– Devemos aqui observar que há duas nomenclaturas para esse dom: mestre e doutor. Na Versão Almeida Revista e Corrigida (seguida pela Almeida Corrigida e Fiel, Bíblia de Jerusalém, Tradução dos Monges de Mardesous, Almeida Contemporânea., Versão Antonio Pereira de Figueiredo), o termo grego original é traduzido por “doutores”, o que é alterado para “mestres” na Versão Almeida Revista e Atualizada, sendo também esta a expressão encontrada em outras versões como a Tradução Brasileira, a Nova Tradução na Linguagem de Hoje, a Nova Versão Internacional, Tradução CNBB. A Tradução Ecumênica Brasileira traduz o termo grego por “docentes”.– A palavra grega empregada no texto é “didaskálos” (διδασκάλους), cujo sentido mais próprio é o de “mestre” do que “doutor”, mas ambas as expressões são adequadas.
– O mestre deve ser alguém que esteja dedicado a ensinar os salvos (Rm.12:7). Paulo deixou tudo que estava a fazer em Tarso e foi para Antioquia e, durante um ano, nada mais fez senão ensinar aqueles novos crentes (At.11:26), a nos mostrar como o mestre deve ter dedicação para este trabalho, ensinando não só coletivamente, mas, também, individualmente, como vemos no caso de Priscila e Áquila em relação a Apolo (At.18:26).
OBS: “…O dom de mestre é a capacidade especial que o Espírito Santo concede a alguns discípulos, dando-lhes a função de saber e ensinar, a fim de transmitirem conhecimentos por meio de uma didática que possibilite o aprendizado fácil e eficiente…” (ROCHA, Jormicézar Fernandes da. A excelência do ministério cristão: valorizando o que é excelente. EBOADERON 2013, p.53).
– Neste ponto, aliás, queremos aqui fazer uma rápida análise entre o dom ministerial de mestre ou doutor e o dom assistencial de ensino. Como nos ensina o pastor Antonio Gilberto, os dons assistenciais (os “sete dons” constantes de Rm.12:6-8) são “dons ministeriais de efeitos práticos”. Assim, vemos que um dom assistencial é uma atividade prática, uma ação que põe em exercício um ministério.
– Ora, é exatamente esta a diferença entre o dom ministerial de mestre e o dom assistencial de ensino. Podemos dizer que o dom de ensino é a ação do mestre, é a atividade prática do ensinar a alguém, como, por exemplo, a capacidade para se dar uma aula de Escola Bíblica Dominical.
– O mestre, muitas vezes, é utilizado em seu conhecimento, em sua teoria, feita com a capacitação dada pelo Senhor para interpretação e elucidação da Bíblia Sagrada (num livro, por exemplo), enquanto que a prática do ensino cotidiano é, propriamente, o dom de ensino.
Percebemos bem isto no ministério de Paulo, que, como mestre, ensinava a toda a Igreja, através de seus escritos, como nos dá conta o apóstolo Pedro em II Pe.3:15,16. O mestre, portanto, tem uma abrangência maior que a do ensinador, que põe em ação este seu conhecimento, que, na prática, muitas vezes até, ensina aquilo que aprendeu do mestre que, ao contrário do ensinador, não tem necessariamente este contato direto que sempre tem o ensinador.
– O mestre precisa se dedicar, notadamente quando está na atividade prática de ensino, como se verifica em Rm.12:7. Por isso, não é boa conduta acumular o mestre de funções outras na igreja local, pois isto representará um imenso prejuízo para o desenvolvimento da obra de Deus.
Não é de hoje, aliás, que defendemos que os professores de Escola Bíblica Dominical não tenham qualquer outro cargo ou função nas igrejas locais, para que possam ter “dedicação integral ao ensino”.
