sexta-feira, 13 de julho de 2012

Pentecostalismo em Debate - Parte 01

Completado recentemente seu primeiro centenário no Brasil, o pentecostalismo só passou a receber maior atenção do meio acadêmico e da opinião pública nacional a partir da década de 1980. A partir daí aumentou o interesse da imprensa e da comunidade científica sobre os pentecostais.

Tal segmento vem reconfigurando o campo religioso brasileiro de várias maneiras. Uma delas é atestada quantitavivamente no seu contínuo e excepcional crescimento. Pode-se dizer que “o crescimento dos evangélicos pentecostais se constitui no principal fator da diversificação religiosa que vem ocorrendo no Brasil, a partir dos anos 1980.” (JACOB et al, 2003, p. 39).

Embora se fale muito em um crescimento do universo evangélico brasileiro, é enganoso estender tal fenômeno a todos os segmentos de origem protestante. Simone R. Bohn observa que “as religiões evangélicas pentecostais cresceram muito mais que as históricas.” (BOHN, 2004, p. 291).

Juntamente com o crescimento numérico, o impacto do pentecostalismo está sendo sentido em todo o campo religioso brasileiro e também na esfera pública política nacional. Além disso não há como deixar de notar sua influência nos outros ramos do cristianismo: “Não se pode mais estudar o campo religioso brasileiro sem se levar a sério a carismatização do catolicismo e a pentecostalização do protestantismo histórico, nem a multiplicação de novos grupos pentecostais.” (CAMPOS, 2008, p. 45). De fato, o pentecostalismo consolidou-se como uma parte importante da religiosidade brasileira contemporânea, tanto em termos numéricos quanto em termos de influência.

Não se deterá mais sobre detalhes da história dos primórdios do pentecostalismo no Brasil. O trabalho de Freston36 já avançou bem neste sentido. Cabe destacar, baseando-se em Mariano (2005), que tanto na Assembléia de Deus quanto na outra igreja pioneira no pentecostalismo brasileiro, a Congregação Cristã do Brasil, em seu início, caracterizavam-se por sua composição majoritária de pessoas pobres e de baixa escolaridade, pela ênfase na glossolalia, pela expectativa do retorno iminente de Cristo, pelo anticatolicismo e por um comportamento sectário e politicamente apático.

O pentecostalismo abraçou o pré-milenarismo, e os pesquisadores têm visto nele uma explicação para o comportamento apático, sectário e direcionado para fora da história que tem caracterizado o pentecostalismo brasileiro. A luta justificável seria aquela por conquista de almas para Jesus numa batalha contra as tentações do mundo e as forças espirituais satânicas.

As armas para tal batalha seriam as espirituais, especialmente orações e exorcismos, e aprática de uma vida reta, livre de vícios e de relacionamentos mais profundos com o “mundo”. Os problemas sociais e políticos seriam reflexos desta luta, pois aqueles em posição de poder no Brasil estavam do lado do “mal”, do lado do catolicismo, da cultura brasileira, das hostes satânicas, da secularização, etc.

Composta, majoritariamente, por pessoas de classe social e nível de instrução baixos, alijados do poder temporal e minoritários na composição da sociedade brasileira, a crença pré-milenarista e apocalipsista adequava-se às conjunturas do pentecostalismo brasileiro nascente. Segundo Peixoto (2008, p. 41), “os pentecostais assumiram uma forma de ser isolacionista, retirada do mundo e de suas preocupações políticas, não formulando um modelo de sociedade que se devesse almejar. Seu projeto poderia ser denominado de a-histórico”, pois as questões de cunho social não faziam parte de sua agenda de prioridades.

O estereótipo do assembleiano (homens com ternos baratos e mulheres de longos cabelos e saias compridas) e seu legalismo (inclusive com a proibição aos membros de assistirem TV) parecem não combinar com os novos tempos.

Surgem tensões entre os tradicionalistas e aqueles que são favoráveis a uma modernização da Assembléia de Deus. Tais mudanças parecem ser cada vez mais demandadas, na medida em que há um “aburguesamento” (NIEHBUR, 1992) dos seus membros: Muitos deles começam a ascender socialmente e a ter um maior grau de instrução. Essas camadas médias urbanas começam a reivindicar uma acomodação ao contexto cultural onde vivem. “Apesar das resistências, as mudanças estão ocorrendo. São inevitáveis.

