sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Pastor usar o termo “homossexualismo” e é denunciado ao MP

 Após a denúncia, o pastor precisou assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e fez uma retratação pública.

Caio Rangel | Publicado em: 18/11/21 às 14:54 Atualizado em 18/11/2021 14:57
Pastor usar o termo “homossexualismo” e é denunciado ao MP
Pastor denunciado por homofobia (Reprodução)

Na cidade de Ipiaú, no sul da Bahia, um pastor da Primeira Igreja Batista foi acusado e denunciado ao Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) por homofobia. O motivo foi que ele usou o termo “homossexualismo” em uma pregação transmitida na internet.

Após a denúncia, o religioso precisou assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e fez uma retratação pública em um culto no dia 10 de novembro.

A pregação em questão aconteceu no dia 30 de julho e foi realizada pelo pastor César Januário. Na hora da palavra, ele alertou a congregação sobre as campanhas do Dia do Orgulho LGBTQIA+, celebrado em 28 de junho.

“Nós estamos vendo o que está acontecendo com as crianças no mundo. Olha o que essa empresa de sanduíches está fazendo e outras que já fizeram também. A [empresa de cosméticos] que também faz promoção do homossexualismo. É para a gente não comprar mais perfume da Natura”, disse o pastor.

Acontece que o termo homossexualismo passou a ser considerado pejorativo devido ao sufixo “ismo”, por ser associado a doenças. Por isso, foi substituído pelo termo homossexualidade.

Quem fez a denúncia foi Mateus Cayres, de 29 anos, que é servidor público federal. Ele não estava presente no culto, mas afirma ter recebido o vídeo de um fiel que gravou a mensagem.

A promotora de Justiça Alícia Violeta Botelho determinou através do TAC que o pastor deveria ler o conteúdo do acordo durante um culto, também transmitido através do YouTube, além de divulgar o termo nas redes sociais da igreja.

Fonte: O Fuxico Gospel.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Jacque Chanel, a pastora irreverente por trás da primeira igreja trans do Brasil

 Localizada em um prédio antigo no centro de São Paulo, espaço religioso acolhe, semanalmente, fiéis transexuais. Muitos são moradores de rua, duplamente excluídos da sociedade.

Por France Presse

 


Igreja no Centro de SP fundada por pastora trans  — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP

Igreja no Centro de SP fundada por pastora trans — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP

Quando sua mãe entregou-a, aos 13 anos, para um pastor evangélico para "curar" sua transexualidade, Jacque Chanel estava longe de imaginar que quatro décadas depois abriria a primeira igreja trans no Brasil.

Localizada em um andar de um prédio estreito e antigo no centro de São Paulo, a pequena igreja com paredes de cores vivas acolhe, semanalmente, fiéis transexuais. Muitos são moradores de rua, duplamente excluídos da sociedade.

"Vivemos em uma sociedade que nos maltrata, nos discrimina. Eu estou levando esperança, um empoderamento de pessoas trans", diz Jacque Chanel, de 56 anos, nome escolhido em referência a Jackie Kennedy e à marca de luxo francesa.

Em seu culto, não há fileiras. O grupo forma um círculo e aperta as mãos, enquanto a pastora, ordenada em maio pela igreja evangélica, pronuncia as orações. Atrás, uma faixa rosa e azul anuncia: "Sou trans e quero dignidade e respeito".

De sobrancelhas tatuadas, Chanel se expressa, abrindo as mãos e olhando pelos óculos, com a firmeza de quem aprendeu com a vida.

"Sofri muito para chegar até aqui", afirma.

Jacqueline Chanel, pastora  — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP

Jacqueline Chanel, pastora — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP

Expulsar os demônios

Ela se lembra do pastor que a acolheu em sua cidade natal, Belém (Pará), como "pai".

"Não aceitava minha transexualidade, mas pela menos me respeitava", conta.

Até que ele foi assassinado e a conservadora igreja evangélica fechou-lhe as portas.

Esse movimento do cristianismo protestante, com o qual 30% dos brasileiros se identificam, segundo pesquisas recentes, defende a todo custo valores como as uniões heterossexuais e a família tradicional.

Movida por sua fé em Deus, Chanel tentou, no entanto, retornar ao seu seio durante anos.

"Não me acolhiam mais. Sempre colocavam a mão na minha cabeça para tirar os espíritos malignos", assegura.

