Juber Donizete Gonçalves é casado, ministro do Evangelho. Possui formação em Teologia e Geografia, com Pós-Graduação em Psicopedagogia. Palestrante nas áreas de Missões, Apologia e Escatologia. Atualmente, é Diretor do IBADETRIM - Instituto Bíblico das Assembléias de Deus do Triângulo Mineiro em Uberlândia. É editor do blog "Cristianismo Radical".
Entrevista - Perguntas1- A denominação histórica Assembléia de Deus está prestes a completar 100 anos. Sabemos o quão é importante a AD na história da pregação evangélica no Brasil. Falando em termos gerais, Como você analisa o atual quadro desta importante denominação? Há muito o que festejar ou existe questões preocupantes no tocante à ética?
RESPOSTA:Sou membro da Assembléia de Deus desde 1981, e sirvo como pastor . Nesses quase trinta anos, já vi muita coisa mudar, seja para melhor ou pior. Para melhor, vejo hoje, uma flexibilização maior nos chamados usos e costumes, atenuando a questão do legalismo. Outro ponto positivo, foi a abertura para os meios de comunicação como a televisão e apoio para o ensino teológico. Se fosse para dar um olhar saudosista, eu tenho saudades quando havia menos profissionalização na igreja e mais simplicidade, aplicação na oração. Atualmente vejo com preocupação, algumas coisas como:a) Disputas político eclesiásticas vergonhosas, semelhante ao que há de pior na política partidária. b) Pouca ênfase na pregação expositiva e mais nas de estilo “avivalistas”, que hoje nada mais são do uma mistura de: performace teatral, com chavões repetitivos, palavras de efeito, neurolinguística, recheadas com teologia da prosperidade.c) Uma denominação que está cada vez mais fragmentada, pois além das duas maiores convenções, demonstra na própria celebração do centenário, mais divisão do que união, pois no ano que vem, haverá duas festas distintas, uma no Belenzinho (SP) e outra em Belém (PA).
2- Na sua opinião, pastor deve se candidatar a cargo político ou se dedicar unicamente a sua vocação pastoral?
RESPOSTA:Não deveria, se ele tem mesmo vocação pastoral. O ideal seria que o candidato fosse um membro da igreja, com vocação política e não alguém com liderança pastoral. E ele deveria também ter um projeto político que englobasse não somente a igreja mas também a comunidade onde vive. Caso contrário ele se torna apenas um despachante de igreja ou dos seus líderes.
3- Você concorda que nos últimos 20 anos, ouve um grande esvaziamento ético no tocante a pregação da Palavra devido às práticas dos neopentecostais? Como você analisa a grande expansão da teologia da prosperidade no meio evangélico?
RESPOSTA:Sim concordo. No livro “A Sedução do Cristianismo” de Dave Hunt, ele já denunciava isso em 1985. O livro foi editado em português dez anos depois, juntamente com outros que denunciavam a teologia da prosperidade no início dos anos 90, como: Cristianismo em Crise, Super Crentes, A crise de Ser e de Ter, Evangélicos em Crise, entre outros. Mas não adiantou a teologia importada dos “States”, se casou com as igrejas neopentecostais brasileiras e se tornou amante de muitas outras denominações, sejam elas pentecostais ou até mesmos reformadas. Digo amante, porque não é oficial nestas igrejas, mas está presente.
4- Nos anos 90, num contexto de guerra entre Globo e Record, tendo como pano de fundo, os escândalos éticos da IURD, o pr. Silas Malafaia defendeu com unhas e dentes esta denominação neopentecostal e não assinou o manifesto pela Igreja Ética da AEVB, então presidida pelo pr. Caio Fábio. Hoje, o pr. Silas difunde a teologia da prosperidade, usando pastores norte-americanos. Por outro lado, ele se apresenta como defensor da moralidade evangélica, contra o aborto e militância gay. Como você enxerga esta ambiguidade do pr. Silas? Teologicamente, ele deve rever seus conceitos, vide seus últimos polêmicos programas de tv?
RESPOSTA:Ele tem um estilo polêmico que não vem de hoje. Quanto a ambigüidade dele, você mesmo a descreveu acima, e acredito que suas atitudes ora de um jeito, ora de outra, já falam por si. Apesar de já ter criticado algumas posições tomadas pelo Pr. Malafaia, no meu blog, não sou anti-Silas. Tem pregações dele que eu até gosto. Reconheço também, que ele é um importante líder mediático evangélico, que tem alcançado muita gente, havendo inclusive pessoas não crentes que gostam de suas pregações. As minhas reservas com relação ao Pr. Silas Malafaia, estão mais no sentido da forma como muitas vezes, ele usa mal, a meu ver, o seu tempo televisivo, fazendo mais propaganda comercial do que pregação. Agora, as campanhas com Cerullo e Murdock, foram simplesmente desastrosas, pois são teologia da prosperidade na sua essência. Espero que ele reveja sim, seus conceitos teológicos e pregue apenas o Evangelho de Cristo.
