sábado, 30 de outubro de 2010

Evangélicos são os vencedores da eleição de 2010 - Será mesmo?

O jornal “The Wall Street Journal Americas”, uma versão do diário nova-iorquino voltada para a América Latina, debruçou-se sobre pesquisas eleitorais e constatou que “as eleições brasileiras já têm um vencedor: os evangélicos”.
Segundo a reportagem, publicada em espanhol, dados de levantamento Datafolha mostram que, “no dia da eleição [no primeiro turno], cerca de um milhão de eleitores abandonaram Dilma Rousseff (PT) por razões religiosas”. Ainda, outros três milhões citaram como motivo da mudança do voto acusações de corrupções envolvendo Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil, sucessor da petista no cargo.
O jornal reconhece que “muitos eleitores evangélicos, que normalmente provêm da classe operária, apoiam Dilma por motivos econômicos. Confiam em seu esquerdista Partido dos Trabalhadores por prover serviços em suas regiões há muito tempo descuidadas”.
No entanto, na medida em que as propostas de Dilma e José Serra (PSDB) para as áreas econômica e social se apresentam de forma similar, na opinião da reportagem, os eleitores passaram a se preocupar com possíveis diferenças apresentadas em relação temas de caráter moral, como o aborto e a união de homossexuais.
Outro ponto a fato dos evangélicos é o aumento do número de representantes no Congresso. “Este ano foi um ponto de inflexão: candidatos que se definem como protestantes ganharam 50% mais cadeiras, 71 de quase 600 em disputa”.
Aborto
É verdade que muitos evangélicos se posicionaram contra Dilma depois que os assuntos aborto e união entre homossexuais entrou na agenda eleitoral. Mas há outros três fatos que o “Wall Street Journal Americas” não cita.
Primeiro, o de que expoentes da Igreja Católica e do espiritismo também criticaram a candidata petista, direta ou indiretamente. D. Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo diocesano de Guarulhos (SP), disse que o PT é “o partido da morte” porque, segundo ele, “aceita o aborto até o nono mês de gravidez”. A Polícia Federal chegou a confiscar, por ordem do Tribunal Superior eleitoral, 1 milhão de folhetos ligados a essa questão, acolhendo ação do PT.
Dias depois, o Papa Bento XVI “entra na campanha no Brasil”, como disse o “Jornal da Tarde“. O pontífice divulgou carta na qual orienta bispos brasileiros a pregarem contra candidatos que são a favor do aborto.
Entre os espíritas, o dirigente espiritual Bezerra de Menezes – já falecido – teria pedido ao Centro Espírita Perseverança, por meio de um médium, a convocação dos 5.500 colaboradores para uma reunião pró-Serra, segundo a coluna Direto da Fonte, de Sonia Racy, do “Estadão”.
O segundo fato não citado pelo “Journal” é o de que a discussão sobre aborto atingiu não somente Dilma, mas também Serra. A jornalista Mônica Bergamo publicou na “Folha de S.Paulo” reportagem em que ex-alunas de Mônica Serra, mulher do tucano, afirmam que a tutora contou, em aula, ter feito aborto quando vivia no Chile. A campanha do candidato nega.
Outro fato que o “Journal” ignora é o de que, mesmo entre evangélicos, há divergências em relação a apoiar ou não Dilma por causa da questão do aborto. O bispo Edir Macedo, por exemplo, distribuiu exemplares do jornal “Folha Universal”, da Igreja Universal do Reino de Deus, com reportagens defendendo Dilma e atacando a Igreja Católica e Serra, acusando a campanha tucana de radicalizar a discussão religiosa para angariar votos.
Fonte: Blog Radar Econômico, do Estado de São Paulo
Meu comentário: Esse assunto já chamou atenção de muitos órgãos de imprensa internacional, como a BBC de Londres, mas me pergunto se essa demonstração de força política da igreja e seus líderes, realmente foi uma vitória. Se for olhar do ponto de vista numérico de vagas conquistadas no Congresso, poderia se dizer que sim. Nessa eleição, os líderes religiosos se expuseram mais do que nas eleições anteriores. Foram pastores, cantores, evangelistas itinerantes, padres, apóstolos, bispos católicos e evangélicos, se pronunciando em programa eleitoral gratuito, mobilizando igrejas, viajando para outros Estados da Federação pedindo voto para este ou aquele (a) candidato (a). A internet, seja através de blogs, sites, twitter, foi usada como nunca. Até o Papa, sem citar nome de candidato, se manifestou no finalzinho da eleição! Mas o que eu me pergunto, é se era isso que o Nazareno quis dizer ao responder um governador romano com as seguintes palavras: "O meu reino não é deste mundo".

