Teo-logia
pretende ser um estudo lógico sobre Theos, sobre Deus. O que é, em si, uma contradição
de termos. Se há uma lógica divina não há mais espaço para a afirmação cristã
de que o homem vive, naturalmente, uma total incapacidade de “discernir a Deus”.
Pode-se conhecer a “tese revelada na Palavra de Deus”,
mas a tentativa de estabelecer uma lógica-sistemática
para o Logos é infantilidade, tanto “teo-lógica” quanto “filosófica”
e, muito mais ainda, “psicológica”.
Nossas
hermenêuticas são, em geral, o fruto mais duradouro das perspectivas epistemológicas
dos gregos; e, nesse caso, Aristóteles, deveria ser o para-ninfo de nossos estudos “teológicos”,
especialmente, de suas “sistematizações”— quase todas heranças da Teologia da Terra que, entre os
gregos, tomou a alcunha de “filosofia”.
Ora,
uma “teologia” já é em si uma construção presunçosamente pagã. Na Bíblia, não há
“teologia”. Nela só existe “revelação”; e, sua sistematização nunca foi e nem
será verdade-verdade;
pois é também, uma construção humana sobre o “revelado”. E mais que isto: chama
Deus para caber na arquitetura dessa Catedral
de Pensamentos Humanos que se erigiu para Ele “habitar”.
Fica
bem para Zeus, nunca para
Deus!
A
visão aristotélica — prevalente desde há muito entre os cristãos como método grego
de filosofia — foi “oficialmente” encampada por Tomás de Aquino, “refinada” por
Descartes e “aceita” como verdade final pelo Positivismo e afirma que só há
duas realidades: a realidade material e a consciência da razão. Para além disto,
não há mais nada, de fato, a se esperar conhecer. Ou seja; pelo método grego, aceito
teologicamente como “científico”, jamais haveria revelação!
Para
quem desejar uma viagem histórica sobre a perversão do Cristianismo, recomendo
o livro Subversion of Christianity,
de Jacques Ellul.
E
há quem fique espantado com as di-visões na Cristandade. As di-visões só não acontecem
se a visão for uma só: a da Graça de
Deus em Cristo. Nesse caso, não há di-visão, pois, há uma
só visão.
As
departamentalizações doutrinárias feitas pelas nossas teologias aristotélicas—que
tentam nos fazer convergir pela razão dos doutos—nos dividem, na mesma medida
em que pretendem setorializar a verdade como doutrinas. Quem, todavia, vê a
vida a partir da Graça,
só divide se a expressão de seu ser-crer gerar “julgamento” nos de-mais que não
conseguem crer no que Paulo disse: “a
fé que tu tens, tem-na para ti mesmo”. O que os
Reformadores parecem não ter compreendido é que o “rompimento protestante”
rompeu apenas com “doutrinas”, mas não com o “método”—sempre grego de
nascimento—e, muito menos ainda, parece que tenham se dado conta de que o “fundamento”
não foi devidamente afetado pelo “protesto” feito pelo Protestantismo.
Pelo
contrário, protestamos contra os sintomas,
fizemos uma cirurgia plástica na “igreja”, tiramos-lhe as “gorduras”, mas não
tratamos de seu problema “orgânico”, do ponto de vista teológico, e, menos
ainda, não conseguimos identificar as sutilezas e as “mutabilidades” do vírus
mortal que viaja no corpo de pensamento da “igreja” desde o tempo dos Gálatas e
dos Hebreus. Ambas as epístolas foram escritas para que os cristãos não se
tornassem aquilo no que nos tornamos.
A
doutrina protestante do “livre exame da Escritura” é totalmente bíblica. O problema
não é ter liberdade para “examinar”. O
problema é conseguir não examinar a partir de uma “teologia sistemática”.
Daí em diante, mesmo na Bíblia, acha-se o que se desejar achar. Afinal, as “sistematizações”
só se utilizam das evidências que “fecham o sistema”.
A
Bíblia, todavia, é propositalmente “paradoxal”, e, por vezes, até “contraditória”
para os padrões de pensamento da filosofia grega. Paulo já dizia que a Cruz é loucura para os
gregos. Como, então, seria um “método grego” que nos ajudaria a entender a
Palavra? O que o “método” fez foi nos ajudar a criar “doutrinas”,
incapacitando-nos a fazer “síntese” da revelação!
Bibliografia:
Fábio, Caio - Sem Barganhas com Deus, 2005, Editora Prólogos. Pgs. 29,30,38 e 39.