Escrevo esse texto uma semana depois do Plebiscito histórico em que os britânicos decidiram sair da União Européia, sendo o primeiro país a fazê-lo desde a criação do famoso bloco europeu.
Mas, depois de ler e ouvir sobre as consequências políticas e econômicas que esta decisão trará sobre a Europa e por que não dizer o mundo, me veio a mente, um outro fator - o escatológico.
Sim, porque durante anos os escatologistas da linha dispensacionalista tem visto a formação dos blocos, principalmente o da União Européia como peça importante no quebra-cabeça sobre o Anticristo, dizendo que são os chifres, diademas e cabeças da besta do apocalípse.
Já há quem fale que o próprio Reino Unido se fragmentará e também a União Européia que ainda conta com 27 nações, mas mais países podem seguir o exemplo britânico. Outros falam que novos blocos podem surgir dessa fragmentação.
Ao longo dos séculos, diferentes tentativas de interpretação do Apocalípse, como também do livro de Daniel, tem sido propostas. Três delas são:
*Preterista - Entende que tudo o que está no livro de Apocalipse já se cumpriu, e serviu apenas para as igrejas que o receberam no primeiro século da era cristã. Mas, se todo o livro foi escrito apenas para os cristãos do primeiro século, qual é o seu valor para os que viveram e vivem depois dessa época?
*Futurista - Essa escola tem muitos adeptos em todo o mundo. Acredita que o Apocalipse é uma projeção de acontecimentos futuros. Muitas interpretações fantásticas e absurdas tem sido propostas pelos que defendem essa linha. Assim, por exemplo, dizia-se que a criação do Estado de Israel em 1948, a invasão do Afeganistão pela URSS, em 1979, eram sinais da proximidade do fim. Já se vão quase 70 anos desde que Israel foi organizado como país novamente, o Afeganistão já foi desocupado pelos soviéticos, ocupados pelos norte-americanos, e a União Soviética não existe mais.
E os que propuseram essas interpretações nem admitiram os seus erros. A interpretação puramente futurista do Apocalipse cria o que alguns estudiosos bíblicos como Gerrit Berkower e Herman Riddebos criticavam chamando de "escatologia de reportagem".
A "escatologia de reportagem" é uma abordagem muito popular em várias partes do mundo. Sua principal característica é querer encontrar nas manchetes dos noticiários, o que pensam ser confirmações de profecias.
Além do mais, se, como querem os futuristas, o apocalipse foi escrito para dar uma descrição pormenorizadas das "últimas coisas", qual o seu valor para as comunidades que o receberam nos primeiros séculos da era cristã?
*Paralelismo - Essa interpretação defende que no Apocalipse há seções (sete segundo William Hendriksen), paralelas uma à outra, cada uma representando o período completo da história da igreja, até a segunda vinda de Cristo, sendo que cada seção acrescenta algo que a anterior não disse.
Vendo com outros olhos
O último livro da Bíblia tem uma rica teologia. Eis alguns de seus temas teológicos:
O testemunho, a liturgia, a salvação, o juízo, a justiça e a soberania de Deus.
Assim como o livro Daniel foi escrito para os judeus do exílio e pós-exílio babilônico e tem sua aplicação espiritual até para nós hoje, o livro do Apocalipse foi escrito para as primeiras comunidades cristãos que sofriam a perseguição no Império Romano, teve sua aplicação para os séculos posteriores até os dias hodiernos e fala de um período que está por vir ainda.
O que não podemos fazer é uma paranóia de escatologia de reportagem, fazendo teorias a cada notícia que se tem e colocando o número 666 na testa de cada líder político ou eclesiástico que surge ou já surgiu como o Papa, Napoleão Bonaparte, Hitler, Gorbachev, vários presidentes dos Estados Unidos. Ou ainda os que entraram de cabeça nessa onda de "deixados para trás" do Tim Lahaye.
Uma onda boa para vender livros e filmes, mas que está mais para filme de suspense e terror do que o Apocalipse da Bíblia que começa e termina com uma mensagem de esperança e não de medo!
Não sei o vai acontecer amanhã com o Brasil e nem com a geopolítica das nações, mas vejo o seguinte no Daniel, ainda que tem havido através da história uma sucessão de impérios, no final uma pedra sem auxilio de mãos destrói a estátua de poder aparente dos homens e o reino de Deus prevalece!
Não é o diabo, não é uma assembléia de nações, nem qualquer líder político que está no controle da história: é Deus. Por isso, Deus é retratado no Apocalipse assentado no trono (4:1-11; 5:1; 21:3). Na literatura apocalíptica, o trono é uma símbolo de autoridade, domínio, comando e poder. O Senhor tem a vitória em suas mãos. Ele compartilha sua vitória com os que lhe são fiéis. Ele é o que é, que era, e que há de vir (4:8), que está presente com seu povo, animando-o a prosseguir a caminhada da fé.