quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O QUE LEVA UM HOMEM A PEDIR A JESUS QUE ABENÇOE O DINHEIRO DA CORRUPÇÃO?




Ora, a mesma coisa que levou os “cristãos” do Império Romano a agradecerem a Deus pela vida de Constantino, apesar das mortes e maldades do Império...

O que leva um cristão a isso é:

1. Falta de temor de Deus... Total.

2. Um forte complexo de inferioridade [do qual os “evangélicos” sofrem desde sempre... e por que não dizer: o Cristianismo como um todo...] e que sempre faz com que o “crente” se sinta honrado diante do Poder, de qualquer poder do qual antes eles estivesse alijado...

3. A certeza, aprendida nas políticas nefastas da “igreja” [...] e que é quase sempre mais “danada” do que a da política secular; visto que faça todas as suas maldades com oração antes e depois...

4. Porque a “oração” é magia para a maioria dos “crentes”, que, orando em nome de Jesus pensam que até o diabo vira anjo...

5. O auto-engano inicial de que o dinheiro nas mãos deles será melhor do que na mão dos outros, pois, nas mãos deles, uma parte vira “oferta” ou “dízimo” [...], e, assim, segundo eles, está “santificado”...

6. A ganância sórdida que se instala no coração de todo crente na política, e que lá tenha entrado pelas motivações do poder, da soberba e da vaidade...

7. A “inveja dos malfeitores”, os quais fazem tudo [...] enquanto os “crentes” se cansam de olhar...

8. Um sentimento de que como não estejam adulterando contra a esposa [...], tudo mais o sangue de Jesus perdoa...

9. A obsessão constantiniana de tomar o “império”, de “reinar em soberania sobre a nação”... É o tal do espírito “sara a nossa terra” [...] — que é todo baseado nisso...

10. A impunidade... Sim, pela impunidade nasce o cinismo; e, pelo cinismo, brota o descaramento que julga que Deus se associa à iniqüidade que se transforme em algum “bem” para o que eles chamam de “reino dos crentes”, já que de Deus é que não é...

Uma vez um Governador crente me disse que havia “tomado” mais de cinco milhões de reais [mensais] do Presente da Assembléia Legislativa, pois, nas mãos do “outro” era corrupção, mas o mesmo dinheiro nas mãos dele seria uma benção para os “pastores”...

É essa mentalidade garotinha e safada que faz tudo isso virar o que isso mostra ser todos os dias...


Fonte: www.caiofabio.com.br

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A ORAÇÃO PELA PROPINA



O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Dimas Lara Barbosa, classificou nesta segunda-feira de inaceitáveis as imagens que mostram suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção do Distrito Federal (DF) fazendo uma oração para agradecer o dinheiro recebido. O governador José Roberto Arruda (DEM) é acusado de comandar um esquema de propina e distribuição de mesadas a parlamentares aliados no governo. ( Assista ao vídeo da oração )
Essa cena eu ainda não vi e, de certo modo, foi bom ainda não ter visto, pois me sentiria revoltado - afirmou dom Dimas, após se reunir com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto.
- Lamento que a religião esteja tão banalizada a tal ponto de as pessoas não a verem como serviço a Deus e ao próximo, mas como servir-se da fé e do próximo; isso é uma inversão total de valores - completou.
No vídeo, aparecem o deputado distrital Brunelli Júnior (PSC), representante da bancada evangélica, Leonardo Prudente, presidente da Câmara, e Durval Barbosa, secretário de Relações Institucionais do governo, que contribuiu com a Polícia Federal (PF) nas investigações em troca de redução de pena.
- Pai eu quero agradecer por estarmos aqui. Sabemos que nós somos falhos, somos imperfeitos. Somos gratos pela vida do Durval, que é uma bênção em nossas vidas - diz o deputado Brunelli, que faz a oração.
- Precisamos dessa tua cobertura, dessa tua graça, da tua sabedoria, de pessoas que tenham, senhor, armas para nos ajudar nessa guerra e, acima de tudo, todas as armas podem ser falhas, todos os planejamentos podem falhar, mas o senhor nunca falha - complementa.
Após a oração, Prudente diz, numa referência ao conteúdo da reza:
- Que paulada!
Brunelli é dono de uma rádio comunitária, que funciona dentro de uma igreja. Pela legislação, é proibido concessão desse tipo de rádio para instituições religiosas. Ele chegou a ser denunciado ao Ministério das Comunicações, mas não perdeu a emissora.
Na conversa, antes da oração, Brunelli pede ajuda a Durval para enfrentar um problema político, mas não fica claro do que se trata.
- O que você pode nos ajudar? Eu sou vulnerável, não sou de chantagem. Mas preciso de instrumentos - diz.
Durval responde:
- Primeiro, temos que formar um grupo, um time, que começa com o Ar.

