terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Eu era a esposa de um pastor. O suicídio me tornou a viúva de um pastor.

 O que aprendi sobre saúde mental e ministério após a trágica morte do meu marido.


Eu tinha 19 anos quando conheci Andrew e rapidamente me apaixonei. Ele era um filho de pastor que sentiu o chamado para o ministério, e não demorou muito para perceber que a vida com ele significava a vida de esposa de pastor.

Cresci frequentando a igreja todos os domingos, mas, só depois de conviver um tempo com a família de Andrew, tive um vislumbre de como era a vida nas trincheiras do ministério. Ao me envolver, ouvir e aprender, vi que, embora servir no ministério possa ser algo significativo e bonito nos bastidores, também pode ser estressante, decepcionante, desanimador e solitário.

Em 2015, Andrew se tornou o pastor da igreja de seus pais e eu rapidamente encontrei maneiras de me encaixar em meu novo papel como esposa do pastor titular. Eu servia na equipe do ministério feminino; inscrevi-me para participar do grupo de mães de crianças em idade pré-escolar, às quartas-feiras; e todo domingo chegava na igreja pontualmente para o primeiro culto.

O ministério era tudo. Todo o nosso mundo girava em torno da igreja local e do chamado de Deus para a vida de Andrew. Seu chamado se tornou o meu chamado; sua paixão, a minha paixão; seu propósito, o meu propósito.

Então, em 25 de agosto de 2018, depois de lutar por um tempo contra o esgotamento, a depressão e a ansiedade, meu amado marido, Andrew, tragicamente suicidou-se.

A vida como eu a conhecia mudou para sempre e passei a ter uma vida totalmente nova, como viúva e mãe que criava sozinha nossos três filhos. De repente, a triste história da internet era a nossa. Eu vi imagens de minha vida e família ganharem as manchetes em todo o mundo. De uma hora para outra, fomos parar no centro das atenções.

E enquanto o mundo estava assistindo, inclinando-se e ouvindo atentamente, decidi falar. Eu não deixaria o suicídio dar a última palavra. Apenas três dias depois que Andrew foi para o céu, escrevi uma carta para ele e postei no blog da família. “Seu nome continuará vivo de forma poderosa”, eu prometi. “Sua história tem o poder de salvar vidas, mudar vidas e transformar a maneira como a Igreja apoia os pastores.”

Foi por meio daquela carta que comecei a ver a mão de Deus em ação, redimindo o que estava perdido e até salvando vidas do suicídio. Recebemos de completos estranhos centenas de cartas, presentes, doações, livros, cobertores e buquês. O amor falou alto.

O que percebi logo no início e aprendi nos últimos anos é que a história de Andrew não é algo incomum. Recentemente tivemos a Semana Nacional de Conscientização sobre a Prevenção do Suicídio nos Estados Unidos. É muito triste, mas, ano após ano, a igreja americana vem perdendo mais líderes para o suicídio.

Muitos pastores e pessoas que servem em posições ministeriais lutam com questões de saúde mental. E, infelizmente, nem sempre sentem que há espaço para compartilhar suas lutas com colegas de ministério ou membros da igreja. O medo de perder o emprego, o púlpito, a voz e o respeito de seus colegas é uma realidade bem concreta. Pela minha experiência com Andrew, aprendi como é importante para a igreja formar líderes para atender pastores e pessoas que servem em posições ministeriais, quando estes inevitavelmente se encontrarem em um período de fadiga ministerial.

Todos os pastores precisam de um círculo seguro de pessoas, com as quais possam ser vulneráveis. Eles precisam de amigos próximos e de uma comunidade de confiança, na qual possam baixar a guarda, tirar o chapéu de pastor e ser eles mesmos. Andrew costumava dizer: “É solitário aqui no topo”. Mas não precisa ser. Não fomos criados para viver sozinhos; isso não funciona.

Um pesado fardo de responsabilidade está ligado a essa solidão. Andrew costumava se referir a si mesmo como o “eixo”, a pessoa que mantém tudo unido. Constantemente e com amor, eu lhe apontava de volta Jesus e o fazia lembrar quem realmente era o eixo. Quando servimos em uma posição ministerial, é crucial que a liderança seja vista como um trabalho em equipe. Se não permitirmos que outros nos ajudem a carregar o fardo, desmoronaremos sob a pressão.