Alguns falam sobre elas com pesar, outros mencionam constrangimentos que sofriam por sua causa.” (MARIANO, 2005, p. 206). Na prática, os chamados “usos e costumes” se tornaram problemáticos e geram várias tensões internas entre os membros mais jovens e os mais velhos e entre os pastores mais tradicionais e aqueles dispostos a se adaptar às possibilidades da vida moderna e a buscar novos conversos provenientes da classe média urbana.

Algumas mudanças já são perceptíveis na busca “de algo que mantenha a tradição carismática de uma religião entusiasta, mas sem os tabus legalistas.” (FRESTON, 1994b, p. 95). A Assembléia de Deus também vem buscando, ao longo dos anos, diminuir sua postura anti-intelectual e sectária. Fundaram-se institutos bíblicos, e seus pastores agora necessitam de formação teológica. Sua Casa Publicadora vem disponibilizando vasta literatura teológica, não necessariamente pentecostal, inclusive de autores ligados ao protestantismo histórico.

A televisão, antes condenada, agora virou meio de evangelização e divulgação dos trabalhos da igreja. Apesar de ainda poder ser classificada como uma das igrejas mais conservadoras dentro do universo pentecostal, a Assembléia de Deus sofreu muitas transformações nas últimas décadas, fazendo-se necessárias novas pesquisas que busquem atualizar os conhecimentos sobre esta importante representante do pentecostalismo brasileiro.

Por outro lado, é interessante observar que na nova configuração pós-pentecostalista da religiosidade brasileira não são só os pentecostais de classe média que, embora busquem os dons do Espírito e experiências extáticas, almejam bênçãos intra-terrenas. O pentecostalismo ainda continua crescendo entre as camadas desfavorecidas: “as dificuldades materiais (...) agem como forças propulsoras do crescimento pentecostal.” (CAMPOS, 2008, p. 35). Porém, a adesão dessa nova pobreza urbana ao pentecostalismo possui, atualmente, um caráter mais pragmático e imediatista, buscando-se a graça material e emocional aqui e agora.

Fonte: Tese de Mestrado em Ciência da Religião, apresentado por Daniel Rocha na Puc Minas, sob o título: "Venha a nós o vosso reino: rupturas e permanências na relação entre escatologia e política no pentecostalismo brasileiro". Ela pode ser acessada na íntegra pelo endereço: http://www.pucminas.br/imagedb/documento/DOC_DSC_NOME_ARQUI20100503191040

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Subsídio para EBD - A morte para o verdadeiro cristão


No mês de março deste ano, houve três funerais na igreja em que sou pastor. Duas anciãs, uma com 82 anos, outra com 103 anos e uma jovem de 21 anos. Não foi fácil, principalmente a última, dado a minha relação de amizade com a família. Um livro que eu recomendo a quem atua na área de aconselhamento é "Aconselhamento Cristão", de Gary R. Collins. Mas agora vamos a lição:
Há um provérbio popular que diz: “só existem duas certezas na vida, a morte e os impostos”. Essa é uma verdade, mas nem todos sabem lidar com elas, principalmente com a morte, tema da lição de hoje. Por isso, nesta aula, mostraremos o que a Bíblia diz a respeito da morte, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Ao final, destacaremos como o cristão verdadeiro se coloca diante da morte.

1. A MORTE NO ANTIGO TESTAMENTO

No Antigo Testamento, a palavra sheol é o termo mais usado - 65 vezes - para se referir à morte. Mas nem sempre ela é traduzida dessa forma, há contextos em que a melhor versão é “inferno” ou “sepultura”. Apenas algumas passagens do Antigo Testamento se referem à consciência da vida depois da morte, bem como à possibilidade de ressurreição. Essa incerteza pode ser expressa na pergunta de Jó: morrendo o homem, tornará ele a viver? (Jó. 14.14). Ainda que, esse mesmo patriarca, demonstre, em outro momento, sua esperança em relação à ressurreição (Jó. 19.25). Em geral, os judeus tinham a convicção de que, após a morte, seriam reunidos aos seus antepassados (Gn. 15.15). O autor do Salmo 73, versículos 23 a 25, expressa seu desejo de estar eternamente na presença de Deus. No Salmo 49, no versículo 15, o escritor sacro demonstra sua fé na ressurreição: “Mas Deus remirá a minha alma do poder do Sheol, pois me receberá”. A revelação mais explícita da imortalidade, e especificamente da ressurreição, se encontra em Dn. 12.2: “E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno”. O fato da doutrina da imortalidade e da consciência após a morte não ser facilmente identificada no Antigo Testamento não quer dizer que essa não seja uma realidade. Tal revelação não fora dada plenamente aos judeus, assim como a da trindade, apenas no Novo Testamento essas doutrinas são descortinadas através de Jesus Cristo (2 Tm. 1.10).

