sábado, 29 de setembro de 2012

Subsídio para EBD - A vida plena nas aflições


Ninguém está livre de aflições, nem mesmo os cristãos, essa é uma verdade bíblica e experiencial (Jo. 16.33). Estudaremos, na lição de hoje, a última do trimestre, que as aflições são reais. Inicialmente apresentaremos uma abordagem bíblica a respeito das aflições. Em seguida, trataremos sobre as aflições na vida do apóstolo Paulo, e ao final, mostraremos encaminhamentos escriturísticos para uma vida plena, apesar das aflições.

1. AS AFLIÇÕES DA VIDA
Conforme estudamos ao longo deste trimestre, muitas são aflições do justo (Sl. 34.19). As pessoas podem perder o que têm, tal como aconteceu com Jó (Jó. 1.11-19), os próprios entes queridos (I Sm. 18.14), e a honra (Jó. 15.35). A doença é considerada uma das principais aflições na vida do crente (Pv. 18.14). A violência, desde a antiguidade, perturba o ser humano (Sl. 94.3-7; Is. 1.15-17). Atrelada a essa está a cultura do medo, que provoca pavor e pânico nas pessoas (Jó. 4.13,14). Em uma sociedade que privilegia o sucesso, as pessoas também têm medo do fracasso (Sl. 31.17; Is. 37.27). Diante das aflições o crente reage de formas diversas, alguns deles tentam fugir (I Rs. 19.3), gemem e choram (Sl. 79.11; Ez. 21.11). Mas como cristão, temos Cristo o maior exemplo diante dos sofrimentos (Is. 53). Ao invés da angústia, podemos ir adiante, inspirado na fé dos antigos (Mt. 5.12; At. 7.53; Hb. 11.35-38; Tg. 5.10). Isso mostra que não estamos sozinhos, nos identificamos tanto com aqueles que sofreram antes de nós quanto com aqueles que sofrem no momento presente, na comunidade da fé (I Co. 12.26). A cada dia passamos por aflições diversas, algumas de ordem política, outras social e econômica (Lc. 16.19; At. 12.1; Hb. 10.34; Tg. 2.6). Mas como Cristo temos consciência da nossa missão na terra, que é servir, e não ser servido (Mc. 10.33), em obediência até a morte (Fp. 2.8). Muitas igrejas atuais fogem da mensagem da cruz, isso porque ela continua sendo escândalo e vergonha (I Co. 1.8), ninguém quer ser fraco ou perdedor (Mc. 8.32,33). O caminho de Jesus é diferente, pois Ele sabe o que é padecer, na cruz passou pela dor do abandono (Mc. 15.34; I Co. 1.23; 2.2). Sua morte teve um caráter sacrificial, através dela Ele retirou os pecados daqueles que creem (Hb. 2.14,18; 4.15; Jo. 12.24; 13.1; 15.12). A salvação é garantida aqueles que creem, não precisamos mais sofrer para sermos salvos, mas para nos identificarmos com a condição cristã (Jo. 15.20; II Co. 4.8; Fp. 3.10).

