sábado, 5 de julho de 2008

JOGOS DO PODER

Assisti ao filme “Jogos do Poder”, estrelado pelos atores, Tom Hanks e Julia Roberts. O filme fala sobre a participação dos Estados Unidos na época da invasão soviética no Afeganistão (1979-1989). Alguns cientistas políticos dizem que foi “o Vietnã”, da ex-União Soviética, e um dos fatores que aceleraram sua queda. Filme a parte, falando agora, sobre o título, jogos do poder e relacionando com a Palavra, pode-se dizer que, tudo é jogo neste mundo caído. Jogo consciente. Jogo inconsciente. Mas é jogo, e nós nem sempre nos damos conta disso. A prova mais cabal desse “Game” que se instalou como sistema de interpretação e também de prática humanos, nos vem do próprio Trama que "Historificou" a Cruz. Se não, veja: Temos Jesus e seus discípulos. Um movimento cresce... Curas, milagres, doutrina que se difere de tudo e todos; autoridade nunca vista, e um sentimento de maravilha que domina a tudo e todos: Deus visitou os homens! O povo é apenas o povo. O povo não luta contra curas, milagres, maravilhas, e bondades distribuídas gratuitamente. ! O povo nunca teve nada contra isso, pois, as pessoas do povo são sempre as maiores beneficiárias da Graça. Quem está morrendo de dor só quer alívio... Mas nós sempre temos mais que o povo. Havia alí outros poderes, outros principados e potestades históricos em operação. Havia o Sinédrio dos Judeus: a Religião na sua mais ousada e segura certeza de autoridade medianeira entre Deus e os homens, onde tudo o que dissesse respeito a Deus, era objeto da “gestão” dos sacerdotes e de seus oficiais. Havia Roma: A Política que se apresenta como poder político. E seus representantes estavam presentes na judéia nos dias de Jesus, como em qualquer outro lugar. Haviam as seitas e grupos religiosos, que naqueles dias tinham também seu papel político a cumprir. Cada um representava uma visão não apenas religiosa, mas também uma interpretação política do mundo: saduceus, fariseus, os escribas; e os demais grupos: zelotes, sicários e essênios... Cada um com sua própria agenda de interesses imediatos, sempre relacionados à busca de poder temporal. Mas quem desestabiliza tudo, é sempre o povo! Todos os que não se sentem povo—em qualquer lugar, tempo ou cultura da Terra—, alimentam-se do povo, e do poder que dele emana, no mínimo como força de trabalho, ou de massa de autenticação de autoridade. De súbito, há Jesus, os discípulos e multidão do povo... E não era apenas o povo controlável que seguia a Jesus: haviam os que vinham de outras fronteiras, sem falar que a mensagem do Evangelho se infiltrava em literalmente todas as camadas da sociedade. Então, primeiro mobilizam-se as seitas: fariseus, saduceus—e seus escribas! Esgrimam com Jesus, disputam a veracidade de Seus feitos e palavras. Interpelam-no. O Evangelho nos dá testemunho vasto, desses encontros, muitos deles extremamente tensos. As interpretações que daí advêm, são as mais perversas: “Tem demônio!” “Samaritano possesso!” “Comilão, beberrão, amigo de pecadores!” “Embusteiro!” São apenas algumas das afirmações que tentam colar em Jesus. Mas o povo continuava a vir e a receber. O trama todo, é o próprio Evangelho; seria, portanto, impossível tratar do sistema todo sem que, para isso se tivesse que escrever um livro. Não é o caso aqui... Lázaro ressuscita depois de morto há quatro dias, e, tal fato acaba sendo a “gota final” a fim de que as autoridades religiosas decidam matar a Jesus. “Se o deixarmos, o mundo virá após ele; e os romanos nos tirarão o poder”—considerava o Sinédrio. Mas como o Sinédrio haveria de matá-lo? O falso profeta sempre está em parceria com alguma besta política, conforme o apocalipse! Então, o Sinédrio faz duas coisas: 1. Esconde-se atrás do pretexto de que a questão era religiosa; sou seja: Jesus era um herege. Isto para confundir o povo! 2. Apresenta o caso a Roma como sendo religioso com implicações políticas. E pede a Roma—representada em Pilatos—,que faça alguma coisas, para se auto-preservar de uma possível sublevação do povo, e, conseqüentemente, também para preservá-los como os mediadores da estabilidade e da paz social. Esse é o “esqueminha” de sempre! Daí pra frente é só um jogo de empurra... É o Sinédrio empurrando para Pilatos autenticar; Pilatos “não entendendo” e lavando as mãos, abrindo assim o caminho para “outras mãos” que desejam matar se expressarem, agora com o aval silencioso e omisso da Política. E também haviam os “partidos”, mobilizando uma “militância” comprável a fim de fazer algum barulho em Jerusalém. A mulher de Pilatos ouviu falar do “julgamento” e assustou-se, havia sonhado o desfecho do caso. “Não te envolvas com este justo, pois, em sonho muito sofri a seu respeito”—disse ela. Não era mais possível: o jogo estava feito, e Pilatos estava dentro, sem nem bem saber, o quão envolvido estava. O resultado é a crucificação. O fato é a Cruz. Mas a motivação não era nem política, nem religiosa, nem de qualquer outra natureza que não fosse a mais psiquicamente animal de todas as motivações entre os humanos: a inveja! Assim, os pretextos são muitos e variados, mas as guerras de fato militam é na carne! Por trás de todos esses jogos o que há sempre é a basicalidade da inveja e dos pequenos interesses. Se todos fossem apenas povo, a inveja se manifestaria do modo como ela se manifestou nos Evangelhos: Senhor, será que dá para os meus filhos se assentarem ao teu lado no teu reino?—propunha a mãe de Tiago e João. E discutiam pelo caminho quem era o maior entre eles—confirma o evangelho. E assim vai... Mas não há o jogo homicida. O próprio Judas, a fim de trair, teve que encontrar a interface da Religião a fim de negociar. Um Judas sozinho não faz crucificação! O que aprendemos? Bem, o que move o povo é a necessidade. O que move as seitas é a arrogância da presunção da verdade. O que move Pilatos é a política e a necessidade de não complicar a sua própria “gestão”. O que move o Sinédrio é o medo de perder o poder. O que move Judas é desapontamento... Mas e o jogo? Ora, o que há por trás do jogo, é o de sempre: inveja dissimulada! Por trás de todas as nossas grandes “causas” o que há é apenas insegurança, pois, a inveja, é a filha mais perversa que a insegurança consegue gerar. O ciúme é o filho mais fraco, porém altamente recrutável para qualquer que seja a missão, inclusive, de morte. No fim, ninguém matou, apenas porque todos mataram... E a multidão do povão, são sempre os menos culpados; a final: eles não sabem o que fazem!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