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Religião invade eleição e repete no Brasil fenômeno dos EUA



Discursos com conteúdo religioso, candidatos fazendo profissão de fé, visitas a igrejas, resposta na ponta da língua sobre assuntos morais. Assim são as campanhas norte-americanas nas últimas três décadas. E assim ficou a corrida presidencial no Brasil em 2010. Se o brasileiro se espantava com esses ingredientes da democracia dos EUA, agora assiste em seu território o mesmo fenômeno. Veja a reportagem da TV UOL acima.

Meu comentário: Ao ver pastores, bispos (católicos e evangélicos), e padres se posicionarem nessas eleições, me fez pensar conforme o vídeo acima, que a eleição brasileira, ficou parecendo a norte-americana, com temas religiosos na pauta. Me lembrei de uma reportagem da Folha de São Paulo, escrito pelo Alcino Leite Neto em 10/04/2005, sobre a religião e as eleições americanas. A reportagem se chamava "As religiões se unem em Jesusland". Vou reproduzir abaixo trechos da matéria, vendo as semelhanças do que ocorreu este ano, aqui no Brasil, nas eleições presidenciais.

"As eleições que George W. Bush foi o vencedor, em 2000 e 2004, respectivamente, onde o voto evangélico, somado ao católico, foi decisivo para a sua vitória. A diferença é que nos EUA, os católicos representam 23% da população, e aqui no Brasil, cerca de 64%. Portanto, a dimensão político-eleitoral é importante. O voto católico foi significativo para a reeleição de George W. Bush, em 2004. Quando concorreu pela primeira vez, em 2000, ele teve 47% do voto católico, contra 50% do democrata Al Gore. Em, Bush levou 52% do voto católico, contra 47% do democrata John Kerry. Detalhe: Kerry é católico e ele poderia ter sido a oportunidade de os católicos elegerem o seu segundo presidente em toda a história americana.

Em mais de 200 anos de democracia, o único católico americano que chegou à Casa Branca foi John F. Kennedy (1961-1963). O liberalismo de Kerry em causas como a do aborto e dos direitos dos homossexuais desagradou os católicos americanos, que antes votavam majoritariamente com os democratas. Desde o acontecimento trágico de 11 de Setembro, parte dos católicos americanos (dentre eles os numerosos latino-americanos), também entraram numa onda fundamentalista, como os seguidores de outras igrejas no país.

Hoje, a pauta conservadora está fazendo convergir o catolicismo e as igrejas que outrora eram inimigas juradas do Vaticano."Caso Schiavo culmina aliança católicos-evangélicos" foi o título de uma reportagem do "New York Times", em 24 de março/2005. A reportagem ressaltava como católicos e evangélicos estão reunindo forças para defender a "cultura da vida", condenando a eutanásia, o aborto e a pesquisa com células-tronco."Agora, a aliança de evangélicos e católicos está entre as mais poderosas forças que moldam a política americana. Bush cortejou votos evangélicos e católicos em 2004 e se beneficiou da mobilização", diz o "New York Times".

Ainda hoje há campanhas americanas na internet contra os católicos e o Vaticano, que ganham força quando ocorrem escândalos como o dos padres pedófilos. O anticatolicismo americano, porém, abrandou muito nas últimas décadas nos Estados Unidos. Em "Jesusland" (como chamaram a parte da nação americana que votou em Bush em 2004), igrejas cristãs estão muito mais preocupadas em superar divergências e se coligarem, mesmo com o judaísmo. Unidas, elas pensam ganhar força para enfrentar os novos anticristos, que são o fundamentalismo islâmico, inimigo nem sempre explicitado, e, sobretudo, o "individualismo hipermoderno" (na definição da revista "Christianity Today"), com seu desprezo pelos fundamentos religiosos.