2. AS AFLIÇÕES NA VIDA DE PAULO
Paulo tinha consciência da sua identificação com as aflições de Cristo (II Co. 6.8-10). Por isso, apesar de tudo, e contra todos, nos ensina a não nos desesperarmos, nem pensar que estamos desamparados (II Co. 4.10), pois a vida nos aguarda, mesmo diante da morte (II Co. 6.9). Nem mesmo a fraqueza deve ser motivo de desequilíbrio, pois quando pensamos que estamos fracos, na doença e na perseguição, somos fortalecidos pela graça do Senhor (II Co. 12.9). Na medida em que tomamos parte nos sofrimentos de Cristo, também nos alegramos na bendita esperança da glória (I Pe. 4.13). Enquanto caminhamos, nos voltamos para os fracos e necessitados deste mundo, tal como fez o Senhor Jesus Cristo (I Ts. 1.6). Ao invés da fama terra, a motivação do crente para estar na igreja, e ser igreja, é servir, seguindo o exemplo de Cristo (Mc. 10.45). O mundo é contra Deus, ele perseguiu a Cristo, por essa razão os crentes estão no mundo, como ovelhas no meio de lobos (Mt. 10.16). Paulo estava ciente dessa verdade, quando Jesus o chamou não lhe prometeu glória, honra e riqueza, mas sofrimento por amor a Ele (At. 9.15). Seguir, para o Apóstolo, significava completar o ministério de Jesus (At. 20.24), como diáconos de Deus (II Co. 6.4). Muitos foram os seus sofrimentos de Paulo (II Co. 11.23), e como ele, devemos suportar tal condição (II Co. 1.6; Fp. 1.29) e enfrentar as adversidades (II Tm. 1.8,12; 4.5). Paulo foi levado à presença de governadores e reis por causa de Cristo (Mc. 13:9; Mt. 10.17; Fm. 1.13), sendo acoitado com varas pelos romanos (II Co. 11.32). O mundo segue esses mesmos padrões e deseja que todos se dobrem diante do seu governo. Mas os verdadeiros cristãos, por optarem pelo senhorio de Cristo, e serem diferentes, acabam passando por aflições (Jo. 15.18-20; II Tm. 3.12).

3. ESPERANÇA, APESAR DAS AFLIÇÕES
As aflições somente são compreendidas a partir da cruz de Cristo, pois a sabedoria de Deus se revela no Crucificado (I Co. 1.18). É através dessa loucura que somos chamados por Deus (I Co. 1.25), agraciados (Fp. 1.29), bem-aventurados (Mt. 5.33) e cheios do Espírito (I Pe. 4.14). Por isso, apesar das aflições, nos regozijamos no Senhor (I Pe. 4.12), ate mesmo nas fraquezas (II Co. 12.5,9). É nesse contexto que mesmo atribulados jamais perdemos a esperança (II Co. 6.4; Rm. 8.35), perplexos, às vezes, mas nunca desanimados (II Co. 1.8), pois Deus nos consola nas aflições (II Co. 1.4). É maravilhoso saber que as aflições do tempo presente apontam para a dimensão escatológica, para o peso de glória que está reservada aos que creem (Rm. 8.18). Para os adeptos do triunfalismo de Corinto (I Co. 4.8), que se aplica aos destes dias, Paulo destacou que Deus colocou os apóstolos como condenados à morte (I Co. 4.11,12). Muitos querem fama, glória e riqueza agora, mas somente na dimensão escatológica seremos glorificados (Rm. 8.22), na expectação pelos tabernáculos eternos (II Co. 5.4). Naquele dia finalmente Deus enxugará dos olhos toda lágrima, já não haverá mais morte, nem sofrimento, nem pranto nem dor (Ap. 21.4). Enquanto estivermos neste corpo, não podemos desfrutar plenamente das glórias futuras, pois a morte, a última inimiga a ser vencida (I Co. 15.26), ainda não foi totalmente derrotada (II Co. 12.7), trazendo sofrimentos às pessoas (Ap. 2.10). Apesar das aflições, o crente não se entristece, pois o Espírito Santo produz nele a alegria (I Ts. 1.6; 5.16; Gl. 5.22). Essa alegria nos conduz à paciência e firmeza no Deus (Rm. 15.5) que fortalece para toda paciência e persistência (Rm. 12.12; Cl. 1.11; I Pe. 5.1).

