sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Cristianismo vive situação inversa na Inglaterra, enquanto igrejas tradicionais fecham, as nepentecostais crescem

Fechamento de igrejas não é nenhuma novidade na Inglaterra.
Nos passados seis anos, 168 congregações da Igreja da Inglaterra fecharam as portas, junto com 500 metodistas e 100 igrejas católicas romanas.
“O Cristianismo na Inglaterra está sofrendo um declínio implacável nos últimos 100 anos,” diz Linda Woodhead, socióloga na Universidade de Lancaster.
Turistas que visitam a Inglaterra muitas vezes ficam chocados quando veem a condição de prédio de igreja que no passado eram magníficos.
Mas, nos seis últimos anos, para cada igreja anglicana que fechou, mais três igrejas pentecostais ou neopentecostais tomaram o lugar, de acordo com uma análise do jornal londrino The Times.
Essas igrejas pentecostais e neopentecostais estão atraindo jovens, negros, asiáticos e mestiços.
O pentecostalismo é um dos movimentos que mais cresce na Cristandade mundial, com um número estimado de 500 milhões de seguidores.
“Um século atrás, dava para se classificar a face da Cristandade europeia como branca, mas agora está cada vez mais se tornando multirracial,” disse ao Times Israel Olofinjana, um pastor londrino nascido na Nigéria.
Enquanto as congregações envelhecidas da Igreja da Inglaterra diminuem, as igrejas neopentecostais prosperam.
A Igreja Hillson de Londres realiza quatro cultos por domingo, frequentados por 8 mil pessoas no Teatro Dominion.
“Sente-se como num clube noturno de Deus, com músicas de amor para Jesus,” disse um rapaz africano que frequenta os cultos da noite.
Cristãos da Europa Oriental, principalmente a Polônia, onde as raízes católicas são profundas, estão entre os frequentadores. E o entusiasmo deles é contagioso.
“Está havendo uma mudança sísmica,” disse Robert Beckford, professor de teologia na Universidade Canterbury Christ Church. “O Cristianismo na Inglaterra se tornou muito mais diverso etnicamente como consequência da imigração da África Ocidental, Europa Oriental e, até certo ponto, América Latina.”
Elizabeth Oldfield, diretora de Theos, um dos principais institutos da Inglaterra, disse ao Times: “As igrejas têm de absorver imigrantes com mais seriedade. Elas estão tendo de escutar pessoas no corpo-a-corpo que estão se unindo a igrejas em números muito grandes, falando uma língua diferente, talvez vindo de diferentes formas de adoração e se esforçando para mudar. As igrejas estão sendo totalmente abaladas.”
O crescimento pentecostal está trazendo esperança renovada para muitos.
“Sou otimista que veremos a Inglaterra voltar para Deus,” disse o Pr. Agu Irukwu da Igreja Cristã Redimida de Deus. Essa igreja, fundada na Nigéria, agora tem 600 congregações em toda a Inglaterra.
Traduzido por Julio Severo do original em inglês da revista Charisma: Why These Closing Churches Are Fueling the Charismatic Movement

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Igreja Universal do Reino da Política

Marcelo Crivella pode se tornar a primeira autoridade religiosa evangélica a comandar uma metrópole do tamanho do Rio

O senador e engenheiro Marcelo Crivella, carioca, 58 anos, é um homem cordial. Educado, cavalheiro e afável. É um moço de fino trato, como se dizia antigamente. Acho, honestamente, que ele tem o perfil daquele tipo, como dizia Tancredo Neves (1910-1985), de “político bom para casar com a filha da gente”. A sua fala mansa, suave até, lembra pelo timbre a de muitos sacerdotes, o que no seu caso talvez seja herança do tempo em que foi missionário na África por dez anos. A missão ajudou a igreja fundada por seus tios Edir Macedo e R. R. Soares, em 1977, a se tornar um potentado mundial — uma multinacional brasileira da fé.

A Universal importou o modelo americano de telepastor e montou sua própria rede de comunicação (TV Record, a segunda maior do país). A exemplo de pastores de outras correntes neopentecostais, Crivella também entrou para a política. A máxima antiga de que “crente não se mete em política” ou “política e religião não se misturam” foi substituída por “irmão vota em irmão”, que está no DNA da forte bancada evangélica. Repete a fórmula adotada no passado pela Igreja Católica, que criou, em 1933, a Liga Eleitoral Católica (LEC). Hoje, a igreja do Papa Francisco é “um organismo apartidário”, como disse esta semana o cardeal Dom Orani, que tem recebido educadamente visitas de políticos, inclusive de Crivella.

A Universal também copiou da Igreja Católica medieval um modelo mais sofisticado, diga-se, da abominável indulgência. Durante o pontificado do Papa Leão X (1513-1521), essa prática atingiu o seu auge. A fornicação era, por exemplo, “perdoada” com o pagamento de 219 moedas da época.

A igreja do bispo Macedo, com base em textos religiosos, convoca as pessoas a contribuírem com dinheiro, o que ajudaria a obter a misericórdia divina. As pedras importadas de Israel para a construção, em São Paulo, do Templo de Salomão — maior espaço religioso do país e reprodução do primeiro templo citado pela Bíblia — foram compradas com grana de muita gente que vive abaixo da linha da pobreza. Por outro lado, diga-se a seu favor, a Universal ajudou com sua pregação religiosa, notadamente nas zonas mais pobres, a moldar um caráter melhor dos seus fiéis, acho. E isto não é pouco.

Neste contexto, o papel de Marcelo Crivella na Universal sofreu mutação. No início, até pela sua bagagem intelectual, pensava-se que ele seria o delfim, o herdeiro da “igreja da família”. Depois da vida de missionário na África, ele retornou ao Brasil, onde fez uma carreira de sucesso como cantor gospel. A parte política foi entregue a outro fundador da Universal, o bispo Rodrigues. Só que o tal bispo acabou preso, envolvido em vários casos de roubalheira. Crivella assumiu esta tarefa e começou sua carreira política não como candidato a vereador de Rio das Flores, berço fluminense da sua família, mas concorrendo já para o Senado, derrotando os medalhões Leonel Brizola e Artur da Távola. Soube aproveitar o fato de que, entre os fluminenses, 29,37% se declaram evangélicos, enquanto a média nacional é de 22,16%.

Agora, pode se tornar a primeira autoridade religiosa evangélica a comandar uma metrópole do tamanho do Rio. É claro que, antes, tem de enfrentar a rejeição — que já foi bem maior no passado — pelo vínculo de sangue com a Universal. Para isso, licenciou-se da igreja e omite em sua propaganda eleitoral qualquer referência a ela. 

O senador fluminense se defende dizendo ser vítima de preconceito contra evangélicos, o que existe, em parte, na elite ligada ao catolicismo. Só que ele não é um evangélico qualquer. É da cúpula da igreja. É como se Dom Orani pedisse licença da Igreja Católica e, com a ajuda das 260 paróquias do Rio, fosse candidato a prefeito.
E olha que Dom Orani não é sobrinho do Papa.


Meu Comentário: O problema como diz o sociólogo Gideon Alencar, que já escreveu teses e livros sobre o movimento pentecostal no Brasil, principalmente sobre a AD, é que as outras igrejas, principalmente as de lina pentecostal e neopentecostais acabam copiando o modelo da Universal, e em muitos aspectos inclusive no plano político se "iurdizaram".  Acontece que uma vitória no campo político nem sempre significa uma vitória para o evangelho.