terça-feira, 13 de agosto de 2013

Subsídio para EBD - A Atualidade dos Conselhos Paulinos


A seção da Epístola aos Filipenses 3.1-10 está repleta de conselhos. Paulo apresenta algumas considerações práticas aos crentes filipenses. Essas orientações são bastante pertinentes e atuais para a igreja da atualidade. Depois de admoestar os irmãos a que sejam alegres no Senhor (Fp. 3.1), faz algumas advertências em relação aos falsos mestres, e por último, caracteriza o genuíno evangelho de Jesus Cristo.
 
EM RELAÇÃO AOS FALSOS MESTRES
A igreja de Jesus Cristo sempre foi atacada por falsos ensinamentos, entre os filipenses os falsos mestres tentaram disseminar suas heresias entre os cristãos. Por isso Paulo os admoesta, por três vezes, a que esses tivessem cuidado. O verbo grego, no imperativo, é blepete, isto é,“acautelai-vos”, que tem o significado de manter os olhos abertos para que os falsos lobos não adentrem ao rebanho (AT. 20.29,30). Esses falsos mestres precisavam ser identificados, por isso Paulo os descreve como cães, falsos obreiros e falsa circuncisão. Trata-se de um grupo já conhecido entre os crentes da Galácia, que queriam incluir um falso evangelho no interior do verdadeiro evangelho (Gl. 1.1-9). A característica marcante desse outro evangelho era a defesa da circuncisão, isto é, da observância aos rituais judaicos como meio de justificação (At. 15.1). Esses judaizantes atacavam frontalmente a doutrina da salvação, contrariando a graça de Deus em Jesus Cristo. A preocupação do Apóstolo é denunciar esse ensinamento distanciado da verdade (II Co. 11.13). Esses maus obreiros seguiam Paulo em suas viagens missionárias, despregando aquilo que o Apóstolo havia pregado (I Co. 11.13). O perigo desse outro evangelho é a desconsideração da doutrina da salvação pela graça, por meio da fé, proveniente de Deus, não das obras humanas (Ef. 2.8,9). O ser humano, em sua religiosidade, sempre quis obter a salvação pelos seus méritos pessoais. A igreja evangélica não está imune a esse tipo de ensinamento, há quem pense que é salvo simplesmente pelas exterioridades formalistas que observam. As pessoas que entram por esse caminho transformam o que é principal em secundário, acabam supervalorizando os detalhes ao invés do que é mais valioso. Jesus repreendeu veementemente os fariseus do seu tempo por filtrarem um mosquito e engolirem um elefante, chamando-os de sepulcros caiados (Mt. 23.27-28.). A circuncisão pregada por esses religiosos não passava de mutilação, pois não tinha qualquer valor espiritual, diferentemente da circuncisão de Abraão (Gn. 17.9,10; Rm. 4.11-13).
 