Em São Paulo, para onde se mudou, conseguiu formar um grupo de fiéis com homossexuais. "A gente ficava atrás. Num culto, o pastor nos chamou na frente: era para nos expulsar", recorda-se.

Mas Chanel não desistiu e continuou batendo em todas as portas até que encontrou uma igreja inclusiva, derivada de um movimento evangélico minoritário que surgiu no Brasil na década de 2000, para acolher o movimento LGBTQ.

"Mudou minha vida. Mas achei muito injusto. Tinha mais ou menos 300 gays e lésbicas e duas travestis. Se dizia inclusivo?", questionou.

Chanel convenceu o centro a abrir um espaço para ela, no qual chegou a reunir 200 jovens trans, e se ordenou como pastora para inaugurar sua própria igreja, há seis meses.

Igreja evangélica da pastora Jacques  — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP

Igreja evangélica da pastora Jacques — Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP

Mudança de sexo, não de nome

"Quando a gente vai à igreja Católica, aparece uma legião de pessoas que olham para gente, ainda mais quando a gente vai receber a hóstia. Eu me sentia muito mal. Quando venho aqui, é diferente (...) Ninguém fica olhando, ninguém olha com que roupa eu estou, ninguém fala 'é travesti'. Eu me sinto em casa", disse Vanessa Souza, de 42 anos, uma das frequentadoras do culto de Chanel, que acontecia online até poucas semanas atrás.

Além do "sustento espiritual", Chanel proporciona ágape aos seus fiéis, da mesma forma que, uma vez por semana, graças às doações que recebe, percorre o bairro para entregar alimentos a cerca de 200 pessoas carentes. Seu número é cada vez maior no centro de São Paulo, devido à crise econômica provocada pela pandemia da covid-19.

"Convido ao culto as pessoas trans, não trans também. É uma igreja totalmente aberta", explica a pastora.

Segundo ela, suas cerimônias foram marcadas como "satânicas" em vídeos postados na Internet por evangélicos conservadores.

Chanel ainda espera pela operação de redesignação sexual. Mas a lista de espera do pioneiro Hospital das Clínicas de São Paulo tem mais de mil pessoas, ao ritmo de uma cirurgia por mês, comenta. Ela diz, porém, não ter pressa em mudar seu nome de batismo, Ricardo, em sua carteira de identidade.

"É uma oportunidade para fazer pedagogia, explicar para pessoas que perguntam", afirma.

O Brasil é um dos países com mais assassinatos de transexuais no mundo, com 175 casos de homicídio registrados em 2020.


Fonte: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/11/17/jacque-chanel-a-pastora-irreverente-por-tras-da-primeira-igreja-trans-do-brasil.ghtml



terça-feira, 16 de novembro de 2021

Por que não sou dispensacionalista

 Em se tratando de estudo sobre escatologia, quando se fala em amilenismo, pré-milenismo, histórico ou dispensacionalista e pós-milenismo, o que eu sei é que não sou “dispensacionalista”, pela simples convicção essencial acerca da total impossibilidade humana de criar um roteiro para a volta de Cristo. Assim, eu digo: não sei nada sobre o roteiro da volta de Jesus. Mas sei que ELE VAI VOLTAR! Quero, todavia, deixar claro que creio que Jesus pode voltar Hoje. Tudo o que diz respeito a Deus acontece num dia Chamado Hoje. É como um ladrão de noite!


Muitos consideram que o dispensacionalismo os ajudou a entender o intricado mapa escatológico da Bíblia. Me lembro de ler o livro de Lawrence Olson, “O plano divino através dos séculos”, juntamente com aquele famoso mapa, do gênese ao apocalipse. Segundo o Conciso Dicionário de Teologia Cristã, "dispensacionalismo é um sistema de interpretação bíblica e teológica que divide a ação de Deus na história em diferentes períodos que são por ele administrados em bases diferentes. Envolve uma interpretação literal da Escritura, uma distinção entre Israel e a Igreja e um a escatologia pré-milenista e pré-tribulacionista".

Essa definição acima já não responde a algumas das divisões que o Dispensacionalismo tem sofrido. Hoje há o conceito de “Dispensacionalismo Progressivo”, com revisão dos conceitos clássicos da divisão dispensacionalista entre Israel e a Igreja e a divisão há história em dispensações. Outra corrente é a do “ultra-dispensacionalismo”, visão literalista das Escrituras, onde quer achar respostas proféticas na Bíblia para todos os fenômenos que acontecem no mundo, uma espécie de “Cabala Gospel”.