– O mestre precisa ser um cristão exemplar, uma referência para os demais irmãos. Paulo, que iniciara seu ministério em Antioquia como mestre, pôde dizer aos coríntios que mandava Timóteo para ensinar-lhes os caminhos dele próprio com Cristo (I Co.4:17), como também disse que poderia ser imitado, pois era ele imitador de Cristo (I Co.11:1), . Esta preocupação do apóstolo em ter um exemplo era uma decorrência do seu dom ministerial de mestre.
– Tiago é muito claro ao mostrar que os mestres receberão mais duro juízo (Tg.3:1), precisamente porque é o mestre a pessoa em que todos se espelham, aquela que, por ensinar a todos, é visto como referência.
– Vemos aqui, aliás, porque Jesus é o Mestre por excelência (Mt.23:8,10), aliás, o único título que Ele mesmo assumiu em toda a Sua plenitude, jamais o recusando (Jo.13:13,14). Ele ensinava aquilo que Ele mesmo vivia, residindo nisto a autoridade de Seu ensino e a distinção do Seu ensino com relação aos escribas, aos doutores da lei (Mt.7:28,29).
– O ensino de Jesus tinha autoridade, porque, primeiro, Jesus fazia e, depois, ensinava (At.1:1). Os escribas, ao revés, embora ensinassem a Palavra de Deus, não viviam aquilo que ensinavam (Mt.23:2,3).
– Por isso, o mestre precisa ter uma vida espiritual exemplar, que possa ser imitada, para que seu ensino tenha autoridade no meio do povo de Deus, pois ele sempre é alvo da percepção dos salvos, que, assim como o povo judeu, observa a conduta, a vida, o comportamento, o testemunho do mestre e faz uma correlação entre os atos do mestre e suas atitudes. Não pode ser um “guia de cegos”, um “mestre de crianças”, um “instruidor de néscios” (Rm.2:19,20).
– O mestre, como já dissemos supra, é alguém que deve sempre buscar estar preparado, tanto intelectual, quanto espiritualmente, para poder bem exercer o seu ministério. O mestre é escolhido por Deus, recebe de Deus esta habilidade sobrenatural para poder explicar as Escrituras, poder promover o crescimento do povo de Deus no conhecimento de Cristo, mas não pode, de forma alguma, deixar de estudar e de usar o seu intelecto no aprimoramento do conhecimento das Escrituras.
– Por que Barnabé foi atrás de Paulo em Tarso para ensinar os crentes de Antioquia? Precisamente porque sabia que Paulo, além de ter sido escolhido por Deus para esta tarefa, tinha a necessária preparação intelectual para ensinar aqueles crentes gentios, uma pessoa que não só conhecia as Escrituras, que havia aprendido, inclusive, aos pés de Gamaliel, um dos grandes mestres judaicos daquela época (At.5:34; 22:3), como também era formado em toda a filosofia grega (Tarso era um grande centro de estudos filosóficos dos estoicos naquela época), como, aliás, admite em uma de suas cartas aos coríntios (I Co.2:4,5) e vemos, quando ela prega para os filósofos no Areópago em Atenas (At.17:15-34).
– A dedicação que se exige ao mestre e ensinador faz com que este ministro seja um constante estudioso das Escrituras, alguém que procura se aprimorar intelectualmente nas coisas de Deus, algo que não retira o caráter sobrenatural de seu ministério, mas que se trata de uma exigência imposta pelo próprio ministério recebido da parte de Deus.
– Tanto é assim que Paulo, mesmo sabendo que iria ser morto por causa da sua fé em Cristo, ao escrever sua última epístola, não deixa de pedir a Timóteo que lhe trouxesse tanto os pergaminhos (ou seja, as Escrituras), como também os livros (II Tm.4:13).
Como mestre que era, Paulo sabia que, mesmo sabendo que iria morrer, deveria continuar estudando, aprimorando-se intelectualmente para bem exercer o seu ministério de mestre. Sigamos este exemplo, amados irmãos mestres!
