sexta-feira, 3 de julho de 2015

Entrevista com o Pr. Juber sobre temas polêmicos

Concedi a entrevista abaixo baixo a um blog, há quase cinco anos atrás em 2010. Um ano depois o STF reconheceu as uniões civis homoafetivas, houve o centenário da igreja Assembleia de Deus, Silas havia acabado de declarar seu desligamento da CGADB e o Marco Feliciano ainda não era deputado federal. Vou postá-la novamente porque não mudei meu posicionamento sobre esses temas.







Entrevista:
1- A denominação histórica Assembléia de Deus está prestes a completar 100 anos. Sabemos o quão é importante a AD na história da pregação evangélica no Brasil. Falando em termos gerais, Como você analisa o atual quadro desta importante denominação? Há muito o que festejar ou existe questões preocupantes no tocante à ética?
RESPOSTA:Sou membro da Assembléia de Deus desde 1981, sou pastor da mesma desde 2002 . Nesses quase trinta anos, já vi muita coisa mudar, seja para melhor ou pior. Para melhor, vejo hoje, uma flexibilização maior nos chamados usos e costumes, atenuando a questão do legalismo. Outro ponto positivo, foi a abertura para os meios de comunicação como a televisão e apoio para o ensino teológico. Se fosse para dar um olhar saudosista, eu tenho saudades quando havia menos profissionalização na igreja e mais simplicidade, aplicação na oração. Atualmente vejo com preocupação, algumas coisas como:a) Disputas político eclesiásticas vergonhosas, semelhante ao que há de pior na política partidária. b) Pouca ênfase na pregação expositiva e mais nas de estilo “avivalistas”, que hoje nada mais são do uma mistura de: performace teatral, com chavões repetitivos, palavras de efeito, neurolinguística, recheadas com teologia da prosperidade.c) Uma denominação que está cada vez mais fragmentada, pois além das duas maiores convenções, demonstra na própria celebração do centenário, mais divisão do que união, pois no ano que vem, haverá duas festas distintas, uma no Belenzinho (SP) e outra em Belém (PA).
 
2- Na sua opinião, pastor deve se candidatar a cargo político ou se dedicar unicamente a sua vocação pastoral?
RESPOSTA:Não deveria, se ele tem mesmo vocação pastoral. O ideal seria que o candidato fosse um membro da igreja, com vocação política e não alguém com liderança pastoral. E ele deveria também ter um projeto político que englobasse não somente a igreja mas também a comunidade onde vive. Caso contrário ele se torna apenas um despachante de igreja ou dos seus líderes.
 
3- Você concorda que nos últimos 20 anos, ouve um grande esvaziamento ético no tocante a pregação da Palavra devido às práticas dos neopentecostais? Como você analisa a grande expansão da teologia da prosperidade no meio evangélico?
RESPOSTA:Sim concordo. No livro “A Sedução do Cristianismo” de Dave Hunt, ele já denunciava isso em 1985. O livro foi editado em português dez anos depois, juntamente com outros que denunciavam a teologia da prosperidade no início dos anos 90, como: Cristianismo em Crise, Super Crentes, A crise de Ser e de Ter, Evangélicos em Crise, entre outros. Mas não adiantou a teologia importada dos “States”, se casou com as igrejas neopentecostais brasileiras e se tornou amante de muitas outras denominações, sejam elas pentecostais ou até mesmos reformadas. Digo amante, porque não é oficial nestas igrejas, mas está presente.
 
