sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Reforma Protestante e a Espiritualidade Clássica

A igreja evangélica atual tem origem na Reforma, e ao longo do tempo recebeu a contribuição de diversos movimentos, como anabatismo, puritanismo, pietismo, avivamentos do século 18, sociedades missionárias, fundamentalismo, pentecostalismo clássico e missão integral. O conjunto destes movimentos iniciados com a Reforma é o que conhecemos como protestantismo. Vivemos atualmente sob o impacto do controverso movimento neopentecostal. Foram sopros do Espírito Santo ao longo da história, intervenções de Deus para dentro da realidade humana, com suas instituições, seu poder político e econômico. Nenhum destes movimentos é perfeito -- cada um deles tem luzes e sombras. É um equívoco abraçar algum deles incondicionalmente. A tendência que se observa é abraçar um destes movimentos como a última e definitiva revelação de Deus e excluir os demais, considerando-os inferiores e muitas vezes até hereges.

Ser evangélico hoje significa andar nos passos dos reformadores e destas outras contribuições, seja buscando alguma integração, seja na ênfase de uma só delas. No entanto, não se trata de eleger uma ou outra, mas de discernir o sopro do Espírito, que, de tempos em tempos, renova algum aspecto que foi negligenciado ou esquecido da teologia e da prática de Jesus de Nazaré. Trata-se de julgar e reter o que há de bom em cada uma delas e receber com alegria esta preciosa herança, aprendendo com a história e com aqueles que trilharam o caminho da fé, da esperança e do amor antes de nós.

A Reforma aconteceu no século 16. O que podemos aprender dos primeiros 1500 anos da história da Igreja? Muitos evangélicos esclarecidos dizem: nada. Antes da Reforma só existiam duas igrejas cristãs: a romana e a ortodoxa. Lutero e Calvino eram agostinianos e lemos abundantes citações dos Pais da Igreja nas “Institutas” de Calvino. Precisamos confessar, como evangélicos, nosso preconceito e orgulho. Até hoje, olhamos com suspeita para tudo o que aconteceu no seio da Igreja de Cristo anterior à Reforma por considerar esta contribuição como católico-romana e achar que do catolicismo não pode vir nada valioso.

Durante os primeiros 1500 anos de história da Igreja, o Espírito Santo soprou várias vezes. A espiritualidade clássica engloba a contribuição dos santos e doutores da igreja nos movimentos da patrística, da monástica e da mística medieval, isto é, o vento do Espírito anterior à Reforma.

O que se observa hoje é que alguns protestantes se debruçam sobre este período, a espiritualidade clássica, com o desejo de aprender e integrar na experiência evangélica aquilo que há de bom. Evangélicos como Hans Burki, James Houston, Eugene Peterson, Alister McGrath, Richard Foster, Ricardo Barbosa estão redescobrindo a riqueza da espiritualidade clássica, como contribuição vital para a igreja de hoje. Católicos contemporâneos, como Henri Nouwen, Anselm Grun, Thomas Merton e outros, também buscam resgatar esta tradição. A Comunidade de Taizé, fundada pelo reformado Irmão Roger, tem alcançado muitos jovens na Europa e outros países, com sua proposta de reconciliação, integrando o que há de bom nas tradições ortodoxa, católica e reformada.

É uma falácia achar que a Reforma do século 16, apesar de sua importância fundamental, é o único e definitivo mover do Espírito Santo na história da Igreja e que nada de bom aconteceu nos séculos precedentes. Felizmente, para nós, estes antigos movimentos estão documentados e podemos aprender com eles.

A “multiforme” sabedoria de Deus não é uma experiência de conhecimento que pertence a um indivíduo, a um grupo ou a um movimento. Ela engloba o patrimônio de revelação de Deus por meio da história da Igreja. Ou seja, as muitas vezes que o Espírito Santo revitalizou, renovou, corrigiu, avivou e despertou o povo de Deus de seus desvios e acomodações ao longo dos séculos e através das nações, nas três confissões cristãs: ortodoxa, romana e reformada.