CONCLUSÃO
Os que passam por aflições, no tempo presente, partilham com Cristo das Suas tribulações (II Co. 1.5; I Pe. 4.13). Por isso, apesar de tudo, e esperando contra toda esperança (Rm. 5.2; 8.24). Essa convicção dá ânimo para seguir adiante, confiante que que nada nos separará do amor de Deus em Cristo Jesus (Rm. 8.35). Não podemos desanimar pois as aflições apenas mostram nossa solidariedade com as aflições de Cristo e dos irmãos (Rm. 12.4, 15; I Co. 12.12,26). Ao invés de julgarmos, devemos antes carregar os fardos uns dos outros (Gl. 6.2,10; I Tm. 5.3), suprindo suas necessidades (Tg. 2.15; 5.14). E na fartura ou necessidade, não perdemos a esperança, pois tudo podemos nAquele que nos fortalece (Fp. 4.12)

BIBLIOGRAFIA

GERSTENBERGER, E. S. SCHRAGE, W. Por que sofrer?. São Leopoldo: Sinodal, 2007

TADA, J. E. Deus: seu maior aliado nos momentos de dor. São Paulo: Thomas Nelson, 2011.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Quando a religião caminha na contramão de Deus

Nos dias do ministério terreno de Jesus, os sacerdotes, os escribas e os fariseus eram os porta-vozes da religião oficial. Eles ensinavam e defendiam os valores da Tradição: o templo, a Lei, a Pureza. Sua missão era manter vivas no povo a Aliança e a esperança da chegada do Reino de Deus. Mas para muitos o ensino oficial já não revelava a face de Deus nem o sentido profundo do Templo, da Lei e da Pureza. A prática da religião, com suas centenas de leis e normas, tinha se tornado o peso que os fazia sofrer (Mateus 11:28), com sua busca praticamente obsessiva pela pureza. A impureza ameaçava de todos os lados, o mal estava em toda a parte. Em vez de sentir-se bem diante de Deus e feliz com a perspectiva do seu reinado, o povo tinha a consciência pesada, pois não conseguia observar a Lei (Rm 7:15-19). Não entrar no Reino (Mat 23:13), nem alcançar a liberdade dos filhos de Deus.


Uma contradição marcava a vida do povo. O projeto do governo vinha de fora (Império Romano). Não levava em conta a cultura nem a religião do povo. Era contrário a Tradição. Mas as autoridades religiosas que deveriam defender a Tradição, muitas delas estavam de mãos dadas com a política do governo. Os fariseus, por exemplo insistiam na pureza (Mc 7:1-12) e diziam ser contra os romanos, mas alguns deles se uniam aos herodianos para atacar Jesus (Mc 3:6; 8:15;12:13). Os escribas insistiam na Lei de Moisés, mas muitos deles arrancavam dinheiro do povo (Mc 12:38-40), aprovavam o assassinato de João Batista pelo governo de Herodes (Mc 11:31,32), e se reuniam com os sacerdotes e anciãos contra Jesus que os incomodava (Mc 11:18). Os sacerdotes, apesar de preocupados com o culto, permitiam que o Templo se transformasse num antro de exploração (Mc 11:17), e permitiam que o Sumo Sacerdote fosse nomeado por Roma. Seria o mesmo que o Governo Federal, Estadual ou Municipal aqui no Brasil nomeasse os pastores nas igrejas. A política romana favorecia os interesses desta elite e tinha nela um apoio no controle e na repressão ao povo (João 11:45).

Essas autoridades religiosas diziam defender a Tradição, a Lei, a Pureza, a Escritura, o Sábado, o Templo. Mas o que elas defendiam já não era o que Deus queria. Muitas vezes, na mão deles, a Tradição anulava a Lei (Mc 7:13), a Lei anulava a vida (Mc 2:27), as normas da pureza sobre o povo (Mat 11:28), o Templo era usado para ganhar dinheiro (Mc 11:17), e a Escritura estava coberta por um véu (2 Cor 3:12-15). Sem se dar conta, defendiam uma religião alienada que já não promovia nem defendia a vida do povo.

Bibliografia: Mesters, Frei Carlos, Com Jesus na Contramão, Paulinas, 2010. 

Continua...