Fonte: Jornal O Globo.

MEU COMENTÁRIO: O deputado Brunelli é pastor e filho do Doriel de Oliveira, fundador da igreja Casa da Benção. O deputado Leonardo Prudente é membro da Sara Nossa Terra. O vice-governador do Distrito Federal, Paulo Otávio, é membro Sara Nossa Terra. Otávio também está envolvido nas acusações do mensalão do governo Arruda. A nota de repúdio, do bispo da CNBB, expressou a minha revolta e acredito que, de muitos também: “ Lamento que a religião esteja tão banalizada a tal ponto de as pessoas não a verem como serviço a Deus e ao próximo, mas como servir-se da fé e do próximo; isso é uma inversão total de valores

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Evangélicos de alma católica?

Os evangélicos no Brasil nunca conseguiram se livrar totalmente da influência do Catolicismo Romano. Por séculos, o Catolicismo formou a mentalidade brasileira, a sua maneira de ver o mundo ("cosmovisão"). O crescimento do número de evangélicos no Brasil é cada vez maior – segundo o IBGE, mas há várias evidências de que boa parte dos evangélicos não tem conseguido se livrar da herança católica.
É um fato que conversão verdadeira (arrependimento e fé) implica numa mudança espiritual e moral, mas não significa necessariamente uma mudança na maneira como a pessoa vê o mundo. Alguém pode ter sido regenerado pelo Espírito e ainda continuar, por um tempo, a enxergar as coisas com os pressupostos antigos. É o caso dos crentes de Corinto, por exemplo. Alguns deles haviam sido impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores. Todavia, haviam sido lavados, santificados e justificados "em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus" (1Co 6.9-11) sem que isso significasse que uma mudança completa de mentalidade houvesse ocorrido com eles. Na primeira carta que lhes escreve, Paulo revela duas áreas em que eles continuavam a agir como pagãos: na maneira grega dicotômica de ver o mundo dividido em matéria e espírito (que dificultava a aceitação entre eles das relações sexuais no casamento e a ressurreição física dos mortos – capítulos 7 e 15) e o culto à personalidade mantido para com os filósofos gregos (que logo os levou à formar partidos na igreja em torno de Paulo, Pedro, Apolo e mesmo o próprio Cristo – capítulos 1 a 4). Eles eram cristãos, mas com a alma grega pagã.

Da mesma forma, creio que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica. Antes de passar às argumentações, preciso esclarecer um ponto. Todas as tendências que eu identifico entre os evangélicos como sendo herança católica, no fundo, antes de serem católicas, são realmente tendências da nossa natureza humana decaída, corrompida e manchada pelo pecado, que se manifestam em todos os lugares, em todos os sistemas e não somente no Catolicismo. Como disse o reformado R. Hooykas, famoso historiador da ciência, “no fundo, somos todos romanos” (Philosophia Liberta, 1957). Todavia, alguns sistemas são mais vulneráveis a essas tendências e as absorveram mais que outros, como penso que é o caso com o Catolicismo no Brasil. E que tendências são essas?

1) O gosto por bispos e apóstolos – Na Igreja Católica, o sistema papal impõe a autoridade de um único homem sobre todo o povo. A distinção entre clérigos (padres, bispos, cardeais e o papa) e leigos (o povo comum) coloca os sacerdotes católicos em um nível acima das pessoas normais, como se fossem revestidos de uma autoridade, um carisma, uma espiritualidade inacessível, que provoca a admiração e o espanto da gente comum, infundindo respeito e veneração. Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos auto-nomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira. A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções.