O ANTÍDOTO PARA O DESÂNIMO PÓS-MODERNO

Minha intuição, entretanto, me diz que há caminhos alternativos que podem suavizar a desesperança que se espalhou.
É possível abandonar a lógica dos grandes projetos, das megalomanias, dos messianismos. As antigas propostas globais de mudança precisam ser redimensionadas para pequenas iniciativas. Antes de querer mudar o planeta, devemos cuidar dos quintais. Para enfrentar o aquecimento global, mudar hábitos cotidianos, como poupar água com banhos rápidos, não abusar do automóvel e, sempre que possível, usar transporte público e até bicicleta. Na política, participar dos conselhos de bairro, envolver-se no chamado Terceiro Setor e nas pequenas ações de desenvolvimento comunitário.
Há uma historinha interessante, bastante conhecida. Um homem caminhava e ao mesmo tempo devolvia para o mar peixes que a maré baixa deixou agonizando na praia. Alguém o repreendeu ao afirmar que seu esforço era inútil e tolo; não faria a menor diferença salvar tão poucos peixes. Ao que respondeu: “Realmente, mas para os que se salvaram, fiz toda diferença do mundo”. Oskar Schindler não acabou com o holocausto, mas fez toda diferença para aqueles que resgatou dos fornos crematórios; Martin Luther King não viu o fim do racismo, mas deu dignidade para os que se inspiraram em sua vida e morte; Madre Teresa de Calcutá não resolveu a miséria da Índia, mas todos que morreram em sua clínica se sentiram amados.
O antídoto para o desânimo pós-moderno é concentrar os esforços nas pessoas e não nos empreendimentos. Os projetos devem servir homens e mulheres, nunca o contrário. As pessoas não podem ser consumidas no fortalecimento das instituições. No caso das igrejas, nenhuma programação, nenhum evento, pode tornar-se um fim em si mesmo. Eles estão a serviço dos indivíduos e só adquirem qualquer sentido quando promovem a vida.
Jesus de Nazaré amou pessoas, viveu numa pequena vila e não diluiu seus esforços com mega eventos. Ele se deu integralmente a doze homens, acolheu os excluídos e nunca se impressionou com o aceno do estrelato. Sua morte transformou-se no mais contundente triunfo. Assim, antes de terminar os dias desiludido, cínico, sem alma; antes de sentir-se derrotado pelo constante avanço da maldade e onipresente perversidade humana, todos precisam aprender a contentar-se com atos singelos, com iniciativas despretensiosas, com feitos simples.

