sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Memórias das Assembleias de Deus: Revisitando as Convenções Gerais - de 1987 a 1997

Está confirmado: na 45ª Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) prevista para abril de 2021, em Cuiabá, Mato Grosso, o pastor José Wellington da Costa Júnior será reconduzido à presidência da instituição, por aclamação. A chapa do atual presidente da CGADB foi a única inscrita no prazo legal. Como não surgiram concorrentes, a aclamação será inevitável.

Desde que o pai do pastor Wellington Júnior chegou ao poder na CGADB, em maio de 1988, já se realizaram 14 Convenções Gerais, sempre com vitória do grupo comandado pelo líder da AD do Ministério de Belém em São Paulo. Portanto, se confirmada a aclamação e posse do pastor Duéliton, serão mais de três décadas de continuidade na CGADB e controle da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), empresa que reforça a linha doutrinária e política do status quo dominante. 

Para melhor compreender a permanência do establishment, é importante, ainda que de forma sucinta, revisitar as convenções anteriores e perceber as transformações ocorridas nessas décadas.

CGADB de 1987 (Salvador/BA): foi a última Convenção Geral com a participação do Ministério de Madureira. Aliás, a década de 1980 foi marcada pela polarização Madureira x Missão. Havia, até então, um acordo firmado para que houvesse alternância entre os dois ramos ministeriais das ADs na presidência da CGADB. Mas alguns pastores insatisfeitos com o Ministério de Madureira articularam uma chapa para quebrar esse pacto. O pastor José Wellington foi eleito vice-presidente nessa convenção e, em maio de 1988, com a morte do então presidente da Convenção Geral, Alcebíades Vasconcelos, assumiu a liderança da CGADB. Começava a "Era José Wellington".

CGADB de 1990 (São Paulo/SP): o pastor José Wellington foi eleito à presidência da instituição assembleiana, derrotando o pastor Luiz Almeida do Nascimento. No interregno convencional, houve a suspensão de Madureira da CGADB, alterando, assim, de vez, a correlação de forças nas disputas internas da entidade. Um fato polêmico também foi a renúncia do pastor Wellington da presidência da CGADB, meses antes do conclave em São Paulo. Na época, foi alegado problemas de saúde, mas, na verdade, foi uma estratégia para driblar o estatuto da Convenção Geral, que não permitia a reeleição. Foi a primeira Convenção Geral informatizada.

CGADB de 1993 (Cuiabá/MT): o pastor da igreja hospedeira, Sebastião Rodrigues de Souza, elegeu-se presidente da Convenção Geral, derrotando, com folga, o jovem Samuel Câmara, após a desistência do pastor José Pimentel de Carvalho da disputa. José Wellington, dessa vez, ficou com a vice-presidência, mas sua influência nas instituições assembleianas foi consolidada com a posse de Ronaldo Rodrigues de Souza, membro da AD no Belenzinho, na direção executiva da CPAD. O controle e êxito da editora, representou o fortalecimento do establishment assembleiano, que nitidamente começava a se desenhar nesse tempo. Segundo o Mensageiro da Paz, a convenção em Cuiabá realçou o "perfil conservador da igreja". Era uma tentativa de colar a imagem de "liberal" na oposição.
Mesa Diretora da CGADB eleita em 1995

CGADB de 1995 (Salvador/BA): segundo o Mensageiro da Paz, foi a convenção do “consenso e concórdia”, onde houve a troca de cadeiras entre os pastores José Wellington (presidência) e Sebastião de Souza (vice-presidência). Sem disputas internas, a chapa encabeçada pelo presidente e vice da antiga Mesa Diretora eleita em Cuiabá foi "apresentada, aceita e aclamada". Geralmente, as manchetes do Mensageiro da Paz são reveladoras do clima de bastidores. Ao enfatizar o "consenso e concórdia", deixa nas entrelinhas o entendimento de que houve muita discórdia e dissenso. Detalhes: para o Conselho Administrativo da CPAD, um dos eleitos foi o pastor José Wellington da Costa Júnior, nome que seria também uma constante no Conselho da Casa Publicadora e a presença de Samuel Câmara na Mesa Diretora. Em pouco tempo ele voltaria a fazer oposição ao líder do Belenzinho.