5- A reboque da última pergunta, como você viu sua saída da CGADB?
RESPOSTA:Ele foi eleito 1° Vice-Presidente com uma boa votação, mas se não concordava com as diretrizes do Presidente e nem tinha espaço nas decisões, tomou a decisão pessoal de renunciar a vice-presidência e se desfiliar da organização. Acredito que é um direito dele, assim como o de qualquer cidadão, num Estado de Direito, de se filiar ou desfiliar de uma instituição.
6- Você concorda que o Pr. Ricardo Gondim e o Pr. Ed Rene Kivitz são hereges e um perigo para a sã doutrina, como afirmam os fundamentalistas ortodoxos?
RESPOSTA:Não os vejo como hereges. De seis anos para cá, eles tem manifestado, suas dúvidas pessoais, seus questionamentos e a interpretação teológica que estão alinhados. Nós temos que saber separar as coisas. Tenho respeito por eles como líderes evangélicos, pois não vemos o nome deles envolvidos em escândalos morais ou financeiros. Vejo muita falta de amor cristão em certos julgamentos, sem misericórdia. Apesar de não concordar com o posicionamento deles com relação a teologia aberta, soberania de Deus, posto em meu blog, de vez em quando algum texto deles. Entre os discípulos de Jesus, ora ou outra, tem gente, em seu desejo de purificação doutrinária, querendo proibir a quem eles elegeram como hereges de pregar, expulsar demônios, e ainda desejando que fogo do céu caia sobre eles. Para quem pensa assim, Jesus diz: “Deixa, porque quem não é contra nós, é por nós”.
7- Depois de quase 30 anos de ministério em que praticamente era uma unanimidade, o pr. Caio Fábio viveu seu dilúvio ministerial, conforme suas palavras, no ano 1998. Dois anos depois, voltou e passou novamente a ser uma figura influente para igreja evangélica, em virtude de suas denúncias ao atual quadro eclesiástico brasileiro. Polêmico, muitos ainda o acusam pelos seus pecados do passado. Como você vê o ministério do Pr. Caio Fábio? Na sua opinião, o "Caminho da Graça" é uma seita, como afirmam seus detratores?
RESPOSTA:Acompanho seu ministério desde os tempos dos programas Para & Pense, na extinta TV Manchete. Possuo vários livros dele. Caio Fábio foi um dos maiores líderes evangélicos e pregador nos anos 90. Como pregador e escritor vinha se destacando desde a década de 80. Depois do seu divórcio e do Dossiê Cayman, retornou a pregação mas agora em novo estilo. Apesar de ter se desligado da IPB como pastor, mantêm laços institucionais com a mesma, sendo membro da Catedral Presbiteriana do Rio, onde prega regularmente. Fundou inicialmente o Café com Graça no Rio de Janeiro, em 2001, e o Caminho da Graça em Brasília, em 2004, que conta atualmente com filiais ou Estações em vários Estados e até fora do Brasil. O Caminho da Graça é chamado por alguns críticos como Igreja Emergente, mas eu os vejo como mais uma denominação evangélica, apesar deles não gostarem do termo. O próprio Caio apesar de declarar que não faz mais parte do movimento evangélico, disse em um vídeo do Encontro Nacional do Caminho, de 2007, disponível no youtube, ao chamar seus liderados a responsabilidade, a seguinte frase: “Qual o líder denominacional que dá a liberdade de trabalho que eu estou dando para vocês?” Ao dizer isto, ele mesmo se colocou como um líder denominacional, apesar de usar a nomenclatura de mentor. Não há revolução ali. Eles cantam corinhos evangélicos, celebram a ceia, realizam batismo (muitas vezes por aspersão como a IPB), recolhem contribuição financeira. A estrutura da reunião é a de um culto denominacional. Agora se lá o clima ao congregar é leve, sem muitas cobranças financeira, de ativismo religioso ou em usos e costumes; isso não é novidade, podendo também ser encontrado em outros lugares. Mas, apesar de gostar dos livros e pregação do Caio Fábio, vejo que ele tem se envolvido em várias polêmicas, a meu ver desnecessárias, como os vídeos no youtube “Conta Tudo”, ou mais recentemente quando criticou a reportagem da Revista Época.