4- Nos anos 90, num contexto de guerra entre Globo e Record, tendo como pano de fundo, os escândalos éticos da IURD, o pr. Silas Malafaia defendeu com unhas e dentes esta denominação neopentecostal e não assinou o manifesto pela Igreja Ética da AEVB, então presidida pelo pr. Caio Fábio. Hoje, o pr. Silas difunde a teologia da prosperidade, usando pastores norte-americanos. Por outro lado, ele se apresenta como defensor da moralidade evangélica, contra o aborto e militância gay. Como você enxerga esta ambiguidade do pr. Silas? Teologicamente, ele deve rever seus conceitos, vide seus últimos polêmicos programas de tv?
RESPOSTA:Ele tem um estilo polêmico que não vem de hoje. Quanto a ambigüidade dele, você mesmo a descreveu acima, e acredito que suas atitudes ora de um jeito, ora de outra, já falam por si. Apesar de já ter criticado algumas posições tomadas pelo Pr. Malafaia, no meu blog, não sou anti-Silas. Tem pregações dele que eu até gosto. Reconheço também, que ele é um importante líder mediático evangélico, que tem alcançado muita gente, havendo inclusive pessoas não crentes que gostam de suas pregações. As minhas reservas com relação ao Pr. Silas Malafaia, estão mais no sentido da forma como muitas vezes, ele usa mal, a meu ver, o seu tempo televisivo, fazendo mais propaganda comercial do que pregação. Agora, as campanhas com Cerullo e Murdock, foram simplesmente desastrosas, pois são teologia da prosperidade na sua essência. Espero que ele reveja sim, seus conceitos teológicos e pregue apenas o Evangelho de Cristo.
 
5- A reboque da última pergunta, como você viu sua saída da CGADB?
RESPOSTA:Ele foi eleito 1° Vice-Presidente com uma boa votação, mas se não concordava com as diretrizes do Presidente e nem tinha espaço nas decisões, tomou a decisão pessoal de renunciar a vice-presidência e se desfiliar da organização. Acredito que é um direito dele, assim como o de qualquer cidadão, num Estado de Direito, de se filiar ou desfiliar de uma instituição.
 
6- Você concorda que o Pr. Ricardo Gondim e o Pr. Ed Rene Kivitz são hereges e um perigo para a sã doutrina, como afirmam os fundamentalistas ortodoxos?
RESPOSTA:Não os vejo como hereges. De seis anos para cá, eles tem manifestado, suas dúvidas pessoais, seus questionamentos e a interpretação teológica que estão alinhados. Nós temos que saber separar as coisas. Tenho respeito por eles como líderes evangélicos, pois não vemos o nome deles envolvidos em escândalos morais ou financeiros. Vejo muita falta de amor cristão em certos julgamentos, sem misericórdia. Apesar de não concordar com o posicionamento deles com relação a teologia aberta, soberania de Deus, posto em meu blog, de vez em quando algum texto deles. Entre os discípulos de Jesus, ora ou outra, tem gente, em seu desejo de purificação doutrinária, querendo proibir a quem eles elegeram como hereges de pregar, expulsar demônios, e ainda desejando que fogo do céu caia sobre eles. Para quem pensa assim, Jesus diz: “Deixa, porque quem não é contra nós, é por nós”.
 
7- Depois de quase 30 anos de ministério em que praticamente era uma unanimidade, o pr. Caio Fábio viveu seu dilúvio ministerial, conforme suas palavras, no ano 1998. Dois anos depois, voltou e passou novamente a ser uma figura influente para igreja evangélica, em virtude de suas denúncias ao atual quadro eclesiástico brasileiro. Polêmico, muitos ainda o acusam pelos seus pecados do passado. Como você vê o ministério do Pr. Caio Fábio? Na sua opinião, o "Caminho da Graça" é uma seita, como afirmam seus detratores?
RESPOSTA:Acompanho seu ministério desde os tempos dos programas Para & Pense, na extinta TV Manchete. Possuo vários livros dele. Caio Fábio foi um dos maiores líderes evangélicos e pregador nos anos 90. Como pregador e escritor vinha se destacando desde a década de 80. Depois do seu divórcio e do Dossiê Cayman, retornou a pregação mas agora em novo estilo. Apesar de ter se desligado da IPB como pastor, mantêm laços institucionais com a mesma, sendo membro da Catedral Presbiteriana do Rio, onde prega regularmente. Fundou inicialmente o Café com Graça no Rio de Janeiro, em 2001, e o Caminho da Graça em Brasília, em 2004, que conta atualmente com filiais ou Estações em vários Estados e até fora do Brasil. O Caminho da Graça é chamado por alguns críticos como Igreja Emergente, mas eu os vejo como mais uma denominação evangélica, apesar deles não gostarem do termo. O próprio Caio apesar de declarar que não faz mais parte do movimento evangélico, disse em um vídeo do Encontro Nacional do Caminho, de 2007, disponível no youtube, ao chamar seus liderados a responsabilidade, a seguinte frase: “Qual o líder denominacional que dá a liberdade de trabalho que eu estou dando para vocês?” Ao dizer isto, ele mesmo se colocou como um líder denominacional, apesar de usar a nomenclatura de mentor. Não há revolução ali. Eles cantam corinhos evangélicos, celebram a ceia, realizam batismo (muitas vezes por aspersão como a IPB), recolhem contribuição financeira. A estrutura da reunião é a de um culto denominacional. Agora se lá o clima ao congregar é leve, sem muitas cobranças financeira, de ativismo religioso ou em usos e costumes; isso não é novidade, podendo também ser encontrado em outros lugares. Mas, apesar de gostar dos livros e pregação do Caio Fábio, vejo que ele tem se envolvido em várias polêmicas, a meu ver desnecessárias, como os vídeos no youtube “Conta Tudo”, ou mais recentemente quando criticou a reportagem da Revista Época.
 