– Outra qualidade que deve ter o mestre é a de uma aguçada audição. O ministério de mestre exige do seu portador estar pronto a ouvir aqueles que está a ensinar, para elucidar as suas dúvidas. A interatividade é uma exigência indispensável para que se tenha o aprendizado.
O mestre precisa estar pronto a ouvir os alunos, para que, a partir de suas perguntas e indagações, possa promover o aprimoramento espiritual dos salvos, ensinando-os.
– No Evangelho, vemos Jesus sempre interagindo com os Seus discípulos, estimulando-os às indagações, a fim que as dúvidas fossem elucidadas e que, através disto, houvesse um verdadeiro aprendizado. O mestre não é um ditador, cuja palavra é final, mas, bem pelo contrário, alguém que está sempre pronto a aprender, mesmo com seus discípulos, sabendo que o único Mestre é o Senhor Jesus (Mt.23:10).
– Neste ponto, aliás, temos outra qualidade que deve ter o mestre, que é o de rejeitar toda e qualquer posição de poder por força de seu conhecimento, reconhecer que sua função de mestre na Igreja não o torna um “dono da verdade”, nem tampouco um “mediador entre Cristo e seus alunos”, mas alguém que jamais deixa de ser “aprendiz de Cristo”. OBS: “…Ainda que a doutrina da fé não esteja em questão, o teólogo não apresentará as suas opiniões ou as suas hipóteses como se se tratasse de conclusões indiscutíveis. Esta discrição é exigida pelo respeito à verdade, assim como pelo respeito pelo Povo de Deus (cf. Rm 14, 1-15; 1 Cor 8, 10. 23-33).
– Paulo, ao se pôr como pessoa a ser imitada, não deixou de dizer que era um imitador de Cristo. O mestre jamais pode se achar superior aos demais, mas, bem ao contrário, lembrar que, antes de mais nada, deve aprender com Cristo e, por isso, ser sempre um assíduo leitor das Escrituras, para que também vá se aperfeiçoando como santo ao longo dos anos.
– Nesta consciência de que é um aprendiz de Cristo, o mestre deve estar sempre pronto a aprender também com seus alunos, lembrando que, embora tenha o ministério de mestre, nem por isso não pode aprender com os seus irmãos, até porque uma das características da Igreja é seus membros ensinarem uns aos outros (Cl.3:16).
– O mestre deve lembrar que a capacidade sobrenatural que o Senhor lhe dá para ensinar não significa infalibilidade e, portanto, ocasiões há em que o mestre errará e será levado a esta constatação por outros irmãos, pois o Senhor zela pelo ensino na Sua Igreja e jamais permitirá que um ensino falso ou equivocado perdure no meio do povo de Deus.
– A propósito, aqui é que se verifica o verdadeiro alcance da infalibilidade em termos doutrinários de que goza a Igreja, assunto tratado de forma um tanto quanto distorcida pela Igreja Romana. Embora o Catecismo da Igreja Romana esteja correto ao dizer que “…Para manter a Igreja na pureza da fé transmitida pelos apóstolos, Cristo quis conferir à sua Igreja uma participação em sua própria infalibilidade, ele que é a Verdade.
– Não resta dúvida de que o Senhor não permite que o engano venha a tomar conta da Sua Igreja e, para isto, usa dos pastores e mestres para que promovam o ensino doutrinário correto do Seu povo, mas não há um “carisma de infalibilidade” nestes pastores e mestres apenas, em toda a Igreja é guiada pelo Espírito Santo para detectar os falsos ensinos e as artimanhas do inimigo no meio do povo de Deus.
– O Espírito Santo guia a Igreja em toda a verdade (Jo.16:13) e, desta maneira, não permite que enganadores, mesmo que ostentem títulos e cargos eclesiásticos, mesmo que tenham sido chamados para ser pastores e mestres, venham a enganar o povo de Deus.