Para isto, há que se vencer o preconceito evangélico, que considera que tudo o que é católico é herético e, ao fazer isto, se autoproclama dono da verdade. Assim rejeita o Pastor de Hermas, Clemente, Justino, Inácio de Antioquia, Orígenes, Policarpo, Pacômio, Antão, Bento, Atanásio, Crisóstomo, Gregório Nazianzeno, Basílio, Agostinho, Bento, Bernardo de Claraval, Francisco de Assis, Tomás de Aquino, Catarina de Siena, Inácio de Loyola, Savonarola, João da Cruz, Tereza D’Ávila, Bartolomeu de las Casas, Tereza de Calcutá e muitos outros. Estou certo de que a leitura dos pais orientais, dos santos místicos e dos doutores do passado e a apreciação do exemplo de suas vidas podem contribuir decisivamente para a igreja do século 21.

E, claro, integrando com a contribuição de John Wycliffe, Jan Huss, Lutero, Calvino, Zwínglio, George Fox, John Bunyan, John Knox, Conde Von Zinzendorf, John Wesley, Jacob Spener, George Whitefield, Charles Finney, Jonathan Edwards, D. L. Moddy, William Carey, Hudson Taylor, David Livingstone, William Booth, Karl Barth, Paul Tillich, Dietrich Bonhoeffer, Martin Luther King, John Stott, René Padilla, Samuel Escobar e tantos outros.

Sim, sou um reformado evangélico: “Sola Scriptura”, “Sola Gratia”, “Sola Fide”, “Solus Christus”, “Soli Deo Gloria”. E aberto para aprender e integrar a espiritualidade clássica em minha experiência cristã. Aprecio e sou edificado com o que aconteceu em Niceia (325), Monte Cassino (529), Assis (1223), Wittenberg (1517), Westminster (1647), Azuza Street (1905), Medellin (1968), Lausanne (1974) e com outros momentos em que o Espírito soprou na história da Igreja. É importante e promissor este diálogo entre a Reforma Protestante e a espiritualidade clássica, integrando o que há de bom nestes movimentos.


• Osmar Ludovico da Silva foi pastor durante trinta anos e hoje dedica-se a dirigir grupos de formação espiritual. Mora com a esposa, Isabelle, em Lauro de Freitas, BA, e participa da Igreja Batista de Vilas do Atlântico. É autor de “Meditatio” e se identifica com a missão integral e a espiritualidade clássica.

Fonte: Revista Ultimato, Edição de setembro/outubro de 2009.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

A INTOLERÂNCIA DOS TOLERANTES



Em 1999, o Conselho Federal de Psicologia baixou uma resolução proibindo os psicólogos de tratar as homossexualidades como patologias. Na época, o pastor Israel Belo de Azevedo publicou a reflexão abaixo, a qual se mantém atual em meio às novas polêmicas sobre o tema.

"Será a psicologia uma ciência? A pergunta pode parecer tosca, não fosse uma resolução baixada pelo Conselho Federal dos psicólogos. Desde o dia 23 de março de 1999, portanto, ficamos todos sabendo, pelo Diário Oficial da União, que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio, nem perversão”. Não adianta discordar porque, como manda a praxe, ficaram revogadas todas as disposições em contrário.

Pela mesma instrução, os psicólogos estão terminantemente proibidos de colaborar “com eventos e serviços que proponham tratamento e cura das homossexualidades” ou de achar publicamente que os homossexuais são “portadores de qualquer desordem psíquica”. Assim, quem é psicólogo que trate de pensar igual ao Conselho Federal, a menos que queira acertar as contas com seus pares-representantes.

De igual modo, quem achava que o tema da homossexualidade fosse uma questão aberta e até pretendesse estudá-lo fique certo que não há mais o que debater. Uma penada o encerrou. Como é da natureza da ciência estar sempre aberta ao debate, especialmente quando o objeto é o ser humano, soa doloroso e anacrônico que a psicologia enquanto ciência tenha sido assassinada, logo ela que tem escolas, correntes e tendências tão fascinantemente múltiplas.

O que se quer discutir aqui, pois, não é a natureza, desviante ou não, do homossexualismo, mas a intolerância estampada em nome da tolerância. Por isso, o lamento seria o mesmo se a ordem fosse contrária. Decidisse o CFP que os homossexuais são portadores de desordem psíquica, estaria destilando a mesma intolerância.

Não tem um homossexual o direito de se achar psiquicamente desordenado e bater à porta de um consultório em busca de cura? Não tem o psicólogo o direito de entender que esse homossexual pode ser tratado?