8- Depois de quase uma década de conflito, os EUA deixaram o Iraque, ainda fragmentado e com muitos conflitos religiosos e etnicos, onde o terrorismo encontra cada vez mais espaço. Sabemos, que nunca foi encontrado um arsenal de armas químicas, além do que, o que se encontrou foi um exército iraquiano decadente e desmotivado. Diante do exposto, na sua opinião a Guerra do Iraque foi realmente necessária? Foi ético a Igreja Evangélica Americana apoiar tal conflito que custou muitas vidas inocentes? Esta igreja não cai numa hipocrisia ao lutar contra legalização do aborto enquanto que defende tal política beligerante?
RESPOSTA:Foi uma guerra desnecessária, que causou a morte de muitas vidas, civis e militares e um prejuízo financeiro terrível, seja para os EUA ou para o Iraque. No máximo o que deveria ter sido feito ali, era a chamada “operação cirúrgica” e um trabalho de inteligência. O embargo imposto nos anos 90, já era bem desumano para as pessoas lá viviam. É um discurso contraditório esse dos conservadores norte-americanos, se dizem defensores da vida, na questão do aborto, mas aprovaram o início da guerra, onde muita gente perdeu a vida.
 
9 - Sabemos que o projeto de casamento civil de pessoas do mesmo sexo, não é a instituição de um mandamento, mas uma concessão para que em caso de falecimento do companheiro, a pessoa tenha direitos para garantir sua subsistência. Na sua opinião, estas pessoas tem este direito, tratado pelo projeto? Ou a igreja deve fazer uma firme oposição a isso?
RESPOSTA:Legalmente, as uniões homoafetivas, já são reconhecidas pelo INSS, Receita Federal, Convênios Médicos, decisões de Tribunais Regionais e Superiores. Só falta o Congresso Nacional chancelar. E isso vai acontecer, não sei se com votação apertada ou não, mas vai, porque o Brasil, está indo no mesmo caminho tomado pela Argentina, Portugual, Espanha, e outros países nesse sentido. E aí, o que a igreja vai fazer? Ora, pregar a Palavra. É hora de parar de tapar os olhos para a realidade e reconhecer que há homossexuais nas igrejas e que outros mais virão. Eles devem ser tratados com respeito e amor cristão. Não sou a favor da celebração de casamentos homoafetivos nas igrejas, e acredito que assim como o apóstolo Paulo não separava um bígamo para o ministério, alguém que viva com pessoa do mesmo sexo, não deva ser líder na igreja. Mas existem cristãos que reconhecem que não gostam de pessoas do sexo oposto e sim o contrário, mas se fazem celibatários por amor ao Reino de Deus, como disse Jesus, em relação aos eunucos (não que os casos sejam iguais, mas apenas estabelecendo um paralelo).
 
10 - Como você vê a questão ambiental, tão propalada atualmente? Como a Igreja de Cristo deve se posicionar?
RESPOSTA:Uma questão muito importante, se queremos viver de forma sustentável. A Igreja deve ajudar na conscientização das pessoas quanto a preservação do Meio Ambiente, lembrando que o homem foi posto na Terra para guardá-la e não depredá-la.
 
