quinta-feira, 12 de junho de 2014

Eu, a Copa do Mundo e o Futebol


Em 1974, eu tinha apenas 5 anos e não tínhamos televisão, já em 78, para mim, a TV só servia para ver desenhos animados, filmes e séries. Não gostava de futebol, não brincava disso e no domingo que havia transmissão de jogo, em vez da exibição de alguma série enlatada norte-americana, eu ficava com raiva. Os domingos na TV ainda não tinha o sofrível programa do Faustão e outros similares.
Comecei a me interessar por futebol já tardiamente para um menino, aos 11 anos, jogando bola com alguns colegas na rua de casa. Mas eu era bem ruim de bola! Minha primeira experiência na escola aos 10 anos, não tinha sido nada agradável. Me colocaram de defensor no time, e marquei logo no primeiro jogo, um golaço! Só tem um detalhe -  o gol foi contra!!!
Em 1981, assisti aos jogos do Flamengo, no auge da “era Zico”, passando a torcedor daquele time! Porém na Copa de 82, eu juntamente com meus pais havíamos sido batizados na igreja Assembléia de Deus e o aparelho de televisão havia sido vendido. Lembrando que o mesmo era terminantemente proibido pela denominação na ocasião.  Chegavam a se referir a TV, como a caixa do capeta!
Como eu havia perdido novamente o interesse por futebol, só anos depois que fui assistir por vídeo-taipe, o Paulo Rossi da Itália, despachando para casa a nossa seleção canarinho, então favorita ao título.
A Copa de 86, fui a última que eu não acompanhei. Assim como as anteriores só vi os jogos por tapes tempos depois. Nesse ano, um professor “carrasco” de educação física, me deu como castigo, por não estar bem em algumas atividades físicas, a tarefa de fazer um trabalho por escrito sobre – futebol!!!
A primeira Copa que assisti em tempo real, vamos dizer assim, foi a de 1990, quando a  Argentina de Maradona e Cia, derrotou o Brasil ainda nas oitavas de final! De lá para cá, não perdi mais as Copas do mundo, seja as que o Brasil ganhou ou perdeu!
Admiro quem torce, mesmo sofrendo, sem perder a esperança!
O futebol, entretanto, é um mistério. São 20 homens correndo atrás de uma bola e dois goleiros tentando fazer com que a redonda não entre pela linha da trave. No entanto, nada na Terra é mais forte do que futebol. Nada. A soma de todos os demais esportes, na Olimpíada, não é ainda para comparar com a Copa do Mundo de Futebol.
A audiência televisiva de uma Copa é maior que de uma Olimpíada. Esse ano, fala-se que mais de 3 bilhões de pessoas assistirão a Copa! É um evento gigantesco sem dúvida!

Talvez o futebol seja assim, tão universal no prazer que gera, por ser o único esporte absolutamente criativo, valendo qualquer parte do corpo, menos as mãos. Além disso, o futebol é o jogo de toda sorte de dribles e de manhas com o corpo. É o homem apanhando algo parecido com a Terra, a bola, e colocando-a sob seus pés, como se fosse o senhor dela.

O futebol não tem concorrente; pois nenhum outro esporte é mais pleno e amplo; e nem mais pronto a exibir toda a ginga do corpo e toda a utilização dele; e isto com criatividade, individualidade e conjunto ao mesmo tempo. Criado pelos ingleses, hoje é um esporte popular, jogado por pessoas de todas as classes sociais e todas etnias, não importando a cor da pele e a religião. Um esporte verdadeiramente globalizado.

Eu torcerei pelo Brasil. Mas a minha torcida é que esse país seja conhecido não apenas por seu futebol e carnaval, mas que seja principalmente por ser um lugar onde o dinheiro público seja aplicado em melhores condições de vida para seu povo, seja na aplicação correta na saúde, educação, em mobilidade urbana, saneamento básico e na diminuição da desigualdade social e da corrupção.
No meio de tudo isto, também torço pelo belo futebol mais do que pela vitória. Para alguns vai ser como assistir uma Copa em meio ao Apocalipse. Mas certa vez alguém dizer que brasileiro torce ainda que a guerra do Armagedon esteja acontecendo...
 