Trechos do Texto: No country for old men.
Fonte: www.ricardogondim.com.br

domingo, 29 de junho de 2008

REFLEXÕES DOMINICAIS

Hoje de manhã ministrei uma aula de escola dominical, onde se falava na lição sobre Jó e José do Egito. Depois fiquei fazendo comigo mesmo algumas reflexões, que eu quero compartilhar com todos neste blog.
Nestes dias de "teologias de prosperidade", o Livro de Jó, não é muito compreendido dos cristãos. Jó tornou-se um personagem desinteressante no meio do circo cristão das teologias do sucesso. Sua profundidade, ofende a irreflexão daqueles que acham que tudo se resolve com palavras de ordem fortes, ditas em nome de Deus; e especialmente, insulta e afasta os supersticiosos que vêm o pecado-pessoal-comportamental-moral, como sendo sempre a causa-efeito de todos os sofrimentos inexplicavéis. Assim, a não compreensão da mensagem de Jó, faz as pessoas fugirem dele e do realismo que ele traz à Graça de Deus na dor da vida. Para muitos, parece que "dá azar" ler o Livro de Jó.
Quem é cristão e pensa assim, está como que inconscientemente, apostatando da fé em Jesus e optando pelo hinduísmo ou por qualquer credo que estabeleça uma relação de causa e efeito, em todo sofrimento humano. A fé em Jesus, não comporta tais conteúdos!
O livro de Jó foi escrito para relativizar o juízo de um homem contra outro!
Sim, o que nos custa a crer é que todo o esforço de Jó foi para “despadronizar” o juízo!
Ele cria na inescrutabilidade da relação de Deus com cada indivíduo.
E, justamente por isso, ele também afirma que se de um lado o homem pode alterar as leis universais; o que ele, de fato, sozinho, não consegue, é entender, e, muito menos ainda, alterar o seu próprio coração.
Jó, portanto, crê que cada indivíduo é julgado sozinho e de acordo “com suas próprias obras”.
E mais: ele crê que esse julgamento apenas compete a Deus, pois, de fato, a complexidade humana não admite padronizações exteriores ou morais para o julgamento.
O dia da perplexidade é sempre solitário. E nele todo gemido é verdade e toda verdade é gemido perplexo!
Os cristãos ainda não se deram conta de que sua “teologia” da Graça não coincide com suas interpretações cotidianas do sofrimento humano e, muito menos, não retrata com realismo os fatos da vida. E assim, sem o saberem, tornam-se parte do fluxo religioso universal, que entende a questão da dor e de tudo o que seja inexplicável, a partir de um encontro de contas exatas entre Deus e o homem, anulando, assim, a Graça. É muito comum no meio evangélico, se dizer que a pessoa "tem pagar o preço".
Na Graça o “encontro de contas” acontece, mas quem paga a diferença contra o homem é Aquele que disse: “Está consumado!”. Melhor dizendo o preço já foi pago, e foi pago na cruz.