Agradeço de coração ao irmão Marcos Wandré, do blog www.reflexoesdeumsobrevivente.blogspot.com, pela oportunidade de mais uma entrevista. Desde que criei este blog em 31/03/2008, já concedi algumas entrevistas a outros blogueiros. Esse teve algumas perguntas difíceis, mas está aí, minha sincera opinião sobre os temas.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Subsídio para EBD - Uma mensagem à igreja local e à liderança

As Epístolas de Paulo a Timóteo (I e II) e Tito são conhecidas como Epístolas Pastorais desde o século XVIII, por orientarem o pastoreio das igrejas. Ao longo deste trimestre estudaremos essas epístolas, extraindo princípios para o ministério cristão. Na aula de hoje apresentaremos uma panorâmica dessas epístolas, ressaltando o conteúdo, estrutura, conceitos-chave e ênfases teológicas.
 
I TIMÓTEO
A I Epístola de Paulo a Timóteo apresenta orientações para a vida eclesiástica, nesta o Apóstolo exorta em relação ao ensino correto, delega missões aos crentes, estabelece princípios para a organização da igreja, destacando critérios para a escolha dos presbíteros e diáconos. Em seguida, exorta quanto ao tratamento dos idosos e viúvas na igreja, além de admoestar quanto ao perigo das riquezas. Um dos versículos-chave dessa Epístola se encontra em I Tm. 1.15: “Fiel é a palavra e digna de toda aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal”.Paulo é bastante específico quanto a estrutura das reuniões e cultos, bem como a separação de novos líderes da igreja, com destaque para suas qualidades. Ele ressalta que os obreiros de Deus devem ser exemplo para os fiéis. Essa Epístola foi escrita por volta do ano 64 d. C., a Timóteo, um dos companheiros de Paulo nas viagens missionárias. O Apóstolo o enviou para Éfeso a fim de deter os falsos ensinamentos que eram propagados pelos adeptos do gnosticismo (I Tm. 1.3,4). Tratava-se de um obreiro jovem, por isso Paulo admoesta a igreja para que “ninguém despreze a tua mocidade”, por outro lado, ele “deveria ser exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza” (I Tm. 4.12). Alguns temas são predominantes nessa Epístola: 1) a preservação da sã doutrina, defendendo a fé dos falsos ensinamentos; 2) qualificações dos obreiros para que esses deem testemunho fiel de Cristo; 3) disciplina pessoal, a fim de cumprir os requisitos morais para o ministério; e 4) as responsabilidades da igreja, principalmente em relação aos mais pobres.
 
TITO
A Epístola de Paulo a Tito foi escrita no mesmo período de I Timóteo, após a libertação de Paulo da sua primeira prisão em Roma. Os temas eclesiásticos são basicamente os mesmos tratados naquela Epístola. Paulo trata a respeito dos pré-requisitos para a escolha dos diáconos e presbíteros, tendo em vista o combate aos falsos mestres. Em seguida o Apóstolo orienta quanto à organização das diferentes faixas etárias na igreja, e das camadas sociais distintas, bem como da lealdade a Cristo. Paulo também se preocupa com a relação do crente com o Estado, e destaca a relevância da lealdade a Cristo. Um dos versículos-chave dessa Epístola se encontra em Tt. 2.11: “Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens”. O livro de Atos não apresenta informações a respeito de Tito, o que é possível saber a respeito desse cooperador de Paulo se encontra em Gl. 2.1-3. A partir desse texto sabemos que era um cristão-judeu, que recebeu várias atribuições do Apostolo, dentre elas a de ir a Corinto, para orientar a igreja (II Co. 1.12; 8.5-16; 8.1-6). A data foi provavelmente escrita em 64 d. C., depois que Paulo foi libertado da prisão em Roma. Tito recebeu essa Epístola quando se encontrava em Creta, tendo sido deixado ali pelo Apóstolo, “para que pusesse em boa ordem as coisas que ainda restam” (Tt. 1.5). Alguns temas são mais importantes nessa Epístola, dentre eles destacamos: 1) a importância de uma vida íntegra, principalmente entre os obreiros; 2) a escolha de diáconos e presbíteros, considerando o caráter dos candidatos; 3) o relacionamento entre as pessoas de diferentes faixas etárias na igreja; e 4) a maneira dos cristãos se portarem na sociedade, obedecendo ao governo e trabalhando com honestidade.
 