8- Depois de quase uma década de conflito, os EUA deixaram o Iraque, ainda fragmentado e com muitos conflitos religiosos e etnicos, onde o terrorismo encontra cada vez mais espaço. Sabemos, que nunca foi encontrado um arsenal de armas químicas, além do que, o que se encontrou foi um exército iraquiano decadente e desmotivado. Diante do exposto, na sua opinião a Guerra do Iraque foi realmente necessária? Foi ético a Igreja Evangélica Americana apoiar tal conflito que custou muitas vidas inocentes? Esta igreja não cai numa hipocrisia ao lutar contra legalização do aborto enquanto que defende tal política beligerante?
RESPOSTA:Foi uma guerra desnecessária, que causou a morte de muitas vidas, civis e militares e um prejuízo financeiro terrível, seja para os EUA ou para o Iraque. No máximo o que deveria ter sido feito ali, era a chamada “operação cirúrgica” e um trabalho de inteligência. O embargo imposto nos anos 90, já era bem desumano para as pessoas lá viviam. É um discurso contraditório esse dos conservadores norte-americanos, se dizem defensores da vida, na questão do aborto, mas aprovaram o início da guerra, onde muita gente perdeu a vida.
9 - Sabemos que o projeto de casamento civil de pessoas do mesmo sexo, não é a instituição de um mandamento, mas uma concessão para que em caso de falecimento do companheiro, a pessoa tenha direitos para garantir sua subsistência. Na sua opinião, estas pessoas tem este direito, tratado pelo projeto? Ou a igreja deve fazer uma firme oposição a isso?
RESPOSTA:Legalmente, as uniões homoafetivas, já são reconhecidas pelo INSS, Receita Federal, Convênios Médicos, decisões de Tribunais Regionais e Superiores. Só falta o Congresso Nacional chancelar. E isso vai acontecer, não sei se com votação apertada ou não, mas vai, porque o Brasil, está indo no mesmo caminho tomado pela Argentina, Portugual, Espanha, e outros países nesse sentido. E aí, o que a igreja vai fazer? Ora, pregar a Palavra. É hora de parar de tapar os olhos para a realidade e reconhecer que há homossexuais nas igrejas e que outros mais virão. Eles devem ser tratados com respeito e amor cristão. Não sou a favor da celebração de casamentos homoafetivos nas igrejas, e acredito que assim como o apóstolo Paulo não separava um bígamo para o ministério, alguém que viva com pessoa do mesmo sexo, não deva ser líder na igreja. Mas existem cristãos que reconhecem que não gostam de pessoas do sexo oposto e sim o contrário, mas se fazem celibatários por amor ao Reino de Deus, como disse Jesus, em relação aos eunucos (não que os casos sejam iguais, mas apenas estabelecendo um paralelo).
10 - Como você vê a questão ambiental, tão propalada atualmente? Como a Igreja de Cristo deve se posicionar?
RESPOSTA:Uma questão muito importante, se queremos viver de forma sustentável. A Igreja deve ajudar na conscientização das pessoas quanto a preservação do Meio Ambiente, lembrando que o homem foi posto na Terra para guardá-la e não depredá-la.
Agradeço de coração ao irmão Marcos Wandré, do blog www.reflexoesdeumsobrevivente.blogspot.com, pela oportunidade de mais uma entrevista. Desde que criei este blog em 31/03/2008, já concedi algumas entrevistas a outros blogueiros. Esse teve algumas perguntas difíceis, mas está aí, minha sincera opinião sobre os temas.
Caro Pr Juber Donizete.
ResponderExcluirGostei de suas respostas, elas mostram o perfil de uma pessoa com visão cristã, diferente da visão curta dos denominacionalistas radicais.
É triste encontrar líderes que começam bem e depois se perdem na política eclesiástica. Tive o desprazer de conhecer cristãos, vê-los nos primeiros passos da conversão, no fervor do primeiro amor, que entraram no ministério pastoral e depois trocaram Cristo por interesses da denominação que chamamos de igreja.
Parabéns por suas palavras!
Abraço.
E.A.G.
http://belverede.blogspot.com/
Eliseu,
ResponderExcluirObrigado pela participação amável. Vejo com preopação, muitos posicionamentos extremistas na internet, e sei que minhas respostas não agradaram a todos. E nem quero, pois o que respondi foi de acordo com o que creio e de acordo com minha consciência.
Abração.