EM RELAÇÃO À IGREJA DO SENHOR
A igreja do Senhor não pode ser confundida com uma mera religiosidade, ela apresenta características distintas do movimento dos judaizantes. A verdadeira igreja de Cristo passou por uma circuncisão espiritual, efetuada no coração, não por homens, mas pelo Espírito Santo (Fp. 3.3). A adoração a Deus não resultante de uma imposição humana, não é por força, muito menos por violência, mas uma disposição espiritual, não está fundamentada na carne. Fomos chamados para adorar, na verdade, Deus busca adoradores, mas que o façam em espírito e em verdade (Jo. 4.24). A adoração não pode ser realizada de qualquer modo, a religião humana, na busca por Deus, resulta na idolatria (Rm. 1.25-27). A adoração, revelada por Deus, está alicerçada na Verdade, que é Cristo, a Palavra (Jo. 1.1,18) , e no Espírito, que nos liga a Deus, reconhecendo-O como Pai (Rm. 8.15). Por isso, a fé do crente está depositada em Cristo, em Seu sacrifício na cruz do calvário, não na religião humana, que não passa de carnalidade. Ele é o nosso Alvo, Aquele no Qual nos gloriamos (I Co. 1.31; II Co. 10.17). Os falsos mestres, e os religiosos em geral, confiam naquilo que fazem, em seus méritos, na capacidade que acreditam ter em satisfazer a Deus. A igreja, diferentemente da religiosidade humana, sabe que a salvação veio de Deus, e que em nenhum outro nome há salvação, senão no de Cristo Jesus (Jo. 14.6; At. 4.12). Paulo esclarece que se a religião valesse alguma coisa ele mesmo teria motivos para se orgulhar. Com judeu ele tinha alguns privilégios, mas os abandonou por causa de Jesus Cristo. Ele era circuncidado ao oitavo dia, portanto nasceu judeu, sendo criado na tradição judaica (Fp. 3.4). Paulo fazia parte do povo eleito, o povo considerado privilegiado, mas não sustentava a sua fé nesse predicado. Mesmo sendo da tribo de Benjamim, sendo essa uma das mais importantes de Judá, não via nisso qualquer glória (Fp. 3.5). Como se isso não fosse o bastante, era hebreu de hebreus, ou seja, por nascimento, e que falava hebraico (At. 21.40). Em sua religiosidade fazia parte dos fariseus, a mais zelosa tradição judaica (Gl. 1.14), por isso tinha na mais alta consideração a Lei do Senhor (At. 23.6; 26.5). Por causa disso, tornou-se perseguidor da igreja, sua religião, como geralmente costuma acontecer, fez com que ele perseguisse os cristãos (At. 9.1,2; 22.1-5; 26.9-15; I Co. 15.9; Gl. 1.13). Aos olhos humanos Paulo era um homem de considerável reputação, considerado irrepreensível no tocante à guarda dos princípios legais. Mas faltava-lhe um em encontro com Cristo que o transformou de perseguidor em perseguido, que o fez considerar as pessoas não a partir de formalidades exteriores.
 
EM RELAÇÃO AO EVANGELHO DE CRISTO
O evangelho de Jesus Cristo não é uma mera circuncisão física, não se trata de uma formalidade. Como israelita influente é bem provável que Paulo tivesse privilégios no contexto religioso no qual estava inserido. Mas a tudo perdeu por amor a Cristo, no mínimo deixou de gloriar-se daquilo que fazia, passou a confiar no que Jesus fez. O evangelho é mais importante do que exterioridade religiosas. Por isso, ninguém deve achar que é salvo por que faz ou deixa de fazer algo. Não podemos incorrer no equívoco de pensar que nossa salvação depende de vestimenta, postura física, ou coisa parecida. Isso na verdade pode revelar ausência de uma espiritualidade genuína, carnalidade da qual os religiosos se gloriam (Cl. 2.21). O evangelho é mais que um conjunto de doutrinas, trata-se de um encontro real com uma pessoa, o próprio Jesus Cristo (Fp. 3.8). Muitas igrejas atuais estão sofrendo porque as pessoas estão alicerçadas nas atividades religiosas. Poucas pessoas têm um compromisso real com o Senhor, entregaram de fato suas vidas a Cristo. Esse encontro com o Jesus é algo marcante na vida de uma pessoa, e a modifica existencialmente. Isso porque seu fundamento é o amor, não as obrigações que são impostas por um grupo de religiosos. Isso fez com que Paulo considerasse tudo como refugo, skubala em grego, que pode ser traduzido como “excremento, esterco”. Aquilo que os judaizantes achavam que valia muito, Paulo considerava coisa de menor importância. Não podemos esquecer que as nossas obras, diante de Deus, não passam de trapos de imundície (Is. 64.6). A justificação, ansiosamente buscada pela religiosidade humana, somente pode ser obtida através de Cristo (Fp. 3.9). A obra de Cristo, não as nossas obras, nos conduzem ao céu, o sacrifício que Ele realizou na cruz (Jo. 7.1-4; 19.30; Hb. 10.11-14).
 