2) A idéia que pastores são mediadores entre Deus e os homens – No Catolicismo, a Igreja é mediadora entre Deus e os homens e transmite a graça divina mediante os sacramentos, as indulgências, as orações. Os sacerdotes católicos são vistos como aqueles através de quem essa graça é concedida, pois são eles que, com as suas palavras, transformam, na Missa, o pão e o vinho no corpo e no sangue de Cristo; que aplicam a água benta no batismo para remissão de pecados; que ouvem a confissão do povo e pronunciam o perdão de pecados. Essa mentalidade de mediação humana passou para os evangélicos, com algumas poucas mudanças. Até nas igrejas chamadas históricas os crentes brasileiros agem como se a oração do pastor fosse mais poderosa do que a deles, e que os pastores funcionam como mediadores entre eles e os favores divinos. Esse ranço do Catolicismo vem sendo cada vez mais explorado por setores neopentecostais do evangelicalismo, a julgar por práticas já assimiladas como “a oração dos 318 homens de Deus”, “a prece poderosa do bispo tal”, “a oração da irmã fulana, que é profetisa”, etc.

3) O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados – O Catolicismo no Brasil, por sua vez influenciado pelas religiões afro-brasileiras, semeou misticismo e superstição durante séculos na alma brasileira: milagres de santos, uso de relíquias, aparições de Cristo e de Maria, objetos ungidos e santificados, água benta, entre outros. Hoje, há um crescimento espantoso entre setores evangélicos do uso de copo d’água, rosa ungida, sal grosso, pulseiras abençoadas, pentes santos do kit de beleza da rainha Ester, peças de roupa de entes queridos, oração no monte, no vale; óleos de oliveiras de Jerusalém, água do Jordão, sal do Vale do Sal, trombetas de Gideão (distribuídas em profusão), o cajado de Moisés... é infindável e sem limites a imaginação dos líderes e a credulidade do povo. Esse fenômeno só pode se explicado, ao meu ver, por um gosto intrínseco pelo misticismo impresso na alma católica dos evangélicos.

4) Somente pecados sexuais são realmente graves – A distinção entre pecados mortais e veniais feita pelo romanismo católico vem permeando a ética brasileira há séculos. Segundo essa distinção, pecados considerados mortais privam a alma da graça salvadora e condenam ao inferno, enquanto que os veniais, como o nome já indica, são mais leves e merecem somente castigos temporais. A nossa cultura se encarregou de preencher as listas dos mortais e dos veniais. Dessa forma, enquanto se pode aceitar a “mentirinha”, o jeitinho, o tirar vantagem, a maledicência, etc., o adultério se tornou imperdoável. Lula foi reeleito cercado de acusações de corrupção. Mas, se tivesse ocorrido uma denúncia de escândalo sexual, tenho dúvidas de que teria sido reeleito, ou que teria sido reeleito por uma margem tão grande. Nas igrejas evangélicas – onde se sabe pela Bíblia que todo pecado é odioso e que quem guarda toda a lei de Deus e quebra um só mandamento é culpado de todos – é raro que alguém seja disciplinado, corrigido, admoestado, destituído ou despojado por pecados como mentira, preguiça, orgulho, vaidade, maledicência, entre outros. As disciplinas eclesiásticas acontecem via de regra por pecados de natureza sexual, como adultério, prostituição, fornicação, adição à pornografia, homossexualismo, etc., embora até mesmo esses estão sendo cada vez mais aceitáveis aos olhos evangélicos. Mais um resquício de catolicismo na alma dos evangélicos?
O anti-catolicismo brasileiro, todavia, se concentrou apenas na questão das imagens e de Maria, e em questões éticas como não fumar, não beber e não dançar. Não foi e não é profundo o suficiente para fazer uma crítica mais completa de outros pontos que, por anos, vêm moldando a mentalidade do brasileiro, como mencionei acima. Além de uma conversão dos ídolos e de Maria a Cristo, os brasileiros evangélicos precisam de conversão na mentalidade, na maneira de ver o mundo. Temos de trazer cativo a Cristo todo pensamento e não somente os nossos pecados. Nossa cosmovisão precisa também de conversão (2Coríntios 10.4-5).

Quando vemos o retorno de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais católicas de usar no culto a Deus objetos ungidos e consagrados, procurando para si bispos e apóstolos, imersas em práticas supersticiosas, se pergunta se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um filho da Igreja Católica medieval, uma forma de neo-catolicismo tardio que surge e cresce em nosso país onde até os evangélicos têm alma católica.


Fonte: via blog O Tempo, o Mores.