II TIMÓTEO
Timóteo era um filho de um gentio e de uma cristã-judia de Listra (At. 16.1; II Tm. 1.5). Paulo o levou como colaborador do seu ministério durante a segunda viagem missionária, quando passou por aquela cidade (At. 16.3). O Apóstolo confiava nesse jovem obreiro, por isso delegou-lhe várias responsabilidades (I Ts. 3.2,6), principalmente no período em que se encontrava na prisão (Fp. 2.20). A II Epístola de Paulo a Timóteo foi escrita justamente durante o período em que estava preso em Roma, diante da grande perseguição empreendida por Nero, por volta do ano 67 d. C. Ciente da sua passagem iminente, Paulo instrui Timóteo para que pregue a palavra com ousadia; que esteja preparado para a perseguição, o cuidado com a ameaça dos falsos mestres; a necessidade da fidelidade ao ministério da palavra. Um dos versículos-chave dessa Epístola se encontra em II Tm. 3.16: “Toda Escritura é inspirada por Deus é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça”. Paulo estava preso, e é comovente saber que ele estava com frio, e tinha necessidade dos livros (II Tm. 4.13). Naqueles que provavelmente seriam seus últimos dias na terra, Paulo conclama Timóteo a apresentar-se como obreiro aprovado, que não tinha do que se envergonhar, que manejava bem a palavra da verdade (II Tm. 2.15). Alguns temas merecem destaque: 1) a coragem, considerando que a perseguição estava se intensificando; 2) fidelidade no ministério, mesmo em momentos de adversidade; e 3) importância do ensino e pregação, para se contrapor às falsas doutrinas que estavam se impregnando na igreja.
 
CONCLUSÃO
As Epístolas Pastorais de Paulo não servem apenas àqueles obreiros que as receberam no primeiro século: Timóteo e Tito. Na verdade, a intenção do Apóstolo era que esses textos fossem lidos nas igrejas, a fim de orientar os membros do Corpo de Cristo, em relação à sã doutrina. De igual modo, estudar essas Epístolas atualmente serve de orientação para a igreja contemporânea, para que essa se mantenha firme na Palavra, combatendo as heresias que ameaçam a doutrina verdadeiramente evangélica.
 
BIBLIOGRAFIA
CALVINO, J. Epístolas pastorais. São José dos Campos: Fiel, 2009.
ZEHR, P. 1 & 2 Timothy, Titus. Scottdale: Herold Press, 2010.
 
 

terça-feira, 30 de junho de 2015

Entenda as diferenças entre o casamento gay dos EUA e o do Brasil

A Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu na última sexta-feira (26) derrubar os vetos de Estados contrários ao casamento gay, o que na prática legalizou a união entre pessoas do mesmo sexo para todo o território americano. O fato tem paralelo no Judiciário brasileiro, que já havia tomado decisão semelhante há quatro anos.
A maior autoridade jurídica americana julgou nesta semana o caso "Obergefell vs. Hodges", no qual James Obergefell processou o Estado de Ohio (representado pelo político Richard Hodges) pedindo reconhecimento como viúvo de seu falecido parceiro, John Arthur. A decisão deve abrir precedente para todos os casais homossexuais do país oficializarem suas uniões, apesar da resistência de alguns Estados conservadores.
No Brasil, o casamento gay ocorre na prática desde 2011, quando o STF (Supremo Tribunal Federal) reconheceu a equiparação da união homossexual à heterossexual. Dois anos depois, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) decidiu que os cartórios brasileiros fossem obrigados a celebrar casamento entre pessoas do mesmo sexo, e não poderiam se recusar a converter união estável homoafetiva em casamento.
Entenda melhor as nuances dessas duas decisões e o impacto em seus respectivos países.

As decisões

Nos EUA: a Suprema Corte julgou que os 14 Estados que atualmente se negam a unir duas pessoas do mesmo sexo devem agora casá-las e também reconhecer seu casamento se ele foi celebrado em outra jurisdição. Cinco juízes votaram a favor, e quatro contra.
No Brasil: Em decisão unânime, dez ministros do STF equipararam a união homossexual à heterossexual. No entender do Supremo, casais gays devem desfrutar de direitos semelhantes aos de pares heterossexuais, como pensões, aposentadorias e inclusão em planos de saúde. Os homossexuais que tentarem a adoção devem acabar apelando à Justiça.