CONCLUSÃO
O evangelho de Cristo não pode ser confundido com a religiosidade humana. Isso porque ser cristão é um conhecimento, não apenas intelectual, mas um kinoskein em grego, ou yadá em hebraico. Isto é, uma entrega incondicional pela fé ao senhorio de Jesus, uma disposição para viver e morrer por Ele. Nesse contexto, sofrer por Cristo torna-se um privilégio, também uma identificação com Sua vida, morte e ressurreição, que nos antecipa a glória futura que em nós haverá de ser revelada (Rm. 8.18; Fp. 3.10).
 
BIBLIOGRAFIA
LOPES, H. D. Filipenses. São Paulo: Hagnos, 2007.
WIERSBE, W. W. Philippians: be joyfull. Colorado: David Cook, 2008.
 
 

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Aprendendo a chamar Deus de Pai em meio às decepções da vida

Ontem, enquanto estudava a Bíblia a fim de preparar uma pregação à noite na igreja para o dias dos pais, comecei a pensar: Que diferença Jesus faz para nossos sentimentos de decepção? Como nos ajuda o saber que ele também experimentou frustração e decepção?
Os teólogos, acompanhando o apóstolo Paulo, geralmente explicam a contribuição de Cristo em linguagem jurídica: justificação, reconciliação, propiciação. Mas essas palavras caracterizam somente uma pequena parte do que aconteceu. Para compreender que diferença Jesus faz para o problema da decepção, temos de ir além dessas palavras e examinar a história subjacente de Deus sair ardentemente em busca de seres humanos.

Reexamine as duas principais imagens nos Profetas: um pai ansioso lamentando pelo filho que fugiu, e um amante abandonado ardendo de raiva. As histórias de Jesus propiciam um final feliz para ambas. O pai à espera tem aguardado por muito tempo; ele recebe de volta, com braços abertos, o filho fugitivo. O amante ferido, recuperado de sua ira, escancara a porta da frente.

A Cortina Rasgada
Que diferença Jesus fez? Tanto para Deus como para nós, ele tornou possível uma intimidade que nunca antes havia existido. No Antigo Testamento, os israelitas que tocaram a arca sagrada da aliança caíram mortos; mas pessoas que tocaram em Jesus, o Filho de Deus em carne e osso, saíram curadas. A judeus que não pronunciavam nem mesmo soletravam as letras do nome de Deus, Jesus ensinou uma nova maneira de dirigir-se a Deus: Abba, ou "papai". Em Jesus Deus se aproximou do homem.

As Confissões de Agostinho descrevem como essa proximidade o afetou. Na filosofia grega ele havia aprendido acerca de um Deus perfeito, atemporal, incorruptível. Ele jamais conseguiu aquilatar como uma pessoa cheia de cobiça, obcecada por sexo, indisciplinada, tal como era o seu caso, podia se relacionar com um Deus assim. Tentou várias heresias da época e achou todas elas insatisfatórias, até que finalmente encontrou o Jesus dos evangelhos, uma ponte entre seres humanos comuns e um Deus perfeito.

O livro de Hebreus examina em detalhes esse surpreendente novo avanço na questão da intimidade. Primeiramente o autor trata detalhadamente do que era necessário apenas para chegar até Deus na época do Antigo Testamento. Só uma vez por ano, no Dia da Expiação — o Yom Kippur — uma única pessoa, o sumo sacerdote, podia entrar no Lugar Santíssimo. A cerimônia envolvia banhos rituais, vestes especiais e cinco sacrifícios de animais; e ainda assim o sacerdote entrava no Lugar Santíssimo temeroso. Ele usava sinos em seu manto e uma corda em volta do tornozelo, de modo que, caso morresse, e os sinos parassem de tocar, outros sacerdotes poderiam puxar seu corpo para fora. 