A resposta, por decreto (como se ciência fosse feita por decreto), é um duplo “não”. Os homossexuais, que eventualmente queiram mudar, não precisam se preocupar: o Conselho não legisla sobre eles, pelo que não poderão ser alcançados. Aos psicólogos, que eventualmente queiram ajudá-los, só resta a indigna clandestinidade. Com licença para uma paráfrase, seu cuidado não pode ousar dizer o nome.

Nada haveria a opor se o órgão de classe apenas e contundentemente condenasse, como o faz, aquelas ações coercitivas que visem “orientar homossexuais para tratamentos não solicitados”. Ninguém deve ser coagido, nem mesmo pela melhor causa, porque é a liberdade que faz uma pessoa tornar-se humana.

A grandeza de Galileu Galilei foi precisamente a de resistir às bulas papais de que a terra não se movia. É àquela época que a resolução de agora nos faz retroceder. Não será, porém, um desvio desses que fará a ciência da psicologia resvalar do seu caminho".


Fonte: Editora Mundo Cristão, via o blog do autor: www.prazerdapalavra.com.br

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Eventos evangélicos que dão apoplexia

Menino prodígio pregando, fantasiado de pastor. (Tenho vontade de esganar os pais, os líderes que deixam esse tipo de excrescência e a multidão imbecilizada que ainda consegue dar glória a Deus).
Marcha para Jesus em São Paulo. (Sei que esse “carnaval-gospel-fora-de-hora” acontece em outras cidades, mas nenhum consegue ser tão ruim).
Pastor entrevistando demônio. (Além de considerar desprezível o que um demônio tenha para dizer, acho esse tipo de coisa uma violência contra a dignidade humana).
Evangelista empetecado prometendo prosperidade. (Tais mercadejadores da esperança povoarão a esfera mais baixa do mundo subterrâneo de Dante).
Profecia em programa de rádio. (O pastor chuta afirmando que algum motorista está triste e que Deus mandou aquele recado; pateticamente acerta todas).
Conferência missionária que atrela a miséria da Africa à idolatria. (As veias do meu pescoço incham quando ouço alguém dizer que os Estados Unidos ficaram ricos porque são “uma nação cristã”).
Testemunho de cura divina em cruzada evangelística (Que tristeza ouvir velhinha contar que foi curada de caroço, dor nas pernas e da coluna! Os que têm o dom de cura devem dar plantão na Ala dos Indigentes do Hospital do Câncer ou em ClInica de Hemodiálise).
Sermão entrecortado com língua estranha (Será que as platéias não percebem o exibicionismo?).
Político se convertendo em ano eleitoral (Que mico; nojo se mistura com vergonha!)

Esse são alguns, porque tem mais.

Fonte: www.ricardogondim.com.br


OBSERVAÇÃO: Apoplexia é uma afecção cerebral que surge inesperadamente, acompanhada de privação do uso dos sentidos e ou de suspensão do movimento; por outras palavras, serve de designação genérica das afecções produzidas pela formação rápida de um derrame sanguíneo ou acidente oclusivo no interior de um órgão. A designação apoplexia está atualmente em desuso, devendo ser mais corretamente substituída pela de acidente vascular cerebral.
Obtido em "http://pt.wikipedia.org/wiki/Apoplexia"