O fardo parece especialmente desgastante quando as exigências do ministério parecem implacáveis. Demorou anos de pastorado até Andrew poder ter pelo menos um dia por semana para descansar. Se não estabelecermos margem para descanso, estaremos correndo com o tanque vazio. Precisamos intencionalmente desligar o telefone, desconectar de nosso e-mail ou ficar longe do computador durante o dia. O descanso é a chave do sucesso.

A verdade que descobri em minha experiência como esposa de pastor é que os pastores também são gente como a gente. Eles não são super-homens; são humanos. Eles não são invencíveis; são apenas vasos quebrados que estão dando o seu melhor para ser uma luz resplandecente em um mundo realmente em trevas e desesperado. Mas, para continuar brilhando e liderando com energia, os pastores devem pensar também sobre como cuidar de si mesmos. Os pastores precisam da comunidade, necessitam compartilhar o peso da liderança e devem dar a si mesmos permissão e margem para ser curados e descansar.

Para líderes que se comprometeram com a igreja e com Deus a servir a qualquer custo, pode ser difícil - ou até mesmo impensável - dizer que o custo pessoal se tornou alto demais. Mas a verdade é que sua vida e sua saúde são mais importantes do que seu ministério. Se o seu ministério está matando você, destruindo sua família e piorando sua depressão, é hora de contar isso para alguém e fazer uma pausa.

Reitero que fazer isso é difícil para qualquer um de nós, mas é particularmente difícil para aqueles que se veem como alguém que está respondendo a um chamado vitalício e abrangente para a liderança sacrificial. Mas, ao liderar como Cristo, nossos pastores não precisam liderar como [se fossem o próprio] Cristo. O maior sacrifício já foi feito por nós. Os pastores devem ter liberdade para compartilhar suas dores e lutas, sabendo que ninguém jamais esperou que eles as carregassem sozinhos.

Kayla Stoecklein é uma voz em defesa das pessoas que enfrentam doenças mentais e mãe de três meninos. Junte-se a ela em kaylastoecklein.com e no Instagram @kaylasteck. Seu primeiro livro, Fear Gone Wild, foi publicado este mês nos Estados Unidos.

Fonte: https://www.christianitytoday.com/pastors/2020/september-web-exclusives/pastor-suicide-wife-stoecklein-mental-health-church.html?utm_medium=widgetsocial

Meu Comentário: A dura realidade vivida por essa viúva de pastor é o retrato de muitos pastores, esposas, filhos, netos. O ministério pastoral pode ser muito solitário quando a pessoa não com quem compartilhar suas lutas, dramas pessoais, decepções, frustrações e outros sentimentos que um pastor tem porque é ser humano. 

Como nunca estamos vendo pastores, filhos de pastores e esposas de pastores cometerem suicídio. As vezes falta um confidente confiável, um amigo de verdade. O ativismo religioso só mascara uma situação que as pessoas não veem que está acontecendo. 


O ataque ao Capitólio foi um sinal de uma igreja pós-cristã, e não apenas de uma cultura pós-cristã.

 Os eventos do ano passado em Washington ameaçaram não apenas a democracia americana, mas também o testemunho evangélico.

RUSSELL MOORE|10/JANEIRO/2022



Image: Edits by Christianity Today / Source Images: Andrew/Caballero-Reynolds / Tasos Katopodis / Stringer / Getty

 

Um ano se passou desde o ataque insurrecional de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos Estados Unidos; duas imagens ainda assombram minha mente. Uma é a de uma forca improvisada, construída com o intuito de ameaçar o assassinato do vice-presidente dos Estados Unidos. E a outra é a de um cartaz, levantado acima daquela multidão furiosa, que dizia: “Jesus salva”.

 

O fato de essas duas imagens coexistirem na mesma multidão é sinal de crise para o evangelicalismo americano.

Alguns podem não dar importância aos símbolos cristãos presentes na insurreição — não apenas cartazes, mas orações “em nome de Jesus”, [que figuraram] lado a lado com um xamã que usava chifres, no palanque central do Senado evacuado dos EUA. E alguns podem não levar em conta os evangélicos que falsamente alegaram, nos dias seguintes, que a responsável pelo ataque tinha sido uma multidão de ativistas Antifa, e não de pessoas oriundas do comício em que o então presidente dos Estados Unidos incitou a multidão a marchar até o Capitólio.

E, no entanto, pesquisa após pesquisa mostra que um número alarmante de evangélicos brancos acredita na mentira por trás do ataque: que a eleição de 2020 foi roubada por uma vasta conspiração de esquerda, a qual de alguma forma abrange governadores republicanos conservadores e funcionários de zonas eleitorais na Geórgia e no Arizona.