Hebreus apresenta um contraste marcante: agora podemos nos aproximar do "trono da graça'' sem receio, com intrepidez, "confiadamente". Avançar com intrepidez até o Lugar Santíssimo — nenhuma imagem podia ser mais chocante para os leitores judeus. Contudo, no momento da morte de Jesus, uma grossa cortina dentro do templo literalmente se rasgou em duas, de alto a baixo, deixando aberto o Lugar Santíssimo. Portanto, conclui Hebreus, devemos nos aproximar de Deus.

Jesus contribui com isto para o problema da decepção com Deus: por causa dele, podemos ir diretamente a Deus. Não necessitamos mediador humano, pois o próprio Deus se tornou mediador.

Um Rosto
Ninguém no Antigo Testamento podia dizer que conhecia o rosto de Deus. Na verdade, ninguém podia sobreviver a um olhar direto. Os poucos que tiveram um vislumbre da glória de Deus retornaram brilhando, e todos os que os viam escondiam-se de medo. Mas Jesus ofereceu uma longa e demorada olhada no rosto de Deus. "Quem me vê a mim, vê o Pai", disse Jesus. Tudo o que Jesus é, Deus é. Como Michael Ramsey se expressou, "Em Deus absolutamente nada é diferente de Cristo."

As pessoas crescem tendo toda espécie de idéias de como Deus é. Vêem Deus como um inimigo, ou um policial, ou até como um pai que maltrata. Ou talvez não façam concepção alguma de Deus; apenas ouvem seu silêncio. Devido a Jesus, entretanto, já não precisamos tentar imaginar como Deus se sente ou como ele é. Quando em dúvida, podemos olhar para Jesus para corrigir nossa visão obscurecida.

Se eu tento imaginar como Deus encara pessoas deformadas ou deficientes, posso observar Jesus entre aleijados, cegos e leprosos. Se eu tento imaginar em relação aos pobres e se Deus predestinou-os a viverem na miséria, posso ler as palavras de Jesus no Sermão do Monte. E, se eu tentar imaginar em relação à reação "espiritual" apropriada diante da dor e do sofrimento, posso observar como Jesus reagiu aos que ele próprio experimentou: com temor e tremor, com gritos e lágrimas.

Ainda Não
Não pude deixar de observar uma abrupta mudança de atitude na Bíblia, na altura do livro de Atos. Se você pesquisar o restante do Novo Testamento, nada encontrará da indignação de Jó nem do desespero de Eclesiastes, nem da angústia de Lamentações. Os escritores do Novo Testamento estavam claramente convencidos de que Jesus havia transformado o universo para sempre. Em fragmentos de frases, espalhados pela página, o apóstolo Paulo não poupou superlativos: "Nele tudo subsiste... por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as cousas, quer sobre a terra, quer nos céus... fazendo-o sentar... acima de todo principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não só no presente século, mas também no vindouro."

Entretanto, enquanto Paulo escrevia essas exatas palavras, o império romano estava-se alastrando com sua incansável sucessão de guerras e tiranos; as pessoas de todos os lugares ainda estavam mentindo, roubando e matando umas às outras; as enfermidades continuavam a se espalhar; e os próprios cristãos estavam sendo lacerados com açoites e atirados à prisão. Tais motivos corriqueiros para a dúvida e a decepção não pareciam perturbar Paulo ou os escritores do Novo Testamento. Os apóstolos estavam confiantes de que Jesus voltaria tal qual prometera, com poder e glória. Era só uma questão de tempo.

Referências bíblicas: Hebreus 4, 10; João 14; Colossenses 1; Efésios 1.
 
Observação: Essa mensagem é uma continuação de outras duas postagens que fiz aqui no blog alguns meses atrás, que você pode conferir abaixo:
 
*As tragédias humanas e os profetas:
*As tragédias humanas e os profetas - parte 02: