quinta-feira, 13 de novembro de 2008

CONFISSÕES

Não temos pregado sobre a queda do homem, sobre a doença do pecado, sobre a sujeira do coração humano, sobre o pecado residente, sobre a lei do pecado, sobre a predominância do mal na experiência pessoal.
Há muito tempo não temos pregado Jesus Cristo. Fazemos ligeiras menções a ele por força do hábito, para fazer jus ao nome de cristãos. Porém, não abordamos séria e frequentemente seu nascimento sobrenatural, sua dupla natureza humana e divina, seu sacrifício expiatório, sua vitória sobre a morte, sua exaltação ao assentar-se à direita do Pai, e sua parúsia em poder e muita glória. De vez em quando somos obrigados a ouvir o que o Senhor disse ao anjo de Laodicéia: "Eis que estou à porta e bato" (Ap 3.20).

Conversão não significa mais aquela meia-volta que marca o rompimento com o pecado e a incredulidade, aquele nascer de novo sem o qual ninguém pode entrar no reino de Deus, aquela disposição corajosa e continuada de negar-se a si mesmo, tomar a cruz e seguir a Cristo sem restrições.
Por não estarmos fazendo clara distinção entre adesão e conversão, estamos trabalhando para aumentar na igreja visível a porcentagem do joio em detrimento da porcentagem do trigo. Se continuarmos assim, muito em breve seremos uma megaigreja de cristãos nominais.
Continuamos muito mais interessados na quantidade do que na qualidade. O crescimento numérico exerce sobre nós um fascínio muito maior do que o crescimento em santidade.
Não temos feito discípulos de Cristo, mas temos ensinado as pessoas a se utilizarem de Cristo e dos benefícios do evangelho egoisticamente.
Não temos conseguido fazer a difícil distinção entre ministério e mero interesse comercial. Produzimos e vendemos Bíblias, livros, revistas, jornais, CDs e DVDs de música e mensagens para edificação dos fiéis, cada vez mais numerosos, e também, em alguns casos, para encher o bolso de dinheiro. Tornamo-nos tão oportunistas quanto os vendilhões do templo e, como eles, estamos transformando a casa de oração num esconderijo de ladrões (Mt 21.13), ou quanto os vendedores de indulgências do século 16, que transformaram a igreja num mercado de salvação.

Não temos colocado nossa motivação à prova. Por ausência de filtro, a verdadeira motivação mistura-se com desejo de projeção pessoal, com sede de poder, com interesses particulares, com ciúmes, invejas e rivalidades.
Temos trocado a direção do Espírito pela política eclesiástica. Compramos votos e vendemos posições. Prestigiamos partidários e colocamos mordaça naqueles que não nos convêm, quase sempre em nome da revitalização da ortodoxia e da espiritualidade.

Não nos humilhamos nem sob a proteção da poderosa mão de Deus. Não esperamos a exaltação que vem do Senhor na medida certa e na ocasião adequada (1Pe 5.6). Esquecemo-nos de que “a desgraça está um passo depois do orgulho” e que “logo depois da vaidade vem a queda” (Pv 16.18, BV). Não temos sido delicados com Jesus Cristo, pois o verdadeiro amigo do Noivo faz propaganda do Noivo e não de si mesmo (Jo 3.30, BV).

Por meio da repressão por demais conservadora e da formulação de um monte de regras e normas, temos destruído a espontaneidade do culto e provocado muitas cisões no Corpo de Cristo. Por meio da contra-repressão por demais liberal e da formulação de um monte de licenças e permissividades, temos destruído a seriedade do culto e provocado muitas cisões no Corpo de Cristo.
Os pastores desencaminham as ovelhas e as fazem perambular por aí. E as ovelhas aumentam o salário de seus pastores para que eles continuem a deixá-las em paz.
Da não ordenação de mulheres, passamos a ordenar um sem-número de mulheres, mais devido ao fato de serem casadas com pastores do que por necessidade e vocação, o que já ocorria com a ordenação masculina.

Não perdoamos os que pecaram, arrependeram-se e receberam de Deus uma ficha totalmente limpa. Porém, em nome de uma graça barata, abrigamos em nossas comunidades os que pecam, não choram nem se arrependem.
Nossa consciência missionária é pobre e inconstante; existe apenas em alguns poucos líderes e em algumas poucas igrejas.
A noção de missão integral, na teoria e na prática, ainda é bastante estranha para muitos pastores, líderes e fiéis.


Fonte: Revista Ultimato, Edição nº 315, novembro/dezembro-2008.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

PROFETIZANDO ÀS NAÇÕES



Gosto muito desta canção da Fernanda Brum, quando diz: "profetas que não vendem seus ministérios e nem negociam a sua unção". Quando se lê o Antigo Testamento, vemos que os profetas não foram meros microfones que amplificavam e decodificavam o falar de Deus, mas gente com uma cultura, temperamento e individualidade. A tarefa do profeta não se resumia em transmitir o ponto de vista divino. Ele era o referencial do povo. O profeta em Israel não vaticinava apenas. Ele era também poeta, pregador, patriota, crítico social. Iniciavam suas profecias com juízo mas sempre concluíam com esperança e redenção. O profeta não repetia jargões, não perpetuava o que já fora dito, mas pensava fora dos paradigmas. Não era convencional. A mágica de suas palavras vinha de sua intuição, de seu inconformismo e da largura de seus anseios. Inúmeras vezes a linguagem do profeta foi hiperbólica. O exagero era uma maneira de mostrar sua angústia, seu desespero de não se acovardar diante do iminente fracasso nacional. Meu apetite em ler os profetas fez nascer em mim o desejo de vê-los entre nós. Entendo que o ministério profético com autoridade canônica foi até João Batista (Mt 11.13). Sei também que o dom carismático da profecia (I Co 12) resume-se à função tríplice que Paulo nos deu em I Coríntios 14:3: edificar, exortar e consolar. Creio que o ministério profético que desejo não seja um título ou cargo. Sinto que a igreja evangélica brasileira, tem bons evangelistas, excelentes estrategistas eclesiásticos, já demonstramos alguma maturidade teológica, mas ainda somos carentes de líderes com a verve profética.
O Brasil necessita de pessoas, que sejam autênticos profetas do século XXI. Que impressionem pela coerência, bravura e profundo compromisso com os valores do reino de Deus e não pela performace. Que sejam "vozes" que clamam do deserto, e não "ecos" dos outros. Hoje, o termo profeta anda meio banalizado. O que se vê muito é, aquelas ou aqueles videntes de plantão, que ficam profetizando casamentos ou des-casamentos, usos e costumes, dinheiro, etc. São comuns em reuniões de oração, em residências, em festas nas igrejas, quando dão umas profetadas (bajulação,) para os pastores no púlpito. Tem uns, que têm até a cara de pau, de oferer consultas e cobrar por elas. Sugiro a leitura com calma, dos capítulos 26, 27 e 28 do livro de Jeremias e capítulos 5, 6 e 7 de Amós, para ver como era o verdadeiro ministério profético. Sei que ainda há "profeta em Israel". A necessidade atual é de profetas que falem a Palavra de Deus, sem temer o homem, e não de "picaretas" que não têm nenhum temor de Deus, ao dizer que estão falando em nome Dele.