A própria Igreja Romana isto admite, ao reconhecer que, ao longo de sua história, muitos que foram depois chamados de “santos” confrontaram com atitudes e ensinos distorcidos por parte daqueles que, supostamente, teriam o “carisma da infalibilidade”, como, por exemplo, Francisco de Assis.
– Como bem afirma o pastor José Wellington Bezerra da Costa: “…Esta maturidade previne a entrada de heresias no seio da Igreja. Todo cristão biblicamente maduro tem condição e base suficiente para rejeitar os ensinamentos antibíblicos e refutá-los à luz das Escrituras, porque deixa de ser como ‘meninos inconstantes, levado em roda por todo vento de doutrina’, Ef.4:14 (Como ter um ministério bem-sucedido, p.96).
– Notamos, portanto, que nenhum mestre pode se arrogar o “carisma da infalibilidade”, devendo ser sempre humilde e reconhecer que sua autoridade como mestre advém única e exclusivamente do fato de que é um “aprendiz de Cristo”.
OBS: “…E existe o outro modo de utilizar a razão, de ser sábio, a do homem que reconhece quem ele mesmo é; reconhece a própria medida e a grandeza de Deus, abrindo-se na humildade à novidade do agir de Deus. Assim, precisamente aceitando a sua pequenez, fazendo-se pequenino como realmente é, chega à verdade.
Desta maneira, também a razão pode expressar todas as suas possibilidades, não é anulada mas amplia-se, torna-se maior. Trata-se de outra sofia e sínesis, que não exclui do mistério, mas é precisamente comunhão com o Senhor, em quem repousam a sapiência e a sabedoria, e a sua verdade.
– O mestre deve ensinar com sabedoria (Cl.1:28) e, para tanto, precisa ser uma pessoa temente ao Senhor, pois o temor do Senhor é o princípio da sabedoria (Sl.111:10).
Sabedoria aqui não é o conhecimento intelectual de que já falamos, mas, sim, a capacidade dada por Deus para ter as ações corretas, no momento correto, da forma correta.
Esta sabedoria é dada sobrenaturalmente por Deus e é através desta qualidade que o mestre poderá ser tido como referencial no meio de seus irmãos, o que, como já vimos, é indispensável para que seu ensino tenha autoridade, para que ele tenha credibilidade.
OBS: “…O A→B→C da sabedoria começa com o ‘temor de Deus’ — Ele é o ‘princípio da sabedoria’ (Sl.111:10). Em I Coríntios 12.8, os dons espirituais são encabeçados pela ‘palavra da sabedoria’ que todo o mestre deve possuir. Não se trata de intelectualidade ou de perícia humana; e, sim, do dom da sabedoria para entender e poder discernir com facilidade a Palavra de Deus e tudo que com ela se relaciona.…” (SILVA, Severino Pedro da. A Igreja e as sete colunas da sabedoria, p.225).
– O mestre deve ensinar a Palavra de Deus, as coisas concernentes ao Senhor Jesus (At.15:35; 18:11; 28:31). O assunto do mestre é a Bíblia Sagrada, o tema do mestre é o Senhor Jesus.
O ensino jamais deve tomar outras temáticas, como, infelizmente, vemos em nossos dias ocorrer. Muitos mestres têm deixado de pregar a Cristo para se intrometer em vãs filosofias, sutilezas e outros assuntos que desviam totalmente o foco, deixando-se delirar com as muitas letras (At.26:24).
É o que, infelizmente, temos visto acontecer com muitos mestres, notadamente entre os teólogos contemporâneos, entre os teólogos liberais.
– É importante observar que a teologia é uma seara onde estão muitos dos mestres que o Senhor levantou ao longo da história da Igreja. Portanto, não se trata de algo ruim ou danoso, como, infelizmente, alguns anti- intelectualistas desenvolveram ao longo dos anos, mas, muito pelo contrário, um importante instrumento para o aperfeiçoamento dos santos, na medida em que se trata de um depósito dos diversos ministros mestres que o Senhor tem levantado desde a edificação da Igreja.
OBS: “…No que tange a importância e a aplicação da educação teológica, em especial, no contexto religioso das igrejas evangélicas que a cada dia se proliferam, é lamentável a deliberada desconsideração para com ambos os elementos (importância e aplicação), visto que, da mesma forma que não podemos desassociar o Cristo da sua “Cruz”, ou, a “Cruz” do seu Cristo, não devemos também separar a igreja da educação teológica.…” (ANDRÉ LUÍS. O papel e a importância da educação teológica para a igreja. 10 dez. 2011. Disponível em: http://oevangelhohoje.wordpress.com/2011/12/10/o-papel-e-a-importancia-da-educacao-teologica-para-a-igreja-andre-luis/ Acesso em 24 mar. 2014).
– Na feliz expressão do documento da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano “Donum veritatis”, assinada pelo então cardeal Joseph Ratzinger, que veio a ser o Papa Bento XVI, “…Na fé cristã, conhecimento e vida, verdade e existência são intrinsecamente unidas. A verdade doada na revelação de Deus ultrapassa, evidentemente, as capacidades de conhecimento do homem, mas não se opõe à razão humana.
Pelo contrário, ela a penetra, eleva e apela à responsabilidade de cada um (cf. 1 Pd 3, 15). Por isso, desde os primórdios da Igreja, a « norma da doutrina » (Rm 6, 17) tem sido, com o batismo, vinculada ao ingresso no mistério de Cristo. O serviço à doutrina, que implica a crente busca da compreensão da fé, isto é, a teologia, é portanto uma exigência à qual a Igreja não pode renunciar.
Em todas as épocas, a teologia é importante para que a Igreja possa dar uma resposta ao desígnio de Deus, « que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade » (1 Tim 2, 4).…” (CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Instrução Donum veritatis, n.1. Disponível em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/documents/rc_con_cfaith_doc_19900524_theologian -vocation_po.html Acesso em 24 mar. 2014).
– “…O trabalho do teólogo responde assim ao dinamismo interno da própria fé: por sua natureza a Verdade quer comunicar-se, já que o homem foi criado para perceber a verdade, e deseja no mais profundo de si mesmo conhecê-la para nela se encontrar e para ali encontrar a sua salvação (cf. 1 Tm 2, 4).
Por isto o Senhor enviou os seus apóstolos para que fizessem « discípulas » todas as nações e as ensinassem (cf. Mt 28, 19s.). A teologia, que busca a « razão da fé » e que àqueles que procuram oferece esta razão como uma resposta, constitui parte integrante da obediência a este mandamento, porque os homens não podem tornar-se discípulos se a verdade contida na palavra da fé não lhes é apresentada (cf. Rm 10, 14s.).
A teologia oferece portanto a sua contribuição para que a fé se torne comunicável, e a inteligência daqueles que não conhecem ainda o Cristo possa procurá-la e encontrá-la.
– Percebemos, portanto, que a teologia é uma forma de manifestação deste ministério de mestre na Igreja, mas sempre tendo como objeto a Verdade, ou seja, a Palavra de Deus, devendo ser exercida como um discurso racional a partir daquilo que foi revelado pelo Senhor nas Escrituras.
Por isso mesmo, a teologia não pode discrepar das Escrituras, não pode ser produzida a partir de filosofias ou entendimentos que não partam da Bíblia Sagrada, como, lamentavelmente, tem ocorrido principalmente a partir da chamada “crítica bíblica”, onde boa parte da produção teológica parte de um descrédito da própria Bíblia Sagrada.