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A GRANDE DESEVANGELIZAÇÃO

Temo muito pelo que vou dizer, mas devo fazê-lo por uma questão de consciência, com temor e tremor. Tenho como certo que se nada acontecer aos evangélicos, se continuarem seguindo este presente caminho, se tornarão, historicamente, o fator mais decisivo quanto a empurrar a classe media reflexiva, os intelectuais, e todos os que buscam uma fé ou uma filosofia que almeja por ter paz na alma já agora, na Terra, para os braços do Budismo, do Taoísmo, e algumas outras religiões ou filosofias que oferecem um caminho para a pacificação do ser; seja isto pela via da respiração, da meditação, das mantras, da harmonização corpo-alma, do silêncio, ou da contemplação interior, no coração; e exterior, na criação. E isto já está acontecendo, e, se nada mudar nos evangélicos, crescerá em larga escala. Alguém pergunta: o que os evangélicos têm a ver com isto? Não são eles os maiores combatentes de tais coisas? Acredito que, o catolicismo tende a crescer entre os pobres do interior, e entre os esotéricos que descobriram “Nossa Senhora”, como Elba Ramalho. Mas pouco poder terá entre os da classe média pensante. Os evangélicos também continuarão a crescer, especialmente esvaziando os cultos afro-ameríndios, que, enfim, encontraram nos Neo-Pentecostais a versão evangélica da macumba, com todos os conteúdos e sistemas idênticos, e com o mesmo modo de barganha com a divindade, sendo também as “bênçãos” todas de natureza peculiar à macumba: juntar casais, abrir portas para negócios, separar amantes, conseguir prosperidade material, e todas as demais coisas que os feiticeiros e feiticeiras sempre ofertaram à humanidade. No entanto, assim como já não conseguem, deixarão completamente de ter a capacidade de alcançar os que sentem e pensam com categorias existenciais mais refinadas. Além disso, sinto que há uma grande quantidade de jovens evangélicos se interessando cada vez mais pelas filosofias orientais. Ora, isto está acontecendo porque os evangélicos não têm mensagem para a alma, nem para a pacificação do ser, visto que, eles próprios, em geral, são as pessoas mais neuroticamente aflitas que se conhece à volta. A lei, o orgulho, a vaidade, o dinheiro, o mercado, a vangloria, a fama, o culto à imagem, o comportamentalismo, o moralismo, a superficialidade, as taras, as piedades austeras e feias, as divisões, os ciúmes, a picaretagem, o formalismo, a fixação no controle das pessoas, as jogadas políticas, a venda de votos, as negociatas, as lavagens de dinheiro, e a grotesca hipocrisia, tornaram os evangélicos insuportáveis até para os evangélicos mais sensíveis, e que, muitos deles, não tiveram um encontro com Jesus, mas apenas com o “Jesus Evangélico”, e que é apenas um ser criado para seduzir as almas aflitas; mas que é esquecido e substituído pela igreja, tão logo aquele que creu entre para o seu inventário de bem ativo. Estou assustado com a quantidade de jovens que estão simpatizando com muitas filosofias orientais, pois que por elas se sentem muito mais tranqüilizados para viver. Recebi alguns e-mails com este conteúdo; e também de filhos de pastores, que me pedem para que não divulgue seus e-mails no blog. O que dói é que não há nada nesta vida que de fato mais possa pacificar o coração, que a certeza da total reconciliação com Deus, conforme e Boa Nova. No entanto, quando a “igreja” prega, em geral, ela falsifica Jesus, pois o apresenta de modo a se parecer com um ídolo. O “Jesus da igreja” é uma afronta a Jesus de Nazaré. Por vezes chega a ser um anti-cristo, de tão desconstrutivo que é em relação a Jesus, conforme o Evangelho. De fato, gente, ou todos nós, a uma e também individualmente, nos convertemos ao Evangelho, conforme Jesus, ou veremos um dos mais feios desastres acontecerem, feito em nome de Jesus, mas realizando a obra do diabo. Sei que o que estou dizendo é sério. Há vários evangelhos sendo pregados. Há aquele que pedra. Há aquele que dissolve. Há aquele que imbeciliza. Há aquele que faz magias. Há aquele que só cuida das coisas desta vida. Há aqueles que é só comportamento. Há aqueles que é luta aflita contra o diabo. Há aqueles que é total mornidão. E há aqueles que é uma boa religião. Nenhum deles gera no ser o bem do Evangelho da Graça de Jesus! Se nada mudar... Infelizmente, é verdade. Mas ainda há tempo de nos convertermos ao Evangelho, puro e simples, e rompermos com o diabo da teologia moral dos fariseus, e mergulharmos, de cabeça, sem medo, no bem da reconciliação feita e consumada, indissolúvel, inquebrantável, eterna e imutável; e que é bem de paz e tranqüilidade para o coração; especialmente no tempo presente; pois que bem me faz uma salvação que não começa já hoje, como pacificação do coração? Quem já passou da morte para a vida tem que começar a experimentar a eternidade como vida abundante, em paz e contentamento, não pelo que tem e consegue como bem material, mas como alegria pela vida no bem eterno, e que é o chão da vida de todo aquele que conheceu, de fato, a Graça de Jesus.