Uma megaigreja evangélica recebeu Donald Trump recentemente — ao som de uma multidão que gritava “USA!”, em resposta ao discurso político do ex-presidente. Essa cena pode ser um pouco exagerada para a maioria dos evangélicos, mas dados de pesquisa mostram que não é uma aberração. E as mesmas pesquisas mostram que, longe de “esfriarem” após a era Trump e o ataque insurrecional ao Capitólio, essas pessoas acreditam que a violência pode ser justificada nos dias que vêm pela frente.

De certa forma, o que vimos ao longo do ano, desde a insurreição, representa uma mudança. Observe o número crescente de pessoas que se identificam como “evangélicas” — muitas das quais nem mesmo frequentam uma igreja —, por presumirem que esta é a designação religiosa esperada para seu movimento político.

Mas, de maneiras talvez ainda mais preocupantes, essas tendências representam algo que em nada mudou.

Nos dias que antecederam à insurreição, alguns cristãos evangélicos se reuniram no National Mall para uma “marcha de Jericó”, repetindo as mesmas falsidades: que a eleição havia sido roubada e, portanto, deveria ser anulada. Esse tipo de afirmação de que “Se você não lutar [...] não terá mais um país” — , como colocou Trump —, dificilmente é novidade para grandes setores do evangelicalismo americano.

Alguns desses setores já venderam suprimentos para bunkers, fossem eles literais ou metafóricos, em razão do iminente colapso da civilização, que certamente viria por causa da chegada do ano 2000 ou da lei da sharia ou da decisão da Suprema Corte no caso Obergefell ou da teoria crítica da raça ou de um complô para fechar igrejas permanentemente devido à pandemia, ou por qualquer outra coisa que seja. Muitos setores do evangelicalismo se tornaram apocalípticos em relação a tudo, exceto ao verdadeiro apocalipse.

Tal como acontece com a insurreição (e praticamente com todos os movimentos autoritários da história), um momento apocalíptico é uma emergência que requer medidas emergenciais. Assim, vemos a dissonância cognitiva de pessoas que apóiam a lei e a ordem (às vezes citando Romanos 13), mas batem em policiais e quebram janelas para calar o dever constitucional do Congresso de contar os votos da eleição. Essas são as mesmas pessoas que podem ridicularizar as próprias palavras de Jesus Cristo sobre dar a outra face como algo ingênuo e débil.

Esse tipo de emergência, segundo nos dizem, não pode se preocupar com as normas constitucionais nem com o caráter cristão. O raciocínio é que o Sermão do Monte não é um pacto suicida, e que a maneira usada por Jesus só funciona com inimigos mais razoáveis do que esses atuais, inimigos como, suponho eu, o Império Romano que crucificou aquele que nos deu tal ensinamento.

Isso é um sinal não de uma cultura pós-cristã, mas de um cristianismo pós-cristão; não de uma sociedade secularizada, mas de uma igreja paganizadora.

Uma coisa seria se fosse apenas uma questão de a multidão ter atacado o Capitólio naquele dia. Mas é outra coisa, completamente diferente, quando pessoas — incluindo pessoas com suas Bíblias todas grifadas e com pedidos de oração pregados em suas geladeiras — diminuem a importância do ataque, como se tivesse sido um mero protesto a partir do qual devemos “seguir em frente”. Isso representa mais do que uma ameaça à democracia americana — embora isso já seja ruim o suficiente —, pois é uma ameaça ao testemunho da igreja.

Não se pode levar as boas-novas a pessoas que, se as coisas ficarem suficientemente ruins, você pode ter de espancar ou matar. Não se pode chegar ao bem fazendo o mal. Não se pode “defender a verdade” empregando mentiras.

Talvez o dia 6 de janeiro de 2021 tenha sido uma anomalia terrível em nossa história, algo que nunca se repetirá. E assim espero. Ou talvez esse 6 de janeiro tenha sido, como disse o The Atlantic, um “treino” para mais tentativas de golpe e violência de massa que ainda hão de vir. Eu não sei. De qualquer forma, o que sei é isto: nós, como evangélicos americanos, não podemos justificar o que aconteceu no Capitólio há um ano. Não podemos ignorar isso também. Se Jesus é aquele que salva, então, devemos seguir a sua direção — e ela aponta para a missão, não para o ressentimento, para o evangelho, e não para a ira.

E isso significa que devemos escolher entre o caminho da forca e o caminho da Cruz.

Russell Moore lidera o Projeto de Teologia Pública da Christianity Today.

Fonte: https://www.christianitytoday.com/.../ataque-capitolio...