CGADB de 1997 (Belo Horizonte/MG): pela primeira vez na década, o pastor José Wellington teve um concorrente de peso, o pastor Túlio Barros Ferreira da AD em São Cristóvão/RJ, que também presidiu a entidade por quatro vezes. É interessante notar os nomes de conhecidos na oposição: Ezequiel da Silva, Edgar Machado, Sóstenes Apolo, Francisco Libório e, principalmente, Gilberto Malafaia, que compunham o grupo de apoio ao pastor Túlio. Malafaia, na CGADB de 1987, foi um dos principais articuladores da vitória do grupo onde José Wellington estava inserido. Em BH, uma década depois, lá estava o pastor da AD em Jacarepaguá, na trincheira oposta. O pastor Wellington reelegeu-se com boa margem de votos (65,45%), mas tudo indicava uma crescente movimento de contestação ao establishment.

Esse movimento contestatório cresceria cada vez mais. Assunto para as próximas postagens! 

Fontes:

ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.

FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: uma história das Assembleias de Deus no Brasil - Curitiba: Editora Prisma, 2017.

Mensageiro da Paz, fevereiro de 1990, ano LX, nº 1237, Rio de Janeiro: CPAD.

Mensageiro da Paz, março de 1993, ano LXIII, nº 1272, Rio de Janeiro: CPAD.

Mensageiro da Paz, fevereiro de 1995, ano LXV, nº 1295, Rio de Janeiro: CPAD.

Mensageiro da Paz, fevereiro de 1997, ano LXVII, nº 1319, Rio de Janeiro: CPAD.


quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Debate entre Felipe Neto e Marco Feliciano sem cortes



Meu comentário: Como o assunto Felipe Neto tem sido a bola da vez nos noticiários e redes sociais, aqui está uma entrevista/debate entre o pastor assembleiano e deputado federal pelo Estado de São Paulo, já no terceiro mandato e youtuber Felipe Neto.

Quero ressalvar que tenho sido crítico no meu blog ao Marco Feliciano seja de suas pregações e atuação como deputado, mas confesso que ele me surpreendeu seja na paciência com o moço em questão seja até mesmo nas respostas. Quando tem que elogiar, a gente tem que ser sincero também. Ponto para o Marco Feliciano nessa participação.

Detalhe a entrevista foi feita em julho de 2016, portanto há 4 anos atrás, mas no ajuda a entender um pouco o que pense esse jovem que é considerado um dos maiores influenciadores das redes sociais atualmente.