Mano, nessa sua enteevista você só errou no neste ponto: "O Caminho da Graça é chamado por alguns críticos como Igreja Emergente, mas eu os vejo como mais uma denominação evangélica, apesar deles não gostarem do termo. O próprio Caio apesar de declarar que não faz mais parte do movimento evangélico, disse em um vídeo do Encontro Nacional do Caminho, de 2007, disponível no youtube, ao chamar seus liderados a responsabilidade, a seguinte frase: “Qual o líder denominacional que dá a liberdade de trabalho que eu estou dando para vocês?” Ao dizer isto, ele mesmo se colocou como um líder denominacional, apesar de usar a nomenclatura de mentor. Não há revolução ali. Eles cantam corinhos evangélicos, celebram a ceia, realizam batismo (muitas vezes por aspersão como a IPB), recolhem contribuição financeira. A estrutura da reunião é a de um culto denominacional."
ResponderExcluirVou descrever ponto por ponto para que você entenda:
1-Não é uma denominação evangélica- E porque? Porque simplesmente não tem uma estrutura religiosa que caracteriza as denominações, por exemplo: Não há CNPJ; não há liturgia pré-estabelecida; não há carterinha de membros; não há pagamento de dízimos; não há pagamento de "roaytts" para a "nave mãe" em Brasília nem para a Estação Manaus (no meu caso, se fosse uma denominação, pois as cidades dos interiores sempre mandam seus dinheiros recolhidos para as capitais); não há dogmas, usos, costumes; não há pressão por crescimento numérico; não há lideranças maiores ou menores; não há declaração de fé; não há determinação de obediência cega ao Caio; não há dependência de templo para termos certeza que somos Igreja; não há mediadores humanos e etc. etc. etc.
"Não há revolução ali. Eles cantam corinhos evangélicos, celebram a ceia, realizam batismo (muitas vezes por aspersão como a IPB), recolhem contribuição financeira."
ResponderExcluirHá Revolução sim. Pois a pregação simples do Evangelho sempre causa uma Revolução interior. Tirar os fardos pesados da religião tambem é uma grande revolução. E aonde isto ocorrer, seja no Movimento ou fora dele, há Revolução de Consciência sim. Muitos outros grupos estão neste caminho e louvo a Deus por eles mano. E sei que dentro de muitas comunidade locais denominacionais também existem isso, e glorifico a Deus por isso também.
Quanto as músicas, há de tudo. Há músicas evangélicas que as letras são lindas e por isso são cantadas, há músicas compostos por membros e são cantadas também. Há Roberto Carlos, Jhonn Lennon, Pimentas do Reino, Fábio Júnior, enfim, são tantos os "cantores do mundo" que passaram já pelos nossos "cultos" que já me esqueci. Será que há liberdade nas denominações como está mano? Musicas lindas, que pela Graça de Deus foram dadas aos seus autores, que falam de amor, mas que a religião teima em taxar "músicas do mundo".
Celebrar a Ceia foi instituída por Ele, não pelas denominações, assim como o batismo também. Isso não é exclusividade das denominações, mas sim da Igreja de Cristo.
No caso das contribuições, na estação de Brasília sim, se pede, mas isso não é regra para as outras. Eu nunca pedi oferta de ninguém e nem fui obrigado pelo Caio à pedir e espero seguir assim até o fim da minha existência. Brasília pedi para pagar o aluguel do auditório, para a judar a Vem e Vê tv, as missões na Áfria e etc. Como aqui é feito em minha casa, não há necessidade para tal ato. Peço se algum irmão precisar. Levo-o a frente dos Igreja e falo da necessidade de ajudar o irmão. Simples assim.
Ednelson,
ResponderExcluirAcredite mano, o Caminho da Graça não é o primeiro movimento que começou dessa forma. Aos poucos a institucionalização é inevitável. Algumas denominações começaram como um movimento, como a própria AD, porém é claro, que num contexto social e cultural diferente, mas iniciou assim. O Caminho em Brasília, já está indo divagar nessa direção, pelo que você mesmo disse. Conheço denominações que também não mandam dinheiro para a matriz, ou destinam uma pequena quantia, pois cada igreja é autônoma. O batismo é rito da igreja, realmente, mas não se pode negar que o Caio que foi presbiteriano (ou ainda é, porque diz que continua membro da Catedral Presbiteriano do Rio) por muitos anos, não levou influências de lá, como o batismo por aspersão. Quanto a cantar músicas de Roberto Carlos na igreja, isso não é novidade para mim, porque eu há 25 anos, eu presenciei isso em um culto
na Igreja do Evangelho Quadrangular em Uberlândia. Simples assim.
Um abraço.
parabén pastor juber, gostei muito da intrevista
ResponderExcluirque DEUS o abençoe
partor que DEUS continue lhe abençoando
ResponderExcluirLucas Victor,
ResponderExcluirObrigado pela visita e pela sua participação.
Abraço.