados que são roubados por pastores espertalhões. Não há uma instituição que tenha mais manchado o nome dos evangélicos do que Edir Macedo e sua turma da Universal. E só uma pena que parte significativa desse rebanho perdido não a deixou por ter entendido o Evangelho melhor, mas sim para seguir o milagreiro e fazendeiro Valdemiro Santiago.
4. O crescimento dos evangélicos, como todos sabem, foi puxado pelos pentecostais, mas sem ajuda dos tradicionais. Portanto, o Censo 2010 mostra que era somente impressão um possível crescimento das Igrejas Protestantes Históricas. Em agosto de 2011, a FGV-RJ (Fundação Getúlio Vargas) lançou o Novo Mapa das Religiões e com aqueles dados alguns especialistas especularam que estaria havendo um aumento significativo de evangélicos tradicionais. Não foi o que aconteceu, pois embora tenham crescido, a membresia das “igrejas de missão” continua estável na proporção perante a população do país. Eram 4,1% dos brasileiros em 2000 e agora são 4%. O número de luteranos e presbiterianos, por exemplo, diminuiu na última década.
5. O trânsito religioso se consolidou. Há pelo menos cinco anos os especialistas falam sobre o “trânsito religioso”, ou seja, a migração de igreja em igreja de evangélicos sem uma raiz denominacional. Não confunda esse grupo com os “desigrejados”, pois esses não congregam em lugar algum, mesmo que se considerem evangélicos. O Censo 2010 classificou esse grupo como integrantes de religiões “evangélicas não determinadas”. Em 2000 havia 1,7 milhão nesse grupo, agora são 9,2 milhões. Eles equivaliam a apenas 1% da população em 2000, mas hoje são 4,8% dos brasileiros, ou seja, mais do que os espíritas (2%).
6. O número de pequenas igrejas neopentecostais (ou pentecostais) continuam explodindo. Aquela famosa lista da Revista Eclésia que apresentava os nomes mais exóticos de igrejas evangélicas precisa ser atualizada urgentemente.
7. Não é nem necessário dizer, mas crescimento não é avivamento. Os evangélicos continuam crescendo e, mantendo esse ritmo, serão maioria na década de 2040 (ou até antes). Agora, a qualidade é a chave. E, assim, é também um desafio, pois precisamos investir pesadamente em discipulado e continuar lutando pela igreja, principalmente com educação teológica de qualidade que seja acessível a essa nova massa de evangélicos.
Fonte: www.teologiapentecostal.com/
Comentário: Gostaria de acrescentar apenas duas observações a essa análise dos dados do Censo de 2010 com respeito a religiosidade brasileira. Primeiro, o número dos que creem na doutrina espírita, deve ser maior do que o mostrado no Censo. Acontece que no Brasil, do total de pessoas que se identificaram como católicas, acredito que no mínimo uns 20%, são daqueles que vão no centro espírita na sexta-feira e as vezes na missa aos domingos. No entanto, quando perguntados sobre qual a sua religião, eles dizem que são católicos. O acréscimo no percentual apresentado pelo Censo, se refere na minha opinião aos que passaram a se identificar como espíritas e não mais como católicos.
A segunda observação se refere ao crescimento das Assembleias de Deus. O interessante é que ele se dá no momento de maior fragmentação dos seus ministérios. Talvez esteja ai a resposta para essa expansão, pois a competição aumentou entre os vários ramos da centenária denominação. Olhando só os números há um aparente otimismo, mas por outro lado revela (e quem acompanha sabe disso) lutas e politicagens nada sadias. Agora com esses dados, as picuinhas eclesiásticas podem até se intensificar.