Pastor surpreende evangélicos e sai em defesa de Felipe Neto

Felipe Neto (Reprodução)
O bispo Hermes C. Fernandes, líder da Igreja Reina é um conhecido apoiador da esquerda, e essa semana usou as redes sociais para sair em defesa do Youtube Felipe Neto.
O momento de divisão política que o Brasil vive, e a ascensão de um grupo conservador que confronta o que antes era uma hegemonia da esquerda vem provocando algumas manifestações mais agudas, de ambos os lados.
O religioso escreveu um texto em seu Facebook intitulado de “Um pastor em defesa de Felipe Neto contra a rede de ódio – Por Hermes C. Fernandes”. 
O bispo escreveu um texto sobre um filme da Netflix em apoio ao Youtube conhecido por inúmeras polêmicas e por ser contra os valores cristãos.
“Rede de Ódio” é um filme polonês recentemente lançado pela Netflix. A trama gira em torno de um estudante de direito expulso da universidade de Varsóvia que ingressa numa empresa de marketing digital cuja especialidade é destruir a reputação de celebridades, empresas e políticos através de perfis falsos nas redes sociais e a disseminação de fake news. Não há como assisti-lo e não relacioná-lo ao cenário político brasileiro atual, com sua máquina de notícias falsas conhecida como “Gabinete do ódio.”
Na trama, o jovem Tomasz Giemza usa suas habilidades para atacar um candidato à prefeitura cujos ideais eram progressistas. O candidato acaba assassinado durante um evento por um hater contratado pelo jovem. O filme retrata com exatidão como o ódio impulsionado pelas redes sociais pode levar a graves consequências na vida real. Coincidentemente, três semanas após o término das filmagens, Paweł Adamowicz, político liberal polonês, prefeito de Gdańsk, frequentemente alvo de inimigos virtuais, foi esfaqueado até a morte durante um evento de caridade transmitido ao vivo.
No Brasil, um dos mais recentes alvos da rede do ódio é Felipe Neto, youtuber e influenciador digital que figura entre os mais populares do mundo, cujo canal no youtube já teve mais de 10 bilhões de visualizações e quase 40 milhões de seguidores. Bastou que ele usasse suas redes sociais para criticar o atual governo brasileiro, e que aparecesse no The New York Times referindo-se a Bolsonaro como “o pior presidente do mundo” no trato da pandemia da COVID-19, para que o gabinete do ódio apontasse sua metralhadora de fake News em sua direção. Felipe Neto tem tido o seu nome associado à pedofilia, fato que já foi amplamente desmentido. A mesma metralhadora tem sido apontada na direção de artistas como a Xuxa, Chico Buarque, Caetano Veloso, e tantos outros, e até de políticos que abandonaram o barco bolsonarista depois de se desiludirem.
Como se não bastassem os robôs sempre prontos a disparar hashtags e notícias falsas, o gabinete do ódio também conta com artilharia pesada de pastores que não se constrangem em usar suas próprias redes sociais para espalhar boatos e destruir reputações. Alguns demonstram maior lealdade ao governo do que ao seu próprio chamado ministerial. Com isso, a igreja evangélica perde não apenas fiéis, mas também credibilidade e relevância. Qualquer um que se atreva a atravessar seu caminho, desafiando sua agenda moralista hipócrita e se opondo aos seus interesses políticos, deve ser massacrado sem misericórdia. Nem que para isso, tenham que vasculhar o passado de seus desafetos, fazendo o papel do diabo, o acusador.
Bem fariam se recordassem das célebres palavras de Jesus: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido.” Desafio-os a desertar das fileiras bolsonaristas para ver o que lhes acontece. Se não pouparam alguns dos pilares de sua funesta campanha eleitoral baseada em mentiras, o que não farão a pastores que se arrependerem de negociar o evangelho transformando-o em discurso de ódio? Mas pelo jeito, isso está longe de acontecer. Enquanto o governo garantir que os interesses desses profetas palacianos sejam atendidos, dificilmente um deles se arrependerá. A consciência de muitos está cauterizada. Seus olhos, vendados. Seus ouvidos, tapados. Seus punhos cerrados, prontos a desferir contra os que se insurgem pela justiça e pela verdade. Enquanto pastores se associam ao desgoverno, vozes proféticas ecoam nas redes sociais através dos lábios e dos posts de pessoas como Felipe Neto, Gregorio Duvivier, Emicida e tantas outras.
O que me traz algum alento é saber que nem todo joelho se dobrou a este ídolo de carne e osso. Entre os pastores, há muitos comprometidos com o evangelho a ponto de arriscarem suas reputações. Poderia citar alguns nomes aqui, mas não o farei com receio de cometer alguma injustiça. Minha esperança é de que a igreja evangélica brasileira sobreviva a estes tempos odiosos, fazendo coro com os que clamam por justiça e não com os que alimentam o ódio e o preconceito.
Texto bispo Hermes C. Fernandes.

Pr. Silas Paulo de Souza é eleito pela AGE como no pastor presidente da AD em Cuiabá-MT


Conforme estava convocada Assembleia Geral Extraordinária da Igreja Assembleia de Deus em Cuiabá e Região Metropolitana (MT) para esta terça-feira - 04.08.2020 às 17h, pelo administrador provisório, nomeado pela Justiça, o Pr. Pr. Enésio Barreto Rondon, assim ocorreu.