Estou escrevendo isto a fim de desejar uma Feliz Copa do Mundo para todos!
Boa torcida e boas emoções a todos!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Subsídio para EBD - O Presbítero, Bispo, e ou Ancião


No livro "Introdução à Teologia Sistemática", de Eurico Bergstén, publicado pela CPAD em 1999, lemos na pg. 270 (pg. 229 da atual edição):

"Os presbíteros tomavam parte ativa no apascentamento da igreja (cf. At 20.28) e também no ensino, pois uma das qualidades exigidas do candidato ao presbitério era que fosse 'apto para ensinar' (cf. 1 Tm 3.2). Os presbíteros constituíam um corpo auxiliar no governo da igreja, sob a presidência do pastor. Convém salientar que os ministros também se consideravam presbíteros. O apóstolo Pedro escreveu para os presbíteros que ele também era presbítero (cf. 1 Pe 5.1), e o apóstolo João considerava-se ancião (cf. 2 Jo 1) ou presbítero (cf. 3 Jo 1). Apesar de os presbíteros não serem ministros da Palavra, os ministros, necessariamente, eram presbíteros. Assim ficava distinguida a liderança que lhes fora dada por Deus."

 Alguns comentários, acerca do referido texto:

1. Entendo que os presbíteros não constituíam apenas um "corpo auxiliar no governo da igreja sob a presidência do pastor". À luz do Novo Testamento, o presbítero poderia ser o próprio pastor, conforme diz I Pedro 5:1-4.

A designação "pastor", do grego poimen (ποιμήν), fala-nos da atividade de "cuidar do rebanho", que envolvia: alimentar, guiar, cuidar (cf. VINE, p. 856, 2003). Dessa forma, os presbíteros, do grego presbuteros (πρεσβύτερος), literalmente "homem idoso, ancião, os que cuidam espiritualmente da igreja" (idem, p. 396, 2003), que assim exerciam seus presbitérios, eram chamados de "pastor".

2. Não havia a citada distinção entre "ministros" e "presbíteros". Os presbíteros eram também ministros. Nem mais, nem menos que isso.

3. O pastor que "presidia", na realidade, sempre que exercia essa função, era chamado de "bispo", do grego episkopos (ὲπίσκοπος), "literalmente, 'inspetor' (formado de epi, 'por cima de', e skopeo, 'olhar' ou 'vigiar', é encontrado em At 20.28; Fp 1.1; 1 Tm 3.2; Tt 1.7; 1 Pe 2.25. (VINE, p. 434, 2003).

4. Existe uma aparente dificuldade, no texto aqui questionado. A Declaração "uma das qualidades exigidas do candidato ao presbitério era que fosse 'apto para ensinar' (cf. 1 Tm 3.2)", parece entrar em contradição com "Apesar de os presbíteros não serem ministros da Palavra [...].

5. A Bíblia de Estudo Pentecostal (CPAD) afirma em sua nota sobre "Dons Ministeriais para a Igreja" que: "Os pastores são aqueles que dirigem a congregação local e cuidam das suas necessidades espirituais. Também chamados "presbíteros" (At 20.17; Tt 1.5) e "bispos" ou supervisores (1 Tm 3.1; Tt 1.17)".

6. Por fim, na obra "O pastor pentecostal: um mandato para o século XXI", também publicado pela CPAD, na pág. 110, encontramos o seguinte:

"Alguns aludem a 1 e 2 Timóteo e Tito como o "Manual do Pastor", por causa das preciosas instruções e qualificações dadas ao ministério e à igreja. Em 1 Tm 3, há orientações muito específicas a todo aquele que aspira ao pastorado. Observe a afirmação que segue: "Para efeito de esclarecimento, os títulos 'bispo', 'presbítero' ou 'ancião' e 'pastor' são usados intercambiavelmente na Escritura e referem-se ao mesmo ofício, mas expressam responsabilidades diferentes, como supervisão administrativa, liderança espiritual e ministério, bem como alimentar e atender o rebanho de Deus. Em Atos 20, todos os três conceitos - bispo, ancião e pastor - são usados em referência aos líderes da igreja em Éfeso." (TRASK et ali, p. 110, 1999)

Dessa forma, parece que tudo fica esclarecido, cabendo, salvo melhor juízo, uma nota teológica de esclarecimento nas próximas edições de "Introdução à Teologia Sistemática", de Eurico Bergstén, este que foi um grande baluarte e mestre das Assembléias de Deus no Brasil.