2. A MORTE NO NOVO TESTAMENTO

No Novo Testamento, a palavra grega para morte é hades, equivalente da palavra hebraica sheol. Jesus revelou que o hades tinha dois compartimentos, um destinado ao crente e outro ao descrente (Lc. 16.23-26). Naquele lugar as pessoas estão conscientes (Lc. 16.24), e uma vez ali, seu futuro está determinado (Lc. 16.26, 28), não havendo possibilidade para remissão de pecados por intercessão ou reencarnação (Hb. 9.27). Jesus revela que as pessoas somente podem ter acesso à vida eterna através de Moisés e dos profetas, isto é, da mensagem bíblica (Lc. 16.31). Diante de tal mensagem, o cristão não se atemoriza diante da morte, pois, tal como Paulo, sabe que ao se ausentar deste corpo, estará na presença do Senhor (2 Co. 5.8). Nada há para temer, nem mesmo aqueles que matam o corpo, pois nada podem fazer contra a alma (Mt. 10.28). Cristo é aquele que derrotou a morte, libertando os seus servos do temor da morte (Hb. 2.14,15). Por esse motivo, morrer, na cosmovisão neotestamentária, é estar com Cristo (Jo. 13.36), ir ao paraíso (Lc. 23.43). Sendo assim, não há o que temer, pois estar com Cristo é consideravelmente melhor (Fp. 1.23). Na verdade, felizes são aqueles que morrem no Senhor, pois descansarão das suas fadigas (Ap. 14.13). O culto ao corpo, e o pavor diante da morte é resultado de uma sociedade moderna, vítima da obsessão pela beleza e longevidade. O cristão, diferentemente dos demais, é consciente que quando essa habitação temporária for desfeita, ele tem, da parte de Deus, uma habitação eterna (Jo. 14.2,3; 2 Co. 5.1).

3. O VERDADEIRO CRISTÃO DIANTE DA MORTE

Paulo passou pela experiência de estar diante da morte, e tinha consciência dessa realidade (2 Tm. 4.6). Mas não perdeu a esperança, tendo em vista que, assim como o autor da Epístola aos Hebreus, estava ancorado nas promessas de Jesus (Hb. 6.19,20). O pensamento moderno fica apreensivo diante da morte, para alguns filósofos, o ser humano foi criado para a morte, para outros, ela não passa de um absurdo, algo sem significado. Mas o verdadeiro cristão não se apavora diante da morte, pois ele sabe que essa foi vencida através de Cristo no calvário (1 Co. 15.55). Ele não vive como os demais que não têm esperança, antes aguarda a volta de Jesus para arrebatar a sua igreja (1 Ts. 4.13-17). Naquela ocasião, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro com um corpo incorruptível (1 Co. 15.42-44). Quando isso acontecer, como Jesus dará aos seus um corpo espiritual (Lc. 24.39), semelhantes ao dEle (1 Jo. 3.2). Isso acontecerá porque carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus (1 Co. 15.50). A Jerusalém Celestial espera os crentes, um dia essa ordem criada terá um fim (2 Pe. 3.7-13), então, descerá dos céus a cidade do Rei Jesus (Ap. 21). Naquela cidade não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, nem templo, nem sol e luz (Ap. 21.4,5,22,23; 22.5). O verdadeiro cristão não teme a morte, pois é um passageiro na terra, sua cidadania é do céu (Fp. 3.20). Ele está com Cristo, que e a Ressurreição e a Vida, por isso, não morrerá (Jo. 11.25,26).

CONCLUSÃO

O homem moderno se angustia diante da morte, mas não o verdadeiro cristão, pois a Palavra revela que essa é preciosa aos olhos do Senhor (Sl. 116.15), por isso, aqueles que morrem no Senhor são considerados bem-aventurados (Ap. 14.13). Todos os que têm essa segurança sabem que nada os separará do amor de Deus, nem mesmo a morte (Rm. 8.35-39). A mensagem do evangelho é de esperança e conforto, pois Cristo morreu e ressuscitou, essa verdade é motivo de consolação para o cristão diante da morte (1 Ts. 4.17; 5.11).

BIBLIOGRAFIA

LUTZER, E. Um minuto depois da morte. Rio de Janeiro: Thomas Nelson, 2011.

TADA, J. E. Céu: nosso verdadeiro lar. São Paulo: Shedd Publicações, 2006.