A AGE chegou a ser liminarmente suspensa. A determinação partiu da juíza Olinda de Quadros Altomare Castrillon, da 11ª Vara Cível de Cuiabá, que acolheu uma ação ordinária proposta pelo pastor Nelson Barbosa Alves.
O presidente da Assembleia de Deus em Cuiabá (MT), Pastor Sebastião Rodrigues de Souza, e o vice, Rubens Rodrigues de Souza, entre os dias 3 e 8 de julho, morreram vítimas da Covid-19, pai e filho eram responsáveis pela liderança dos templos no Estado. 
O pedido de suspensão foi proposto pelo Pastor Nelson Barbosa Alves que ocupa o cargo de primeiro-secretário da subsede da instituição religiosa. A plenária estava marcada para iniciar às 17h e foi suspensa faltando poucas horas para seu início.
Entretanto, segundo fontes a referida liminar foi revogada pelo Tribunal de Justiça e por aclamação o Pastor Silas Paulo de Souza, que já era o indicado pela Mesa Diretora da COMADEMAT, a convenção da Igreja no Estado do Mato Grosso, foi eleito presidente.
Para a vice presidência foi indicado o Pastor Enésio Barreto Rondon. Pastor Barreto era o administrador temporário da Assembleia de Deus, nomeado pela Justiça, após o falecimento do pastor  Sebastião Rodrigues de Souza

Com informações Day News, via Point Rhema

terça-feira, 4 de agosto de 2020

Pr. Wellington Junior poderá ser reeleito presidente da CGADB - apenas uma chapa foi apresentada no prazo legal

Prazo para registro de chapas para Eleição da CGADB terminou as 23:59h deste 31 de julho de 2020; até o momento somente uma chapa foi divulgada para Mesa Diretora e uma para o conselho fiscal

A Comissão Eleitoral da Convenção Geral de Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Brasil (CGADB) comunicou nesta sexta-feira (31) que, findo o prazo para registro de chapas para as eleições da entidade ano que vem, apenas uma chapa foi apresentada. 
Com isso, as eleições do ano que vem se darão pelo processo de aclamação e o pastor José Wellington poderá ser reeleito para um novo mandato a frente da instituição.

Abaixo, segue o comunicado da Comissão Eleitoral que traz os nomes da única chapa registrada.
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Fonte: JM Notícia

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Lucas, historiador ou doutrinador?

Como a amizade é sinônimo de salvação
Quando leio o evangelho de Lucas ou o livro de Atos dos Apóstolos, vejo alguém que se preocupa em narrar uma história, não doutrinar. O capítulo 1 tando do evangelho que leva seu nome quanto do livro de Atos, mostram isso.
Porém, nos últimos 36 anos, surgiu a idéia de Lucas ser um teólogo no nível de Paulo e com uma uma teologia distinta do apóstolo dos gentios.
Eu até posso compreender que os 4 evangelistas do N.T. tenham apresentado Jesus cada um com um enfoque seja aos judeus, romanos, gregos e aos povos em geral. Mas no final a mensagem dos quatro se torna uma só: Jesus era o Messias/Cristo prometido, o Filho de Deus, o salvador do mundo.
Nos seus livros tem teologia? Claro. A divindade de Cristo, por exemplo está evidente em cada um deles, mas com mais ênfase em João. A doutrina do Espírito Santo está em todos também. Dizer que está em Lucas mais do que nos outros três é um erro, porque em João ela é até mais explicada.
Quando chega o livro de Atos, vejo a tentativa de transformar um livro que narra o início da igreja em um livro que normatizava experiências como doutrinas, da mesma forma que as epístolas.
Não quero dizer com isso, que não existe doutrina ou teologia em Atos. Existe sim. O que estou dizendo é que tem que se tomar um cuidado tremendo para que a experiência esteja de acordo com o que é ensinado em todo contexto do Novo Testamento.
Até onde uma experiência pode ser confirmada ou não como doutrina normativa? É sobre isso que eu vou continuar falando em outra postagem para não ficar muito longo aqui. Aguarde.