Acredito que é preciso rever biblicamente essa dicotomia Israel X Igreja, embora creio que Israel ainda tem um papel escatológico. Dividir a história em dispensações é algo sem respaldo bíblico, sendo muita simplificação para tratar a revelação de Deus aos homens.
É possível ser milenista sem ser dispensacionalista, como é o caso do Dr. Russel Shedd. Nem todos teólogos pentecostais, são dispensacionalistas, por exemplo Stanley M. Horton.

A nossa espiritualidade é sadia, se ela faz da história, uma só história. Isso porque nós conseguimos esquizofrenizar a história. Temos a história religiosa, a história da igreja; temos a historia da salvação e assim por diante. E nessa “policotomia” histórica, fazemos eleição daquela que mais nos interessa. Se o indivíduo é extremamente individualista, ele diz: “A mim só importa a história da salvação”. Pode, então, o mundo estar se arrebentando; ele quer é fazer estatística de quantos estão levantando a mão. Se ele faz uma opção um pouquinho mais abrangente, ele estuda a história da igreja. São aqueles que dizem: “Só me interessa a história da igreja. Inclusive, acho interessante termos deputados federais evangélicos no Congresso Nacional, para defender as causas de liberdade religiosa”. Nesse caso o que a ele interessa, é o que a Igreja interessa. Não importam os miseráveis, a desgraça dos outros – “isso faz parte de uma história que não é nossa, a nossa é a da igreja”, chegam a dizer. Se ele tem uma visão um pouquinho mais ampla, ele se interessa pela história das religiões. Aí, ele já é considerado um teólogo liberal, de visão ecumênica.

Mas, se ele é um cristão que vive uma espiritualidade integral, ele não “dispensacionaliza” a história, não a secciona, não a “dicotomiza”, “tricotomiza” e “policotomiza”. Conserva-se uma só história. Veja a passagem bíblica da transfiguração de Jesus em Mateus 17. Não há lugar para o dispensacionalismo, nem para o seccionamento da história: a Lei está presente, e falando da cruz. Não é lá que Moisés está? A profecia está presente e falando da cruz. Não é lá que Elias está? A Igreja está presente, e ouvindo a mensagem da cruz, através de Pedro, Tiago e João, que estão lá.

Onde é que há dispensacionalismo aqui? Onde é que acaba a lei, começa a profecia, começa a igreja – Agora ficar naquela conversa de “Deus não fala com estes, não pode falar com aqueles, não se mistura com aqueles outros...” O que é isso? A história é uma só! Deus não divide seus projetos em fases, departamentalísticamente falando, absolutamente fechadas e setorizadas. Deus é o Deus da totalidade. E importa a ele toda a história. Ele não se importa apenas com Israel, em um certo momento, ou não se importa em outro, apenas com a igreja. Deus é o Deus da História.

Israel só é diferente do Brasil, como nação, no que se refere ao conselho total de Deus para a História. “A eles foram confiados os oráculos divinos”, referindo aos judeus, diz Romanos 3. Mas diante de Deus, o judeu é igual ao queniano. A pregação pela fé é primeiro para o judeu e depois para o grego, se creram. Mas o capítulo 2, verso nove, de Romanos, diz: “também tribulação e angústia e aflição vêm sobre a alma de todo homem; primeiro do judeu, depois do grego”. Homem é homem, em qualquer lugar. País é país, em qualquer lugar.

Amós, no capítulo 9, verso 7, diz que não foi apenas Israel que teve um êxodo patrocinado por Deus; que os filisteus tiveram o êxodo deles; que os etíopes tiveram o êxodo deles. O profeta pergunta: “Vocês estão cheios de jactância, pensando que o único ato libertário social de Deus na História foi a favor de vocês?” Não, Deus não está preso e circunscrito às fronteiras de Israel; Deus é Deus, libertador da História. Até os filisteus tiveram êxodo; tantos outros tiveram um êxodo; e foram êxodo; e foram êxodos que o Senhor promoveu, que o Senhor criou.

Aqui, na transformação, a história é uma só. Os dispensacionalismos e os seccionamentos acabam. Moisés, Elias, Pedro, Tiago e João; Lei, profecia e igreja; estão todos juntos, apontando em uma só direção: a cruz e a salvação de Deus para todos os povos, para todas as nações, para todas as línguas da terra.