– Como bem afirma o pastor, teólogo e arqueólogo adventista Rodrigo Silva, a teologia não pode trocar a “lectio divina”, ou seja, a reflexão “…de modo doutrinário e contemplativo sobre a Palavra de Deus, para dali tirar os conceitos de verdade, ética, salvação e vida comunitária…” (A função da teologia na Igreja. 11 jun 2012. Disponível em: http://gilbertotheiss.blogspot.com.br/2012/06/funcao-da-teologia-na-igreja.html Acesso em 24 mar. 2014), pela “ratio theologica”, onde a reflexão deixa de se basear na Bíblia Sagrada para se transferir para as filosofias e pensamentos humanos.
– “…A Bíblia nesse tempo tornara-se quase um livro morto de conteúdo desconhecido. O estudo dominante eram as famosas Sumas Teológicas e os Comentários sobre as sentenças de outros autores.
Nas universidades de Paris e Oxford, a teologia começava a desenvolver seus primeiros programas doutorais marcados por produções e defesas de teses chamadas quaestio et disputatio (perguntas e disputas). Seu peso, contudo, já não estava na Palavra revelada de Deus, mas nos autores que julgavam mostrar a coerência da fé de modo mais claro que a Bíblia, cujo conteúdo somente eles arvoraram poder compreender sem cair nos laços da loucura.
O resultado dessa visão racional da Idade Média foi um desastroso rompimento entre a ciência e a fé (…)a teologia nascida dos reformadores precisou duelar com o humanismo que então começava a dominar o mundo. Temendo o comportamento dogmático-apologético do qual ela mesma se libertara ao sair do catolicismo, a Reforma optou por ser absorvida pela modernidade sem crivar nenhum de seus novos arrazoados intelectuais.
Em virtude disso, surgiu, então, o famoso Iluminismo alemão, erguendo eruditos como Reimarus, Harnack e Bultmann, cuja principal contribuição foi criar uma frustrada “jesulogia” liberal que nada mais era do que o advento daqueles exercícios racionais do escolasticismo, vistos agora sob o manto de uma roupagem modernizada e mais sofisticada.…” (SILVA, Rodrigo. end.cit.).
– Por isso, o mestre jamais deve abandonar a Palavra de Deus como o objeto de seu estudo e de seu ensino, não permitindo que pensamentos humanos, que outras doutrinas, inclusive doutrinas de demônios (I Tm.4:1), venham a distorcer o seu ministério.
– Outro ponto importante para o mestre é que ele não deve ser guiado pela torpe ganância (Tt.1:11), pois isto o levará a ensinar “coisas que não convêm”. Tais mestres “transtornam casas inteiras”, ou seja, causam polêmicas, divisões, questionamentos inúteis e danosos, querendo, sempre, às custas destes males e prejuízos aos salvos, obter lucro, ganho e enriquecimento.
Vivemos dias em que pululam os falsos mestres (II Pe.2:1- 3,14; Jd.11), cujas características são, precisamente, as de buscar seguidores para si, bem como fácil enriquecimento. Tomemos cuidado com essa gente, amados irmãos!
– “…Igreja sem mestres é uma Igreja sem ensino, e o que amadurece uma Igreja é o conhecimento sistematizado da Palavra de Deus. Só teremos um bom aperfeiçoamento na maturidade espiritual começando com as ‘sagradas letras’ (II Tm.3:15)…” (SILVA, Severino Pedro da. A Igreja e as sete colunas da sabedoria, p.225).
– A ausência de mestres na igreja muito contribui para que o povo de Deus seja destruído (Os.4:6) e, por isso, o inimigo tem lutado, com todas as suas forças, para eliminar este ministério entre os que cristãos se dizem ser. Todavia, sabemos que o Senhor zela pela Sua Igreja, que prevalece sobre as portas do inferno (Mt.16:18). Cuidemos, portanto, para que os mestres levantados pelo Senhor possam executar o seu ministério e que os pastores nunca deixem de ser mestres.
Caramuru Afonso Francisco
Site: http://www.portalebd.org.br/files/2T2014_L10_caramuru.pdf