Parece-nos que nas Assembleias de Deus no Brasil, as bases teóricas para o entendimento das atividades ou ofício de presbíteros foram lançadas pelo missionário e evangelista sueco Nils Kastberg. Araújo, em seu Dicionário do Movimento Pentecostal escreve que no Mensageiro da Paz de agosto de 1936, Kastberg lança as bases para um entendimento de que há uma casta ou elite de presbíteros, ao escrever que “há duas qualidades de presbíteros”. O pensamento de Kastberg veio a influenciar as resoluções convencionais em torno da questão.

Foi na Convenção Geral de 1937, conforme nos informa Daniel (2004) que ficou estabelecido o ensino sobre a hierarquia eclesiástica que até hoje existe na Assembleia de Deus: diáconos, presbíteros e ministros do Evangelho (pastores e evangelistas).

Segundo Araújo (2007), já na Conveção Geral de 1946, realizada na Assembleia de Deus em Recife-PE, foi aprovado que só poderiam assistir às sessões convencionais “os missionários, pastores e evangelistas”, enquanto “os auxiliares, presbíteros e diáconos” só poderiam tomar parte “com a devida recomendação de seus respectivos pastores e sem direito à votação”.

Dessa forma, estava sacramentada nas Assembleias de Deus no Brasil, a ideia de que presbíteros e ministros (pastores e evangelistas) não pertenciam a mesma “classe”, “casta” ou “elite ministerial”.

A ideia de “classe”, “casta” ou “elite” chega ao ponto de fazer com que alguns presbíteros que dirigem congregações sejam repreendidos pelos pastores e evangelistas (ministros), quando aceitam ser chamados pela congregação pelo título de pastor. - Quem lhe consagrou a pastor?

CONCLUSÃO

Entendo que um dos motivos da evolução histórica desta distinção entre presbíteros e ministros (pastores e evangelistas) nas Assembleias de Deus no Brasil seja a questão financeira. Como os ministros (pastores e evangelistas) recebiam ajuda financeira por trabalhar em regime integral (ou parcial), se os presbíteros fossem “promovidos” ao status de ministros, isso incorreria em ter que remunerá-los também.

Outro motivo para a consolidação e perpetuação desta ideia equivocada de classe “superior” e “inferior” de presbíteros no contexto assembleiano, credito a inacessibilidade dos nossos pioneiros aos recursos bibliográficos, em especial, às obras nas línguas originais, léxicos, comentários e dicionários bíblicos, como as temos hoje abundantemente. Acrescente-se a isto toda oposição feita ao estudo teológico formal por longos anos.

Não encontramos no Novo Testamento, em hipótese alguma, os presbíteros ou bispos que exerciam o governo na igreja se colocando em posição de domínio ou superioridade “especial” sobre companheiros os crentes em geral. É neste sentido que Pedro escreve em I Pe 5:1-4.

Percebam a humildade do apóstolo ao afirmar “sou também presbítero com eles”, em vez de “sobre eles”. Dessa forma, mesmo que o “anjos” nas cartas às igrejas da Ásia (Ap 2-3) sejam interpretado como um presbítero-líder, isso não o colocava em posição de domínio absoluto sobre os demais. As decisões na igreja do Novo Testamento sempre foram tomadas em conjunto (At 1.15-26; 6.1-6; 15.22-29).
 Em 1 Timóteo 3.1-7 temos a prescrição das qualidades que deveriam ser observadas nos candidatos ao bispado, presbitério ou pastorado, mas a forma como a escolha era feita não fica clara no texto. Escrevendo a Tito, Paulo orienta o estabelecimento de presbíteros nas cidades. Também não é exposto no texto como se dava o processo. Alguns entendem, fundamentados no contexto do Novo Testamento, que a igreja local participava ativamente do processo de eleição

À medida que era aumentada a autoridade dos clérigos (especialmente dos bispos), diminuía a importância e participação dos leigos. Dessa maneira, a Igreja se tornava cada vez mais institucionalizada e menos dependente do poder e da orientação do Espírito.