Alcance

Nos EUA: O parecer da Suprema Corte deverá valer para todo o país, mas há alguma controvérsia sobre retirar dos Estados seu próprio poder de decisão sobre o assunto, como ocorria até então. Procuradores-gerais de alguns Estados que eram contra o casamento gay, como Mississippi e Louisiana, já informaram que ela não entrará em vigor imediatamente, enquanto as cortes locais estudam e interpretam o parecer. John G. Roberts Jr., um dos juízes da Suprema Corte que votaram contra o casamento gay, também disse no texto final que a questão deveria ter sido deixada para os Estados.
No Brasil: A decisão do STF teve efeito vinculante, ou seja, alcança toda sociedade, mas assim como nos EUA, não é equivalente a uma lei sobre o assunto. O artigo 1.723 do Código Civil estabelece a união estável heterossexual como entidade familiar. O que o Supremo fez foi estender este reconhecimento a casais gays. Mas assim casais gays podem entrar na Justiça em casos de não-reconhecimento dos casais e provavelmente ganharão a causa, pois os juízes tomarão sua decisão com base no que disse o STF sobre o assunto. Nos últimos anos, o Congresso teve projetos de lei sobre o assunto para serem votados, mas não os colocou em pauta por razões políticas.

Argumentos

Nos EUA: O juiz Anthony Kennedy afirmou na decisão que o interesse na dignidade pessoal é fundamental para a cláusula do devido processo da 14ª Emenda da Constituição americana, que diz que nenhum Estado deve "privar qualquer pessoa da vida, liberdade ou propriedade, sem o devido processo legal". "As liberdades fundamentais protegidos por esta cláusula incluem a maior parte dos direitos enumerados na Declaração de Direitos".
No Brasil: Alguns ministros do STF evocaram o princípio de igualdade da Constituição para estender os direitos dos heterossexuais aos homossexuais. "Por que o homossexual não pode constituir uma família? Por força de duas questões que são abominadas pela Constituição: a intolerância e o preconceito", afirmou o ministro Luiz Fux. "A discriminação é repudiada no sistema constitucional vigente", afirmou a ministra Carmen Lúcia. Outros ministros, como Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, deram seus votos favoráveis com ressalvas. Para Mendes, ainda existem "uma série de questões e divergências" nesse tema, mas seu voto não entraria no mérito dos "desdobramentos" deste reconhecimento.

Histórico

Nos EUA: A luta dos movimentos LGBT para oficializar o casamento entre pessoas do mesmo sexo existe há pelo menos 40 anos nos EUA. Em 1971, a Suprema Corte recebeu pela primeira vez um caso do tipo por parte de um casal homossexual de Minnesota. O Estado de Massachusetts se tornou em 2004 o primeiro do país a legalizar o casamento homossexual.
No Brasil: Na época, o então ministro do STF Ayres Britto pediu um levantamento nos Estados para saber se a união estável de homossexuais já era reconhecida apesar da falta de um pronunciamento do Supremo. Decisões nesse sentido já tinham sido tomadas em tribunais do Acre, Alagoas, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Piauí, Rio Grande do Sul e São Paulo. Essas decisões, de primeira ou segunda instâncias, pesaram no julgamento no STF.

Consequências

Nos EUA: Além de garantir direitos de diversas naturezas, a decisão dos EUA reconhece que pessoas que acreditam que o casamento deva ser apenas entre um homem e uma mulher poderão continuar a se opor ao casamento gay, com base na liberdade religiosa garantida na Primeira Emenda da Constituição do país. Esse debate deve continuar, disse o juiz Anthony Kennedy, mas os casamentos deverão ser permitidos.
No Brasil: Mesmo após a decisão do STF, em 2011, ainda havia cartórios que se recusavam a fazer a conversão para casamento. No mesmo ano, um juiz de Goiânia cancelou um dos primeiros contratos de união civil entre homossexuais do país; o ministro Luiz Fux chamou o ato de "atentado ao STF" passível de cassação. Em 2013, o CNJ aprovou a resolução que prevê que, em caso disso acontecer, que seja levado para análise do juiz corregedor do respectivo Tribunal de Justiça.

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28.jun.2015 - Casais homossexuais se casam em frente ao Congresso Nacional, em Brasília, antes da Parada Gay na capital federal, neste domingo (28) Ed Ferreira/Folhapress

Fonte: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/06/26/entenda-as-diferencas-entre-o-casamento-gay-dos-eua-e-do-brasil.htm