Anselm Grün, monge católico, escreve:

"Só no início do século III os bispos e presbíteros são descritos segundo conceitos sacerdotais. Desde Tertuliano e Cipriano, o bispo é designado regularmente como sacerdos (sacerdote). No ocidente, Orígenes também define o bispo como sacerdote. Ao mesmo tempo, os presbíteros são chamados de sacerdotes. Depois de Orígenes, porém, passam a ser sacerdotes num grau inferior. Os presbíteros participavam do ofício dos bispos. Os diáconos não são incluídos no sacerdócio".

Como se pode observar, a ideia de sacerdotes inferiores fortalecida no século III, e não no Novo Testamento, é a mesma que norteia a distinção feita nas Assembleias de Deus entre presbíteros (sacerdotes inferiores) e pastores/evangelistas (sacerdotes superiores). Ainda sobre a consolidação de tal conceito no século III, Humberto Almeida, frei católico, afirma que

No fim do século II a Igreja chega a um ponto de expansão que exige um organograma maior na sua atuação [...]. Consolida-se a posição do bispo como pastor, com presbíteros seus “vigários”, prenúncio das futuras dioceses e paróquias.

Como fica evidente com no texto acima, a relação nas Assembleias de Deus entre os pastores e os presbíteros é a mesma do modelo católico romano entre Bispos e Presbíteros, distanciado dos parâmetros do Novo Testamento.

Nesta segunda parte de minhas argumentações, entendendo que é quase impossível uma mudança no sistema assembleiano de governo eclesiástico, e na forma de conceber o ofício de presbítero. Há, por parte da “classe superior”, muito poder centralizado e privilégios conquistados envolvidos na questão.

Observações Finais:  

  
Qual a diferença bíblica entre as atribuições de presbítero, evangelista e pastor? Nenhuma. É uma questão de foco apenas. O evangelista bíblico seria por excelência um pregador. Fazemos o seguinte: estágio probatório para o pastorado. Certo do ponto de vista prático, mas sem apoio bíblico.

Aliás, uma questão subjacente é a tradicional "escada", que não existe claramente na Bíblia. Qual dos discípulos foi primeiro diácono, depois presbítero, depois evangelista, e, em seguida, pastor? É complicado responder.

 
O corpo ministerial das congregações locais da Igreja primitiva, compunha-se, quase sempre, somente de presbítero e diáconos, ocupando respectivamente as funções de supervisão e/ou ensino ("presbíteros") e administração dos bens temporais (diáconos).
 
 Portanto, concordo que as designações Bispo, Ancião, Episcopo, Pastor expressam responsabilidades diferentes do ofício do Presbítero. Sem nenhum demérito, parecece-me que a escrita do saudoso missionário Eurico Bergstén é uma tentativa de explicar o jeito assembleiano de constituir a hierarquizada câmara ministerial, onde o "presbitério" é "corpo auxiliar".
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Humberto Pereira de. O sacerdócio e a sua história. São Paulo: Editora Ave-Maria, 2007.
ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
BERGSTÉN, Eurico. Introdução à Teologia Sistemática. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
BÍBLIA. Português. A Bíblia sagrada. Tradução de João Ferreira de Almeida. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004. Revista e atualizada no Brasil, 2. ed.
Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
DANIEL, Silas. História da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
GRÜN , Anselm. Ordem: vida sacerdotal. São Paulo: Edições Loyla, 2006.
Novo Testamento interlinear grego-português. Barueri-SP Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.
RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave linguística do Novo Testamento grego. São Paulo: Vida Nova, 1995.
TRASK, Thomas E. et ali. O pastor pentecostal: um mandato para o século XXI. Trad. Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro: CPAD, 1999.
VINE, W. E.; UNGER, Merril F.; WHITE JR, William. Dicionário VINE: o significado exegético e expositivos das palavras do Antigo e Novo Testamento. Trad. Luís Aron de Macedo. 2. ed. Rio de Janeiro, 2003.